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4 O REIKI NA EPAC: ANÁLISES E REFLEXÕES SOBRE ESSA

4.2 Análises dos dados coletados

4.2.1 Apresentação e análise das entrevistas

4.2.1.3 Categoria Espiritualidade

A dimensão espiritual compõe o ser humano (BOFF, 2008) e, como tal, a maneira como um indivíduo a exercita, será um fator fortemente influenciador da forma como o mesmo se coloca diante do contexto em que está inserido. O reiki é uma terapia que não está vinculada a qualquer tipo de credo religioso (DE'CARLI, 2006), e que trabalha com a dimensão espiritual do ser humano, haja vista que influencia na ocorrência de experiências espirituais. Analisaremos as falas apresentadas pelos sujeitos da pesquisa, refletindo sobre a temática da espiritualidade contida nelas através da perspectiva de Ken Wilber (2000, 2005, 2008) acerca desse conceito.

[…] com o relaxamento profundo do reiki, dá uma paz de espírito livre, só o reiki dá essa sensação. A-2.

[…] apesar das turmas serem bastante agitadas, consigo preservar a minha integridade. P-1.

[…] apesar de ter participado poucas vezes, comecei a perceber a importância de se ter um tempo pra refletir sobre o que fazemos, de parar para perceber a si mesmo e ao outro e, assim nos sentirmos mais relaxados para enfrentarmos o dia a dia. P -3. […] a possibilidade da autocura e da meditação. Me sinto muito bem. Agradeço por essa possibilidade de ter sido iniciada. R-2.

Inteligamos essas falas na seguinte sentença: “O reiki proporciona sensações de relaxamento, liberdade, meditação e fortalecimento diante das adversidades que a vida

apresenta. Sinto que o reiki tem me ajudado a lidar melhor com o meus problemas, ao mesmo tempo que fez com que eu me desse conta da importância de praticar a autocura e o exercício de parar e perceber a mim mesmo.”

Vemos que o reiki, segundo a sentença construída a partir das falas expostas acima, pode servir como ferramenta de prática espiritual de uma ordem translativa, segundo a definição de religião (que abordamos aqui enquanto exercício da espiritualidade) apresentada por Wilber (2005). Nesse caso o reiki serviria como ferramenta de alento para o ego diante de situações de sofrimento, o que, inclusive, pode servir para evitar o surgimento de neuroses e psicoses (WILBER, 2005). Considerando-se que a escola pode se configurar enquanto um ambiente estressor, para os alunos, diante da pressão que recebem para que alcancem bons resultados, se preparem para o vestibular ou o ENEM, de forma que possam conseguir uma boa colocação no mercado de trabalho, bem como para os professores, que vivenciam dificuldades cotidianas relacionadas ao controle da turma, pressão para o alcance de metas, sensação de desvalorização profissional, dentre outros, percebemos que práticas que promovam a diminuição do sofrimento psíquico se mostram não só recomendáveis como também necessárias, imprescindíveis.

Contudo, o alento do ego, muitas vezes, só transfere a dor para o futuro, fazendo com que a causa do sofrimento perdure. Isso porque o ego, que está relacionado ao desejo, é a causa primária do sofrimento (CREMA, 1995). Dessa forma o exercício da espiritualidade deve buscar ir para além do ego, transcendê-lo integrando-o (WILBER, 2005). A prática do reiki pode levar a isso. Observamos fatores relacionados a essa questão no relato exposto abaixo.

Primeiramente eu já havia recebido uma sessão de reiki uma vez incentivada por um professor amigo e que costuma receber. Depois essas coisas que mexe com energia sempre me fascinou, e eu acredito demais no poder que as energias têm em nossas vidas. A minha vida mudou bastante e posso dizer com franqueza que foi para a melhor. Muitas coisas que eu não tinha coragem de realizar e agora depois do reiki eu estou conseguindo. Às vezes quando estou sozinha conversando com meus botões eu fico imaginando o quanto o reiki está me fazendo bem. Nada aconteceu por acaso e o reiki apareceu em minha vida na hora certa. Uma vez que eu já não sabia mais o que fazer com a exaustão do dia -a-dia. Foi aí que eu conversando com um professor amigo, ele me indicou o reiki. Eu só não sabia era que eu iria me tornar uma reikiana. R-1.

