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Anexo 5- Manuscrito (no 10550) submetido e aceito para publicação

3- CASUÍSTICA E MÉTODOS

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3.1- Delineamento

O desenho deste estudo foi concebido para ser multicêntrico, do tipo descritivo e transversal, abordando diversas coortes de pacientes que faziam seguimento clínico regular em centros de referência para tratamento de DII em hospitais universitários da região Nordeste do Brasil. O momento de interesse do estudo foi estabelecido como a data em que o diagnóstico de qualquer uma das DII foi confirmado, definido como sendo o início da doença. Os dados demográficos e clínicos coletados nesta pesquisa se referiram a este momento de estabelecimento do diagnóstico da doença.

3.2- Local do estudo

Este estudo foi realizado em hospitais universitários nas capitais dos estados do Nordeste brasileiro, cuja área geográfica está representada na Figura 3. Os estados desta região possuem os mais baixos indicadores socioeconômicos de todo o Brasil, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal por Unidade da Federação (IDHM-UF 2010). O IDH de todo o Brasil é de 0,730 (2012), enquanto o IDHM-UF do Distrito Federal e estados das regiões Sul e Sudeste são mais elevados, com variação de 0,731 a 0,874. Por outro lado, os estados nordestinos têm os menores valores de IDHM-UF dentre os estados brasileiros, variando de 0,631 a 0,684 (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) [Database Online], 2013).

Os indicadores demográficos e socioeconômicos no Brasil e na região Nordeste, segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), referentes à cor da pele autodeclarada, educação e renda estão discriminados na Tabela 1. Nos últimos cinquenta anos, houve marcante aceleração da migração populacional de áreas rurais para regiões urbanas em todo o Brasil. Na região Nordeste, este fenômeno se tornou mais expressivo nos últimos quarenta anos. No período de 1970 a 2010, a população urbana brasileira passou de 56,0% para

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84,4% e de 41,8% para 73,1% na região Nordeste (Figura 4) (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) [Database Online], 2010).

Figura 3- Área geográfica de abrangência desta pesquisa, correspondendo à

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Tabela 1- Indicadores demográficos e socioeconômicos no Brasil e na região

Nordeste, referentes à cor da pele autodeclarada, educação e renda, segundo o IBGE (PNAD 2012).

Indicadores Brasil Nordeste

Cor da pele (%) Brancos 47,7 28,9 Pardos (multirraciais) 43,1 59,8 Pretos 8,2 10,5 Amarelos e indígenas 1,0 0,8 Escolaridade da população ≥15 anos de idade (%) 0 a 7 anos 40,9 51,2 ≥8 anos 59,1 48,8

Renda média per capita (em Reais), período 2012

(salário mínimo = 622,00 860,53 550,62

Fonte: (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) [Database Online], 2012).

Fonte: (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) [Database Online], 2010).

Figura 4- Fenômeno migratório de zonas rurais para zonas urbanas no Brasil e na

região Nordeste, representado pelo percentual da população urbana, segundo o IBGE, 1970 a 2010.

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Os hospitais universitários que participaram deste estudo possuem centros especializados para atendimento de pacientes com DII. A coordenação e a responsabilidade geral do projeto foram centralizadas no Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Os demais hospitais universitários participantes foram as instituições das seguintes universidades públicas: Universidade Federal de Alagoas, Universidade do Estado da Bahia, Universidade Federal do Ceará, Universidade Federal do Maranhão, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal de Pernambuco, Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Universidade Federal de Sergipe. No Anexo 1 estão listados os centros participantes por cidade, estado, hospitais universitários, universidades e os respectivos professores gastroenterologistas responsáveis pela condução da pesquisa.

