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Parte I: Antes de interpor a ação de tutela

4.2.7 Causas que levaram o utente a interpor a ação da tutela

Relativamente à categoria – causas que levaram o utente a interpor a ação de tutela – esta reúne as subcategorias que visam o motivo da ação da tutela do doente como explicado pelo familiar e pelo próprio, particularizando: a demora na emissão da autorização, cobrança de copagamentos (paciente sem capacidade de pagar), tempos de

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espera elevados nas consultas de especialidade, falta de comparticipação nos medicamentos, entrega incompleta de medicamentos, falta de equipamentos, negação de serviços não cobertos nos planos de saúde, não prestação de cuidados de saúde por carência ou vencimento de contratos de seguros com centros de saúde.

a. Demora na emissão da autorização

A demora na emissão da autorização pela seguradora é transversal aos sujeitos que participaram na presente investigação, nomeadamente:

“ [...] definitivamente, é muito… que os pacientes morram enquanto esperam por uma autorização para aceder aos cuidados de saúde, aos medicamentos, é triste…” e15, RS)

“ [...] sim, é um processo longo, muito longo porque as filas eram de muito tempo em Comfama (seguradora) … eram de muito tempo… depois diziam-nos para voltarmos pela autorização aos 15 dias, depois desse tempo íamos e ainda não estava pronta e assim acontecia sempre…” (e3, RS)

b. Cobrança de copagamentos (paciente sem capacidade de pagar)

A cobrança e os pagamentos para ter acesso aos cuidados de saúde são uma realidade e com custos muito elevados para os rendimentos familiares. Os entrevistados referem que:

“ [...] porque como me estavam a cobrar copagamentos muito altos, então eu não tinha dinheiro e, por essa razão, negaram-me o cuidado de saúde porque eu não tinha dinheiro para pagar…” (e12, RC

Assim como referem a cobrança de taxas moderadoras que, muitas vezes, é um obstáculo para aceder aos cuidados de saúde como especifica:

“ [...] porque se estou no nível em que estou, tenho que pagar taxas moderadoras para todos os cuidados de saúde, sempre tenho que pagar $9.200 (€3), veja, eu levei-o ao médico nestes dias e prescreveram-lhe uns medicamentos e não consegui levantá-los na farmácia porque não tinha os $9.200 (€3)…”(e13, RS)

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c. Tempos de espera elevados nas consultas de especialidade

Antes de interpor a ação de tutela, a maioria dos doentes dizem que não tinha acesso a um médico especialista que o acompanhasse de forma permanente, pois muitos relataram dificuldades em fazer as marcações e os tempos de espera eram muito elevados, além da falta de disponibilidade de profissionais de saúde. Alguns tiveram que pagar a consulta com médicos do sector privado, como exemplificam as seguintes citações:

“ [...] sim, muitas vezes levamo-la a médicos privados porque sempre pensamos que não lhe estavam a fazer nada por falta de médicos…” (e8, RC)

“ [...] essa é a resposta sempre, não há agenda aberta, sempre que ligo fala a operadora por muito tempo, depois atende um funcionário para dizer que não há agenda, que continue a ligar nos próximos dias e pergunto mais ou menos para quando e só dizem que continue a ligar… essa é a resposta que dão, que ligue e ligue…” (e5, RS)

d. Falta de comparticipação de medicamentos

A falta de comparticipação de medicamentos prende-se com a burocracia e procedimentos de preenchimento de papéis necessários para aviar as receitas, ficando os doentes sem acesso imediato à medicação, como descreve a seguinte citação:

“ [...] não, não tive porque de lá mandaram-me para a farmácia, eu levei a prescrição que me deu o médico e disseram-me que tinha que voltar em 10 dias. Passaram-se os 10 dias e a resposta foi que os medicamentos não tinham chegado e outras vezes que tenho que esperar… depois vou à farmácia e dizem que não há medicamentos…” (e5, RS)

e. Entrega incompleta de medicamentos

Segundo os participantes, a entrega de medicamentos, por vezes, foi efetuada, mas de forma incompleta, quer por ser esporádica, quer por não serem os medicamentos necessários, como se especifica nas seguintes citações:

“ [...] esse medicamento entregam poucas vezes, por isso tive que interpor a ação de tutela…” (e7, RS)

“ [...] Teve uma interrupção e passou 6 meses sem fraldas e sem medicamentos…” (e3, RS)

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O mesmo parece acontecer no caso de necessidade de medicamentos específicos para doenças crónicas, sendo essa entrega também esporádica, como descrevem os seguintes relatos dos entrevistados:

“ [...] demoraram mais, ou seja, ao princípio davam os medicamentos com mais frequência, a cada mês, depois já não, que não havia, que não havia…” (e5, RS) “ [...] a vizinha também tem Alzheimer e não recebe regularmente os medicamentos (memantina).” (e14, RS)

f. Falta de equipamentos

A falta de produtos médicos, como fraldas, e de equipamentos, como as cadeiras de rodas, foram dos principais motivos para interporem a ação de tutela, pelos elevados custos que acarretam e que são insuportáveis para as famílias. Como se exemplifica nas seguintes citações:

“ [...] tive que recorrer à ação de tutela porque a minha irmãzinha não tinha direito a umas fraldas, segundo a resposta da seguradora…” (e5, RS)

“ [...] ele não pode caminhar, então o médico prescreveu-lhe a cadeira de rodas e as fraldas, tivemos muita dificuldade porque foram negados pela seguradora…” (e12, RC)

g. Negação de serviços não cobertos nos planos de saúde

A negação de cuidados de saúde como terapias, medicamentos, equipamentos e/ou produtos médicos porque não estão cobertos pelos planos de saúde foi prática comum, como referem os entrevistados:

“ [...] Na EPS (seguradora) diziam que não era obrigatório dar as fraldas, que isso não estava dentro do POS (Plano Obrigatório de Saúde)” (e3, RS)

“ [...] chegou um momento em que lhe negaram esse medicamento e tive que interpor uma ação de tutela” (e7, RS)

“ [...] as fraldas e a cadeira de rodas foram imediatamente negadas, a resposta foi que o plano de saúde não cobria nada disso…” (e12, RC)

h. Não prestação de cuidados de saúde por carência ou vencimento de contratos de seguros com centros de saúde

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O fim do contrato entre a seguradora e o centro de saúde teve efeitos nos cuidados de saúde, porque o centro de saúde recusou-se em fornece-los ao paciente, exemplificado na seguinte citação:

“ [...] que não podiam fazer a cirurgia porque já tinha acabado esse contrato com Comfenalco (a seguradora) …” (e13, RS)

Os entrevistados também relataram a falta de cuidados de saúde pela ausência de contratos com o centro de saúde onde foi autorizado o serviço, referido na seguinte citação:

“ [...] não tinha contrato de nada, não podiam fornecer os cuidados de saúde porque não tinham contrato, então que tinha que ser negado…” (e10, RS)

Houve mudanças no subsistema de saúde, como liquidação de seguradoras e, portanto, a filiação do paciente a outra seguradora, o que gerou uma interrupção na prestação dos cuidados de saúde, como se exemplifica nas seguintes citações:

“ [...] como disse, o problema neste momento foi a mudança da Comfama para a Saviasalud, porque tive uma interrupção no fornecimento dos medicamentos, agora o meu filho está sem medicamentos há dois meses …” (e7, RS)

“ [...] três, com a Saviasalud vão três, nós estávamos na Condor, depois na Comfama e Comfenalco …”, o que aconteceu foi que o gerente estragou tudo e, por isso, os pacientes são os prejudicados…” (e5, RS)