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6. QUINTA PEÇA

6.1. AVEA: desenvolvendo um possível palco trágico para a educação

6.1.3. Chat

Também conhecido como sala de bate-papo, o chat é um espaço de interação que permite a comunicação entre pessoas conectadas no mesmo ambiente, em tempo real, de maneira síncrona. Esse tipo de atividade proporciona aos alunos e ao professor um formato interativo de construções realizadas na instantaneidade das interlocuções. Com isso também se criam “mecanismos que proporcionam a redução da sensação de isolamento do estudante” (GONZALES, 2005, p. 16), mesmo que num espaço-tempo virtual. Abaixo, demonstra-se a opção de escolha da atividade chat no MOODLE, bem como uma síntese de suas configurações.

Figura 3 - Adicionando atividade chat

Fonte: do Autor.

2 – Escolher a atividade chat no menu ‘acrescentar atividade ou recurso’; 3 – Preencher o campo com o nome do chat proposto;

4 – Descrever para os alunos as orientações da proposta de chat;

5 – Escolher data e hora para o chat (podem-se escolher dias e horários fixos); 6 – Dividir a turma em grupos de chats: separados, visíveis ou nenhum grupo; 7 – Salvar e voltar para o curso ou salvar e visualizar o resultado.

Tabela 9 - Síntese das configurações da atividade chat

Quando... Então escolha a opção...

...quiser que os encontros se repitam periodicamente,

...apropriada em ‘repetir sessões’.

...quiser que os alunos tenham acesso aos registros dos encontros realizados,

...referente ao tempo em que esses registros ficarão disponíveis, acessando o menu ‘salvar as sessões encerradas’. ...quiser que o acesso aos registros

gravados seja aberto a todos os alunos,

...’sim’ no menu ‘todos podem ver as sessões encerradas’.

...quiser que os estudantes sejam separados em grupos durante os chats,

...eleja uma das opções (grupos separados ou grupos visíveis) no menu ‘modalidade grupo’.

...quiser que os alunos de um grupo não visualizem nem participem das discussões de outro grupo,

...escolha a opção ‘grupos separados’ no menu ‘modalidade grupo’.

... quiser que os alunos de um grupo visualizem, mas não participem das discussões de outro grupo,

...opte pela opção ‘grupos visíveis’ no menu ‘modalidade grupo’.

Fonte: do Autor.

Aguiar (2012) diz que o chat, quando usado de maneira alternada com aulas presenciais, possibilita construções e agenciamentos diversos dos presentes na clássica estrutura da sala de aula, pois permissivo de um espaço mais informal e consonante com o cotidiano. A autora salienta que as intervenções realizadas nesse tipo de atividade partem de

estímulos diferentes e, por isso, originam outros resultados. Ao comentar os efeitos do seu estudo sobre a utilização do chat num curso de nível superior presencial, denota vantagens pedagógicas com sua apropriação, pois são desenvolvidos momentos em que “os estudantes sentem-se corresponsáveis pelo desenrolar da aula, atitude muito diferente da que geralmente têm na aula presencial” (AGUIAR, 2012, p. 191).

Corrobora isso, o fato de o chat fazer parte do rol de mecanismos típicos de uma socialidade virtual que estimula a absorção por uma coletividade de ferramentas de contato, como os foros de discussão, encontros e reuniões de toda ordem, que jogam no espaço imaterial o vitalismo dos conjuntos, dos agrupamentos. Traço marcante de uma mundanidade referida por Maffesoli (2003) como um jogo de relações, de conversações, uma socialidade amparada numa ‘co-presença’ mais ou menos teatral, que faz aparecer o outro e o que advém do sentimento coletivo arraigado na participação afetiva como vetor de identificação no ciberespaço.

Repercutida no âmbito educacional, essa ‘co-presença’ simboliza a liberação do polo emissor. Pelo chat, o aluno é receptor e emissor no ambiente online comunicacional, justamente através dos écrans de máquinas que, parafraseando Lemos (2002), nasceram individualistas e apolíneas, mas que, também por mecanismos como o chat, se transformam em máquinas dionisíacas e efervescentes. Na socialidade da cibercultura, o espírito dionisíaco dos novos estudantes reivindica da educação e dos seus atores que prestem atenção nessas outras formas de construção do saber, mais voltadas ao vivido, ao cotidiano universitário mergulhado num universo em rede “que permite uma multiplicidade de recorrências entendidas como conectividade, diálogo e participação” (SILVA, 2008, p. 72).

Lemos (2012) entende, de certa maneira, que os chats virtuais são formas de agregação típicas da pós-modernidade. Na perspectiva adotada aqui, quando se reflete sobre o traço dionisíaco das relações e instrumentalizações, valemo-nos das suas palavras para reforçar que a comunicação através desses mecanismos “prova a efervescência social presente hoje no ciberespaço” (LEMOS, 2012, p. 153). A interação fácil através dos chats e suas ferramentas ludificadas, com smileys simbolizando emoções, o uso desregrado e criativo do ‘internetês’ e das codificações e abreviaturas nos diálogos, a intensidade mesmo que ordinária das relações, a efemeridade, a instantaneidade, em suma, tentáculos polissêmicos do estridente Dioniso, que constatam essa organicidade efervescente. Na tabela abaixo, a partir do trágico, os atributos gerais dessa atividade.