3.3- População do estudo e coleta de dados

A população estudada compreendeu os pacientes com DII que faziam tratamento regular, com realização de consultas ambulatoriais ou em regime de internação hospitalar, em centros especializados de hospitais universitários nas capitais da região nordeste. A coleta de dados abrangeu o período de janeiro de 2011 a dezembro de 2012, com exceção dos centros da Universidade Federal de Pernambuco e Universidade Federal da Bahia, cujos períodos de coleta de dados ocorreram durante o ano de 2013.

A seleção da amostra foi por conveniência, do tipo censitária em cada centro participante. Para a coleta de dados, foi elaborado um formulário padronizado (Anexo 2), onde foram inseridas as variáveis demográficas e clínicas pré-definidas.

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3.4- Definição diagnóstica das doenças

Para uniformizar as informações do estudo nos diversos centros, foram estabelecidos critérios para o diagnóstico e classificação das DII. Para essas finalidades, foram utilizadas as características clínicas, laboratoriais, endoscópicas, histopatológicas, radiológicas e de imagens, permitindo o diagnóstico e classificação das DII em DC, RCUI e colite indeterminada ou não classificada, tendo como parâmetros os critérios da OMS para as DII (Bernstein et al., 2010), e do segundo consenso europeu (European Crohn`s and

Colitis Organisation [ECCO]) para definição e diagnóstico de DC (Van Assche

et al., 2010) e de RCUI (Dignass et al., 2012).

3.5- Fonte de dados

Os dados foram coletados nos prontuários dos pacientes de cada centro participante. Todos os responsáveis pelo estudo receberam autorização da Direção dos seus respectivos hospitais para acesso ao Serviço de Arquivo Médico e Estatística (SAME) e coleta dos dados nos prontuários. As informações necessárias para coleta de dados inexistentes nos prontuários foram solicitadas diretamente aos pacientes durante o atendimento clínico ambulatorial programado.

3.6- Critérios de inclusão

Foram incluídos todos os pacientes com DII que tivessem idade superior a 18 anos e que consentiram em participar do estudo. Também foram incluídos os pacientes que tiveram a doença diagnosticada antes dos 18 anos de idade, mas que já haviam atingido essa idade no momento da sua entrada no estudo.

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3.7- Critérios de exclusão

Inicialmente, foram excluídos indivíduos considerados vulneráveis, tais como população indígena, pessoas privadas de liberdade e aqueles com capacidade cognitiva comprometida.

Também foram excluídos os pacientes com diagnóstico de outros tipos de colite, tais como colite actínica, colites parasitárias, enterocolites infecciosas e demais colites que não preenchiam os critérios estabelecidos para DII. Atenção especial foi dada para excluir colite amebiana, tuberculose intestinal e esquistossomose intestinal, tendo em vista a prevalência elevada dessas doenças na região do estudo.

Posteriormente, na fase de execução do estudo, também foram excluídos os pacientes cujos prontuários apresentavam dados insuficientes e que não puderam ser resgatados por ocasião das avaliações clínicas ambulatoriais.

3.8- Variáveis do estudo

Foram analisadas as seguintes variáveis, conforme discriminados no anexo 2, todas referentes ao momento do diagnóstico:

a) Variáveis demográficas

 Idade;

 Gênero;

 Cor da pele autodeclarada;

 Escolaridade: anos de estudo;

 Renda familiar;

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b) Variáveis clínicas

 Diagnóstico da DII: DC, RCUI ou CNC;

 Fenótipos clínicos das DII segundo a classificação de Montreal;

 Atraso no diagnóstico das DII: tempo médio entre início das manifestações clínicas e confirmação do diagnóstico.

3.9- Processamento dos dados e análise estatística

Os dados coletados foram inicialmente lançados em planilhas eletrônicas do Programa Microsoft Excel, formando um banco de dados para análise estatística e posterior apresentação dos resultados em tabelas e gráficos.

