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CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO DA ARQUIDIOCESE DE

Giovanna Valfré228 é funcionária há 23 anos da Mitra Arquidiocesana de Vitória.

Atualmente é coordenadora do Centro de Documentação e Informação da Arquidiocese de Vitória. Ela indicou o documento Carta Circular A Função Pastoral

dos Arquivos Eclesiásticos229, como fonte para organização do arquivo e informou

que o centro ainda carece de uma infraestrutura que acondicione da melhor maneira possível os documentos, pois vê que são necessários procedimentos que garantam a sobrevivência da documentação. Mas anteriormente comparado à criação do

228 Giovanna Valfré contribuiu com informações sobre o Cedaves. (informação verbal).

229 VATICANO. Carta Circular A Função Pastoral dos Arquivos Eclesiásticos. (do original em

italiano La Funzione Pastorale Degli Archivi Ecclesiastici). Cidade do Vaticano, 2 fev. 1997.

Disponível em:

<http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_commissions/pcchc/documents/rc_com_pcchc_199 70202_archivi-ecclesiastici_it.html>. Acesso em: jul. 2013.

Cedaves (o projeto foi apresentado em 2004, a inauguração aconteceu em 2005 e os trabalhos de preservação da documentação começaram em 2006), houve uma melhora, pois antes os arquivos ficavam acondicionados em um depósito úmido e sem ventilação ou iluminação, provocando o aparecimento de pragas – como a traça – a ponto de perder-se. Ou também ausência de uma política de acesso: não se encontrava o documento requerido, ou algumas pessoas quando tinham acesso a ele rasgavam folhas ou levavam a documentação; enfim, não havia cuidado com os documentos.

A Carta, indicada por Giovanna Valfré, separa os tipos de arquivo e delimita uma organização. Os arquivos distinguem-se em:

• diocesanos;

• paroquiais;

• outras entidades não sujeitas ao Bispo diocesano,

• pessoas jurídicas.

Destes, os arquivos ainda podem ser divididos em: arquivos correntes (documentos relacionados à vida e gestão da entidade); arquivos históricos (referente a documentos de relevância histórica), arquivos secretos diocesanos (documentos que se relacionam às causas criminais, atestados dos matrimônios de consciência, dispensas dos impedimentos ocultos, entre outros).

Em um arquivo eclesiástico, algumas informações são restritas. É o caso, por exemplo, dos arquivos secretos diocesanos, por caracterizarem cunho pessoal, como certidões de Batismo, Crisma, entre outros, não ficam à disposição do pesquisador. Esses documentos pessoais carecem de um requerimento próprio, geralmente pedido pela pessoa envolvida ou pela família, ficando muitos casos restritos a uma terceira pessoa.

A Carta prevê a disponibilidade dos documentos, entre eles livros, periódicos, folhetos, fotografias, plantas etc., salvo o caso citado acima, de serem dispostos a outras dioceses, paróquias, pesquisadores e público em geral. Não informa quais as metodologias adotadas para a preservação do acervo, apenas citando que a cada caso deverá ser aplicada a teoria arquivística que seja benéfica ao documento e que corresponda às necessidades do arquivo eclesiástico. Mas fornece diretrizes para o

espaço em que será disposto o acervo; deve ser conveniente: à higienização (iluminação, ventilação, climatização, no controle da umidade); à segurança, seja para evitar incêndio, como para evitar roubos etc.; e à vigilância, com a finalidade de controle durante as consultas ao acervo. Quando se refere à vigilância, prevê salas próprias à consulta, separadas de salas onde fique guardado o acervo. Também se refere à disposição de salas informatizadas, para consulta de documentos que não podem ser manuseados, mas que podem ser acessados por meio das mídias digitais.

A Carta apresenta uma mútua colaboração com as entidades civis, prevendo que, de acordo com o avanço das políticas de bens culturais por entidades privadas ou projetos concretos, serão feitos diálogos e colaborações. Só não define a forma como serão realizados esses diálogos. Assim como incentiva a formação e atualização dos seus arquivistas, para que também façam parte das associações da sua categoria, a fim de se aprofundarem em estudo sobre os problemas relativos aos arquivos eclesiásticos.

