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Amália Gonçalves Fonseca Universidade Aberta amalia.fonseca@sapo.pt

No mundo global, a cultura é o que distingue cada povo e cada sociedade. É aquilo que cimenta uma sociedade e permite aos homens viverem juntos, mediante a criação de valores e comportamentos comuns. A cultura constrói-se com base nos seus processos históricos e no contacto com outras culturas, não sendo fixa nem imutável, mas sim sujeita a alterações e evoluções. Longe de afirmar a primazia do global sobre o local, a maioria dos estudiosos prefere ver na globalização um terreno fértil para a afirmação das identidades e das especificidades locais. De facto, como todas as realidades, a globalização e o seu contrário, a exclusão, expressam-se sempre no local; ou como disse o poeta maior da trasmontaneidade Miguel Torga, “o universal é o local sem paredes” (Torga, 1969). Com a massificação dos produtos e a uniformização do consumo, aumenta também a procura pelo que é singular. Assiste-se àquilo que vários analistas chamaram um “regresso ao passado”, sendo este fenómeno mais percetível no interior rural, uma vez que, aí, os efeitos da globalização sobre as identidades, os hábitos, as tradições e os modos de vida são menos percetíveis. A revitalização de culturas tradicionais e populares assegura a sobrevivência da diversidade de culturas dentro de cada comunidade, contribuindo para o alcance de um mundo plural.

De acordo com Augusto Santos Silva (2007), com exceção dos municípios portugueses inseridos em áreas mais urbanas ou metropolitanas, os demais parecem inscrever-se num padrão hegemónico de intervenção autárquica bastante uniforme. As tradições locais surgem como um vetor comum da política autárquica nesses municípios. Trata-se de tradições continuamente (re)criadas, num processo de “invenção social” bem definido nos dias de hoje. Ora se é inegável esta “viragem da comunidade para ‘dentro’ de si mesma”, através da exaltação do seu passado, do seu património, do seu território ou ainda dos seus usos e emblemas, Silva garante que é igualmente notória a necessidade de se projetar para fora, a nível regional, nacional ou até mesmo internacional, através, nomeadamente, do turismo ou de grandes eventos culturais.

Esta necessidade de “se virar para dentro de si” e, ao mesmo tempo, de se projetar a nível supralocal é perfeitamente observável no concelho do Sabugal, onde se regista uma permanente oscilação entre polos antagónicos. Ciente do imperativo que lhe é imposto para travar os efeitos da marginalização, a Câmara Municipal do Sabugal tem vindo a desenvolver esforços no sentido de pôr em prática projetos socioculturais que contribuam para a dinamização e a modernização do concelho, isto é, para a sua afirmação externa e para a sua consequente inclusão na chamada Sociedade da Informação ou do conhecimento. Porém, se por um lado esta integração obriga a uma impreterível inclusão no mundo digital, por outro lado o Município aposta também muito na revitalização de elementos culturais tradicionais, a fim de se desmarcar das tendências

36 homogeneizadoras globais. Não deixar morrer as tradições e manter as memórias do passado vivas é, de facto, uma das preocupações dos autarcas no que à esfera cultural diz respeito. É, portanto, no património natural e edificado, nas gentes, nos lugares de memória, nas tradições e na história do concelho que se focalizam muitas das iniciativas culturais que se têm desenvolvido nos últimos anos.

Uma das apostas na modernização e na abertura do concelho para fora foi a implementação, em 2008, de um Centro Local de Aprendizagem (CLA) da Universidade Aberta (UAb), na cidade do Sabugal, que tem como missão principal qualificar adultos, mediante a frequência do ensino superior a distância. Porém, o CLA do Sabugal, tal como os outros 18 que existem no país e além-fronteiras, tem também como função colaborar no desenvolvimento local, dinamizando e participando em atividades educativas e socioculturais, com parceiros locais, que promovam aspetos da cultura tradicional e local, e que contribuam para a sua projeção global. Volvidos 10 anos sobre a sua criação e consolidada a sua presença no terreno, o CLA da Universidade Aberta encontra- se numa fase de expansão, assumindo funções que vão para lá da sua vocação formativa, e tem abraçado projetos que se inscrevem numa perspetiva de cultura

glocal.

Palavras-chave: CLA SABUGAL, UNIVERSIDADE ABERTA, MISSÃO. Referências

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O PAPEL DE UM CENTRO LOCAL DE APRENDIZAGEM NA