Foram utilizadas as seguintes análises estatísticas: média, mediana, desvio padrão (DP), valores mínimo, máximo e quartis, para variáveis quantitativas e frequências absoluta e percentual para variáveis qualitativas; teste de aderência e independência do qui-quadrado (2) de Pearson para análise das variáveis qualitativas e examinar se as doenças seguiam uma distribuição uniforme; estimativa de média com 95% de confiança (IC95%); e, Análise de Regressão Logística Múltipla (ARLM) ou Ajustada, para examinar a relação entre doença perianal e os elementos fenotípicos da DC segundo a classificação de Montreal. O nível de significância adotado foi de 5% para todos os testes.

Não houve critério estatístico de seleção de variáveis independentes para a entrada no modelo da ARLM. O critério foi exclusivamente de importância clínica das variáveis.

3.10- Aspectos éticos

Neste estudo não ocorreu coleta de material biológico dos sujeitos da pesquisa. Os dados coletados no instrumento de coleta receberam codificações, com o intuito de preservar a privacidade e anonimato dos sujeitos da pesquisa.

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Todos os formulários e documentos deste estudo foram confiados à guarda do pesquisador, de forma a resguardar a confidencialidade das informações ali estabelecidas. Previamente à coleta de dados, todos os sujeitos da pesquisa receberam informações detalhadas acerca das finalidades, objetivos, métodos, riscos e benefícios do estudo, como também assinaram o termo de consentimento livre esclarecido (TCLE), concordando e autorizando em dele participar.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí, em conformidade com o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) no 0165.0.045.000-11 (Anexo 3). Todos os centros participantes receberam autorização dos dirigentes hospitalares para a coleta de dados na instituição. Durante todas as etapas da pesquisa foram cumpridas as recomendações contidas nos “Princípios Éticos para Pesquisas Médicas envolvendo seres humanos” da Declaração de Helsinki da Associação Médica Mundial, com as diversas revisões já ocorridas (World Medical

Association, 2013), bem como todas as diretrizes da Resolução 196/1996 do

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Resultados

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4.1- Características demográficas

Neste estudo, foram incluídos 933 (novecentos e trinta e três) pacientes atendidos consecutivamente nos serviços especializados em DII de hospitais universitários públicos na região Nordeste do Brasil, sendo 486 (52,1%) com RCUI, 412 (44,2%) com DC e 35 (3,7%) com CNC (Figura 5). Houve diferença significativa (χ2=376,21; p=0,000) da distribuição de DII de uma distribuição uniforme, ou seja, a proporção de doentes não foi a mesma nos três tipos de doenças. Uma particular análise foi feita exclusivamente entre RCUI e DC, constatando-se que a proporção de doentes também não foi a mesma entre estas duas formas de DII (χ2=6,10; p=0,015). A confirmação do diagnóstico de todos os pacientes com DII ocorreu entre 1975 e 2013.

Figura 5- Distribuição dos pacientes portadores de doenças inflamatórias

intestinais (N=933), segundo a tipificação da doença [retocolite ulcerativa (RCUI), doença de Crohn (DC) e colite não classificada (CNC)], região Nordeste (Brasil), 1975-2013.

Resultados

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A idade de todos os pacientes no início da doença (DII total) variou de 8 anos a 83 anos, média de 37,9 (DP=14,4) anos. As médias de idade para RCUI, DC e CNC foram, respectivamente, 41,1 (DP=14,4) anos, 34,5 (DP=13,4) anos e 33,8 (DP=15,7) anos. A distribuição de todos os pacientes com DII, de acordo com a faixa etária dos pacientes no início da doença, sua mediana e quartis, está representada na figura 6. As distribuições e suas medidas correspondentes para DC, RCUI e CNC estão representadas na Figura 7.

As distribuições das frequências por faixas etárias com intervalos de 10 anos, de acordo com o gênero, e considerando a idade dos pacientes no momento de confirmação diagnóstica, estão representadas na Figura 8 sequencialmente para todos os pacientes com DII, DC, RCUI e CNC.

