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À época da prova, vigorava o CPC antigo, o qual estabelecia que, quando o juiz, dolosamente, retardasse providência requerida pela parte, incidiria a responsabilidade pessoal subjetiva do magistrado, ou seja, não seria o Estado quem deveria pagar a indenização ao prejudicado, e sim o próprio juiz. Porém, o novo CPC modificou essa regra: a partir de agora, na hipótese de conduta dolosa do magistrado que venha a causar prejuízo à parte ou a terceiro, incide a responsabilidade civil objetiva do Estado, assegurado o direito de regresso contra o juiz. Assim, vamos atualizar o gabarito original da questão.

Gabarito: Certo Suponha que o TJDFT, por intermédio de um oficial de justiça, no exercício de sua função pública, pratique ato administrativo que cause dano a terceiros. Nessa situação, não se aplicam as regras relativas à responsabilidade civil do Estado, já que os atos praticados pelos juízes e pelos auxiliares do Poder Judiciário não geram responsabilidade do Estado.

Comentário:

No que concerne aos atos administrativos praticados pelos agentes do Poder Judiciário, incide normalmente a responsabilidade civil objetiva do Estado, desde que, é lógico, presentes os pressupostos de sua configuração. Portanto, não se deve confundir os atos jurisdicionais típicos (que, em regra, não geram responsabilidade civil para o Estado) com os atos administrativos praticados pelos agentes do Poder Judiciário (que, como visto, não se diferenciam dos atos administrativos praticados pelo Executivo e demais Poderes).

Gabarito: Errado

Como exemplo de dano provocado pelo só fato da obra, Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo trazem as rachaduras nas paredes das casas próximas a uma obra para ampliação do metrô, provocadas pelas explosões necessárias à perfuração e abertura de galerias, apesar de todas as precauções e cuidados técnicos tomados. Nesse caso, o dano a essas casas é ocasionado pelo só fato da obra, sem que haja culpa de alguém, e quem responde pelo dano é a Administração Pública (responsabilidade civil objetiva), mesmo que a obra esteja sendo executada por um particular por ela contratado.

De outra parte, danos também podem ser causados pela má execução da obra, ou seja, pela falha na adoção das técnicas construtivas ou pela não observância dos procedimentos corretos por parte do executor da obra.

Nessa hipótese, já interessa saber quem está executando a obra.

Se a obra estiver sendo executada pela própria Administração, diretamente, ela responderá pelo dano objetivamente, com base no art. 37, §6º da CF. Vale dizer, a reparação do dano causado a terceiros pela má execução de obra pública, quando o executor é a própria Administração, constitui hipótese de incidência da responsabilidade civil objetiva do Estado.

Diversamente, se o executor da obra for um particular contratado pela Administração (uma empreiteira, por exemplo), quem responderá civilmente pelo dano é esse particular; porém, sua responsabilidade será do tipo subjetiva, ou seja, o executor contratado só responderá se tiver atuado com dolo ou culpa. É o que prevê o art. 70 da Lei 8.666/1993:

Art. 70. O contratado é responsável pelos danos causados diretamente à Administração ou a terceiros, decorrentes de sua culpa ou dolo na execução do contrato, não excluindo ou reduzindo essa responsabilidade a fiscalização ou o acompanhamento pelo órgão interessado.

Nessa hipótese, se for o caso, o Estado responderá de forma subsidiária. É dizer, sua responsabilidade só estará configurada se o executor não for capaz de promover a reparação dos danos que causou ao prejudicado.

Caso o Poder Público, como dono da obra, venha a ressarcir aquele que sofrera o prejuízo, poderá propor ação regressiva contra o particular que era responsável pela execução dos serviços.

Por fim, há possibilidade de que tanto o empreiteiro quanto o Poder Público tenham contribuído para a má execução da obra que resultou em prejuízo ao administrado. Nessas situações, ambos têm responsabilidade pelo dano ocorrido, devendo arcar, de modo proporcional, com a eventual indenização devida, na medida da culpa de cada um.

Danos decorrentes de obras públicas

Só fato da obra Não importa o executor Responsabilidade civil objetivado Estado

Má execução da obra

Execução a cargo da própriaAdministração

Responsabilidade civil objetivado Estado

Execução a cargo de particularcontratado

Responsabilidade civil subjetivado contratado

Responsabilidade civil por atos de notários

O serviço público notarial e de registro é serviço próprio do Estado, uma vez que tem a finalidade de assegurar autenticidade, segurança jurídica, eficácia e publicidade aos assentos, atos, negócios e declarações dos registros e/ou das notas, todos com fé pública22.

Nos termos da Constituição Federal, o serviço notarial e de registro é exercido em caráter privado, por delegação do Poder Público (CF, art. 23623). Ressalte-se que tal delegação não está entre as regidas pelo art. 175 da CF (as quais estudamos na aula sobre serviços públicos).

