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[...] Quem espera na pura espera vive um tempo de espera vã. Por isto, enquanto te espero trabalharei os campos e conversarei com os homens. Suarei meu corpo, que o sol queimará; minhas mãos ficarão calejadas; meus pés aprenderão o mistério dos caminhos; meus ouvidos ouvirão mais, meus olhos verão o que antes não viam, enquanto esperarei por ti. Não te esperarei

na pura espera porque o meu tempo de espera é um tempo de quefazer (FREIRE, 2000).

Em 2001, quando iniciamos nossa participação na atividade de orientação acadêmica no curso de Pedagogia-EAD da Ufes, no cre@ad de Cachoeiro de Itapemirim/ES, a grande esperança que nos movia era a possibilidade que era levantada pela então equipe gestora do ne@ad/Ufes: a participação em um curso de mestrado. Tal expectativa não se confirmou, mas chegamos a participar, nesse percurso, na condição de respondentes, de duas pesquisas de doutorado, realizadas por professores do Centro de Educação da Ufes.

Algum tempo depois, tive acesso a um desses trabalhos de pesquisa14, que resultou na tese de doutorado em Educação da professora Isabel Cristina Rabelo Novaes, realizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A pesquisa constituiu um estudo de caso, com vistas a verificar se o desempenho dos estudantes do curso de Pedagogia-EAD da Ufes, em testes e avaliações externas, era igual, inferior ou superior ao dos alunos do mesmo curso, no sistema presencial.

Os resultados, obtidos por meio do referido estudo, demonstraram que o desempenho dos alunos da modalidade EAD, dispersos pelos treze centros regionais de EAD do estado, foi superior ao dos alunos matriculados no ensino presencial, no campus de Goiabeiras. A leitura desse trabalho despertou-me o interesse de conhecer um pouco mais o processo de implantação da Educação a Distância na Ufes e os seus desdobramentos no âmbito da política de formação adotada recentemente pelo governo federal, em parceria com as instituições de ensino superior e os municípios, por meio do Sistema UAB.

Movida por uma curiosidade cada vez mais inquietante, dediquei-me a frequentar, sempre que me era possível, a Biblioteca Setorial do Centro de Educação da Ufes, onde descobri outras três produções sobre a EAD, desta vez realizadas por discentes do PPGE da própria Ufes.

Tendo, uma vez, assumido minha condição humana de inacabamento, passei a uma busca incessante de mim mesma e, em cada fragmento alcançado, sentia que existia outro logo ali ou mais além. Prossegui com leituras e participações em eventos educacionais e fui descobrindo que todo o conhecimento construído até então já não me bastava. Meus olhos

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O segundo trabalho foi realizado pelo Prof. Izac Thompson Paula, também docente do então Centro Pedagógico da Ufes e um dos fundadores do ne@ad/Ufes, por oportunidade de sua vinculação ao Programa de Doutorado em Educação da Universidade Católica de Petrópolis – UCP/RJ. No entanto, não foi possível ter acesso ao mesmo, visto que esse professor faleceu em 2005 e não chegou a defender a sua tese.

buscavam outros horizontes e meus pés viviam à procura de um salto que me levasse a outros mundos.

Nessa época, já atuando como coordenadora do Polo UAB de Itapemirim/ES e repleta de questões que poderiam ser problematizadas no âmbito da pesquisa acadêmica, eu estava motivada a tentar uma vaga no curso de mestrado em Educação do PPGE/Ufes com um projeto de pesquisa voltado à temática da formação de professores, por meio da modalidade EAD. No entanto, após conversas com outros colegas da área, senti um grande receio e recuei.

Refiz o meu projeto para a área de currículo, tomando como motivação a recente implantação de uma nova proposta curricular na rede estadual de ensino, onde ainda atuava na função de pedagoga. Fiz a minha inscrição em 2011 e fui aprovada nas cinco etapas do processo seletivo. Ingressei na turma de n.º 26, em 2012.

Precisei reorganizar minha rotina de vida e de trabalho. Fui contemplada pelo direito de afastamento remunerado de minha vaga na rede municipal, além de ter sido cedida pelo governo do estado ao município de Itapemirim, por meio de convênio. Com isso, pude permanecer na coordenação do Polo UAB dessa cidade.