Figura 6- Distribuição dos pacientes com doenças inflamatórias intestinais (DII),

de acordo com a faixa etária no momento da confirmação diagnóstica (média e quartis), no Nordeste do Brasil, 1975-2013.

Resultados

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DC RCUI CNC

Figura 7- Distribuição de frequências, mediana e quartis dos pacientes com

doença de Crohn (DC), retocolite ulcerativa (RCUI) e colite não classificada (CNC) no momento da confirmação diagnóstica, de acordo com a faixa etária, no Nordeste do Brasil, 1975-2013.

Resultados

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DII (total) Doença de Crohn

Retocolite Ulcerativa Idiopática Colite não classificada

Figura 8- Distribuição dos pacientes com doenças inflamatórias intestinais (DII),

doença de Crohn (DC), retocolite ulcerativa (RCUI) e colite não classificada (CNC) no momento da confirmação diagnóstica, de acordo com o gênero e faixa etária, no Nordeste, Brasil.

Resultados

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Na Tabela 2 estão discriminados os resultados e análises estatísticas dos aspectos demográficos referentes aos sujeitos deste estudo, englobando o universo de todos os centros participantes. As variáveis demográficas analisadas foram: gênero, cor da pele, autodeclarada, escolaridade (onde a categoria ≤5 anos equivale à primeira fase do ensino fundamental; 6-9 anos equivale à segunda fase do ensino fundamental; e, ≥10 anos equivale ao ensino médio), local de residência (zona urbana ou rural) e renda familiar mensal. Os gráficos referentes estes resultados podem ser visualizados no apêndice.

Em relação ao gênero, do total de pacientes com DII houve distribuição semelhante entre homens e mulheres: 469 (50,3%) eram do gênero feminino e 464 (49,7%) do gênero masculino (razão mulher/homem=1,01:1; p=0,896). Quando os resultados foram analisados separadamente de acordo com os tipos de doenças, foi observado que havia diferença significativa entre os pacientes com DC e também no grupo com RCUI em relação aos gêneros. Na DC, houve predomínio do gênero masculino, com razão homem/mulher de 1,25:1 (p=0,027). Já no grupo de pacientes com RCUI, houve maior número de pessoas do gênero feminino, com razão mulher/homem de 1,25:1 (p=0,016). Por outro lado, não houve diferença estatística significante na distribuição de pacientes com CNC em relação ao gêneros: razão homem/mulher de 1,19:1 (p=0,736).

As características étnicas da população do estudo foram avaliadas com base na autodeterminação da cor da pele. As análises estatísticas referentes ao total de pacientes com DII, bem como com DC, RCUI e CNC mostraram diferenças significativas em relação à cor da pele (p<0,001), com predomínio global do grupo de indivíduos que se consideraram com pele parda, indicativa de miscigenação racial. A seguir, vieram os indivíduos de cor branca, cor preta e cor amarela, sucessivamente.

Também houve heterogeneidade entre os grupos de pacientes da população do estudo em relação ao nível educacional, quais sejam, ≤5 anos, 6 a 9 anos e ≥10 anos (p<0,001). Considerando o conjunto das DII, como também

Resultados

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apenas a DC, houve maior proporção de indivíduos na categoria com ≥10 anos de estudos. Os pacientes com RCUI e CNC também tiveram níveis de escolaridades heterogêneos, mas com percentuais muito aproximados nas categorias com ≤5 anos de estudo e ≥10 anos de estudo.

Resultados

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Tabela 2- Características demográficas dos pacientes com doenças inflamatórias

intestinais, doença de Crohn (DC), retocolite ulcerativa (RCUI) e colite não classificada (CNC), de acordo com o gênero, raça, educação, local de residência e renda familiar, 1975-2013.

