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Categoria: Percepções dos jovens de uma escola ideal

Com base na literatura que discute pesquisas no campo educacional, podemos afirmar que um dos maiores questionamentos é sobre qual é a escola ideal. Existem muitas teses e teorias que apresentam distintas respostas. Nesta última seção fechamos nossa pesquisa buscando identificar e compreender as percepções dos jovens sobre o que eles incluiriam na escola para torná-la mais interessante e significativa, isto é, qual seria a escola ideal para eles.

Concluindo nosso trabalho pudemos verificar nos resultados anteriores, as percepções dos jovens sobre o que falta na escola e o que deveria ter na escola para os ajudar a construir seus projetos de vida, entre as respostas identificadas, complementamos com os resultados achados nesta categoria.

Como já exposto em uma de nossas categorias discutidas, o conceito da escola ideal está diretamente relacionado ao conceito de uma escola de qualidade. De acordo com o que veremos a seguir nas falas dos jovens, a escola ideal é considerada a partir de aspectos que caracteriza uma escola de qualidade. Tomamos como ponto de partida o conceito de qualidade dado por Dourado e Oliveira (2009, p. 202) que diz:

Compreende-se então a qualidade com base em uma perspectiva polissêmica, em que a concepção de mundo, e sociedade e de educação evidencia e define os elementos para qualificar, avaliar e precisar a natureza, as propriedades e os atributos desejáveis de um processo educativo de qualidade social.

Nossa premissa é que não existe um único modelo de escola de qualidade, pelo contrário, a escola de qualidade deve atender suas respectivas necessidades, que são singulares e que advêm de um contexto particular, compostos de atores e de demandas reais que surgem nos campos de possibilidades de cada sujeito, região e país. De acordo com Dourado e Oliveira (2009), um primeiro aspecto a ser ressaltado é que qualidade é um conceito histórico, que se altera no tempo e no espaço, ou seja, o alcance do referido conceito vincula-se às demandas e exigências sociais de um dado processo histórico (2009, p. 203). Entretanto, uma escola de qualidade deve ter recursos

básicos comuns a todos e é disso que vamos tratar nesta seção, visto que os resultados dessa pesquisa apontam para eles.

Os jovens da Escola Técnica Estadual José Alencar Gomes da Silva afirmaram que uma escola ideal é aquela que apresenta melhores estruturas físicas, tem mais aulas práticas em laboratórios, mais aulas dinâmicas, dança, teatro, mais esportes, mais opções de cursos, feiras de ciências, conteúdos inovadores e mais atividades extraclasse. Vejamos suas opiniões:

Eu incluiria mais esportes, dança, cultura, aqui é uma escola boa sabe, temos sala de informática, mas temos uma piscina que está desativada, eu queria ter uma escola mais bonita, que usasse mais as salas de laboratório, de informática, a quadra, acho que é isso (Carol, fem., 17 anos, mora com os pais, só estuda). Eu incluiria mais coisas novas, aulas diferentes e aulas mais práticas, a gente não usa muito as salas que a gente tem, os laboratórios a gente mal usa, ai fica cansativo só estudar dentro da sala, principalmente a gente que estuda aqui o dia todo (Felipe, masc., 17 anos, mora com os pais, só estuda).

Deveria ter aulas mais práticas, mais passeios, feiras de ciências, aula de música de dança, Artes, essas coisas (Gleice, fem., 17 anos, mora com a mãe, só estuda). Deveria ter aula que nos ajudasse a escolher o que a gente quer fazer e como fazer, porque ficamos perdidos (Caio, masc.,17 anos, mora com a mãe, só estuda).

Incluiria mais debates sobre assuntos atuais e mais atividade fora da sala de aula (Rosa, fem.,17 anos, mora com a mãe, só estuda).

Seria mais interessante se tivesse mais aulas de outras coisas, como Artes, músicas, artesanato, robótica, coisas variadas (Cláudia, fem.,17 anos, mora com os pais, só estuda).

Para esses jovens do turno diurno que se preocupam em adquirir uma educação de qualidade para conseguir entrar em uma universidade ou trabalhar e estudar, ter uma escola que ofereça uma formação boa é fundamental, não só para atender a um plano futuro, mas para atender os mais variados projetos de vida dentro do mesmo estrato social, pois existem múltiplas trajetórias.

A escola deve proporcionar uma formação de qualidade e para isso precisa integrar em sua prática uma proposta que objetivem desenvolver no indivíduo autonomia cognitiva e pessoal. Ela

precisa, portanto, estar sempre atenta às mudanças sociais e históricas e sobretudo nas novas demandas que surgem com os passar das gerações.

