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Depois de, no capítulo anterior, termos dado quatro exemplos que nos pareceram importantes passos para a preservação do passado, no caso, da história do Design em Portugal e dos seus protagonistas, vamos agora analisar duas publicações, como casos de estudo, que possuem semelhanças ao projecto prático e que nos foram úteis na concretização do mesmo.

A primeira análise é sobre o livro A Paixão das Origens – Fotobiografia de Alberto

Sampaio, elaborado pelo estúdio Martino&Jana. Esta publicação tem várias pare-

cenças com o projecto desta pesquisa, tanto pelo seu conteúdo que, apesar de não ser o mesmo enunciado, tem algumas coincidências e alguma semelhança formal. O material que o estúdio Martino&Jana teve para trabalhar esta publi- cação era parecido com o que nos deparámos na execução do nosso projecto. No fundo, ambos analisaram muitas imagens, entre documentos e fotografias, e tex- tos curtos e muito fragmentados. Vamos, assim, reflectir sobre este paralelismo e demonstrar de que maneira o ultilizámos como exemplo.

A segunda análise é sobre o livro, realizado pelo atelier Silvadesigners, denomi- nado Menezes Ferreira, Capitão de Artes. Tal como o projecto prático e o primeiro caso de estudo referido, esta publicação pretende preservar a memória de um autor. Neste caso, a proximidade ao projecto prático prende-se mais com o con- teúdo do que com a forma.

O autor representado nesta publicação é contemporâneo de Almeida Coquet, fez também parte do grupo de humoristas das primeiras décadas do século XX e, também ele, fazia arte por gosto (uma vez que a sua carreira militar era a sua principal ocupação).

5.1 A Paixão das Origens – Fotobiografia de Alberto Sampaio

A Paixão das Origens, de Emília Nóvoa Faria e António Martins foi, como dissemos,

um bom caso de estudo que nos deu suporte na realização da nossa publicação. Trata-se, como o subtítulo o indica, de uma fotobiografia do historiador portu- guês do século XIX, Alberto Sampaio, debruçando-se sobre a sua vida e obra do historiador. Esta publicação foi realizada no âmbito da Guimarães Capital Euro- peia da Cultura 2012, pois o autor era desta cidade.

A obra está dividida em seis capítulos: Cap. I: Primeiros Anos; Cap. II: Tempos de Coimbra; Cap. III: Anos de Inquietude; Cap. IV: Maturidade; Cap. V: A Paixão das Origens e Cap. VI: Últimos Anos. Estes correspondem às diferentes fases da vida de Alberto Sampaio e apresentam-nos a formação da sua personalidade e o pro- cesso de construção da sua obra.

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É um livro de médio formato, 18 x 24 centímetros, de 420 páginas e capa dura, de cartão. Os seus autores pretenderam misturar o estilo clássico, da época do representado, com a época actual. Na capa, o uso da cor amarela e do metalizado no título, em justaposição com uma fotografia de época do autor, prova, precisa- mente, esta intenção. É também através do estampado da lombada e das guardas – que foi criado a partir do típico bordado Vimaranense – e do acabamento, com os cadernos constituintes do livro a descoberto, que lhe concederam o aspecto de actualidade que pretendiam.

Como já foi referido, o tipo de material que foi usado para elaborar este livro é muito semelhante ao que usámos para o projecto prático deste relatório. Ambos são constituídos por fotografias de época e por muitos documentos (no nosso projecto temos ainda os trabalhos artísticos). Por serem imagens já com bastantes anos, nos dois casos, foi necessário um tratamento especial, tanto nas próprias imagens como na forma de as introduzir no layout, como veremos. Os dois pro- jectos também se aproximam pelo facto de não terem uma grande quantidade de informação escrita. Grande parte do texto, é composto por citações e pequenos fragmentos, que vão contanto, ao longo da publicação, a história do autor em questão. Assim, a informação escrita desta publicação, não era das mais fáceis para inserir num layout. As solução encontrada foi o uso de hight lights de textos – trechos e citações usados em tamanho considerável nas páginas. Foi impor- tante percebermos como trabalharam o texto e de que forma o deixaram fluir ao longo do livro. Com efeito, recorrendo a fundos de cor, ou sob fundo branco, com espaço para o texto respirar, concedem e dar tempo ao leitor para ler con- fortavelmente cada pedaço da história.

O uso de fundos de cor, por baixo de imagens antigas – que muitas vezes têm um tom amarelado o que, numa publicação, pode tornar-se cansativo – foi também uma solução importante de perceber nesta análise. Estes ajudam a salientar as imagens e a dar-lhes mais valor. Também é bastante útil para manter um ritmo visual interessante e contrariar a possível monotonia do livro.

Esta publicação, assim como a nossa, é constituída por cadernos, o que permite uma abertura das páginas muito mais fácil e dá a possibilidade de usar a dupla- -página com mais eficiência.

A Paixão das Origens

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Outra similitude entre os dois projectos é a intenção de tirar o maior partido pos- sível das imagens. Tal acontece levando as imagens até às margens ou optando mesmo por imagens de página inteira, conferindo-lhes assim uma melhor lei- tura. Deste modo, é-lhes concedido também um valor gráfico e visual, que não teriam caso fossem expostas num formato menor.