Variáveis demográficas

DII total e fenótipos

DC(N=412) RCUI(N=486) CNC(N=35) DII(N=933) n (%) n (%) n (%) n (%) Gênero Masculino 229 (55,6) 216 (44,4) 19 (54,3) 464 (49,7) Feminino 183 (44,4) 270 (55,6) 16 (45,7) 469 (50,3) Teste 2 5,136 6,00 0,257 0,027 p-valor 0,027 0,016 0,736 0,896 Cor da Pele Parda 191 (46,4) 273 (56,2) 10 (28,6) 474 (50,8) Branca 178 (43,2) 163 (33,5) 24 (68,6) 365 (39,1) Preta 42 (10,2) 45 (9,3) 1 (2,9) 88 (9,4) Amarela 1 (0,2) 5 (1,0) 0 (0) 6 (0,6) Teste 2 266,932 362,955 23,029 634,764 p-valor <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 Educação (anos de escolaridade) ≤5 anos 104 (25,2) 201 (41,4) 13 (37,1) 318 (34,1) 6 a 9 anos 80 (19,4) 73 (15,0) 7 (20,0) 160 (17,1) ≥10 anos 228 (55,3) 212 (43,6) 15 (42,9) 455 (48,8) Teste 2 91,883 73,716 2,971 140,148 p-valor <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 Residência Área urbana 376 (91,3) 413 (85,0) 29 (82,9) 818 (87,7) Área rural 36 (8,7) 73 (15,0) 6 (17,1) 115 (12,3) Teste 2 280,583 237,860 15,114 529,699 p-valor <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 Renda familiar mensal Média R$ 1.836,9 R$ 1.633,1 R$ 1.865,9 R$ 1.731,8 IC (95%) Inferior 1.682,86 1.485,83 1.451,05 1.628,10 Superior 1.990,94 1.780,42 2.280,65 1.835,48

Resultados

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Houve acentuado predomínio das residências dos pacientes em áreas urbanas em todos os grupos de doenças, com variação de 82,9% a 91,3%. As análises estatísticas mostraram que havia diferença significativa (p<0,001) quando foram comparados os locais de residência em zonas urbana e rural. Em relação à renda familiar parece não haver evidências que os rendimentos médios sejam diferentes entre DC, RCUI e CNC, pois como se observa na tabela 2 todas as estimativas por intervalo de confiança (IC 95%) se interseccionam.

4.2- Características e fenótipos clínicos

Os aspectos clínicos dos pacientes, de acordo com a classificação de Montreal para os pacientes com DC estão descritos na Tabela 3. A idade quando o diagnóstico ocorreu principalmente dos 17 aos 40 anos; esta afirmação é válida tanto para mulheres como para homens. Mais da metade (56,6%) dos pacientes com DC tiveram a doença localizada no íleo terminal (L1) e cólons (L2); o que também ocorreu de forma semelhante em homens e mulheres. Quanto ao comportamento da DC, a maioria dos pacientes (42,0%) apresentou a forma inflamatória (B1), atingindo mais da metade (55,6%) quando combinada com doença perianal (B1+p). Da mesma forma que os outros aspectos clínicos, esse comportamento se manifestou de forma semelhante em homens e mulheres.

Resultados

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Tabela 3- Aspectos clínicos dos pacientes com doença de Crohn (N=412) à época

do diagnóstico, de acordo com a classificação de Montreal, no Nordeste (Brasil), 1975-2013. Elementos fenotípicos n (%) Mulheres (%) Homens (%) Idade ao diagnóstico (A) A1: ≤16 anos 15 (3,6) 7 (3,8) 8 (3,5) A2: 17-40 anos 269 (65,3) 111 (60,7) 158 (69,0) A3: >40 anos 128 (31,1) 65 (35,5) 63 (27,5) Localização da doença (L) L1: íleo terminal 96 (23,3) 42 (23,0) 54 (23,6) L2: colônica 137 (33,3) 59 (32,2) 78 (34,1) L3: ileocolônica 94 (22,8) 32 (17,5) 62 (27,1)

L4: TGI superior isoladamente 35 (8,5) 18(9,8) 17 (7,4)