Encaminhei-me ao primeiro dia de aula do PPGE/Ufes, com os olhos tão curiosos como aqueles que narrei em meu ponto de partida. No entanto, os olhos já não eram os mesmos. Os mundos e as possibilidades de leitura muito se haviam ampliado diante de mim, e a ansiedade, embora ainda existente, não mais me limitava; ao contrário, ela me impulsionava ao risco e à ousadia de querer ser e saber sempre mais.

Já no primeiro encontro de orientação, conversamos sobre a possibilidade de modificar o tema do projeto de pesquisa. Da postura flexível e da atitude sensível da professora orientadora, vi reascender a oportunidade de retomar as antigas – mas ainda atuais – questões sobre o processo de formação universitária de professores, por meio da modalidade EAD.

A construção de um novo percurso, agora como pesquisadora e com outros interlocutores, também pesquisadores, vem-se configurando para mim como um novo e grande desafio. Um desafio que requer de nós, cada vez mais e maior, persistência, dedicação e responsabilidade.

Tendo sido autorizada por minha orientadora, reescrevi meu antigo projeto e, junto às muitas contribuições desse novo lugar, reformulei algumas das questões iniciais até chegarmos à

delimitação de um estudo que foi sendo metodológica e teoricamente construído em torno de um objeto15 bastante peculiar a minha trajetória de formação.

Participamos, nesse período, de duas reuniões anuais da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Educação (Anped) como ouvintes e de outros cinco eventos com apresentação de artigos científicos: IX e X Congresso Brasileiro de Educação Superior a Distância (Esud); I Simpósio Internacional de Educação a Distância/I Encontro de Pesquisadores em Educação a Distância (Sied/Enped); I Encontro de Licenciaturas em Artes Visuais (ELA); e VII Encontro Brasileiro da Rede Estrado (Ebre).

O aprofundamento teórico e reflexivo, ao longo das disciplinas cursadas, e o deslocamento a outros lugares, com a participação em eventos da área, propiciaram-nos experiências bastante enriquecedoras, sob os aspectos social e cultural. Para além de nossa formação intelectual, essas vivências também movem nossas sensibilidades, humanizam nossas relações e amadurecem nossas práticas de leitura e de escrita.

A chegada ao PPGE da Ufes não significa o ponto final desta jornada, mas representa, neste momento, o recorte de um espaço e de um tempo que elegemos para dar sentido à trajetória da construção de nosso objeto de pesquisa.

O sentido que tentamos imprimir é o do olhar de quem se propôs analisar criticamente um percurso que não se fez sozinho, mas que se assume pela responsabilidade das muitas escolhas e renúncias feitas ao longo desse caminho. Reconhecemos, aqui, a necessidade de distanciamento dos lugares até então ocupados e de um movimento de retorno a eles, com um olhar e uma postura de rigor e cientificidade.

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Aqui retomamos o conceito de objeto, referenciado no início desta introdução como “corpo físico”, na tentativa de pensá-lo num sentido mais amplo, como algo que não se dicotomiza do sujeito, mas que nele surge e se manifesta como tentativa de compreensão de si e do mundo que o cerca.

3 CONTEXTUALIZANDO A TEMÁTICA E OS ESPAÇOS DE ONDE EMERGE A PESQUISA: A UFES, O ne@ad/UFES E O POLO UAB DE ITAPEMIRIM/ES

[...] a universidade, para saber estar no mundo em constante transformação tem, ela própria, de estar em constante mudança, tem de ser capaz de mudar a si própria. [...] Inovações que procuram explorar novas alternativas que, muitas vezes, se constroem na contramão das forças dominantes, podem ser importante marcos para a construção de novas possibilidades. A pesquisa sobre estas experiências podem, também, contribuir para consolidar novas possibilidades (CUNHA, 2000, p. 145).

Dando continuidade ao nosso esforço de delimitação do objeto de pesquisa, faremos uma pausa em nossa trajetória de vida para narrar parte da trajetória dos espaços e tempos instituídos, dos quais buscamos os dados que serão, mais à frente, apresentados e analisados.

Nosso objeto toma forma e sentido com base nas relações que estabelecemos com o contexto de interiorização da Ufes, por meio do Núcleo de Educação Aberta e a Distância e do Polo UAB de Itapemirim/ES. Objetivamos, com isso, uma maior aproximação do leitor com o processo histórico de construção dessas instituições e as formas como as questões trazidas neste estudo perpassam suas dimensões do ponto de vista político, legal e operacional.

3.1 A UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO E O SEU PLANO DE