No Código de Direito Canônico230, norma cân. 381§ 2, a responsabilidade sobre os

documentos produzidos, sejam eles atas ou documentos dos arquivos das igrejas catedrais, colegiadas, paroquiais e de outras igrejas presentes em seu território, sua conservação, compilação (quando necessária, sejam em inventários ou catálogos) e organização sistemática em arquivo histórico cabe ao Bispo Diocesano e, por conseguinte, aos seus equiparados. E ainda o Código dispõe, Cân. 486 § 3 e 491 § 1, que a compilação do inventário é fundamental para a consulta ao patrimônio arquivístico, permitindo utilizar sistemas informáticos e em rede para uma investigação em ampla escala, expandindo a consulta.

Logo, tanto na Carta Circular como no Código Canônico é atribuído o valor histórico ao arquivo eclesiástico, prevendo que o mesmo deve ser conservado e divulgado, destinado a um público maior, cuja intenção final é a preservação e divulgação das memórias e do patrimônio cultural formado pelo seu acervo.

O Cedaves não possui um regimento interno, mas existe a proposta.

230 VATICANO. Código do Direito Canônico, promulgado por João Paulo II, Papa. Versão

Portuguesa. 4. Edição. Conferência Episcopal Portuguesa, Lisboa, 1983. Disponível em:<http://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdf>. Acessado em: jul. 2013.

Para possibilitar a higienização e digitalização dos documentos, foram buscados os editais seja pela Lei Rouanet (MinC), seja pela Lei Chico Prego (Prefeitura da Serra- ES) ou pela Lei Rubem Braga (SECULT). O edital 009/2011 da Secult, por exemplo, teve êxito em 2011, concedendo o valor de trinta mil reais à Preservação do acervo iconográfico do CEDAVES.231 Acreditava-se que existiam três mil fotografias. Ao final

do trabalho descobriu-se que se tratava de doze mil fotografias, tanto tiradas no estado, como fora dele e no exterior. De acordo com Giovanna Valfré, são fotografias antigas dos Bispos, que começam desde 1895, e tem pretensão de disponibilizá-las na rede, mas devido ao Direito Canônico, o qual estabelece o não acesso por terceiros aos documentos pessoais, não é possível disponibilizar tudo. Entretanto, ela afirma que, com a disponibilização das fotografias, seria possível identificar locais, pessoas etc. Logo, o Direito Canônico protege a integridade de informações particulares, mas se torna um obstáculo na catalogação dos documentos de seu acervo.

Os arquivos secretos ficam em sala própria, diferenciada do Cedaves, sob a supervisão do arcebispo. O acervo do Cedaves é todo disponibilizado ao acesso público. E Valfré informa que o arquivo é procurado por diversos pesquisadores, seja por conta das fotografias, como dos demais documentos.

No Cedaves também é possível encontrar documentação anterior à fundação da Arquidiocese do Espírito Santo, quando então era diocese e pertencia à Arquidiocese do Rio de Janeiro. Esses documentos referem-se à administração do primeiro bispo do estado, Dom João Batista Corrêa Nery, que teve início em 1895. A partir desse ano (1895) todos os documentos gerados pelos bispos do estado, começando por D. Nery, ficam na diocese de Vitória, até 1958, quando ocorre a divisão da diocese em três (Vitória, Cachoeiro de Itapemirim e São Mateus), o que também divide a documentação. Uma segunda divisão ocorre em 1990, sendo criada a Diocese de Colatina. Logo, as divisões em dioceses criam novos acervos eclesiásticos, mas é importante observar que a documentação referente aos anos anteriores às divisões permanece na Arquidiocese de Vitória.