L4 + L1 12 (2,9) 8 (4,4) 4 (1,7) L4 + L2 9 (2,2) 2 (1,1) 7 (3,1) L4 + L3 29 (7,0) 22(12,0) 7 (3,1) Comportamento da doença (B) B1: inflamatória B1 + p (doença perianal) 173 (42,0) 56 (13,6) 72 (39,3) 25 (13,7) 101 (44,1) 31 (13,5) B2: estenosante B2 + p (doença perianal) 68 (16,5) 19 (4,6) 28 (15,3) 8 (4,4) 40 (17,5) 11 (4,8) B3: penetrante B3 + p (doença perianal) 17 (4,1) 79 (19,2) 14 (7,6) 36 (19,7) 3 (1,3) 43 (18,8)

Com o intuito de examinar a relação entre doença perianal e os elementos fenotípicos da DC segundo a classificação de Montreal, foi elaborado um modelo de Regressão Logística Ajustado, cujos resultados mostraram a existência de associação entre doença perianal e comportamento penetrante (B3) de DC. Os pacientes com comportamento penetrante (B3) apresentaram aproximadamente 14 vezes mais chance de ter doença perianal do que os pacientes com comportamento inflamatório (B1). Esta relação foi significativa pela

Resultados

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análise estatística (p<0,001), enquanto a análise dos demais elementos fenotípicos não apresentou relação significativa com doença perianal (Tabela 4).

Tabela 4- Correlação entre doença perianal e os elementos fenotípicos da Doença

de Crohn segundo a classificação de Montreal, no Nordeste (Brasil), 1975-2013.

Elementos fenotípicos Odds Ratio

(Ajustado) IC (95%) Valor -p Idade ao diagnóstico (A) A1: ≤16 anos 0,51 0,12-2,13 0,349 A2: 17-40 anos 1,36 0,80-2,31 0,252 A3: >40 anos* - - - Localização da doença (L) L1: íleo terminal 1,19 0,44-3,25 0,730 L2: colônica 1,84 0,70-4,83 0,214 L3: ileocolônica 1,53 0,56-4,12 0,404

L4: TGI superior isoladamente* - - -

L4 + L1 0,40 0,06-2,90 0,367 L4 + L2 2,99 0,59-15,03 0,184 L4 + L3 1,55 0,46-5,25 0,483 Comportamento da doença (B) B1: inflamatória* - - - B2: estenosante 0,90 0,49-1,66 0,737 B3: penetrante 13,83 7,37-25,95 0,000 *Categorias de referência

Os aspectos clínicos dos pacientes com RCUI estão discriminados na Tabela 5: a extensão da doença (E) está de acordo com a classificação de Montreal para a própria RCUI; enquanto que as faixas etárias para a idade à época do diagnóstico (A) foi acrescentada por analogia à classificação de Montreal para DC. Neste estudo, não foi caracterizada a gravidade da doença, segundo os

Resultados

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critérios da classificação de Montreal para RCUI. Considerando todo este grupo de pacientes, a idade quando do diagnóstico ocorreu aproximadamente de forma igual nas duas últimas faixas etárias (17-40 anos e acima de 40 anos); quando separados por sexo, apenas os homens tiveram predominância da faixa etária de 17-40 anos. Quanto a extensão da RCUI, a maioria dos pacientes apresentaram comprometimento da doença até flexura esplênica (colite esquerda), ocorrendo de forma semelhante em homens e mulheres.