Uma das diferenças é que a delegação dos serviços notariais e registrais não é feita mediante licitação e sim por meio de concurso público de provas e títulos.

Ademais, essa delegação é feita pelo Poder Judiciário, cabendo-lhe, ainda, competência exclusiva para a fiscalização; esta, vista como poder de polícia, permite a cobrança de taxa.

O delegatário, também chamado de notário ou tabelião, é uma pessoa física. É considerado um agente público em sentido amplo (mas não é um servidor público detentor de cargo efetivo, é só agente público).

A serventia (cartório) não é uma pessoa jurídica, sendo o próprio particular, para o qual foi conferida a outorga da delegação, o responsável pela prestação do serviço. Como dito, ele exerce a atividade em caráter privado, e é responsável por todos os atos praticados na serventia.

O tabelião pode causar dano a terceiros quando, por exemplo, reconhecer uma firma falsa ou registrar erroneamente um protesto, causando restrições cadastrais indevidas. Sendo assim, de quem seria a responsabilidade civil nesses casos?

Para responder a essa pergunta, em 2019, o STF fixou a seguinte tese de repercussão geral24:

O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais que, no exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de improbidade administrativa.

Logo, a responsabilidade civil pelos danos causados por tabeliães e registradores é do Estado, de natureza objetiva, assegurado o dever de regresso contrato o responsável, nos casos de dolo ou culpa.

Note que, conforme a decisão do STF, a responsabilidade civil dos tabeliães é de natureza subjetiva (só respondem se ficar provado que agiram com dolo ou culpa), sendo apurada no âmbito da ação de regresso.

Aliás, a responsabilidade subjetiva do tabelião, antes da decisão do STF, já estava prevista expressamente previsto no art. 22 da Lei 13.286/2016:

22 Hely Lopes Meirelles (2014, p. 475).

23 Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público.

§ 1º - Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário.

§ 2º - Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro.

§ 3º - O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses.

24 RE 842.846

Art. 22. Os notários e oficiais de registro são civilmente responsáveis por todos os prejuízos que causarem a terceiros, por culpa ou dolo, pessoalmente, pelos substitutos que designarem ou escreventes que autorizarem, assegurado o direito de regresso.

Assim, o particular que for lesado por um ato de tabelião deverá entrar com ação de indenização contra o Estado, devendo demonstrar apenas o nexo de causalidade entre o dano e a conduta do tabelião (responsabilidade objetiva). O Estado, por sua vez, deverá entrar com ação de regresso contra o tabelião, nos casos de dolo ou culpa (responsabilidade subjetiva).

Detalhe importante é que o STF considerou que a decisão de mover ação de regresso contra o tabelião seria um dever do Estado, sob pena de o agente omisso responder por improbidade administrativa.

Responsabilidade por atentados terroristas

A Lei 10.744/2003 autorizou a União, na forma e critérios estabelecidos pelo Poder Executivo, a assumir despesas de responsabilidades civis perante terceiros na hipótese da ocorrência de danos a bens e pessoas, passageiros ou não, provocados por atentados terroristas, atos de guerra ou eventos correlatos25, ocorridos no Brasil ou no exterior, contra aeronaves de matrícula brasileira operadas por empresas brasileiras de transporte aéreo público, excluídas as empresas de táxi aéreo.

Perceba que, nesse caso, o Estado responderá civilmente pelos danos provocados por terceiros, ou seja, será responsabilizado por evento alheio ao organismo estatal. E, na referida lei, não houve qualquer previsão de excludente de responsabilidade. Por isso, a doutrina sustenta tratar-se de hipótese de risco integral.

Questões para fixar

Caberá ao Ministro de Estado da Fazenda definir as normas para a operacionalização da assunção, pela União, de responsabilidades civis perante terceiros no caso de atentados terroristas, atos de guerra ou eventos correlatos.

Comentário:

O quesito está correto, de acordo com o art. 2º da Lei 10.744/2003:

Art. 2º Caberá ao Ministro de Estado da Fazenda definir as normas para a operacionalização da assunção de que trata esta Lei, segundo disposições a serem estabelecidas pelo Poder Executivo.

Gabarito: Certo

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É isso pessoal. Terminamos aqui a parte teórica. J

25 Os eventos correlatos incluem greves, tumultos, comoções civis, distúrbios trabalhistas, ato malicioso, ato de sabotagem, confisco, nacionalização, apreensão, sujeição, detenção, apropriação, seqüestro ou qualquer apreensão ilegal ou exercício indevido de controle da aeronave ou da tripulação em vôo por parte de qualquer pessoa ou pessoas a bordo da aeronave sem consentimento do explorador.

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