Tabela 10 - Síntese dos atributos na atividade chat

Chat Apolíneo Dionisíaco

Forma Fechada Aberta

Método Instrucional

Definido

Temático Indefinido

Uso Programado Eventual

Mecanismo Textual

Linguagem técnica

Codificada Linguagem informal

Relação Professor x aluno Coletiva

Grupos

Discurso Objetivo

Voltado para a conceituação

Subjetivo

Voltado para a elucidação Fonte: do Autor.

Pode-se assentar o chat como mecanismo pertencente àquilo que Silva (2008) arrazoa como princípios de interatividade, com elementos de participação-intervenção, bidirecionalidade-hibridização, permutabilidade-potencialidade; fundamentos que abrem espaço para o exercício de uma participação genuína, atenta às ações já corriqueiras dos alunos e, de quebra, potencializam o envolvimento sensório-corporal e semântico e não somente mecânico. Nesse sentido, o chat inevitavelmente trabalha com uma linguagem voltada para a interação cotidiana, na instantaneidade trágica do síncrono, sendo efetiva atividade tanto como suplemento para os componentes curriculares presenciais, quanto para uma construção do saber arraigada no vivido.

Por um lado, não deixam de representar sintomas daquela fuga dos homens embebedados por Dioniso do comedimento imposto por Apolo. Por outro, impõem aos atores educacionais que negociem com essas hordas, erigindo a medida contra a desmedida – um contra como argumento, não como imposição proibitiva –, tentando significar elementos do caos banal e criativo, propondo agenciamentos que joguem com esse cenário, apostando, entrando em conflito, misturando, levantando a coesão e a ordem como potências de enfrentamento, sempre em luta, jamais extinguindo o adversário. Só assim, numa ótica trágica, torna-se possível construir a bela imagem do conhecimento nesses ambientes.

Se entendido como integrador temático no cosmos coletivo e dissonante de um grupo de alunos (e professor), o chat traz uma abordagem desviante da formalidade instituída nas concretizações do processo de ensino-aprendizagem. Traz algo do diverso, por isso “um meio justo entre a racionalidade argumentativa e a esfera do sensível” (SODRÉ, 2012, p.187). Portanto, algo que movimenta os alunos para uma evidência que sempre se quis comedida,

mas que emerge na consciência coletiva contrária ao monológico e se constitui, sobretudo, no diálogo com diferentes posições existenciais dos seres; uma consciência que advém da presença do outro nas construções e reconstruções dialogadas.

De um modo geral, e pensando no universo das ações práticas, o chat não substitui uma aula presencial, além de apresentar certa dificuldade na sua utilização pelo fato de ser um mecanismo síncrono, exigindo que todos os participantes estejam online ao mesmo tempo para a construção de determinada atividade. Embora, não possa ser desqualificado enquanto suporte para diversas ações que contemplem a construção do saber, tais como atendimento extraclasse, dúvidas e outras atividades que envolvam ações de comportamento imediato devido à comunicação rápida de uma discussão síncrona.

Na tabela abaixo, são esboçados eixos e combinações possíveis dos atributos dionisíacos e apolíneos que, assim como nas outras ferramentas de atividades, não encerram o compêndio de possibilidades conformativas, sendo, tais aquelas, estopins potencializadores.

Tabela 11 - Eixos de construção na atividade chat

Eixo Atividades Chat

Elucidativo (forma dionisíaca)

Espaço para exercícios de hermenêutica, com orientações, esclarecimentos, discussões (método e discurso dionisíacos);

Espaço para interação com monitores: desvelamento do sentido com explicações, dúvidas, reforços e outros (discurso dionisíaco);

Espaço para interdisciplinaridade, com diálogos e intervenções com convidados externos, professores, tutores, ex-alunos, palestrantes (discurso dionisíaco);

Espaço para o discurso dos alunos, seus conhecimentos já construídos, suas

Chat coletivo ou

dividido por grupos (relação dionisíaca).

condições, suas vivências, contextualizando com os conteúdos programáticos (discurso dionisíaco). Imaginativo

(forma dionisíaca)

Espaço para bate-papo informal sobre a temática do componente curricular (método dionisíaco) em horários determinados (uso apolíneo).

Espaço para sugestões dos alunos incentivando a capacidade criativa e abstrativa (mecanismos dionisíacos). Atividades atenciosas com ação e reação dos alunos, suas construções cognitivas em ato (método dionisíaco).

Chat coletivo ou

dividido por grupos (relação dionisíaca).

Conceitual (forma apolínea)

Espaço de apoio para debates sobre trabalhos acadêmicos e científicos feitos em grupo ou individualmente em outra ferramenta de atividade (discurso dionisíaco).

Chat em grupo

(relação dionisíaca).