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4. A NOTÍCIA COMO DISCURSO

4.4.1 Categorização

Na decodificação do texto utilizando a AC é necessária a criação de unidades a partir dos resultados brutos conseguidos depois de uma leitura dos textos que compõem

o corpus. Essas unidades devem obedecer a regras e serem agregadas para se enquadrarem em algum critério, a essa junção das unidades respeitando uma classificação dar-se o nome de categorias. “As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão as características comuns destes elementos” (BARDIN, 2011, p.147).

Um dos objetivos dessa classificação é organizar a mensagem analisada. Para isso, Bardin afirma que as categorias devem conter algumas características:

- não pode haver elementos comuns entre as partes temáticas;

- a categoria deve ser revestida por apenas um princípio classificatório, tornando-a homogênea;

- a categoria deve estar condizente com o contexto comunicativo em que está inserida;

- a escolha dos elementos que qualificam a categoria deve ser objetiva e clara, para evitar que a subjetividade do analista interfira no resultado da análise;

- a classificação deve possibilitar a produção do maior número de conclusões possíveis e resultados efetivos.

Neste trabalho será utilizado o critério de categorização semântico, ou seja, categorias temáticas. Elas estão dividas entre os atores políticos principais e os acontecimentos que foram destaque ou interferiram de algum modo na campanha eleitoral. As duas categorias principais serão os candidatos José Serra, do PSDB, e Dilma Rousseff, do PT. Isso porque eles figuraram durante toda campanha nos dois primeiros lugares nas pesquisas eleitorais, eram os candidatos com maiores representatividades no Congresso Nacional e a revista focou suas matérias sobre as eleições nesses dois presidenciáveis, muitas vezes, recorrendo ao maniqueísmo. Essa categoria será subdividida em agentes positivos e negativos, quando o ator em questão for retratado de maneira a valorizar sua imagem ou não. Para isso, serão vistos os adjetivos que são atribuídos a eles e o contexto em que o candidato está inserido. Outro aspecto que auxiliará neste tipo de análise será a temporalidade, isto é, atentar para a maneira como fatos do passado relacionados ao personagem do qual trata a matéria são resgatados e inseridos no meio dos acontecimentos atuais e assinalar a importância dessa rememoração para a construção e a contextualização noticiosa.

Outras categorias temáticas serão formadas por acontecimentos políticos e relativos à cobertura da revista que foram destaques durante o período de análise.

Quatro temas mereceram ampla cobertura não somente na Carta Capital, mas de outros veículos noticiosos, devido a notoriedade dos envolvidos, por serem fatos que resultaram em escândalos políticos e de interesse nacional, resultado de denúncias e pelo impacto ou inusitado desses fatos na política e na sociedade brasileira.

Uma categoria vai ser relacionada ao tema aborto. Esse é um assunto delicado na imprensa e na política brasileira por envolver questões religiosas e enfoques distintos, a depender da ideologia do sujeito falante. Na eleição de 2010, esse tema integrou a pauta da campanha e de debates. Outra categoria que compõe o estudo é formada pelos escândalos políticos que repercutiram durante o período de análise. Essa categoria será subdividida em três. A primeira dessas subcategorias será composta pela análise das matérias sobre o dossiê com dados fiscais e tributários dos Tucanos6. Durante a campanha surgiram rumores que pessoas ligadas ao PT estavam produzindo dossiês com dados sigilosos de pessoas ligadas ao PSDB e de familiares de José Serra. A segunda subcategoria será sobre o caso Erenice Guerra. A então ministra-chefe da Casa Civil em 2010 pediu demissão depois de denúncias de que seus familiares estavam envolvidos em esquemas de tráficos de influências, fraudes em licitações e atos ilícitos envolvendo a pasta que chefiava. A última divisão da categoria “Escândalos Políticos”, será sobre a relação entre o candidato peessedebista com Paulo Vieira de Souza, também conhecido como Paulo Preto, engenheiro que teria arrecadado verbas para a campanha de Serra, mas os coordenadores da campanha não disseram que não receberam o dinheiro e o candidato afirmou que não conhecia nenhum Paulo Preto.

Outro ponto a ser analisado, é o fato do continuísmo político. A Carta Capital acredita na continuidade do governo de Lula caso Dilma viesse ser eleita. Fazendo comparações e relembrando governos, a revista pretende retratar o quão foi ruim o governo FHC, que Serra, se eleito for, ressuscitará, e quão bom foi e é o período Lula na Presidência da República, já que ela é definida reiteradas vezes como “a candidata de Lula”.

Não só fatos embasados por critérios de noticiabilidade servirão de categoria, como é o caso da categoria que trata das pesquisas eleitorais e da transferência de votos. Durante o período de análise, percebeu-se que a Carta Capital tratou desse tema no seu

6 O PSDB tem como símbolo um Tucano de papo amarelo. De acordo com o uma reprodução feita pelo

site da sigla do livro Franco Montoro, organizado por Antonio Carlos Mendes Thame e Ricardo Montoro, a escolha do animal se deu por três fatores: o amarelo do papo foi a cor do movimento das diretas; o animal representa um ícone da preservação ambiental e ele é uma ave que representa a fauna brasileira. Os peessedebistas são também chamados de “tucanos”.

noticiário, isso porque havia uma descrença do semanário em alguns números ou institutos de pesquisas. O que resultou em matéria de capa, reportagens investigativas e entrevistas.

5. PRINCIPAIS ATORES SOCIAIS DESTE TRABALHO

Conforme explicitado anteriormente, a construção e interpretação do discurso são influenciadas pelos contextos nos quais estão inseridos os produtores e interpretantes. Neste capítulo serão relatados históricos dos principais atores sociais presentes no estudo: Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB), Mino Carta e a Carta

Capital. Isso para compreender de que modo o contexto histórico, social e político está

imbricado na construção da notícia da revista.

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