Tabela 5- Aspectos clínicos dos pacientes com retocolite ulcerativa (N=486) no

nomento do diagnóstico, segundo a idade e extensão da doença, no Nordeste (Brasil), 1975-2013. Elementos fenotípicos n (%) Mulheres (%) Homens (%)

Idade ao diagnóstico (A)

A1: ≤16 anos 19 (3,9) 6 (2,2) 13 (6,0) A2: 17-40 anos 247 (50,8) 130 (48,1) 117 (54,2) A3: >40 anos 220 (45,3) 134 (49,6) 86 (39,8)

Extensão da doença (E)

E1: proctite 89 (18,3) 54 (20,0) 35 (16,2) E2: colite esquerda 235 (48,4) 138 (51,1) 97 (44,9) E3: pancolite 162 (33,3) 78 (28,9) 84 (38,9)

Os aspectos clínicos dos pacientes com CNC estão descritos na tabela 6, seguindo os mesmos critérios utilizados para descrever as características clínicas da RCUI. No momento do diagnóstico, CNC ocorreu predominantemente em indivíduos com idade entre 17-40 anos; nessa faixa etária, houve predomínio de acometimento em mulheres (75,5%) do que em homens (52,6%). Quanto à extensão da doença dentre os pacientes com CNC, a maioria deles apresentou extensão da doença além da flexura esplênica (pancolite), ocorrendo de forma igual com indivíduos dos gêneros masculino e feminino.

Resultados

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Tabela 6- Aspectos clínicos dos pacientes com CNC (N=35) no momento do

diagnóstico, segundo a idade e extensão da doença, no Nordeste (Brasil), 1975-2013. Elementos fenotípicos n (%) Mulheres (%) Homens (%)

Idade ao diagnóstico (A)

A1: ≤16 anos 12 (34,3) 3 (18,8) 9 (47,4) A2: 17-40 anos 22 (62,9) 12 (75,0) 10 (52,6) A3: >40 anos 1 (2,9) 1 (6,2) 0 (0,0)

Extensão da doença (E)

E1: proctite 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) E2: colite esquerda 8 (22,9) 4 (25,0) 4 (21,1) E3: pancolite 27 (77,1) 12 (75,0) 15 (78,9)

Tendo-se como referência o ano de confirmação do diagnóstico das DII, a frequência anual de novos casos vinha apresentando aumento gradual, mas lentamente, entre 1975 e 1993. A partir de 1994, foi observado que a frequência de casos se intensificou ainda mais, passando de 2 casos novos no quinquênio de 1994-1998 para 366 casos no quinquênio de 2004-2008. Este expressivo aumento na frequência das DII foi bem caracterizado tanto para a DC quanto para a RCUI, mas nestas duas primeiras décadas do século XXI houve aumento ainda mais acentuado do número de pacientes com RCUI (Figura 9).

Resultados

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Pacientes com DII (total)

Pacientes com DC, RCUI e CNC

Figura 9- Frequência anual das doenças inflamatórias Intestinais (DII), segundo a

tipificação da doença [retocolite ulcerativa (RCUI), doença de Crohn (DC) e colite não classificada (CNC)] e o ano da realização do diagnóstico, região Nordeste, Brasil, 1975-2013.

Resultados

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No período do estudo houve grande atraso para a confirmação diagnóstica das DII em todos os centros participantes no Nordeste (Figura 10). A mediana e a média do período de tempo (em meses) entre o início das manifestações clínicas e a confirmação diagnóstica das DII foram 12,1 e 31,0 meses, respectivamente (DP=53,82; tempo mínimo=0,0 e tempo máximo=663,1 meses).

Figura 10- Tempo médio (em meses) de atraso para confirmação do diagnóstico

das doenças inflamatórias intestinais (DII total) no Nordeste (Brasil), por quinquênios, 1975-2013.

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Discussão

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5.1- Características demográficas e aspectos epidemiológicos

Este estudo foi realizado na região Nordeste brasileira, com a participação de hospitais universitários públicos onde existem centros de referência para atendimento de pacientes com DII. Esta região possui baixos indicadores socioeconômicos de desenvolvimento humano. A renda mensal média

per capita da população dessa região é bem inferior à renda média per capita em

todo o Brasil e o IDH em todos os estados nordestinos também é inferior ao IDH do Distrito Federal e das regiões Sul e Sudeste do Brasil.

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