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Impactos dos Cenários Produtivos Propostos

5.1. Cenário Atual do Mercado Mundial de Etanol Combustível

5.1.3. Mercado do açúcar e o etanol combustível

5.1.3.2. Cenário B – mercado de açúcar, melaço e etanol combustível

Como apresentado no capítulo 3, a Tabela 3.8 mostra o cenário produtivo B proposto para a cana-de-açúcar, que tem como objetivo produzir açúcar e etanol combustível a partir do melaço.

O melaço, sub-produto obtido quando o objetivo da usina é a produção de açúcar, é um mel ainda rico em sacarose, usado majoritariamente como ração animal (ver tabela 3.15). O melaço é vendido in natura e também é utilizado como matéria-prima na fabricação de etanol, principalmente o etanol industrial e de fabricação de bebidas.

Este trabalho propõe, através do cenário B, que o etanol produzido nos seis países pesquisados seja convertido em etanol combustível, visando a sua exportação entre os países que atualmente exportam melaço, tomando como destino o mercado dos EUA.

A produção de etanol a partir do melaço e dos méis significaria o investimento em equipamentos de fermentação, destilação e desidratação, dentre outros. Segundo o estudo de Eijsberg (2006), o custo total de instalação de todo o equipamento para produção de etanol estaria

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por volta de US$ 6 milhões, tomando como referência o mercado brasileiro. Todo o equipamento devidamente instalado, pronto para operação na sua máxima capacidade demoraria aproximadamente 1 ano.

Pelo que foi apreciado no presente trabalho, considerando os preços internacionais assumidos, o etanol combustível teria uma pequena vantagem econômica que poderia se incrementar a medida em que a quantidade de etanol produzido aumentar.

Outra vantagem concedida ao etanol é o rápido retorno que teriam as usinas açucareiras, dado o baixo investimento necessário para incluir a produção de etanol combustível na indústria. Porém, esta vantagem econômica é muito sensível em função das constantes variações do preço do açúcar e da dependência do preço internacional do etanol combustível.

A Tabela 5.4 mostra o cenário B e os seus impactos produtivos na industrialização da cana nos países estudados.

Tabela 5.4. Cenário B – industrialização da cana-de-açúcar – produção média

Prod. de Cana Mt Prod. de Açúcar Mt Export. de Açúcar Mt Prod. de Etanol com todo o melaço M lit. Prod. de Etanol com o melaço de export. M lit. Austrália 36,37 5,21 4,23 264 86,4 Colômbia 21,41 2,68 1,16 172,8 31,2 Guatemala 17,46 2,10 1,35 136,8 52,8 México 46,23 5,58 0,23 367,2 91,2 Índia 261,83 18,83 0,71 2325,6 52,8 Tailândia 62,20 6,55 4,01 636 276 MUNDO 1320 144,10 48,15

Fonte: FAO (2006) para a produção de cana, USDA (2007) para exportação de açúcar.

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 Na Tabela 5.4 foi considerada a atual produção média da cana-de-açúcar para cada país;  Todos os países continuam produzindo a mesma quantidade média de açúcar;

 Todos os países mantêm as quantidades médias de exportação de açúcar, não ocorrendo alterações no mercado mundial;

 Se todo o melaço produzido por estes países fosse convertido em etanol anidro, a produção mundial de melaço diminuiria 16 milhões de toneladas, fato que afetaria fortemente o mercado de alimentação animal, principalmente o gado bovino, considerando que o melaço é o principal insumo para a preparação da ração deste animal;  A diminuição de 16 milhões de toneladas de melaço afetaria diretamente o mercado da

Índia, já que este país consome quase toda a sua produção na alimentação animal, atividade de grande importância para a população deste país. Este fato tornaria pouco provável a prática desta opção na Índia, dada também a dificuldade na reposição do produto para cobrir o mercado de alimentação animal, que precisaria importar melaço ou produtos afins, incrementando o preço interno. Além disso, não haveria um produtor internacional capaz de suprir a demanda de melaço da Índia no curto prazo;

