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Casos Fundados em Outras Normas Expressas: Dano Ambiental Individual, Reflexo ou

Esta subseção tem por objetivo proporcionar uma visão geral sobre o dano ambiental e sua reparação, com enfoque no dano ambiental individual – que é também denominado de dano ambiental reflexo ou por ricochete.

De início, faz-se importante destacar que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 consolidou a idéia de que o meio ambiente saudável é um direito de toda coletividade, isto é, houve a consagração de seu caráter difuso, a saber: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê- lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

Ademais, o parágrafo terceiro do referido dispositivo prescreve: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, as sanções penais e administrativas independentemente da obrigação de reparar os danos causados.” (grifou-se)

Assim, no que concerne ao dano ambiental pode-se afirmar que:

[...] constitui uma expressão ambivalente, que designa, certas vezes, alterações nocivas ao meio ambiente e outras, ainda, os efeitos que tal alteração provoca na saúde das pessoas e em seus interesses. Dano ambiental significa, em uma primeira acepção, uma alteração indesejável ao conjunto de elementos chamados meio ambiente, como, por exemplo, a poluição atmosférica; seria, assim, a lesão ao direito fundamental que todos têm de gozar e aproveitar do meio ambiente apropriado. Contudo, em sua segunda conceituação, dano ambiental engloba os efeitos que esta modificação gera na saúde das pessoas e em seus interesses. (LEITE; AYALA, 2011, p. 94)

A partir desta conceituação ambivalente, percebe-se que o dano ambiental consiste tanto naquele que recai sobre o patrimônio ambiental - comum à coletividade, autônomo (direito difuso) -, quanto ao dano por intermédio do meio ambiente (dano reflexo ou por ricochete), o qual atinge a interesses legítimos de uma determinada pessoa, sejam de ordem patrimonial ou extrapatrimonial. Há, desse modo, o dano fático imposto à qualidade ambiental global, com a perda das características essenciais dos ecossistemas, e um dano reflexo, também denominado dano por ricochete, imposto a uma pessoa determinada.

Define-se, destarte, o dano ambiental individual como aquele “[...] conectado ao meio ambiente, que é, de fato, um dano individual, pois o objetivo primordial não é a tutela dos valores ambientais, mas sim dos interesses próprios do lesado, relativos ao microbem ambiental.” (LEITE; AYALA, 2011, pp. 95-96)

Um dos exemplos desta última modalidade de dano verifica-se na seguinte situação: a contaminação de um rio situado em área particular, que gera a morte de peixes e a intoxicação daquele que ingere a água. Nessa hipótese, haverá dano material, que tem na água e nos peixes o seu objeto material; dano corporal imposto à vítima e dano moral, representado pelo seu sofrimento e perturbação na qualidade de vida. (STEIGLEDER, 2004, pp. 66-67)

É importante afirmar que existem diferenças fundamentais no regime de tutela dessas duas categorias distintas de dano, pois, enquanto no dano ambiental autônomo tutela-se a capacidade funcional ecológica e a capacidade de uso dos recursos naturais, no dano ambiental reflexo, os bens e interesses são protegidos sob a ótica do interesse individual, particular.

Partido desta premissa, acrescenta-se:

É nesse sentido que se impõe que a reparação dos danos causados ao meio ambiente, para ser integral, deve-se dar pela conjugação de ambas as formas de tutela. Assim, primordialmente, o dano deverá ser reparado através da restauração natural das áreas afetadas, mas, quando não for possível ressarcir por esse modo todos os prejuízos sofridos pelos diversos envolvidos, justificar-se-á o pagamento de uma indenização pecuniária aos lesados. (SILVA, 2006, p. 115)

Neste particular, impõe salientar que o mesmo fato, no direito ambiental, pode gerar dano ambiental autônomo e também o individual, reflexo ou por ricochete, sendo os dois passíveis de reparação. Acerca do tema,

AÇÃO COLETIVA. ASSOCIAÇÃO DE MORADORES. REQUISITOS TEMPORAL. DISPENSA. POSSIBILIDADE. DIREITO INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS E MATERIAIS. INTERESSE DE AGIR. EXISTÊNCIA. 1 - É dispensável o requisito temporal da associação (pré-constituição há mais de um ano) quando presente o interesse social evidenciado pela dimensão do dano e pela relevância do bem jurídico a ser protegido. 2 - O §3º do art. 103 do CDC é norma de direito material, no sentido de que a indenização decorrente da violação de direitos difusos, destinada ao fundo especial previsto no art. 13 c/c o art. 16 da Lei nº 7.347/85 não impede eventual postulação ao ressarcimento individual (homogêneo) devido às vítimas e seus sucessores atingidos. Esse dispositivo não retira da associação o interesse (necessidade/utilidade) de ajuizar a ação coletiva própria, em face de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público, buscando a proteção do meio ambiente e

a prestação de assistência médico-hospitalar. (STJ, REsp. 706.449/PR, relator: Min. Fernando Gonçalves, julgado em 26/05/2008; grifou-se).49

No que concerne ao dano ambiental reflexo, o ordenamento jurídico brasileiro prevê expressamente a sua ressarcibilidade, conforme o artigo 14 da Lei n. 6.938/81, a qual dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, senão vejamos:

Art. 14. Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:

[...]

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. (grifou-se)

Por fim, importante se faz ressaltar que o dano ambiental individual, a par de ser também denominado de dano reflexo ou por ricochete, distancia-se daquele cujo fundamento é a teoria geral da responsabilidade civil. Isso porque o dano ambiental individual é, em essência, um dano particular operado por meio da lesão ao meio ambiente – que seria a vítima inicial do evento danoso, diferentemente do dano reflexo ou por ricochete proposto neste trabalho, em que a vítima inicial é um indivíduo. Essa diferença proporciona ao dano ambiental um sistema de responsabilização com certas peculiaridades (prioridade da reparação in natura, por exemplo).

Do exposto, infere-se a diversidade que permeia o instituto dos danos reflexos ou por ricochete. Nesse sentido, a fim de delineá-los com maior rigor, impõe-se uma análise de suas implicações em relação aos elementos tradicionais da responsabilidade civil, quais sejam a culpa, o nexo de causalidade e o dano, o que será feito na seção subsequente.

49 Os pedidos veiculados na demanda em questão foram justamente a recuperação das áreas degradadas, que se

refere ao dano ambiental autônomo, e a indenização por danos patrimoniais e extrapatrimoniais pelos danos ambientais reflexos ou por ricochete.

3. OS DANOS REFLEXOS OU POR RICOCHETE E OS ELEMENTOS DA