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Como já mencionado na introdução, foi no governo de João Goulart (1961- 1964), com o Decreto nº 51.872, de 1º de abril de 1963; que uma estrutura formal de Secretaria de Imprensa foi gerada a partir de um novo regimento. Com isso, se formalizava uma nova estrutura de comunicação e suas atribuições (Duarte, 2003).

Nesse contexto, se insere a importância dos assessores entrevistados. Costa e Silva convocou Chagas em uma sexta-feira para que comparecesse ao Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro. O convite soou como uma cobertura mas, ao chegar lá, o jornalista percebeu que se tratava de algo diferente. Carlos Chagas era responsável pela cobertura política de O Globo quando Costa e Silva assumiu a presidência. Tinha                                                                                                                          

12 Como a entrevista foi feita por meio de troca de e-mails, a pesquisadora utilizou como data o espaço entre o primeiro dia de contato até o último e-mail trocado à conclusão do estudo. Além do entrevistado ter respondido as questões propostas pelo questionário, ele também respondeu eventuais dúvidas que surgiram durante o desenvolvimento da dissertação.

também um programa de televisão em que soltava comentários sobre o governo. E foi em um desses comentários que Costa e Silva o conheceu. Até assumir o cargo, o jornalista Heráclio Salles era o responsável pela Secretaria. Com o AI-5, ele sumiu do cenário e Costa e Silva o nomeou como Ministro do Tribunal de Contas do Distrito Federal. Com um discurso de mudança de governo, de que não queria passar a imagem de um ditador, de acabar com o AI-5, o presidente convidou Chagas a ocupar o cargo deixado por Heráclio Salles.

Insatisfeito com o fim de sua coluna política no jornal O Globo, Chagas foi orientado pelo presidente a passar todas as informações à imprensa e, consequentemente, ao povo, em “pílulas”. Costa e Silva fazia questão que Chagas o acompanhasse às coberturas e também às reuniões políticas que participava. Dessa forma, o jornalista aprendeu a ponderar entre o que era uma notícia “publicável” e o que deveria ficar apenas dentro do governo.

Costa e Silva foi diagnosticado com uma doença e impossibilitado de se manter no cargo, em uma época que já estava em curso um projeto para retirar os direitos de censura plena do AI-5. Com a subida ao poder da Junta Militar composta pelo general do Exército Aurélio de Lyra Tavares, o almirante da Marinha Augusto Rademaker Grünewald e o brigadeiro da Aeronáutica Márcio de Souza e Mello, o plano original de Costa e Silva foi descartado. Com a Junta, toda a dinâmica da Secretaria mudou. A favor de continuar o Ato Institucional nº 5, assim como a maioria dos militares, Chagas agora convivia com listas de cassação e um regime de controle total. Com a posse de Médici, Chagas abandonou o cargo de Secretário de Imprensa que havia ocupado durante o governo Costa e Silva e Junta Militar. Assim, assumiu o posto Carlos Fehlberg (Singer, 2010).

Ele foi convidado em 1969 pelo próprio presidente Médici para o cargo de secretário de imprensa da Presidência da República. O jornalista afirma que a decisão de aceitar a função não foi imediata já que o quadro político da época exigia essa reflexão. Após algumas conversas com amigos e senadores e, principalmente, com base nos discursos de posse e de aceitação da posição presidencial em que Médici reafirmava a busca pela democracia e o crescimento econômico do Brasil, Fehlberg resolveu aceitar o cargo.

Fehlberg afirma que seu papel envolvia não só a Secretaria mas, muitas vezes, também a AERP e esse relacionamento, devido a interferência que a sua área sofria, não era bom. Ainda que tentasse destruir essas barreiras na imprensa com o

credenciamento de jornalistas para que estes pudessem ter acesso livre dentro do Governo, muitas vezes suas entradas eram barradas. A independência comunicacional não dependia apenas do assessor, mas de toda uma junta que havia dentro da Secretaria. Essas desconfianças em relação à imprensa dificultavam a criação de uma estratégia de comunicação.

O jornalista também foi responsável por uma reestruturação da Secretaria de Imprensa da Presidência da República. Médici o designou como um elo entre ele e os outros jornalistas. Ao se deparar com um recurso limitado de informações dentro do próprio Governo, Fehlberg trabalhou com uma equipe de 15 pessoas entre fotógrafos, redatores e cinegrafistas, para o trabalho de assessoria. Esses profissionais eram responsáveis por divulgar matérias referentes às ações do Governo, entrevistas com ministros após despachos com o presidente, cobertura de audiência de Médici com dirigentes, entre outras atribuições.

A escolha dos jornalistas a serem entrevistados para o estudo se deu com o intuito de analisar os relatos desses profissionais em relação à Secretaria de Imprensa da Presidência da República. Com essa análise, será possível identificar como era essa relação entre duas esferas profissionais jornalísticas diferentes em um mesmo contexto histórico, nesse caso a Ditadura Militar durante os governos Costa e Silva e Médici.

Como esses jornalistas representavam os principais veículos da época, é importante salientar que nem todo jornal, por mais contrário ao governo que tenha sido, se absteve de ajudar os militares no início do regime. Como já abordado no capítulo da reconstrução histórica do período, a priori, os jornais apoiaram o Golpe Militar dado o caos sindicalista que o país vivia nos últimos anos do governo Jango. Essa observação nos ajuda a integrar o jornalista ao seu contexto editorial.

