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Caso Semelhante de Compaixão nos Cuidados de Enfermagem à Criança e sua Família

No documento Tese Isabel Figueiredo (páginas 94-96)

Dever ético

2.6 Os Casos Adicionais de Compaixão

2.6.1 Caso Semelhante de Compaixão nos Cuidados de Enfermagem à Criança e sua Família

Caso semelhante é um caso aparentemente igual, contém todas ou quase todas as características que definem o conceito, mas é substancialmente diferente em alguma delas. Trata-se, assim, de um caso que será inconsistente em relação à compaixão pois, apesar de idêntico, falta-lhe uma das “colunas” estruturantes do conceito (Walker e Avant, 2005).

Um caso modelo de compaixão nos Cuidados de Enfermagem à Criança e sua Família na perspetiva dos Enfermeiros de Pediatria é parte do conteúdo de uma história real de compaixão, narrada por uma das enfermeiras entrevistadas no decurso deste estudo e outra parte é imaginada, uma vez que o conteúdo desta entrevista não respondia, de modo pleno, a um exemplo de caso semelhante.

“L. estava preocupada, porque o turno estava pesado, muitos doentes entraram de urgência e ela era a responsável de turno. Sabia que alguns dos elementos do grupo estavam desmotivados, mas ela estava consciente, atenta e centrada em executar as intervenções de enfermagem com qualidade. Sabia que cada uma daquelas crianças e famílias, especialmente um caso de uma criança cujos pais pertenciam a uma família de elevado nível económico e político, necessitavam de cuidados de excelência.

Durante o turno esteve sempre bem-disposta e genuinamente alegre e sorridente, brincando com todos e dedicando algum do seu tempo, para delicadamente acariciar uma criança ou abraçar uma mãe em sofrimento. A aliviar a dor a uns, a administrar medicação a outros, ajudando e apoiando as mães, notava-se que tratava de cada criança com entusiasmo, com uma técnica de excelência de forma a garantir qualidade.

L. sabia que muitos elementos da sua equipa, não partilhavam um tipo de abordagem personalizada, tratando de cada um como ser único, conhecendo os seus gostos e as suas preferências. Naquele dia, uma das mães, mais desorientada e de forma irritada, interrompeu-a várias vezes, sempre com a mesma pergunta e

ela nunca se perturbou e, com compreensão e paciência respondia a cada questão as vezes que lha fizesse. Quando na passagem de turno alguém tentou fazer uma crítica aquela mãe e fez juízos de valor em relação à sua forma de ser e estar, a L. sorriu e respondeu que ela se encontrava em sofrimento, o que justificava a sua postura e que, se estivesse no lugar dela, seria igual ou muito pior.

Depois de sair do serviço e enquanto se desfardava a L. comentou animadamente com a colega de turno, em conversa íntima e porque ela era sua amiga, que tinha a certeza de que ia conseguir a promoção porque a mãe aborrecida que tinha aturado durante o turno era irmã do diretor do hospital e ia falar dela ao irmão”.

Análise do caso: A enfermeira não viveu um dos aspetos fundamentais da compaixão. Começarei por apresentar todos os outros que estão presentes para finalmente me referir ao que falta. L. agiu, aparentemente, com compaixão durante o turno. Sabia e sentia que tinha que cuidar de cada uma daquelas crianças e famílias pelo que havia “sentimento”. “Estar com o outro” é um atributo presente pois é referido na história “brincando com todos e dedicando algum do seu tempo, para delicadamente acariciar uma criança ou abraçar uma mãe em sofrimento”. A L. está em “presença” “relação” e “comunicação”. O “fazer algo pelo outro”, a “ajuda”, o “apoio” e o “alívio" do sofrimento também são atributos evidentes nas palavras: aliviar a dor a uns, a administrar medicação a outros, ajudando e apoiando as mães”. O “dever ético”, a “técnica” e a “qualidade dos cuidados”, que fazem parte de “ser bom enfermeiro” são preocupações da enfermeira, como podemos confirmar pelas atitudes e comportamentos que estão descritos nas seguintes palavras: “notava-se que tratava de cada criança com entusiasmo, com uma técnica de excelência de forma a garantir qualidade”.

Mostrou também que vivia o “respeito” pois perante a desorientação e o estado de irritação da mãe ela nunca se perturbou e, com compreensão e paciência respondia a cada questão as vezes que lha fizessem. Quando na passagem de turno alguém tentou fazer uma crítica àquela mãe, e fez juízos de valor em relação à sua forma de ser e estar, a enfermeira não o permitiu e sorrindo justificou o comportamento referindo “que ela se encontrava em sofrimento, o que justificava a sua postura e que, se estivesse no lugar dela, seria igual ou muito pior”. Com esta reação evidencia os atributos de “empatia”, o “respeito” e o de “não fazer juízos de valor”.

Só no fim da história percebemos o que falta para a compaixão estar presente. Contam que no final do turno, depois de sair do serviço e enquanto se desfardava a enfermeira, comentou animadamente com a colega de turno, em conversa íntima e porque ela era sua amiga, que tinha a certeza de que ia conseguir a promoção que tanto ambicionava e finalmente ser promovida. Estava a trabalhar a fazer “teatro”, não lhe interessava em nada o sofrimento nem daquela criança nem das outras. Tinha aturado a mãe aborrecida durante o turno e fingido estar preocupada com as crianças porque sabia que a mãe era irmã do diretor do hospital e gabar o seu trabalho ao irmão”.

Estamos perante um caso inconsistente em relação à compaixão pois, apesar de idêntico havia apenas interesse pessoal. Com o desabafo no vestiário a enfermeira evidencia não agiu exclusivamente por compaixão, pois o que a moveu não foi a benevolência, a ação para o bem do outro mas sim o desejo de atingir um objetivo pessoal. Tem um comportamento aparentemente “compassivo” apenas para agradar à família da criança e, desta forma, conseguir atingir o seu objetivo pessoal.

2.6.2 Caso Relacionado de Compaixão nos Cuidados de Enfermagem à

No documento Tese Isabel Figueiredo (páginas 94-96)