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Centro Educacional Carneiro Ribeiro – CECR / BA

2.4 E SCOLA EM T EMPO I NTEGRAL : A LGUMAS E XPERIÊNCIAS B RASILEIRAS

2.4.1 Centro Educacional Carneiro Ribeiro – CECR / BA

No dia 21 de outubro de 1950, na Bahia, foi inaugurado o Centro Educacional Carneiro Ribeiro (CECR), com uma proposta inovadora que contemplava em sua organização o horário integral e, na proposta curricular, o respeito à cultura do aluno como ponto de partida. Além dessa mudança, a

organização das turmas era realizada pela idade cronológica, distintamente, à da matrícula por série, utilizada no sistema convencional de ensino daquela época.

A estrutura de funcionamento do CECR consistia em quatro escolas- classe para uma escola-parque, atendendo cerca de 4000 alunos, com idade entre 7 a 15 anos, que permaneciam no centro das 7h30min às 16h30min. Nas escolas- classe, era desenvolvido o ensino de letras e ciências e nas escolas-parque estavam distribuídas as atividades sociais e artísticas, as de trabalho e educação física. As atividades desenvolvidas na escola-parque, que contava com uma área de 42.292 m2, arborizada e gramada, complementavam, de forma alternada, o horário das escolas-classe e, assim, o aluno passava o dia todo no Complexo, onde também se alimentava e tomava banho. Estava prevista a construção de residências para 5% do total das crianças da escola, que fossem identificadas como abandonadas, como destaca Éboli (1969). Teixeira tinha como projeto construir nove Centros como esse, de modo que pudesse ser efetivado aquilo que ele denominou de uma “pequena universidade infantil”, oferecendo às crianças uma convivência que retratasse a vida em sociedade (ÉBOLI, 1969, p.14).

Os objetivos da proposta do Centro Carneiro Ribeiro deixavam clara a posição de toda a obra teórica e prática de Anísio Teixeira como enfatiza Éboli (1969, p. 20):

a) dar aos alunos a oportunidade de maior integração na comunidade escolar, ao realizar atividades que os levam à comunicação com todos os colegas ou com a maioria deles; b) torná-los conscientes de seus direitos e deveres, preparando-os

para atuar como simples cidadãos ou líderes, mas sempre como agentes do progresso social e econômico;

c) desenvolver nos alunos a autonomia, a iniciativa, a responsabilidade, a cooperação, a honestidade, o respeito a si mesmo e aos outros.

O projeto recebeu grande divulgação nacional e internacional. Os aspectos arquitetônicos e pedagógicos foram motivos de elogios de organismos internacionais, como ressalta Almeida (2001). Porém, sofreu também críticas, que tinham como ponto de partida a denúncia das condições precárias em que se encontravam as demais escolas do estado.

Em decorrência, a concepção de escola comum, tão sonhada por Teixeira (1994), que seria para todos, em condições de igualdade, sofreu descaso público, bem como a falta de recursos para a concretização do projeto, no que diz respeito à construção da residência para os alunos reconhecidamente abandonados.

Após mais de 50 anos, em 2001, o Governo Federal, por meio do Ministro da Educação Paulo Renato, executou um projeto de restauração e reforma do CECR, no valor de R$ 2,5 milhões, resgatando a articulação funcional das quatro Escolas-Classe e da Escola-Parque. O projeto de recuperação e de restauração das obras de arte do Centro foi executado pela Superintendência de Construções Administrativas da Bahia (SUCAB), que contou com a consultoria de educadores que trabalharam com Anísio Teixeira, inclusive sua filha, Anna Christina, mais conhecida como Babi Teixeira.

Nessa ocasião, foram criados cinco centros de aprendizagem e produção, onde os estudantes participavam de programas de aceleração de aprendizagem; desenvolvimento das inteligências múltiplas e de habilidades mentais; experimentação científica; integração da informática com as comunicações e suportes necessários à aprendizagem.

De maneira complementar à organização do trabalho pedagógico, previa-se privilegiar a construção da autonomia pelos alunos, a diversidade, a interação, a cooperação, a disponibilidade para a aprendizagem, a organização do tempo e do espaço e o uso de recursos diversificados. As ações didáticas deveriam ser organizadas a partir da pedagogia de projetos, contemplando temas estruturados de forma interdisciplinar nos quais a realidade e a análise do contexto são atributos fundamentais.

Para a concretização dos propósitos do Centro, a Secretaria de Estado da Educação planejou estabelecer parcerias com diversas instituições privadas. O objetivo era qualificar as práticas públicas de administração e gestão educacional. Isso significa, para a qualificação do processo, “agilidade” e “objetividade das decisões”, “competitividade” e “inclusão de diferenciais,” para o processo educacional desenvolvido, na perspectiva de responder às “demandas da pós-modernidade”, de acordo com o ideário neoliberal que estava sendo introduzido no Brasil, como declara Cordeiro (2001).

• a participação efetiva dos diversos extratos da comunidade na gestão dos serviços educacionais, pela implantação de mecanismos de gestão democrática e participativa, nos quais tinham lugar de destaque as associações estudantis, a implantação dos Colegiados ou Conselhos Escolares, Conselho de Parcerias, dentre outras iniciativas;

• a implantação/oficialização de medidas, normas e procedimentos identificados com a conquista de níveis elevados de qualidade e eficiência do processo educacional;

• a implantação e concretização de diferenciais que constituam princípios de trabalho para a educação integral, pelos quais as ações comprometidas com a educação inclusiva ganhavam realce e maior significado, conferindo à intersubjetividade do processo educativo o lugar privilegiado de inserção dos excluídos na sociedade;

• a dimensão diagnóstica e emancipadora da avaliação de desempenho, apontando para os procedimentos de adaptação curricular, de aceleração de aprendizagem e para a implantação de medidas de correção de fluxo escolar;

• a vivência da revolução tecnológica nos "bancos escolares", na qual os computadores e os satélites qualificavam a mediação presencial com as práticas telemáticas, com a televisão, o vídeo, a internet, as bibliotecas virtuais e com as ações de educação continuada e à distância;

• o estabelecimento de parcerias apoiadas no entendimento de que o repensar do processo educativo implicava em trabalho coletivo e cooperativo dos diversos segmentos da sociedade, da política e da sociedade civil;

• a adoção de procedimentos de organização escolar flexíveis e cooperativos;

• a utilização de práticas de gestão pautadas em princípios de qualidade e competitividade.

Atualmente, o Centro Educacional Carneiro Ribeiro atende a 3770 alunos, distribuídos em 5 escolas-classe, sendo que a Escola Álvaro Silva foi incorporada ao centro. Essas escolas-classes ocupam uma grande área do bairro da Liberdade, num total de 11 prédios distribuídos em um raio de 1,5 km, como descreve Cordeiro (2001).

Apesar das dificuldades de se obter informações mais detalhadas sobre o Centro Educacional até a conclusão do presente trabalho, o projeto de restauração explicita a intenção de resgatar a proposta inicial de escola de tempo integral de Teixeira.