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De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2009) existem cerca de 284 milhões de pessoas com deficiência visual em todo o mundo, das quais 39 milhões são cegas. Estima-se que, desse montante, mais de 1 milhão são crianças, com menos de 15 anos. A OMS calcula que 90% das pessoas com esse tipo de deficiência encontram-se nos países em desenvolvimento.

Em 2000, de acordo com o Censo Demográfico, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), o Brasil tinha uma população de 169.872.856. Desse total de pessoas, pouco mais de 24,6 milhões se declararam portadoras de deficiência (14,5% da população total). Sendo, a região sudeste a que tinha a menor proporção de deficientes (13,1%) e o Nordeste a que apresentava o maior percentual, 16,8%.

43 No Brasil, no ano de 2000, 16.644.842 de pessoas se declaram deficientes visuais. Destas, 148.023 afirmaram ser incapazes de enxergar, 2.435.873 disseram ter grande dificuldade para enxergar e 14.060.946 pontuaram ter alguma dificuldade para enxergar. Do total de cegos, 77.863 eram do sexo feminino e 70.160 do sexo masculino.

No Nordeste havia 57.416 cegos, dos quais 26.854 eram homens e 30.562 eram mulheres. O estado com o maior número de cegos era a Bahia (15.369), seguido de Pernambuco (9.340), Ceará (9.229), Maranhão (6.399), Paraíba (4.586), Piauí (4.204), Rio Grande do Norte (3.438), Alagoas (2.904) e Sergipe (1.947).

Percebe-se, pois, que o número de pessoas com problemas para enxergar é alto e frente a essa realidade faz-se necessária uma discussão acerca do que é deficiência visual e do que pode ocasioná-la.

2.3.1 Definições e causas da cegueira

São considerados deficientes visuais, tanto as pessoas cegas como as com baixa visão (ou visão subnormal). A OMS (2009) define cegueira como a acuidade visual inferior a 3/60 (0,05) ou uma perda no campo visual inferior a 10 graus, no olho de melhor visão, após a correção refrativa. Enquanto que baixa visão é definida como acuidade visual inferior a 6/18 (0,3), mas igual ou superior a 3/60 (0,05) ou um campo visual com perda de menos de 20 graus, no melhor olho, após as correções possíveis.

Cunha e Fiorim (2003) afirmam que os indivíduos considerados cegos são aqueles que possuem a visão nula ou diminuída a ponto de incapacitá-los para o exercício da maioria das tarefas diárias, enquanto que os indivíduos que possuem baixa visão são aqueles que têm dificuldade em executar tarefas visuais sem a prescrição de lentes corretivas, mas que podem aumentar suas habilidades, desde que sejam utilizadas estratégias visuais compensatórias ou modificações no ambiente.

Dito de outra forma, a cegueira traduz-se em “uma alteração grave ou total de uma ou mais funções elementares da visão que afeta de modo irremediável a capacidade de perceber cor, tamanho, distância, forma, posição ou movimento em um campo mais ou menos abrangente” (p.15), podendo ocorrer desde o nascimento - cegueira congênita - ou posteriormente - cegueira adquirida (Sá, Campos & Silva, 2007). Já a baixa visão, de acordo com as autoras citadas, pode ser definida como redução da quantidade de informações que o sujeito recebe do ambiente e varia conforme a intensidade dos comprometimentos.

44 Masini (1993) aponta que para fins educacionais, a definição mais apropriada para a cegueira e a baixa visão é a sugerida pela Fundação Americana para Cegos (AFB), a qual afirma que criança cega é aquela cuja perda de visão indica que pode e deve ser utilizado em seu programa educacional o Sistema Braille, aparelhos de áudio e equipamentos especiais para que se alcance objetivos educacionais com eficácia. Corroborando, Gil (2009) afirma que cegos são os alunos que apresentam ausência total de visão com perda de projeção de luz, devendo utilizar o Sistema Braille no processo de ensino e aprendizagem, mesmo que a percepção de luz os auxilie na Orientação e Mobilidade. Já a criança com visão subnormal, segundo a referida Fundação, é aquela que possui visão limitada, porém útil na aquisição da educação, devendo-se utilizar recursos educativos para melhor explorar a visão residual.

Neste estudo, o olhar se voltará apenas para a criança cega, pois há uma variação no modo de aprendizagem das crianças cegas e das com baixa visão. Tal variação ocorre porque dentro desses dois grandes grupos, têm-se graus diferentes de comprometimento, permitindo que a criança com baixa visão ora se aproxime mais da criança cega, ora da criança vidente, ampliando muito o espectro de avaliação. A esse respeito, Miranda (2008) informa que entre o grupo dos cegos e os de baixa visão existe uma variação de perdas que se caracteriza por diferentes graus de acuidade visual, que podem representar uma perda desde a percepção de luz até o limiar de normalidade. De modo semelhante, Gil (2009) afirma que a população de deficientes visuais é muito heterogênea, já que a deficiência visual é capaz tanto de reduzir como de anular a capacidade de ver. Assim, no grupo de indivíduos com deficiência visual são incluídos aqueles que nada enxergam, bem como aqueles que têm pouca capacidade de ver mesmo com o uso de lentes corretivas, mas que conseguem aproveitar os resíduos de visão em suas atividades.

Segundo a OMS (2009), as principais causas da cegueira no mundo, por ordem de frequência, são: os erros de refração (miopia, hipermetropia e astigmatismo), a catarata e o glaucoma. Além dessas, degeneração macular, as opacidades da córnea, retinopatia diabética, tracoma e afecções oculares infantis como catarata, retinopatia da prematuridade e a falta de vitamina A.

No que concerne a realidade brasileira, Rocha e Ribeiro-Gonçalves (1987) citam em seu trabalho que as causas da cegueira são diferentes quando se trata de crianças e adultos. Assim, afirmam que as causas mais comuns na infância são as anomalias do desenvolvimento, as infecções durante o período gestacional e o nascimento, a prematuridade, os erros inatos do metabolismo, as distrofias, os traumas e os tumores. Na

45 idade adulta, diferentemente, são as doenças como diabetes e a hipertensão arterial, bem como glaucoma e catarata, o descolamento da retina, a degeneração macular senil, além dos tumores, dos traumatismos e das infecções.

Brito e Veitzman (2000), utilizando o protocolo de causas de cegueira e baixa visão da OMS, demonstraram que aproximadamente 60% das doenças oculares, no Brasil, são preveníveis ou tratáveis. As moléstias hereditárias, segundo as autoras, são mais frequentes nos países desenvolvidos, onde a melhor qualidade de vida da população e o amplo acesso aos bons serviços de saúde fazem com que os agentes infecciosos influenciem pouco na perda visual. Nessa medida, as autoras apontam que, diferentemente dos dados da OMS, as causas de cegueira mais frequentes no Brasil são o glaucoma congênito, a retinopatia da prematuridade, a rubéola, a catarata congênita e a toxoplasmose congênita. Sendo o glaucoma, a retinopatia da prematuridade e a rubéola as causas preveníveis e/ou tratáveis mais frequentes.

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