As demandas podem estar relacionadas ao cognitivo, ao emocional e ao corpo do indivíduo, o ideal seria que a escola já estivesse preparada para lidar com os desafios que chegam na escola por meio dos estudantes, fosse uma das primeiras a se atualizar dos fatos e acontecimentos e não esperar que as novas culturas a “engolisse”. Para isto, os responsáveis por movimentar a escola e suas diretrizes precisariam sempre estar em busca de conhecimentos novos, por dentro do que acontece globalmente, seu interesse deve ser priorizar a formação completa do indivíduo e fornecer recursos, infraestruturas, materiais didáticos, profissionais capacitados e o que for necessário.

Para os jovens do ensino médio da escola Estadual de Paulista uma escola ideal é aquela que apresenta estruturas físicas melhores, professores qualificados, materiais didáticos para as aulas, aulas práticas e em laboratórios, salas com computadores para pesquisar na hora da aula, ter aula de música, mais esportes, internet, e aulas diversificad as e dinâmicas. Jovens da escola B:

Eu incluiria uma estrutura melhor, professores qualificados, materiais para as aulas (Tiago, masc.,20 anos, mora com os pais, estuda e trabalha).

Aulas práticas e em laboratórios (João, masc.,17 anos, mora com a mãe, só estuda).

Mais professores na escola, e se tivesse mais oportunidades para as jovens que querem ser jogadora (Tati, fem.,17 anos, mora com a mãe, só estuda).

Mais aulas externas, laboratórios e também uma boa internet (Carlos, masc., 21 anos, mora com a mãe, estuda e trabalha).

O ensino de forma diferente, uma mudança do ensino padrão para um ensino mais atrativo (Maria Flor, fem.,17 anos, mora com a mãe, só estuda.).

Eu incluiria mais aulas práticas e projetos com temas do dia a dia (Ana, fem.,17anos, mora com a mãe, só estuda).

Salas com computadores para pesquisar na hora da aula e sala para pesquisar nas aulas de biologia e química (Luana, fem.,18 anos, mora com o pai, só estuda). Eu colocaria aulas de músicas e uma gravadora (Leonardo, masc., 17 anos, mora com os pais, só estuda).

Incluiria aulas de empreendedorismo, esportes diversificados, professores qualificados e ajuda pedagógica (Antônia, fem., 18 anos, mora com a mãe, estuda e trabalha).

Para estes jovens do turno noturno que se preocupam com uma formação de qualidade para ter trabalhos melhores e continuar estudando e trabalhando quando terminarem o ensino médio, também ressaltamos a importância de práticas na escola que objetivem desenvolver suas capacidades, cognitivas, emocionais e físicas. Talvez o termo educação básica reduza a educação a conhecimentos mínimos possíveis, o básico tem garantido apenas conhecimentos que permite que esses jovens consigam postos de trabalhos precarizados. No nosso entendimento esse termo pode ser ressignificado e apresentar o sentido de educação integral, inteira, completa como bem diz o significado da palavra “integral”.

É importante observar que a escola ideal mencionada pelos jovens de ambas escolas é a escola pública em seu correto funcionamento como garante a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-LDBEN 9394/96 e o Plano Nacional de Educação-PNE. Para os próprios jovens pensar em algo para além de uma escola que não garante recursos básicos é pensar no improvável, isto porque tantos os pesquisadores quanto quem vivem a escola estão preocupados em garantir o que é seu por direito.

A escola pública brasileira ainda não universalizou condições básicas de funcionamento, por isso que é tão evidente nas falas dos jovens que uma escola ideal é aquela que tem estruturas físicas melhores, professores qualificados, materiais didáticos para as aulas, aulas práticas e em laboratórios, salas com computadores para pesquisar na hora da aula, ter aula de música, dança, teatro, mais esportes, internet, e aulas diversificadas e dinâmicas, atividades extraclasse, cursos, feiras de ciências e conteúdos inovadores, fatores que já deveriam ser considerados comuns e não algo ainda a ser alcançado. Para Carrano (2010), “os jovens reclamam da inadequação da prática docente, da falta de sentidos práticos sobre o que está sendo ensinado, da desorganização do espaço escolar e da falta de infraestrutura material e humana para a boa aprendizagem” (CARRANO, 2010, p. 144).

A partir do exposto acima vale retomar a discussão sobre a Lei 13.415/2017 que regulamenta a reforma do ensino médio. Como já discutido no capítulo 3, o art. 36, assegura, que “o currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino.