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Categoria F: Intercâmbio de informações entre os profissionais/gestores/usuário

6.3 QUALIDADES DE VIDA NO TRABALHO: PROPOSTAS DOS PROFISSIONAIS

6.3.6 Categoria F: Intercâmbio de informações entre os profissionais/gestores/usuário

As expressões-chave encontradas nesse discurso enfocam as propostas, que tem o objetivo de estabelecer relações de corresponsabilidade entre os protagonistas dos processos de saúde.

A proposta que tenho é desenvolver um intercâmbio melhor entre o funcionário, a própria secretária e o usuário, porque fica assim o usuário aqui, o profissional ali, a gestão ali, tudo separado teria que funcionar como uma rede.

Dar voz ao profissional, saber o que ele precisa, nós profissionais também temos que ser acolhidos. Hoje tem projetos do tipo roda de conversa, colegiado gestor, onde cada unidade participa do planejamento das ações, existe um termo que diz, planeja quem executa, quem está na ponta é que tem condições de saber o que necessita, então eu proponho que seja feita essa coparticipação. Uma gestão plena da unidade, sair do município e ter um gestor da unidade, responsável por organizar o serviço de acordo com as nossas necessidades, identificar os pontos críticos, nossas metas, tudo baseado em uma pesquisa de campo.

Às vezes, a gente se sente isolado, não tem uma visita, uma orientação, a gente se sente meio longe do pessoal que comanda, se sente como se diz, jogado a deus dará. Eu acho que uma coisa fundamental seria uma maior aproximação do pessoal da secretária de saúde com seus funcionários. O trabalhador envolvido no planejamento vai ter uma melhor qualidade de vida, ele não vai receber simplesmente ordens de cima para baixo.

Além disso, ter um projeto de conscientização e divulgação do que é o programa saúde da família para população. Muitos usuários não entendem que o PSF não é um pronto atendimento, eles acham que o atendimento tem que ser naquela hora, naquele minuto, mas não é assim. Proponho reunir mais os profissionais de saúde com a comunidade, convidar mais a população a participar das atividades, isso ajudaria muito divulgar o nosso trabalho. Convidar os usuários para os conselhos locais de saúde, discutir as questões de saúde, a população ainda participa muito pouco, por mais que a gente convida eles não participam. Eles também não têm estimulo, para participar, porque eles pensam:-Vai lá fala, fala e não acontece nada. ( 68-97-98-123-134-142-144—174-189-198-226-19-217).

Santos-Filho (2007) afirma que a informação deve ser valorizada e embasada no seu potencial de incitar os sujeitos para objetivos comuns, além de reprimir a alienação dos profissionais, conforme propicia a reflexão do seu processo de trabalho, sendo adotada como rumo para ponderar as ações e resultados do trabalho. Desse modo, o acesso à informação tem a capacidade de impulsionar a autonomia e o protagonismo dos atores sociais, sendo fundamental a efetiva comunicação entre trabalhadores, gestores e usuários.

A proposta apresentada pelos profissionais entrevistados corrobora com os princípios assinalados na PNH, que traça um método de trabalho que intima os gestores e trabalhadores na direção da formação de autonomia e da corresponsabilidade, com a intenção de estimular novos modos de conceber e coordenar o trabalho em saúde (BARROS; SANTOS-FILHO, 2011).

A PNH propõe um modelo de gestão aglutinado no trabalho em equipe, na edificação coletiva das ações de saúde e em colegiados que assegurem as decisões e avaliações comunitárias (BRASIL, 2009). O expresso na fala dos profissionais de que “planeja quem executa” é encontrado tal qual no texto Brasil (2009) que aborda as questões referentes à gestão participativa, fato que reforça que essa ideia é compartilhada pelos atores sociais da saúde.

O tema colegiado gestor é abordado pelos profissionais entrevistados, os colegiados consistem em ambientes coletivos, nos quais gestores, profissionais e usuários arquitetam discussões e sustentam decisões relacionadas ao seu cotidiano de trabalho (BRASIL, 2009).

Segundo, Brasil (2009) o colegiado gestor das unidades de saúde tem as funções de operar no processo de trabalho da unidade; incumbir os envolvidos; recepcionar e conduzir as demandas dos usuários; criar e avaliar os indicadores; sugerir e elaborar propostas; e produzir estratégias para a inclusão de todos os componentes e equipes do serviço. Esse colegiado é formado por representantes das equipes de atenção básica/saúde da família, considerando trabalhadores dos níveis superior, médio e básica.

O conteúdo roda de conversa, também é manifestado no discurso dos sujeitos entrevistados. Para Campos (2000), o método Paidéia ou da Roda é um modo de confirmar a cogestão nos serviços de saúde, de “ampliar a capacidade de direção dos grupos aumentando sua capacidade de analisar e operar sobre o mundo. O método apoia, de modo simultâneo, a elaboração e implementação de projetos e a construção de sujeitos e de coletivos organizados” (p.185).

Além das propostas relacionadas às inovações para modo de gestão dos serviços, como colegiado gestor e roda de conversar, os profissionais também levantaram o problema de que os usuários dos serviços não conhecem claramente quais as funções da ESF. É sugerido então, um projeto de conscientização e divulgação do que de fato são as atividades desenvolvidas na ESF.

Os resultados encontrados no estudo de Lima et al. (2014a) apontam que a falta de entendimento da população, quanto aos serviços oferecidos pela ESF, contribui para a insatisfação dos profissionais.

Outro assunto debatido pelos entrevistados, diz respeito à participação da população nos conselhos locais de saúde, essa é apontada como sendo fraca e de pouca representatividade. Os fatores indicados pelos profissionais para essa ausência nos conselhos são: a falta de estimulo e sensação de que a participação não ocasionará mudanças na realidade vivenciada.

Entretanto, o estudo de Bezerra, Costa e Oliveira (2014) contatou uma falta de entusiasmo por parte dos profissionais em participar do conselho local de saúde, fato que não foi observado no segmento de representantes da sociedade civil, estes exprimiram uma motivação pessoal, demonstravam estar satisfeitos em poder representar a comunidade nos espaços de tomada de decisões.

Para incitar a participação da população nos conselhos locais, foram apontadas as seguintes estratégias: divulgação do local e datas dos encontros, agendar reuniões extraordinárias para abordar assuntos levantados pela comunidade, abordar temas de interesse e relevância, procurar solucionar os problemas salientados pela população e tornar visível as atividades desempenhadas pelos conselhos (BEZERRA; COSTA; OLIVEIRA; 2014).