6.4.1 – Antônio Carlos Scartezini

Scartezini começou a trabalhar no jornalismo em 1966 e, assim como a maior parte dos seus colegas de profissão, fez 36 meses ininterruptos em redação e recebeu seu registro como jornalista. Ficou no Jornal do Brasil até 1972, cobrindo o Planalto durante um mês em substituição a um de seus colegas que estava de recesso. Quando o jornalista Carlos Castelo Branco ficou doente, aconteceu uma série de demissões no jornal. Assim, em defesa do amigo D’Alambert Jaccoud, acabou também deixando o emprego.

Como já trabalhava na TV e Rádio Nacional de Brasília, Scartezini recebeu uma proposta de se dedicar exclusivamente ao veículo após sua demissão. Pouco tempo depois, em 1975, também foi demitido do veículo por defender seu chefe. Dias depois foi contratado pelo O Estado de S. Paulo e ainda trabalhou na revista Veja, veículo que marcaria sua carreira.

Foi pela revista que Scartezini escreveu uma entrevista com Médici para as Páginas Amarelas. As conversas desencadearam o seu livro Segredos de Médici. A obra é resultado dessa série de encontros marcados com o ex-presidente, que era conhecido por não conceder entrevistas a jornalistas.

6.4.2 – Evandro Paranaguá

Advogado por formação, Evandro Paranguá começou sua carreira no jornalismo já com 30 anos, imediatamente após o Golpe de 64. Antes disso, advogava em uma escritório que tinha grandes nomes como clientes na época, um deles a empresa aérea Panair do Brasil. Por razões de divergência políticas e pessoais entre os diretores do escritório e a cúpula já do regime ditatorial no governo Castello Branco, suas atividades empresariais foram encerradas. Nesse período, Paranaguá, que já trabalhava no Senado desde 1961 fazendo uma espécie de clipping, começou a trabalhar com jornalismo. Sua experiência lhe garantiu contatos posteriormente como jornalista e um certo tipo de liberdade espacial dentro do órgão.

Começou a cobrir Política em O Globo, editoria que o acompanhou durante toda sua carreira jornalística. Ficou pouco tempo no jornal. Trabalhou no Última Hora e participou do número 0 da revista Veja junto com Pompeu de Souza. Por esse trabalho, que já exercia no Senado, Paranaguá era credenciado e cobria alternativamente Câmara e Senado. Ainda assim, conseguiu credencial para o Planalto mas a perdeu durante o governo Médici.

Durante a maior parte do regime, trabalhou em O Estado de S. Paulo, que lhe garantia uma certa liberdade ao escrever e assinar suas matérias políticas. Tanto que, já na década de 1970, o jornalista tinha uma coluna de opinião no veículo às quartas- feiras, dia em que o Congresso mais possuía novas informações e fatos.

6.4.3 – Hélio Doyle

Antes mesmo de iniciar sua carreira jornalística, Doyle já possuía uma militância política. Formado em Jornalismo pela Universidade de Brasília, teve aulas

de Relações Públicas com Octávio Costa, principal militar da AERP – Assessoria Especial de Relações Públicas. Começou a trabalhar no Correio Braziliense cobrindo Cidades em 1970. O jornalista já havia sido preso uma vez e uma segunda durante seu trabalho no jornal. No ano seguinte, passou a cobrir tribunais pelo O Estado de S. Paulo. Foi no jornal que passou a integrar a comitiva jornalística de cobertura do Itamaraty. Pela ficha que possuía no regime ditatorial, Doyle nunca conseguiu uma credencial. Ainda assim, não lhe foi negado a participação nas coberturas do órgão.

Depois de uma terceira prisão, o jornalista perdeu seus direitos de cobrir Itamaraty horas antes de embarcar para uma viagem que o embaixador estaria presente. Cobriu o órgão durante um ano e meio sem credencial. Depois foi transferido para a área política, Senado, Câmara, onde não existia essas restrições. 6.4.4 – Luiz Barbosa

Luiz Barbosa iniciou sua carreira muito cedo. Com 17 anos cobria esportes pelo Jornal do Brasil. Recebeu uma proposta de trabalho em Brasília e passou a cobrir Câmara dos Deputados em 1963. Com o Golpe de 1964, passou a cobrir o Planalto durante o governo Castello Branco e permaneceu até Costa e Silva.

Heráclio Salles, jornalista do Jornal do Brasil e então Secretário de Imprensa da Presidência da República, indica Luiz Barbosa a Rondom Pacheco para assumir seu cargo no governo. O jornalista resolveu não aceitar o convite depois de conversar com alguns amigos jornalistas.

Em 1968, ele viaja para Inglaterra para estudar, e ao voltar, é convocado pelo Jornal do Brasil para trabalhar cobrindo Itamaraty. Permaneceu no cargo durante todo o regime ditatorial.

6.4.5 – Reynaldo Dias

Também formado em Direito, o mineiro Reynaldo Dias se mudou para São Paulo na década de 1960. Com uma remuneração baixa na área, passou a ser editor em uma revista e logo depois foi convidado para ser redator no jornal A Gazeta. Se mudou para o Rio de Janeiro onde trabalhou no Correio da Manhã e Diário Carioca.

Por conta dos salários atrasados e de seus planos de passar na prova do Instituto Rio Branco não terem dado certo, Reynado se mudou para Brasília por influências de seu irmão que já trabalhava no Governo, e foi convidado por Ari Ribeiro para atuar em O Estado de S. Paulo. Cobria toda a área política com exceção

do Ministério das Relações Exteriores. No final da década de 1960, perde o emprego no jornal.

Com Médici já no poder, Reynaldo foi convidado por Carlos Fehlberg para ser um de seus assessores, já que já possuía larga experiência cobrindo Planalto durante o regime de Castello Branco. O jornalista então aceitou o convite e passou a integrar a Secretaria de Imprensa da Presidência da República.

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