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3. O Percurso Metodológico

3.6 Categorias de Análise

3.6.3 Categoria: Autoria

Para Bakhtin (2003, p. 190) o estudo sobre a atividade da autoria e da sua criação tem como foco o autor que se divide em: autor-pessoa (aquele que escreve), autor-criador (um posicionamento do autor-pessoa; da representação de uma voz social) e o autor-personagem (que ganha outra voz e outro posicionamento do autor- criador).

Foucault (2009) identifica a autoria como o espaço poderoso da individualização na história das ideias, dos conhecimentos, das literaturas, na história da filosofia e das ciências. Situa a figura do autor como uma categoria fundamental da crítica; com este enfoque a autoria inclui o homem e sua obra.

Pedro Demo (2006, p.5) coloca que criar é se emancipar. Criar significa aqui, ser autor da sua fala e do seu pensamento. Ostrower (2004, p. 31) afirma que criar é basicamente dar uma forma a algo novo. De acordo com esta autora, o ato criador abrange a capacidade de compreender; e esta por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar. Demo (2006) ainda defende que elaborar, ou seja, criar é a atividade preciosa no sentido de favorecer a autoria.

Freire (2004, p. 69) esclarece que o papel fundamental do professor é despertar no aluno o desejo de aprender, exigindo, portanto a valorização da criação e da autonomia. Uma pedagogia onde o homem aprenda a ser sujeito social, transformador e conhecedor de sua própria história através da práxis: ação e reflexão. Em sua obra “A pedagogia do oprimido” Paulo Freire (2004), defende que a grande tarefa do sujeito que pensa certo não é transferir, depositar, oferecer, doar ao outro, tomado como paciente de seu pensar, a inteligibilidade das coisas, dos

fatos, dos conceitos. A tarefa coerente do educador que pensa certo é, exercendo como ser humano a irrecusável prática de interligar, desafiar o educando com quem se comunica e a quem comunica produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado. Não há inteligibilidade que não seja comunicação e intercomunicação e que não se funde na dialogicidade. O pensar certo por isso é dialógico e não polêmico.

As considerações de Bakhtin, Foucault, Demo, Freire e Ostrower aqui destacadas nos evidenciam que criação e autoria andam juntas.

Maraschin (2005) define a autoria como a produção de uma diferença em uma rede de conversação. Efeito de uma posição de sujeito capaz de estranhar, questionar, refletir sobre o conversar e nele encontrar diferença, descontinuidade, ruptura, muito ao contrário de um eficiente “desempacotador” de ideias que busca a identidade, a semelhança. Mas ainda existe uma segunda condição: para existir uma autoria, a diferença produzida necessita ser reconhecida como tal pela própria rede na qual é produzida.

Adotaremos, para fins desta pesquisa que quando o sujeito narra seu entendimento sobre algum tema ou posicionamento de determinado autor; quando discute suas produções e a dos colegas; quando se propõe a refletir sobre o que leu, escreveu ou vivenciou, quando reescreve um texto, enfim, quando se dispõe a arriscar-se a expressar o que pensa, configura-se o que se pode chamar de autoria de pensamento.

Autoria na Web 2.0

Há alguns anos, os sites estavam disponíveis como livros: as pessoas acessavam, liam e viam o que era de interesse e fechavam. No máximo, a comunicação com os desenvolvedores ou responsáveis pelo conteúdo era através de um email. Atualmente, uma página que se limitar a isso está fadada ao esquecimento.

Com base nestes conceitos, explodiram serviços de relacionamentos sociais, páginas repletas de vídeos, wikis, blogs e outros serviços com um traço em comum: a participação efetiva do usuário nos dois sentidos do tráfego de informação: recebe- se conteúdo dinâmico, fornece-se conteúdo com a mesma facilidade. O mais interessante disto tudo é que não se trata de uma revolução tecnológica ou

atualização brusca. É simplesmente uma mudança na maneira de promover conteúdo dinâmico através da internet.

Esta segunda geração da World Wide Web, a Web 2.0 - termo cunhado por O’Reilly (2005) tem como palavra-chave colaboração e produção de conteúdos,proporcionando assim a democratização no uso da web, em que é possível não apenas acessar conteúdos, mas também transformá-lo, reorganizá-lo, classificando, compartilhando (...) construindo uma inteligência coletiva. (LÉVY, 2007)

é a mudança para uma Internet como plataforma, e um entendimento das regras para oferecer sucesso nesta nova estrutura. Entre outras, a regra mais importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se tornarem melhores, quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a inteligência coletiva O’Reilly (2005).

No contexto da Web 2.0, segundo Primo (2008) a prática da autoria traz para o ambiente escolar a possibilidade de ensino e aprendizagem de modo diferente e mais colaborativo e, sobretudo, de valorizar a experiência e o conhecimento do aluno. O ambiente colaborativo virtual é o ponto de partida para a troca e o compartilhamento de experiências e conhecimentos, onde todos podem divulgar com liberdade seus textos e suas produções.

Autoria pressupõe, além do exercício de novos modos de produção, o estabelecimento de novos artefatos digitais. Estes, entretanto, pouco ou nada contribuirão para desenvolver habilidades de autoria, se mudanças não forem introduzidas na abordagem pedagógica dessa prática. Entende-se por artefato qualquer material criado por um humano com o propósito de representação, como as letras esculpidas nas pedras ou um retrato registrado por meio da fotografia. No ambiente digital, o artefato pode ser qualquer coisa produzida por bits e processadores, tais como um website, um ambiente de realidade virtual ou um telefone celular (MURRAY, 2012, p. 411).

Torna-se essencial um olhar concreto acerca das potencialidades da World Wide Web na prática pedagógica, devendo esta ser encarada positivamente dado que proporciona ao aluno a descoberta da informação e, como se pretende, coloca-o num lugar privilegiado ao lhe ser dada a possibilidade de se tornar um produtor de informação para a Web. (D’EÇA, 1998)

3.6.4 Aprofundamento: graduações das intervenções nas