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2. REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA

2.3. O papel das cidades no desenvolvimento do território

2.3.2. O caso das cidades africanas

Em África as cidades têm vindo a crescer de forma muito intensa. As cidades africanas crescem fundamentalmente por dois motivos:

- devido ao crescimento populacional muito elevado: ainda que as taxas de mortalidade e de natalidade sejam elevadas, são mais do que compensadas pela elevada taxa de fecundidade, que é de seis filhos por mulher. Ainda que a taxa de fecundidade tenha

vindo a diminuir nas últimas décadas, prevendo-se que em 2050 sejam de ser de 2,5 filhos por mulher ainda assim a taxa de fecundidade africana deverá ser a maior do mundo;

- devido à intensidade do êxodo rural: as populações abandonam os campos e dirigem-se para as cidades em busca de locais mais seguros, nos casos da existência de conflitos armados, e melhor qualidade de vida, emprego, educação, saúde. Outros fatores que estimulam o êxodo rural são as secas prolongadas, a crescente desertificação e a introdução das relações capitalistas no campo, com a formação de grandes fazendas em substituição às pequenas propriedades familiares.

O crescimento populacional na África é elevado, em especial na África Subsaariana. O crescimento demográfico em África está associado, sobretudo à grande proporção de população rural, a qual tem uma baixa qualidade de vida, baixos níveis de escolarização e índices de analfabetismo superiores a 70%, em muitos países. Aproximadamente 63% dos 905 milhões de africanos vivem no campo. Na África Subsaariana, esse número é ainda maior, chegando a 65% do total de habitantes, que se organizam em comunidades tribais, praticando agricultura coletiva de subsistência. Abaixa qualidade de vida da população rural africana é caracterizada pelo predominância da pobreza, da miséria, da falta de assistência médica - o que provoca elevadas taxas de mortalidade, em especial, a infantil – e elevados índices de analfabetismo.

A população urbana representa 37% do total de africanos e continua a aumentar, de forma acelerada por causa da rápida urbanização no continente, em especial, na África Subsaariana. A taxa de urbanização da África é de 3,2% ao ano, embora em alguns países esse valor seja mais elevado, como no Burundi (6,8%), em Ruanda (6,5%), na República Democrática do Congo (4,9%), em Uganda (4,8%) e em Angola (4,0%). O maior conglomerado urbano africano é o Cairo, no Egito, com 10,5 milhões de habitantes em 2005. Projeções da ONU indicam que, em 2025, a capital egípcia e Lagos, na Nigéria, terão mais de 15 milhões de habitantes, enquanto Kinshasa, na República Democrática do Congo, ultrapassará os 16,7 milhões de habitantes. No Cairo viverão 15,8% dos egípcios, em Lagos 7,5% dos nigerianos e em Kinshasa serão 15,6% da população da República Democrática do Congo.

O crescimento urbano em África concentra-se em torno de uma cidade principal, normalmente a capital do país, que tende a crescer de forma mais acelerada do que outros núcleos urbanos menores. Essas cidades, pólos de atração populacional, crescem rapidamente, sem planeamento, e não conseguem absorver os grandes contingentes populacionais que a elas afluem todos os anos. A urbanização acelerada e a formação de grandes cidades causaram uma série de problemas urbanos. Entre eles, a carência de infraestruturas, a falta de habitação de redes de acesso a água tratada, esgotos, energia elétrica e telefone, bem como o deficiente atendimento pelos precários serviços de saúde, educação, segurança e transporte.

Para satisfazer as necessidades dos residentes nas cidades seriam necessários avultados investimentos públicos, o que raramente acontece. Consequência disso, surgem os musseques. Atualmente, mais de um bilião de pessoas vivem em musseques, em todo o mundo. Na África Subsaariana segundo dados da ONU, em 2007, a urbanização provocou o crescimento dos musseques de forma acelerada, principalmente nos países pobres, onde cerca de 72% da população urbana vivia em musseques. Na maioria dos países africanos, o crescimento acelerado das cidades, caracterizado predominantemente pela proliferação de estruturas urbanas informais, impõe aos técnicos de ordenamento e gestão urbana intervenções urgentes e, consequentemente, necessidades muito específicas de informação sobre o território (Henriques, 2004).

A cidade africana já não espelha apenas a dicotomia entre cidade e o campo, entre o urbano eo rural, entre o formal e o informal. Estas realidades tendem a desvanecer-se, cruzando-se, sobrepondo-se, justapondo-se a muitas outras que nela foram ganhando forma e expressão (Viana, 2010). Também de acordo com Viana (2010), o crescimento extensivo dos territórios urbanizados da cidade africana (e a ampliação administrativa dos respectivos limites) consolida as alterações da forma e estilos de vida dos citadinos, as quais ocorreram em pouco tempo, contribuindo para a própria mudança da respectiva condição urbana. A Cidade Africana extensiva (como já referido, apenas aparentemente incompreensível e caótica) já não se explica apenas pela velha ordem urbana nem por princípios únicos de racionalidade, clareza, objetividade e ordem. Como refere Salvador (2004, citado em Viana, 2010, p:5), os engenhosos e criativos microssistemas alternativos aí encontrados, para resolver a urgência de habitar, constituem relevantes elementos de

análise, cujo conhecimento é indispensável na resolução dos grandes problemas urbanos, como também o é na avaliação das possibilidades de transformação e requalificação futura dos seus espaços urbanos.

O crescimento acelerado das cidades e a concentração urbana não significam, necessariamente, aumento da pobreza e do caos social. A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que a urbanização pode ser um aspecto positivo, pois nenhum país, da era industrial, atingiu níveis de crescimento economico significativos sem urbanização. Segundo o mesmo documento da ONU, os governos deveriam preparar-se para o crescimento das cidades, atendendo às necessidades de saúde, educação, habitação e emprego da população. O desafio é encontrar recursos humanos e económicos para atingir esse objetivo. Por isso, uma das metas da ONU é mobilizar a ajuda internacional integrada, de modo a oferecer apoio, inclusive financeiro, para as ações desses países. Metade da população urbana da África tem menos de 25 anos de idade. Portanto, a inserção de jovens no mercado de trabalho e o acesso à educação de qualidade são importantes metas sociais para o continente, as quais se concretizam fundamentalmente nas cidades.

3. A PROVÍNCIA DO HUAMBO: Elementos de diagnóstico

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