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3 INSTRUMENTOS PARA A SUSTENTABILIDADE DA

3.1 Certificação

Desde que o mundo despertou para a problemática da segurança alimentar, os mercados consumidores de alimentos do gênero passaram a investir na busca de garantia de fornecimento de produtos de alta qualidade para seus clientes. De acordo com (BRASIL, 2007) o regular acesso a alimentos de qualidade garantida e em quantidade suficiente compõe os princípios da Segurança Alimentar Nutricional, como também permite o desenvolvimento de uma prática alimentar saudável e que respeite os limites da diversidade cultural e as bases da sustentabilidade.

O surgimento de doenças como a da vaca louca, a febre aftosa, a gripe do frango e a mortandade humana gerada por elas, causaram grande preocupação nos organismos de saúde dos Estados. Os consumidores ficaram mais atentos e rigorosos, motivando a criação de organizações responsáveis pelo estabelecimento de normas de produção, como também pelo acompanhamento de todo o processo produtivo, com o objetivo de garantir a qualidade da mercadoria para os clientes (FAO, 2004).

Após os produtores do Vale do São Francisco consolidarem sua inserção no mercado mundial de uva de mesa e de manga, por força das leis de mercado, a região precisou realizar uma série de transformações no seu espaço para permanecer exportando. O aumento da preocupação global sobre segurança alimentar motivou, no mercado, o estabelecimento de novos critérios para comercialização de produtos agropecuários.

Os empreendimentos produtores tiveram que aderir a novos critérios de produção, garantidos pelos selos de qualidade ou certificação agropecuária. O mercado mundial, em função dos consumidores mais exigentes, tornou-se mais criterioso em relação à produção de bens de alta qualidade, passando, assim, a interferir na cadeia de produção de diversos produtos perecíveis (SCIENCIA, 2010).

A obtenção do selo de qualidade ou da certificação favorece os produtores que pretendem se destacar no ramo. A certificação diferencia o agricultor na disputa do mercado, habilitando-o a concorrer livremente com os principais

empreendimentos mundiais, além de conferir maior confiabilidade ao produto destinado ao comércio (SCIENCIA, 2010).

O processo de certificação começou nos países da Europa. Partindo primeiro, a indústria química da Grã-Bretanha passou a buscar a gestão da qualidade dos produtos por meio da Análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controle44 (APPCC) para garantir a segurança dos projetos em relação à contaminação por energia nuclear. “Esse sistema levava em consideração a analise de todo processo (...) até a conclusão do produto final, são analisadas todas as possibilidades de falhas, correlacionando com causas e efeitos.” (GOMES et. al., 2006, p. 3).

Em seguida, passou-se a investir na rastreabilidade e no detalhamento da origem do produto como mecanismos para testar e garantir sua qualidade. Com isso, os países europeus, os primeiros a utilizarem a certificação na agricultura, possuíam uma produção diferenciada e reconhecida pelo método utilizado para assegurar a qualidade e procedência (GOMES et. al., 2006).

Para a ABNT (2010), a certificação de um produto ou serviço significa que este seguiu normas específicas de produção, foi controlado durante as fases da fabricação, o que lhe confere um diferencial no mercado diante dos concorrentes, contribuindo para a aprovação dos consumidores.

O selo de certificação agrícola consolidou-se por ser uma forma visível de atestar que o produto passou por um sistema voluntário de controle, garantindo a presença de atributos de valor, além de uma qualidade diferenciadora. Este sistema é monitorado por um empreendimento certificador, responsável pela outorga do selo. A certificadora é um organismo especializado que irá verificar se as características do produto, bem como seu método de produção correspondem ao que é assegurado pelo produtor (OYARZÚN, 2005).

A empresa certificadora é responsável por administrar todo o processo de forma transparente, confiável e objetiva através da análise dos documentos fornecidos pelo empreendimento avaliado. A verificação que a certificadora realiza envolve a análise da manutenção dos registros do processo produtivo, relatórios de

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auditorias, controle periódico dos produtos, condições do processo produtivo e formação dos produtores (OYARZÚN, 2005).

Os procedimentos para certificar um empreendimento baseiam-se nos valores que cada certificadora julga adequados, além de respeitar as características de qualidade que são adotadas e do produto que será avaliado. Por exemplo, na análise da produção animal o que será verificado são as visitas à fazenda e o respectivo relatório de auditoria, as práticas de uso do solo como a aplicação de insumos, os tipos de alimentação dos animais, as provas de rotina para verificar a qualidade e segurança do empreendimento (OYARZÚN, 2005). Na verificação da qualidade de um produto agrícola, são analisados os tipos de insumos utilizados na lavoura, os locais de armazenamento desses produtos, a higienização do ambiente e dos trabalhadores, a segurança do local, entre outros.

Os selos de qualidade atestam o empenho dos produtores em fazerem parte de um regime voluntário de controle, garantem a transparência no processo produtivo e o cumprimento de critérios específicos de produção (OYARZÚN, 2005). Tal rigor é determinado por empresas públicas ou privadas baseadas nas indicações de especialistas ou de organizações internacionais que discutem e acompanham a evolução do assunto como, por exemplo, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) que atua nos países para promover a redução da fome no mundo bem como incentivar a pesquisa da produção agrícola.

No Brasil, a Produção Integrada de Frutas (PIF) é o selo nacional que começou a se disseminar a partir de 1997, mesmo o Brasil já tendo, em 1991, adotado o sistema APPCC45. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em parceria com a Embrapa Meio Ambiente e instituições internacionais, iniciou um movimento para sensibilizar os produtores do país a aderirem este novo método de produção que era controlado pelo Governo brasileiro, tratando-se de uma iniciativa da Embrapa. Em anos posteriores, empresas certificadoras de outros países entraram no sistema de certificação dos empreendimentos agrícolas, em consequência da exigência do mercado externo (GOMES et al., 2006).

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