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Centro E spírita “Garimpeiros da Luz”

No outro grupo vinculado às nossas indagações - o Centro Espírita Garimpeiros da Luz - com relação às visitas que empreendemos, foram reproduzidas, em linhas gerais, as mesmas abordagens que mencionamos com relação ao grupo “Evangelho no Lar”.

Estabelecido o primeiro contato com uma das dirigentes do centro, Sra. Irandí, conjugamos nossa freqüência e observação in loco com entrevistas fornecidas por participantes daquelas atividades.

Nessa etapa, um senso de familiarização, por parte dos entrevistados, nos pareceu mais intenso, pois já conhecia parcela do quadro de dirigentes de outras oportunidades. Este fato, quem sabe, tornou-se gerador de maiores oportunidades quanto a informações sobre o próprio grupo.

Em relação ao ambiente, o amplo salão dos “Garimpeiros” não discrepava da simplicidade comumente observada nos ambientes espíritas. Contudo, chamou-nos a atenção uma estreita relação na disposição de certos elementos também detectados no grupo “Evangelho no Lar”, como, por exemplo, quadros com a figura dos espíritos tidos, por eles, como atuantes naquelas atividades.

Mas, quais seriam as motivações daquele grupo ter se separado das atividades religiosas desenvolvidas originalmente na ambiente e na disciplina do “Evangelho no Lar”? Existiriam discrepâncias ou semelhanças estabelecidas com relação ao grupo de origem? Munidos destas questões iniciamos nossas investigações.

Segundo dados obtidos com membros do próprio Centro, a partir de 1990, parte do grupo dirigido por Waldemar passou a se reunir em outro recinto, três vezes por semana, para estudar o Evangelho Segundo o Espiritismo e receber informações espirituais. Após um ano e meio nesses encontros os espíritos aconselharam a ampliação do espaço físico, pois o trabalho precisava crescer.

Por ocasião da realização de um congresso Espírita em Natal, um médium, voltando-se para um dos membros do grupo, o Sr. Audimar, teria identificado a presença de Augusto Severo com os seguintes dizeres:

Tem aqui um Espírito chamado Augusto Severo, que eu não conheço, mas está dizendo que você deixe de teimosia e arranje um lugar maior para

fazer as reuniões, porque o trabalho precisa ser intensificado. (depoimento de Irandí)

Daí por diante, as reuniões do que já se tornava uma divisão das atividades do “Grupo Espírita Evangelho no Lar” passariam a se efetuar em uma casa, no bairro de Morro Branco, cedida por um dos integrantes.

Surgia o “Grupo Espírita Garimpeiros da Luz”, fundado no dia 25 de agosto de 1995. Posteriormente, com uma doação financeira de um dos integrantes foram realizadas ampliações e reformas na sede. O grupo que também crescia em um modelo de centro espírita formalizado e atuante em vários setores, inclusive, em um trabalho social desenvolvido na “Comunidade Rocinha”, em São José de Mipibú.

Mantendo trabalhadores em comum, os dois grupos jamais romperam no reconhecimento de suas mútuas atividades, crendo mesmo em um tronco comum e na necessidade de subdivisões para a realização de atividades em outros enfoques, mas que não excluem nem anulam o relevo das outras. Neste depoimento, Sidney deixa claro um ponto de vista de unidade:

O “Garimpeiros da Luz” é uma espécie de expansão do trabalho de Waldemar. (...) O Espiritismo chegando a lugares mais distantes!

Eu entrei no Espiritismo pela casa dele e nunca me afastei. Na verdade ia haver uma dissidência de um grupo lá e eu fui convidado a formar outro centro, o “Garimpeiros”.

Você sabe que essas dissidências são sempre necessárias para o espiritismo crescer e ocupar espaço estando em vários lugares que não tem a Doutrina.

Atualmente estou no “Garimpeiros” mas nunca deixamos a Casa Máter que foi em “Waldemar”. Deixei de freqüentar lá, mas freqüento a creche em Macaíba, eu e minha mulher. (depoimento de Sidney)

O universo dos dois grupos, Evangelho no lar e Garimpeiros da Luz, embora dividido em núcleos de atividades distintas, comunga de uma mesma tipicidade presente na identificação de vultos locais considerados como “dirigentes espirituais” e nas mais amplas representações das suas atividades, quer no plano dos “desencarnados” ou dos “encarnados”.43

Torna-se, também, bastante relevante a abrangência de seu círculo de contato no campo religioso espírita, em suas mais variadas faces. Nele estão

43A designação “desencarnação”, em substituição ao uso da palavra “morte” é amplamente aplicada

no vocabulário espírita como destaque e acentuação de uma sobrevivência além da vida física, ou seja, além da carne.

presentes desde a realidade de centros não tão formalizados e, de certo modo, afastados de uma atuação mais conjunta e unificadora, até a intensa participação na organização federativa ou no contato com médiuns de ampla influência nacional, como Chico Xavier e Divaldo Franco.

Já o centro “Garimpeiros da Luz”, com um quadro de membros em parte formado por pessoas oriundas do “Evangelho no lar”, dispõe de uma estrutura de funcionamento própria de um centro espírita formalmente organizado.

Como um símile alargado de sua própria matriz geradora, realiza reuniões de caráter mediúnico, caritativo e instrutivo, empreendido por um grupo de trabalhadores e não propriamente fixadas na figura de um fundador ao qual todos se reportam.

Manteve, contudo, algumas características que o identificam com o “Evangelho no Lar” como, por exemplo, alguns de seus “guias espirituais”: Augusto Severo e Auta de Souza. Este fato é entendido como um elemento de identidade comum e de uma divisão proporcionada pelo próprio “plano espiritual” com o fim de alargar o horizonte das atividades até então desenvolvidas.

O depoimento da atual presidente do “Garimpeiros”, Sra. Irandí, reportando- se à comunicações espirituais que encaminharam a formação do grupo, expõe a presença dos mentores como uma espécie de herança do grupamento espiritual de origem:

Nós saímos do trabalho de Waldemar, fomos retirados de lá para fazer isso (...) lá foi o aprendizado para continuar aqui. (...) Ficou Auta como mentora, e Augusto é o nosso dirigente! (depoimento de Irandí)

A própria existência de quadros representativos dos espíritos, acima citados, em uma parede visível ao auditório e na sala de passes, bem exemplifica um ponto de unidade na disposição destes elementos que também são encontrados na sala de reunião, ainda que mais interna, do “Evangelho no Lar”.

FIGURA 2 - Auta de Souza, Augusto Severo e Jesus: Quadros do “Garimpeiros da Luz”. Parede do auditório de reuniões públicas.

Essas características permitiram a delimitação desses dois grupos como objeto da presente pesquisa que, conforme já apontado, lança-se ao estudo do Espiritismo em contato com a cultura local.

Diante disto, tomamos como ponto de investigação a análise das representações culturais existentes e em conexão com possíveis peculiaridades locais. Portanto, esta perspectiva tende a aprofundar o campo de estudo das interações sociais promovidas pelo Espiritismo, desvendando adaptabilidades em um nível, até então, pouco abordado.

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