• Nenhum resultado encontrado

5. Discussão

5.3 CCoV

Contrariamente aos vírus anteriores, no caso do CCoV as amostras apenas foram testadas através de real-time PCR. A baixa prevalência obtida nos dois anos foi muito semelhante: 1,9% em 2010 e 1,1% em 2011.

Apesar da crescente importância do CCoV como agente patogénico dos cães, a sua distribuição mundial não é ainda muito conhecida. Existem poucos estudos recentes sobre a prevalência deste vírus em populações comparáveis à do presente trabalho. Como foi referido anteriormente, nos últimos anos a maioria das investigações centra-se principalmente na prevalência deste vírus em cães com diarreia provenientes de canis, centros de recolha de animais ou clínicas, com vista à caracterização genética viral aí presente (Ntafis, Mari, Danika, Fragkiadaki & Buonavoglia, 2010; Soma et al., 2011; Stavisky et al., 2012).

Numa investigação efetuada num canil do Reino Unido, este vírus foi isolado em 45% das amostras fecais colhidas a partir de cães com e sem diarreia, mas a seroprevalência obtida foi de 76% (Tennant, Gaskell, Jones & Gaskell, 1993). No Japão, Bandai et al. (1999) testaram a presença de anticorpos neutralizantes em 467 cães provenientes de abrigos para animais e a prevalência foi de 44,1%. No mesmo estudo, analisaram ainda 100 zaragatoas retais de cães com diarreia através de RT-PCR e detetaram o vírus em 16% das amostras. Um extenso rastreio serológico foi realizado por Naylor et al. (2001), onde testaram a presença anticorpos em amostras de sangue de diferentes grupos de cães da Austrália. Num total de 1396 amostras, 40,8% dos animais provenientes de canis possuíam anticorpos anti-CCoV, enquanto que em apenas 15,8% de cães domésticos que contactavam com o exterior se verificaram estes anticorpos. No estudo efetuado por Dezengrini et al. (2007) em Santa Maria, Brasil, verificaram que 50,4% dos animais eram positivos a anticorpos contra o CCoV. Entre 2003 e 2004, Ahn, Jeoung, Pak e Kim (2007) testaram a presença de anticorpos contra este vírus em 817 cães adultos saudáveis de diferentes províncias da Coreia e obtiveram uma seroprevalência de 87,9%, o que significa que o CCoV se encontra bastante disseminado neste país. Na ilha Isabella, nas Galápagos, nenhuma das 95 amostras testadas por Levy et al. (2008) era seropositiva ao CCoV. Na Alemanha, Schulz, Strauch, Mueller, Eichhorn e Hartmann (2008) registaram uma prevalência de 17,5% em 200 cães saudáveis através de microscopia eletrónica. Num centro de recolha de cães, Erles & Brownlie (2009) investigaram a eliminação deste vírus a partir de amostras fecais de 40 animais através de RT-PCR e a prevalência obtida foi de 17,5%. Nenhum dos cães apresentava sinais de doença entérica o que indicou a presença de infeções subclínicas na população. Mais recentemente, no sul do Brasil, Castro et al. (2010) analisaram a seroprevalência do CCoV numa população de 121 cães: 22 eram não-vacinados, 69 tinham sido vacinados pelo menos uma vez e 30 possuíam histórico de vacinação desconhecido. Os anticorpos estavam presentes em 45,5% dos não-vacinados, 24,8% dos sem histórico de vacinação e 47,8% dos vacinados. Com base nos resultados, os autores sugeriram uma possível falha de vacinação. Num estudo realizado por Stavisky et al. (2010), recolheram-se aleatoriamente amostras fecais de 249 cães provenientes de diversas clínicas veterinárias de todo o Reino Unido para deteção do CCoV através de RT-PCR. Apesar do número de cães ser elevado, a prevalência obtida foi de apenas 2,8%. Estes autores referem que as diferenças observadas entre os diversos estudos efetuados podem depender de vários fatores incluindo os métodos de deteção utilizados assim como as características e estado de saúde das populações de cães em estudo. Mencionam ainda que a prevalência do CCoV numa população pode variar com o tempo e que depende do timing da colheita de amostras. Esta prevalência é também geralmente superior em cães com diarreia comparando com cães saudáveis (Stavisky et al., 2012). Soma et al. (2011) avaliaram a presença de RNA deste vírus a partir de 109 amostras fecais de cães diarreicos provenientes de várias

clínicas do Japão e verificaram que a prevalência nos cães com menos de 1 ano era significativamente superior relativamente aos cães com idades superiores a 1 ano (66,3% e 6,9%, respetivamente), indicando que esta infeção pode ser uma importante causa de diarreia nos cães mais jovens. No estudo efectuado por Decaro et al. (2011) referido anteriormente, os autores testaram também a presença de CCoV nas 156 amostras fecais provenientes de cães diarreicos de vários países da Europa, obtendo uma prevalência média de 38,5%. Na Irlanda, McElligot et al. (2011) obtiveram uma prevalência de CCoV semelhante à registada no nosso trabalho. Estes autores testaram a presença do vírus em 250 amostras fecais através de RT-PCR e apenas 3 eram positivas (1,2%). Os cães envolvidos no estudo eram provenientes de várias regiões do país e incluíam animais vacinados e não vacinados assim como sintomáticos e assintomáticos.

Apesar dos mecanismos epidemiológicos do CCoV serem pouco conhecidos, a investigação efetuada ao longo dos últimos 20 anos sugere que o ambiente proporcionado pelos canis pode ser fundamental na manutenção desta infeção nas populações caninas. Tendo em conta as características da nossa população de cães, os resultados obtidos no presente trabalho estão de acordo com aqueles registados em alguns estudos. A baixa prevalência que se verificou nos cães errantes de Vila do Maio entre 2010 e 2011 significa que o vírus se encontra a circular em baixas concentrações nesta região, o que se pode dever à baixa estabilidade do vírus em condições ambientais normais ou também ao reduzido número de partículas virais nas fezes no momento da colheita. À semelhança do que ocorre com o CPV, cães recuperados de uma infeção por CCoV podem funcionar como reservatórios assintomáticos e excretar o vírus periodicamente, o que resulta numa persistência e circulação contínua do mesmo no ambiente.

Caso se analisasse a seroprevalência das amostras, os resultados poderiam não ser fidedignos, uma vez que os testes serológicos são baseados na identificação de anticorpos contra o CCoV-II, sendo desconhecida a sua eficácia na deteção de anticorpos anti-CCoV-I (Stavisky et al., 2010). Para além disso, o decréscimo de anticorpos anti-CCoV parece ser muito rápido (Zarnke et al., 2001), sendo questionável a utilidade destes métodos.

Como a percentagem de animais com diarreia e a prevalência deste vírus foram muito baixas, não foi possível fazer uma associação estatística entre os dois parâmetros.

Documentos relacionados