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CAPÍTULO III: ESPACIALIZANDO A REESTRUTURAÇÃO: O VETOR NORTE

3.2. Tudo se junta no Vetor Norte

3.2.2. O Centro Administrativo de Minas Gerais

O Centro (ou Cidade) Administrativo de Minas Gerais (CAMG) é um empreendimento do Governo do Estado mineiro que teve como finalidade criar uma estrutura centralizada para o desenvolvimento das atividades administrativas do Estado.

Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer a um custo de R$ 1,2 bilhão o

CAMG localiza-se às margens da MG 010, no extremo norte do município de

Belo Horizonte, próximo aos limites com os municípios de Vespasiano e Santa Luzia, em uma região caracterizada pelos baixos índices de desenvolvimento humano, com elevado crescimento demográfico e ocupação imobiliária desordenada, onde estão localizados alguns dos maiores e mais carentes conglomerados da RMBH.

Não obstante, mais do que um local centralizado para o desenvolvimento das atividades administrativas do estado, o CAMG é entendido pelo discurso oficial como um empreendimento capaz de dotar a capital mineira “de um novo traçado”, abrindo caminho “para a sua mais importante expansão desde a década de 40, com a construção do conjunto arquitetônico da Pampulha, localizado também na Região Norte”, elegendo o

Vetor Norte como “o novo eixo de crescimento da cidade, revertendo em

definitivo o processo de crescimento demográfico elevado e empobrecimento

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Figura 5: Vista aérea da localização do empreendimento com inserção de maquete digital

Fonte: LUME, 2006

Empreendimento emblemático para o processo de reestruturação do

Vetor Norte – seja em valores envolvidos na construção, seja em imponência

ou em dimensão simbólica – o CAMG talvez se constitua em um dos exemplos

mais significativos para expressar o papel e a importância que a implantação de um grande projeto urbano exerce na tentativa de transformação de determinada espacialidade urbana. Isso porque quando falamos do CAMG não nos referimos a uma simples adição de uso ao espaço urbano existente, mas sim, no esforço de se criar uma nova centralidade que possibilite a transformação de todo um espaço já existente, criando ou possibilitando a abertura um novo eixo de acumulação através da produção do espaço urbano. Nas próprias palavras de Aécio Neves, então governador do estado quando do lançamento do projeto em 2008, encontramos o indicativo das expectativas que o CAMG e os demais empreendimentos (como a Linha Verde, o Contorno Viário Norte, dentre outros) exercem no imaginário das transformações esperadas:

106 “Hoje é um momento histórico para Belo Horizonte, para a Região Metropolitana e para toda Minas Gerais. Estamos dando um passo em direção ao futuro. Com a transferência do Centro Administrativo para esta região, estamos direcionando o crescimento da capital para onde ela tem que crescer, para a região Norte. Com todos os cuidados ambientais e urbanísticos, estamos trazendo para cá não apenas a estrutura do Estado, mas uma série de novas oportunidades de investimentos privados no seu entorno, de comércio, de serviços, que possibilitarão a essa região crescer rapidamente” (CODEMIG, 2011).

De fato, o discurso não se desvincula do projetado, pois no próprio EIA- RIMA do empreendimento, a ideia de um processo de reestruturação urbano- metropolitana no Vetor Norte da RMBH se faz presente e evidente, elegendo o

CAMG como um dos principais elementos articuladores de todo esse processo

de reestruturação e de macro-estrutração do espaço do Vetor Norte através da tentativa de criação de uma nova centralidade metropolitana:

“(...) pode-se crer que, das várias centralidades locais existentes no Vetor Norte às áreas massivas (parques, áreas de lazer e turismo, área residenciais, áreas industriais, entre outros) e elementos metropolitanos principais, tais como o Aeroporto Internacional de Confins, a Linha Verde e outros empreendimentos planejados para a região, poderão contribuir para, finalmente, gerar uma centralidade sub-metropolitana na região, que provavelmente não será única como proposta há trinta anos, mas surgirá a partir dos vários centros existentes, tendo o CAMG como um elemento catalisador” (LUME, 2006, pg.131).