 O impacto no mercado de alimentação animal, em geral, afetaria a todos os países estudados, talves com exceção da Guatemala, que produz maior quantidade de álcool;  Caso todo o melaço fosse convertido em etanol combustível, estes países precisariam

importar melaço ou procurar outras alternativas para cobrir os mercados internos, o que levaria a um aumento do preço do melaço e a falta do mesmo em curto prazo;

 Economicamente, se o melaço que hoje é exportado por estes países fosse convertido em etanol anidro, também para exportação, os ingressos brutos nas indústrias açucareiras destes países aumentariam, principalmente, se os preços considerados no estudos se mantivessem no tempo ou as condições no mercado de etanol melhorassem;

 O aumento da produção mundial de etanol combustível seria pouco significativo para o mercado internacional: aproximadamente 590 milhões de litros a partir do melaço de exportação. Porém, se todo o melaço fosse destinado à produção de etanol combustível, sem considerar a Índia, 1,7 bilhão de litros seriam incorporados ao mercado dos biocombustível, e no curto prazo esta quantidade não é desprezível, principalmente para o comércio internacional, lembrando que o Brasil, maior exportador de etanol, comercializa mais de 3,2 bilhões de litros (ISO, 2007);

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 No caso da Índia, que tem intenções de deixar o mercado mundial de melaço para produzir etanol combustível para uso interno (ISO, 2007), poderia aumentar a sua atual produção de etanol combustível, em 70 milhões de litros, até 123 milhões de litros. Segundo a mistura exigida no país (E5) atualmente seriam necesários 500 milhões de litros de etanol;

 A Guatemala, que atualmente produz 43 milhões de litros de etanol combustível para exportação, poderia aumentar sua capacidade usando o melaço de exportação, em até 100 milhões de litros, incrementando a receita bruta da indústria sucroalcooleira nacional;  A Tailândia, que produz etanol combustível a partir da mandioca, com o qual supre

aproximadamente 30% da demanda interna de biocombustível (WALTER et al, 2007), poderia aumentar quase 300 milhões de litros à sua produção atual, a partir do melaço de exportação. Entretanto, como a Tailândia é um dos maiores exportadores de melaço, a sua retirada do mercado internacional teria um forte impacto, aumentando o preço internacional e a escassez do mesmo no mercado, já que este país representa quase 15% do melaço comercializado internacionalmente;

 O México, dada a sua política de etanol E10, precisaria atualmente de 700 milhões de litros de etanol combustível para saciar a demanda. Porém, a sua atual produção, baseada no melaço da cana, é de 50 milhões de litros e poderia aumentar até 140 milhões de litros, caso fosse utilizado o melaço que atualmente é exportado. O governo já está estudando a possibilidade de incrementar a produção de etanol anidro a partir do mel B para suprir a demanda exigida pelo programa de etanol. Provavelmente, o México não está buscando participar como um forte exportador, embora teria possibilidade graças a sua posição geográfica em relação aos EUA e aos acordos comerciais;

 Na Austrália, a produção de etanol combustível em 2004 foi de 72 milhões de litros (RFA, 2005), e, conforme o programa de etanol E10, necessita de quase 1,9 bilhão de litros para abastecer todo o país. A produção de etanol a partir do melaço seria insuficiente para atender o seu mercado interno contudo, para o mercado externo, ajudaria a multiplicar os fluxos comerciais do novo mercado de etanol e incrementaria a economia da indústria sucroalcooleira do país se os preços forem favoráveis;

 A Colômbia, que começou o seu programa de etanol firmemente, hoje produz aproximadamente 266 milhões de litros de etanol combustível a partir do caldo da cana e

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do melaço (ASOCAÑA, 2007). Este modelo de industrialização é semelhante ao modelo brasileiro. A mistura E10 exigida no país precisaria, hoje, de aproximadamente 474 milhões de litros de etanol combustível para atingir a demanda, que torna insignificante a opção de sair do mercado internacional de melaço.