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A região de Catanduva é considerada estratégica no controle da epidemia de HIV/AIDS, por apresentar taxas de incidência19 da doença, maior que a média nacional. Segundo dados do Programa Municipal de DST/AIDS, a incidência média de casos para o município de Catanduva, no período de 2000 a 2004, foi de 42,40 casos por cem mil habitantes, sendo a média nacional de 2001 de 15,20 casos por cem mil habitantes.

Tais dados chamam a atenção, considerando a distância entre o município e os grandes centros urbanos, locais que inicialmente se concentravam os casos de AIDS do país. Catanduva localiza-se na região Noroeste do Estado de São Paulo, teve sua emancipação política em 1918 e possui uma população aproximada de 116.000 habitantes. (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2006).

O município teve seu processo de urbanização vinculado à expansão da economia, resultado da disseminação da cultura cafeeira, e privilegiada pela extensão dos trilhos da Estrada de Ferro Araraquarense, o que facilitava o escoamento da produção e o surgimento de pequenas cidades.

A decadência da cultura cafeeira a partir da crise de 1929 e o processo de industrialização no país trouxeram muitas mudanças para a região, principalmente a partir da produção canavieira iniciada de forma mais efetiva na década de 1950.

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Segundo Laprega e Dal Fabbro (2005, p. 119-150), sobre os índices mais usados em epidemiologia, a incidência de uma doença é definida como o número de casos novos que ocorrem em um determinado período de tempo, em uma população exposta ao risco de adoecer. A incidência é uma medida de eventos, o que significa que a doença se desenvolve em pessoas previamente não- doentes. São casos novos e não se pode incluir no numerador casos que já vinham sendo acompanhados em período anterior. A incidência nos informa sobre a dinâmica de entrada de casos novos e permite uma estimativa do risco de adoecer da população exposta. A prevalência é uma “fotografia instantânea” da população, com relação a uma determinada doença ou agravo, ou seja, a prevalência é a soma de casos novos e antigos, que permanecem na comunidade no período estudado. A prevalência informa sobre a situação da doença em um instante ou em um período, mas não estima o risco de adoecer, porque casos novos e casos já existentes na população são contados em conjunto. O cálculo da prevalência soma os casos antigos e novos, excluindo-se os óbitos, curas e perdas de acompanhamento.

As primeiras usinas de açúcar e álcool foram implantadas na região na década de 1950, porém, a consolidação da cultura da cana-de-açúcar ocorreu após 1975, com o Proálcool20 e a instalação de destilarias.

A substituição da principal cultura da região (o café) pela cana-de-açúcar, trouxe modificações expressivas no campo e nas cidades provocando transformações que variam entre o local de moradia da população, com a destruição de casas, colônias e antigas usinas, até a própria paisagem, que foi substituída por imensos canaviais. A implementação de infra-estrutura rodoviária também facilitou o deslocamento da produção e da força de trabalho (BERNARDELLI, 2003).

Hoje, a economia do município está voltada basicamente para a agroindústria canavieira e da laranja, além de contar com diversificada rede de pequenas e médias indústrias de transformação. (SÃO PAULO, on-line).

A maior parte da população de Catanduva vive na cidade (98,86%). O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é 0,833, portanto, superior à média do Estado de São Paulo (0,814). (SÃO PAULO, on-line).

Várias usinas de beneficiamento de açúcar e álcool e destilarias, além de fábricas de ventiladores desenvolvem suas atividades na região gerando postos de trabalho, grande parte temporários, o que provoca a migração de trabalhadores sazonais.

Segundo Bernardelli (2003), todos os anos, de fevereiro a dezembro, a região de Catanduva recebe aproximadamente 12 mil cortadores de cana vindos do Nordeste do país. Cerca de 70% deles são baianos e se concentram em casas ou alojamentos na cidade de Palmares Paulista, enquanto um número expressivo de paraibanos se concentra na cidade de Novo Horizonte.

No caso específico da cana-de-açúcar o período de safra corresponde a cerca de 7 a 8 meses do ano (geralmente, inicia em abril ou maio e estende-se até o mês de novembro).

É comum que os trabalhadores das usinas de cana-de-açúcar tenham contratos de trabalho por tempo determinado, ou seja, nos períodos da entressafra,

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“O Programa Nacional do Álcool ou Proálcool foi criado em 14 de novembro de 1975 pelo decreto nº 76.593, com o objetivo de estimular a produção do álcool, visando o atendimento das necessidades do mercado interno e externo e da política de combustíveis automotivos. De acordo com o decreto, a produção do álcool oriundo da cana-de-açúcar, da mandioca ou de qualquer outro insumo deveria ser incentivada por meio da expansão da oferta de matérias-primas, com especial ênfase no aumento da produção agrícola, da modernização e ampliação das destilarias existentes e da instalação de novas unidades produtoras, anexas a usinas ou autônomas, e de unidades armazenadoras.” (PRÓALCOOL ..., on-line).

grande parte desses trabalhadores busca outras ocupações, retorna aos estados de origem, ou ainda permanece na região aguardando a próxima safra. Tal situação favorece o aumento da demanda por serviços públicos de diversas naturezas, inclusive para a área da saúde.