É a partir dele (do CAMG) e de seu efeito sinérgico sobre as diversas centralidades locais existentes e de sua relação com os demais empreendimentos concretizados e projetados que o estudo vislumbra a possibilidade de se produzir “uma reestruturação urbana com impactos sobre o uso do solo, modificando as áreas massivas e contribuindo para a melhoria das

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condições urbanas no contexto de pobreza que caracteriza a região” (ibid, pg.

131, grifo nosso).

Em outros termos, falamos da tentativa de consolidação de um plano de reordenamento da região que partindo do CAMG, da Linha Verde, do Contorno Viário Norte e de outros empreendimentos buscam transformá-los em um

conjunto de ações indutoras de desenvolvimento que “proporcionará ao Estado

competir economicamente com os grandes centros” (CODEMIG, 2011).

Figura 6: O CAMG em fase de finalização

Fonte: www.flickr.com

Quanto ao processo de reestruturação previsto pelo EIA do empreendimento para toda a macrorregião do Vetor Norte, é interessante notar o indicativo por uma (esperada) “melhoria das condições urbanas” com a implantação do CAMG, apontando justamente para o incentivo a um processo de “gentrificação” relacionado a um grande processo de valorização fundiária e apropriação privada dessa valorização:

108 “A presença de extensas áreas de expansão urbana e/ou rurais nesses municípios da Área de Influência, assim como nos outros municípios do Vetor Norte, onde a presença de condomínios e chácaras é já fato marcante e consolidado permite inferir que, a partir dos novos investimentos e da consolidação do processo de expansão metropolitana naquela região, deverá se observar um expressivo aumento do preço da terra induzindo a um processo de ocupação mais densa, exigindo cuidados especiais para o controle dos impactos ambientais que certamente surgirão.” (LUME, 2006, p.141) Há, ao que parece, um esforço por parte dos poderes públicos (estaduais e locais) e dos capitais (notadamente o imobiliário) de promover uma ruptura com o histórico da política de loteamentos populares nos municípios do Vetor Norte a partir da consolidação do CAMG e das outras infraestruturas concretizadas e previstas, tendo-os como referencial simbólico e estruturante para um processo de valorização e ocupação de camadas de mais alta renda:

“Os novos planos diretores, todavia, incluem propostas de controle do uso do solo urbano, maior rigor na fiscalização do setor público, medidas de transporte visando maior integração interna das áreas urbanas diversas, entre outras. Em Santa Luzia, por exemplo, onde as propostas disponíveis do Plano Diretor se encontram mais avançadas, a regulação de parcelamentos populares é prevista com rigor, devendo a fiscalização ser feita em parceria com o Ministério Público, concessionárias de serviços e órgãos setoriais e ambientais estaduais. Propõe definir áreas mínimas de lotes segundo a localização, o zoneamento existente e disponibilidade e capacidade do sistema viário local, proibindo lotes com área inferior a 200, tendo um (...) interesse especial em estimular a implantação de condomínios horizontais, com lotes de área superior a 1000m2 (...). Em Santa Luzia, há a preocupação também de rever os marcos da área de Expansão Urbana para incluir áreas de interesse ambiental hoje na Zona Urbana e

109 definir formas de ocupação menos densas e específicas de ocupação. O objetivo é, claramente, promover um tipo de ocupação de renda mais alta, modificando o caráter de município periférico que abriga populações pobres” (ibid, pg. 141).

Além disso, o CAMG possui uma importância fundamental na tentativa de consolidação do Plano Estratégico da RMBH, exercendo um papel central (e de centralidade), simbólico e referencial na imaginada (e almejada) reestruturação sócioespacial do Vetor Norte metropolitano.

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