Concluindo, é um livro que, apesar de a informação parecer visualmente frag- mentada, tem um ritmo que mantém o leitor interessado em chegar ao fim. A sua cadência agradável, apesar das 420 páginas, não cansa o leitor. Como os própri- os designers do livro afirmam: “While maintaining the readers focus, the book should make him/her eager to turn to and check the next page, pages” (Martino&

Jana, 2013, s/p).

5.2 Menezes Ferreira, Capitão de Artes

O segundo caso de estudo é o livro, realizado pelo atelier Silvadesigners, Menezes

Ferreira, Capitão de Artes. Este livro foi editado pela Câmara Municipal de Lisboa

em 2014, através do Museu Bordallo Pinheiro. Na verdade, este livro foi concebi- do para ser o catálogo da exposição do autor, que se realizou neste museu mas em virtude de se ter tornado num objecto de muita qualidade e durabilidade, passou à categoria de livro – como foi possível apurar da conversa da autora do presente relatório com o coordenador deste caso de estudo, Jorge Silva.

O Museu Bordallo Pinheiro, neste catálogo, diz assumir a missão de investigar e divulgar artistas ligados ao desenho e ao humor, seguindo o caminho que Rafael Bordallo Pinheiro iniciou. Quem sabe, também o nosso projecto prático, fará par- te do interesse deste museu, visto Almeida Coquet estar, ele próprio, ligado ao desenho e ao humor. Vamos fazer por descobrir.

O formato deste objecto é de 22,5 x 22,5 centímetros. Mais uma vez, é um livro com algum peso e que nos remete para o pensamento de celebração e homena- gem ao autor representado. Na capa dura, de cartão, forrada a papel reciclado, está em grande destaque o nome do autor, Menezes Ferreira e o subtítulo Capi-

tão de Artes. Por trás destes, encontra-se uma ilustração do militar e artista, a ver-

melho e que as letras, por cima, deixam transparecer. O livro, de 304 páginas, tem uma paginação calma com a numeração centrada na parte de baixo da pá- gina e o marcador na parte de cima, igualmente centrado. Este, vai nos situando, ao longo dos diferentes capítulos do livro, que, por sua vez, vai contando a vida e obra do autor de uma forma intercalada. Neste caso, o volume de texto é bastante denso e assim as imagens não têm tanta predominância – apesar da sua presença ainda ser forte – comparando com o caso de estudo anterior ou com o projecto deste relatório. No livro em análise, o início de cada capítulo é seguido de algu- mas páginas de texto, intercalado por outras páginas de imagens, sendo estas em maior número. As imagens surgem com tempo, muitas vezes isoladas na página e, na grande maioria das vezes, com margens à volta.

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O livro é pautado pela sua vida e, consequentemente, pela sua participação mili- tar na Primeira Grande Guerra.

Menezes Ferreira e Almeida Coquet, curiosamente, têm bastantes coincidências entre as suas vidas. Desde logo, o primeiro é apenas 5 anos mais velho que o segundo. Além disso, foram artistas contemporâneos. Também a breve parti- cipação militar de Coquet pode ter-se cruzado, de facto, com a de Menezes Fer- reira. O portuense esteve em Lisboa, cidade de Menezes Ferreira, entre 1913 e 1916 no serviço militar. Tendo os dois o mesmo gosto pelo desenho humorístico, quem sabe se não se terão cruzado por lá? Outra, e fulcral, coincidência é o facto de Menezes Ferreira ter participado, em Lisboa, em exposições na mesma linha dos Humoristas e Modernistas que Almeida Coquet participou no Porto. Aliás, neste artefacto que analisamos questionam: “No universo das artes, o núcleo ir- reverente de mobilização dos humoristas/ modernistas tinha-se deslocado para o Porto, dificultando a Menezes Ferreira estar integrado no grupo de ‘conspira- dores’. Será essa a razão de não estar presente nas exposições organizadas esse ano, no Porto, dos Modernistas e dos Fantasistas?” (Museu Bordallo Pinheiro, 2014, p.88).

Este caso de estudo, à semelhança do projecto prático, redescobre um artista do primeiro modernismo. Ambos corriam forte perigo das suas obras terem fi- cado para sempre espalhadas, como retalhos, em diferentes lugares e sem uma visão de conjunto. Tanto a exposição realizada no Museu Bordallo Pinheiro, e o seu consequente catálogo/ livro aqui analisado, como o projecto prático desta pesquisa vêm possibilitar a divulgação e até futuras investigações sobre os ditos autores. Assim, como temos referido ao longo desta pesquisa, os livros mencio- nados, contribuem para a preservação do passado e para manter viva a memória destes autores.

Ambos os casos de estudo apresentados contribuíram para o processo do pro- jecto prático. O primeiro pela forma, pela versatilidade do layout e pela maneira como apresenta o texto e as imagens. O segundo principalmente pelo seu con- teúdo e pela sua estrutura. Apesar de no projecto prático termos dividido vida e obra, estas duas partes vão estando em diálogo em várias fases do livro. Assim, foi importante percebermos como neste caso de estudo a vida e obra de Menezes Ferreira se encontra intercalada ao longo de toda a publicação.

Menezes Ferreira - Capitão de Artes

Capítulo VI

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