Cabe ressaltar que, embora não fossem encontrados estudos que mensurassem tais demandas no município de Catanduva, Sant’Ana e Sant’Ana (2005, p. 128) pesquisaram sobre esta questão no município de Pitangueiras21 e concluíram que há um aumento na procura pelo plantão social desenvolvido pela Secretaria Municipal de Promoção Social em cinco vezes no período de entressafra comparando com o período de safra.

Catanduva apresenta maior número e variedade de recursos de saúde do que os municípios da região. O fato de ser o maior município em número de habitantes, conforme apresentado a seguir, sede de um hospital universitário e de várias faculdades, colabora para a configuração de tal realidade no setor saúde.

Segundo dados da Prefeitura Municipal, Catanduva dispõe de 45 estabelecimentos de saúde: 19 públicos e 26 privados, destacando-se que entre os recursos privados, alguns prestam serviços ao Sistema Único de Saúde (SUS). Desta forma, 26 estabelecimentos de saúde do município prestam serviços de saúde gratuitos através do SUS (CATANDUVA, on-line). Entre os 5 estabelecimentos que dispõem de serviços para internação, todos são particulares, mas prestam serviços ao SUS, inclusive o Hospital Escola Emílio Carlos, mantido pela Fundação Padre Albino, onde são realizados os atendimentos ambulatoriais e as internações das pessoas com DST e HIV/AIDS.

Um total de 14 Unidades de Saúde da Família atende a população de Catanduva, sendo esse serviço exclusivo aos moradores do município.

Catanduva é um dos municípios pertencentes à Direção Regional de Saúde – DIR XXII – de São José do Rio Preto, sendo considerado pólo de referência para diagnósticos e tratamentos de saúde a outros 18 municípios da micro-região, inclusive para o HIV/AIDS.

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O município de Pitangueiras, localizado na região noroeste do Estado de São Paulo, com 34.190 habitantes, pertence à região administrativa de Ribeirão Preto e a microrregião de Jaboticabal (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2007, on-line). A região de Ribeirão Preto, situada no nordeste do Estado de São Paulo, é considerada a responsável por capitanear o processo de modernização das usinas de açúcar e álcool mediante a mecanização da cana-de-açúcar. Ribeirão Preto é conhecida há tempos como “Califórnia Brasileira” e mais recentemente como a “Capital do Agronegócio”.

Referimos abaixo a estimativa da população regional, incluindo Catanduva. MUNICÍPIO POPULAÇÃO ARIRANHA 8.683 CATANDUVA 116.984 CATIGUÁ 6.772 ELISIÁRIO 2.606 FERNANDO PRESTES 5.625 IBIRÁ 9.990 IRAPUÃ 7.076 ITAJOBI 15.007 MARAPUAMA 2.536 NOVAIS 3.325 NOVO HORIZONTE 33.900 PALMARES PAULISTA 9.262 PARAÍSO 5.943 PINDORAMA 13.652 PIRANGI 10.164 SALES 5.158 SANTA ADÉLIA 14.065 TABAPUÃ 10.886 URUPÊS 12.441 TOTAL 294.075

Quadro 1 – Municípios da micro-região de Catanduva e população estimada*

* Estimativas das populações residentes, em 01.07.2006, segundo os municípios Fonte: MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2006, on-line.

O Programa Municipal de DST/AIDS de Catanduva deu início às suas atividades no ano de 1987, sendo instalado nas dependências do prédio do Centro de Saúde I – Dr. José Perri, no centro da cidade. Inicialmente o serviço contava com uma equipe de profissionais bastante reduzida: médico, assistente social e psicólogo.

Os atendimentos eram realizados no próprio Centro de Saúde e, em caso de necessidade de internação hospitalar, o usuário era encaminhado à enfermaria de moléstias infecto-contagiosas do Hospital Escola Emílio Carlos – Faculdade de Medicina de Catanduva.

O atendimento era prestado às pessoas que procuravam o serviço espontaneamente ou eram encaminhadas por outros serviços de saúde municipais ou da região.

Devido ao aumento da demanda pelo serviço, no ano de 1989 o Programa Municipal de DST/AIDS foi transferido para as dependências do Hospital Escola Emílio Carlos, no mesmo prédio da unidade de internação das pessoas com AIDS.

Na época, muito se falava sobre AIDS, mas o medo e o preconceito imperavam. A perspectiva de vida do portador do HIV não era nada animadora, sobretudo porque não havia previsão para o uso de medicamentos específicos que controlassem a doença e tampouco de uma vacina que curasse o soropositivo eliminando o vírus de seu organismo.

O tratamento da doença era de certo modo paliativo. Restava controlar as infecções que surgiam à medida que o organismo se enfraquecia devido ao avanço da doença.

Em 1996, a rede pública de saúde iniciou a distribuição dos modernos medicamentos anti-retrovirais (ARVs), conhecidos popularmente como “coquetel”, sendo o programa catanduvense, referência para a distribuição dos mesmos na região.

Atualmente o programa tem um quadro ampliado de profissionais que desenvolvem ações de prevenção, assistência, acompanhamento e aconselhamento sobre DST/AIDS.

É importante destacar que, na cidade de Catanduva, o profissional do Serviço Social faz parte da equipe técnica do Programa Municipal de DST/AIDS desde o início das atividades em 1987, que conta hoje com duas profissionais.