• Nenhum resultado encontrado

45 3 Trajetória Metodológica

3.3 Cenário do estudo

O estudo foi realizado no Serviço de Enfermagem Pediátrica de um hospital universitário, público, vinculado à uma Instituição de Ensino Superior e localizado no interior do Estado de São Paulo. Trata-se de um hospital de nível terciário, inaugurado em 1985, e que atende cerca de 500.000 pacientes por ano. O Serviço de Enfermagem Pediátrica possui 58 leitos, sendo 10 de cuidados intensivos, onde são hospitalizadas crianças e adolescentes, de 28 dias a 18 anos.

O acesso aos participantes se deu, inicialmente, na UTIP, e continuou na Unidade de Internação Pediátrica (UIP), para àquelas crianças que recebiam alta da UTIP e desejavam continuar as sessões de BT. Atendendo ao objetivo do trabalho, apenas as crianças que eram admitidas na UTIP foram abordadas, independente se passaram pela hospitalização na UIP anteriormente.

Os leitos de cuidados intensivos são divididos em quatro espaços separados por uma parede divisória, contendo dois ou três leitos, além de um quarto de isolamento. Os leitos são dispostos de frente uns para os outros, de forma que uma criança visualize os eventos que se passam com outra criança. Há a presença do acompanhante em horários pré-determinados, porém não há espaço para descanso dos acompanhantes fora da UTIP, embora sejam oferecidas três refeições diárias.

Não existem referências lúdicas dentro da UTIP, como pinturas nas paredes, brinquedos disponíveis, objetos de decoração. No entanto, é permitida a presença de brinquedos levados pelos pais, que ficam armazenados ao lado do leito, em uma estante, junto aos materiais de suporte ventilatório. A rotina de prestação de cuidados na UTIP não é permeada por atividades lúdicas instituídas. Existe apenas um aparelho de televisão mostrando a programação infantil da televisão aberta.

O perfil epidemiológico das crianças hospitalizadas segue os achados já expostos(31,32), tratando-se de um hospital de referência que também atende urgências da sua área de

57

abrangência. Anexo a esta instituição, existe um hospital especializado na atenção à mulher, de onde os lactentes graves e com doenças crônicas, por vezes, procedem.

Na Unidade de Internação Pediátrica, os 48 leitos de cuidados mínimos, intermediários e semi-intensivos se dividem em três postos de enfermagem e atendem crianças e adolescentes com doenças agudas e crônicas, em condições clínicas e cirúrgicas, procedentes dos ambulatórios, unidade de emergência referenciada e UTIP. Nesta unidade, as equipes de voluntariado realizam atividades lúdicas com frequência, no entanto o BT ainda não é instituído como prática de enfermagem.

3.4. Participantes

Os participantes do estudo foram oito crianças em idade pré-escolar que estiveram hospitalizadas por, pelo menos, 24 horas na UTIP e em condições de brincar. Entende-se por ―condição de brincar‖ aquela criança consciente, com domínio mínimo de suas habilidades, para pegar objetos e interagir com o meio e que aceitaram o convite para brincar.

A idade pré-escolar varia dos dois aos cinco anos de idadeou dos três aos seis anos de idade(34), dependendo do referencial teórico adotado – biológico, interacionista, psicanalítico, dentre outros. Neste estudo, adotamos a variação de três a seis anos, por ir ao encontro dos estudos realizados com o BT.

Foram excluídas crianças com déficits cognitivos, problemas neurológicos incapacitantes e/ou sedadas. Para os participantes que fizeram uso de medicamentos sedativos foi respeitado um período adequado e individual, segundo avaliação da equipe de saúde, onde não houvesse mais os efeitos desses medicamentos, para então dar inicio às sessões de BT.

Os problemas de saúde que levaram à hospitalização desses participantes na UTIP corroboram com os estudos anteriormente apresentados(14,33-34), sendo quatro crianças com

58

doenças respiratórias, duas crianças vítimas de politrauma, uma criança em pós-operatório mediato de cirurgia eletiva e uma criança com doença crônica.

Para todos os participantes procurou-se oferecer a primeira sessão dentro da UTIP, no próprio leito. As sessões estenderam-se após a transferência da criança para a Unidade de Internação Pediátrica, sendo utilizados espaços como o leito e o pátio deste local. Para aquelas crianças que retornariam ao Ambulatório do serviço, foi oferecida novamente a sessão de BT na data do retorno.

O número de sessões ficou sendo o número de dias de hospitalização, ou até que a criança dispensasse o BT. Optou-se por oferecer a brincadeira diariamente, de modo que a criança se sentisse estimulada a continuar expressando seus sentimentos, considerando as premissas do método fenomenológico, que compreende que a criança não brinca no dia seguinte para modificar o significado do brincar do dia anterior, mas para dar continuidade a esse brincar, revelando suas ansiedades e compreensões a respeito do momento vivido(46).

Considerando que a criança poderia ter alta hospitalar sem ter dispensado as sessões de BT, foi oferecida uma sessão de BT durante o retorno ambulatorial ocorrido nos dias subsequentes, sendo que essa pactuação aconteceu nos casos em que a alta hospitalar foi na presença da pesquisadora.

O número de participantes do estudo foi considerado no intuito de desvelar o fenômeno para o pesquisador, pois no método fenomenológico, a busca pela compreensão não é necessariamente proporcional à quantidade de sujeitos, mas considera a expressão das vivências dos participantes em relação à inquietação do pesquisador. Assim, neste estudo, as sessões de BT de oito crianças mostraram-se suficientes para a reflexão sobre o fenômeno investigado.

Após uma busca no universo infantil, encontrei semelhança entre os participantes da pesquisa e os nomes dos personagens da história da ―Branca de Neve e os Sete Anões‖. Cada criança, para a descrição do discurso fenomenológico, recebeu o nome do personagem ao qual

59

mais se assemelhava, sendo estes: Branca de Neve, Zangado, Atchim, Soneca, Dengosa, Mestre, Dunga e Feliz.