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Catolicismo como religião predominante no Brasil

3.1 DIREITO CONSTITUCIONAL DE LIBERDADE DE CRENÇA

3.1.1 Catolicismo como religião predominante no Brasil

A partir deste ponto, o presente trabalho abrangerá as religiões que praticam o sacrifício de animais, ponto central da discussão constitucional acerca do tema. Apesar de o sacrifício de animais estar presente na maioria das escrituras consideradas sagradas, apenas algumas religiões preservam tal prática até os dias atuais.

Sabe-se que, dentre as religiões que praticam o sacrifício de animais atualmente, o catolicismo não se inclui. Todavia, por ser a religião com maior número de adeptos no Brasil, somando, aproximadamente, 64,6% (sessenta e quatro vírgula seis por cento) da população brasileira, conforme figura abaixo, é importante relatar um breve histórico de sacrifícios, em especial de animais, então praticados no catolicismo.

Relatos de sacrifícios de animais na religião católica são encontrados no antigo testamento da Bíblia, escritura sagrada da referida religião. Várias passagens bíblicas fazem alusão à prática, segundo o velho testamento, senão vejamos:

E quando o pecado que cometeram for conhecido, então a congregação oferecerá um novilho, por expiação do pecado, e o trará diante da tenda da congregação, E os anciãos da congregação porão as suas mãos sobre a cabeça do novilho perante o SENHOR; e degolar-se-á o novilho perante o SENHOR. Então o sacerdote ungido trará do sangue do novilho à tenda da congregação, E o sacerdote molhará o seu dedo naquele sangue, e o espargirá sete vezes perante o SENHOR, diante do véu. E daquele sangue porá sobre as pontas do altar, que está perante a face do SENHOR, na tenda da congregação; e todo o restante do sangue derramará à base do altar do holocausto, que está diante da porta da tenda da congregação. E tirará dele toda a sua

gordura, e queimá-la-á sobre o altar; E fará a este novilho, como fez ao novilho da expiação; assim lhe fará, e o sacerdote por eles fará propiciação, e lhes será perdoado o pecado (Levítico 4:14-20).

O sacrifício de animais se faz presente desde as passagens de Adão e Eva. Quando o primeiro casal cometeu o pecado, animais foram mortos por Deus para providenciar vestimentas para eles: ―E fez o SENHOR Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu‖ (Gênesis 3:21).

Na história dos irmãos Caim e Abel, fato bíblico conhecido como o primeiro homicídio da humanidade, a ocorrência principal que desencadeou o homicídio teria sido uma oferenda a Deus, qual seja:

E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o SENHOR para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante (Gênesis 4:3-5).

Em análise às demais passagens, encontram-se outros sacrifícios de animais. Após o recuo do dilúvio, Noé sacrificou animais a Deus, senão vejamos:

E edificou Noé um altar ao SENHOR; e tomou de todo o animal limpo e de toda a ave limpa, e ofereceu holocausto sobre o altar. E o SENHOR sentiu o suave cheiro, e o SENHOR disse em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como fiz (Gênesis 8:20-21).

Ainda segundo o antigo testamento, temos a história de Abraão e Isaque, que assim pode ser descrita:

E estendeu Abraão a sua mão, e tomou o cutelo para imolar o seu filho; Mas o anjo do SENHOR lhe bradou desde os céus, e disse: Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui. Então disse: Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único filho. Então levantou Abraão os seus olhos e olhou; e eis um carneiro detrás dele, travado pelos seus chifres, num mato; e foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho (Gênesis 22:10-13).

Percebe-se que, em todas as passagens bíblicas do antigo testamento, encontram- se, pelo menos, um caso de sacrifício envolvendo animais. Porém, a prática de sacrifício de animais atinge seu ponto máximo com a nação de Israel (CHALLAYE, 1981).

Esse ponto máximo se atribui devido ao fato de Deus ter ordenado que essa nação executasse inúmeros sacrifícios diferentes. De acordo com Levítico 1:1-4, o sacrifício era dotado de procedimentos, tais como a exigência de um animal perfeito, bem como a interação entre a pessoa que estava oferecendo o sacrifício e a oferta. Por fim, a pessoa que ofereceu o

animal em sacrifício deveria imolar o animal. Acreditava-se que, quando efetuado com fé, essa espécie de sacrifício perdoaria os pecados.

Além deste, outra espécie de sacrifício, descrito em Levítico 16, providencia perdão e retirada dos pecados. Tal sacrifício era denominado ―Dia de Expiação‖, qual seja:

Depois degolará o bode, da expiação, que será pelo povo, e trará o seu sangue para dentro do véu; e fará com o seu sangue como fez com o sangue do novilho, e o espargirá sobre o propiciatório, e perante a face do propiciatório (Levítico 16:15). [...] Havendo, pois, acabado de fazer expiação pelo santuário, e pela tenda da congregação, e pelo altar, então fará chegar o bode vivo. E Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniquidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, e todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um homem designado para isso. Assim aquele bode levará sobre si todas as iniquidades deles à terra solitária; e deixará o bode no deserto (Levítico 16:20-22).

Agindo desta forma, acreditava-se que a oferta pelo pecado providenciava perdão, enquanto que o outro bode providenciava a retirada do pecado.

Durante toda a vigência do antigo testamento, o sacrifício de animais no catolicismo era predominante e comum. Devido às mudanças ocorridas no cenário cristão, tais práticas foram abolidas da doutrina, passando a ser inutilizadas por todos os fieis da Igreja Católica (CHALLAYE, 1981).

Nos dias atuais, o sacrifício de animais é descabido na doutrina cristã. A inutilização de tal prática se deve ao fato de que ocorrera um sacrifício supremo, qual seja, Jesus Cristo. Na bíblia, a confirmação ocorre quando João Batista o avista e proclama: ―Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo‖ (João 1:29).

Antigamente, os homens sacrificavam animais devido ao fato de eles serem puros, não terem cometido pecados. Jesus Cristo, segundo a bíblia, também era puro, sem pecados, ―O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo‖ (1 Timóteo 2:6).

Acredita-se que Jesus Cristo tenha chamado para si todos os pecados e, por esse motivo, morreu no lugar dos pecadores. Por tal motivo, afirma-se que: ―Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus‖ (2 Coríntios 5:21). Portanto, acredita-se, no catolicismo, que através do sofrimento e fé que Jesus Cristo cumpriu na cruz, hoje qualquer pessoa pode receber o perdão.

Para finalizar, antigamente animais eram oferecidos ao sacrifício porque Deus ordenou o sacrifício de uma criatura para a remissão dos pecados. O animal fazia as vezes de pecador, agindo como um substituto, uma vez que morre no lugar do pecador (CHALLAYE, 1981).

Com o sacrifício de Jesus Cristo, tal prática foi abolida, pois ―o substituto sacrificial supremo é agora o mediador entre Deus e os homens‖ (1 Timóteo 2:5) e, portanto, a prática deixou de ser executada há mais de 2000 anos.

Apesar de não mais existir sacrifício de animais no catolicismo, outras crenças religiosas ainda realizam tal prática, sendo apresentadas, a seguir, as religiões de maior número de adeptos que sacrificam animais em seus cultos.