Observamos que a tendência para que o reiki se torne uma prática espiritual transformadora (WILBER, 2005) aumenta, em relação diretamente proporcional, à realização de sua prática por uma pessoa que se tornou terapeuta em reiki e que, a partir disso, aprofunda-se no seu processo de autoconhecimento e na busca de transcendência do

ego (WILBER, 2008). Esse caminho passa pela percepção de si mesmo, na medida em que o sujeito se posiciona de maneira autônoma diante de si e do mundo. Já não se trata de uma interpretação da realidade, mas sim da sua transmutação, interior e exterior.

As falas dos sujeitos da pesquisa nos mostraram que o ato de receber o reiki despertou, em alguns deles, o pensamento de que é importante parar, no intuito de se autoperceber, diante de um mundo no qual somos chamados, a todo instante, a nos apressar. Contudo, o mergulho dentro de si, só ocorreu, segundo a mensuração que pudemos realizar a partir dos discursos coletados e analisados, com a professora que foi iniciada e que incorporou o reiki na sua vida, utilizando-o como auxílio na busca de resolução das suas problemáticas e não somente para o entendimento das mesmas.

Os resultados encontrados permitem-nos afirmar que o reiki, enquanto ferramenta terapêutica de que nos utilizamos para tratar dos nossos desequilíbrios das mais diversas ordens, traz-nos experiências de alívio, bem-estar e equilíbrio. Contudo, o que vai gerar a transformação mais profunda será a incorporação dos princípios do reiki na nossa vida, utilizando-o, também, como ferramenta de autoconhecimento e autocura, para despertar níveis de consciência (WILBER, 2008) mais avançados.

Tomando-se como fundamento o mapa da consciência proposto por Wilber (2005), vemos que o reiki é capaz de nos auxiliar no equilíbrio dos quatro quadrantes (Interior Individual, Interior Coletivo, Exterior Individual, Exterior Coletivo), atuando nas diversas linhas da consciência (inteligência interpessoal, intrapessoal, lógico matemática e todas as outras), promovendo o desenvolvimento dessas linhas com relação aos seus níveis (Magenta - ritualística, mágica; Vermelho - valores egocêntricos; Âmbar - self conformista, necessitam ser aceitos pelo grupo; Laranja - desejo de dignidade e auto respeito; Verde - capacidade de tolerância, fomento ao diálogo, respeito, paz interior; Azul Petróleo - ligam a teoria com a prática, procuram feedback; Turquesa - pensamento holístico e intuitivo; Índigo - a mente passa a funcionar por visão, moralidade num estágio último; Violeta - reverência e apreciação por toda a Vida, cultivo da compaixão; Ultra violeta - pensamento já não se gera no corpo mas fora dele; e Luz Clara - só existe um self, permanente, óbvio; realização da realidade não dual), fazendo com que os sujeitos acessem estados alterados de consciência, ou mesmo que ascendam a estágios superiores de consciência, mostrando-se, ainda, como possível fator influenciador dos tipos de consciência (WILBER, 2005).

Em suma, é possível afirmar que o reiki, utilizado enquanto ferramenta de autocura e autoconhecimento, sendo exercitado cotidianamente e ao longo de muitos anos, tal como a meditação, pode se configurar como sendo uma ferramenta efetiva de evolução da

consciência humana, tomando como parâmetro a definição de todos os quadrantes, todas as linhas, todos os níveis, todos os estágios, todos os tipos, pelo qual Ken Wilber (2005) entende esse conceito.

Em relação aos efeitos do projeto de reiki para a EPAC, constatamos que vem servindo para reforçar o processo, que já estava se dando mediante ações anteriormente praticadas, de implementação de uma cultura de paz no contexto dessa escola. O reiki tem se mostrado como ferramenta que auxilia a resolução não-violenta de conflitos (JARES, 2002), estimuladora de diálogos pautados no respeito ao próximo, promotora da saúde física e mental (condição necessária para o exercício da cidadania) e catalizadora do processo de autoconhecimento, levando os indivíduos ao aprendizado da autoaceitação e aceitação do próximo. Podemos, então, relacionar as contribuições do reiki ao conceito de paz, segundo a perspectiva de Jares (2007) e Weil (1993).

É certo que os resultados observados até esse momento são iniciais, ainda não se mostrando palpáveis aos olhos dos professores no exercício da sua prática docente, segundo as falas coletadas nas entrevistas. Entretanto, os relatos coletados, bem como os resultados que apresentaremos a seguir, mostram que o projeto é promissor, em termos de prática capaz de promover uma cultura de paz no contexto da EPAC. Há que se levar em conta, também, as limitações atuais vividas pelo projeto, principalmente com relação à quantidade de terapeutas reikianos que apresentam disponibilidade para aplicá-lo na escola.