231 ESPÍRITO SANTO (Estado). Secult divulga o resultado de mais quatro editais de incentivo à

cultura. Portal do Governo do Estado do Espírito Santo. Notícias. Vitória, 2011. Disponível em:<http://www.secult.es.gov.br/?id=/noticias/materia.php&cd_matia=3154>. Acesso em: jul. 2013.

Hoje são guardados os documentos de quinze municípios que compõem a arquidiocese de Vitória. Os documentos referentes às novas dioceses foram encaminhados para as mesmas, tanto que os documentos gerados por essas novas dioceses permanecem com elas. Porém, existem ainda alguns documentos, anteriores às divisões, que ficaram na arquidiocese.

E, apesar de haver um trabalho em prol dessa integração na Arquidiocese de Vitória, ela não acontece entre os arquivos das dioceses. Cada uma possui um bispo que se responsabiliza pelo arquivo eclesiástico de sua diocese, fornecendo uma autonomia nos serviços prestados. Infelizmente, em algumas dioceses não há um arquivo eclesiástico organizado, como no caso de São Mateus, podendo correr o risco de perda.

O Centro de Documentação e Informação da Arquidiocese de Vitória possui pesquisas, como a pesquisa com vitrais da Catedral Metropolitana de Vitória, por exemplo, por Mônica Cardoso de Lima. Entretanto, o Cedaves não produz propostas de pesquisa, é buscado como fonte de investigação. E o acesso às pesquisas não é pago – apenas para emissão de certidões –, diferente do arquivo eclesiástico de São Paulo, em que existem valores tabelados por tipo de pesquisa. Como uma forma de fornecer recursos para dar continuidade, por não haver uma cobrança dos serviços prestados, buscam-se os editais, porém estes pedem que seja uma pessoa física em frente ao projeto. Isso acarreta que os funcionários ou representantes, como por exemplo Giovanna Valfré, inscrevam os projetos utilizando seu nome para poder participar dos editais. Os valores conseguidos através dos editais e das taxas pagas pelos certificados (único serviço pago) ficam no arquivo eclesiástico, nesse caso, no Cedaves. Esse tipo de ação pode ser danosa ao funcionário, no que se refere ao imposto de renda, colocando-o numa situação complicada em relação à declaração, pois não existe nada na política de proteção de bens culturais e centros de pesquisa voltada a arquivos eclesiásticos, somente a arquivos públicos.

As parcerias são as entidades que buscaram o Cedaves, como UFES ou que possuam semelhança como arquivo eclesiástico modelo de São Paulo. Não há uma interação com a Comissão de Arte Sacra e Bens Culturais da arquidiocese, mesmo que possuam trabalhos com temáticas comuns, pois em casos do registro do

patrimônio cultural imaterial, o Cedaves poderia ser grande colaborador, emprestando conhecimentos de métodos de registro e também de guarda e divulgação.

Quanto à infraestrutura, faltam armários mais adequados para a guarda de fotografias (por exemplo) e equipamentos de segurança que impeçam os documentos de serem levados. A equipe é variável, de acordo com a verba adquirida, isto é, se houver maiores recursos, contratam mais pessoas capacitadas, caso isso não ocorra, a equipe fica reduzida a aproximadamente três pessoas, entre elas: duas pessoas fixas com formação em arquivo e um estagiário. Nos casos em que há poucas pessoas, é permitido ao público pesquisar, como por exemplo, documentos para tirar cidadania, pois é usual a busca por certidões como crisma, casamento, batismo. O que falta, em muitos casos, é recurso financeiro seja para contratar mais funcionários, seja para se adequar com os equipamentos necessários.

Existe uma revista de circulação interna, denominada Revista Vitória. A circulação do periódico se limita às paróquias em que ocorre a divulgação do Cedaves, através de um espaço chamado Arquivo e Memória, onde são divulgados alguns documentos do mesmo. Ela também pode ser adquirida gratuitamente no site da Arquidiocese de Vitória232.

4.4 COLEÇÕES ESPECIAIS E OBRAS RARAS DA BIBLIOTECA CENTRAL DA