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2. Eu tenho pena eu tenho dó do Galo Preto apanhar do Carijó

2.3 Apresentação das conversas

2.3.3 Chegando no Samba de Bumbo (Narrativa 4)

A Mariana Tornieri Egry é uma sambadora que conhecemos há um tempo. Ela era de uma ONG chamada SufrutoverdeuS e, com o tempo, atuou ativamente pela cultura popular.

Estudei em colégio particular onde também estudavam alguns parnaibanos próximos dos sambadores do Grito da Noite e eles brincavam batucando nas mesas e cantando. Mudando-se para Parnaíba conheceu uma Ong SufrutverdeuS que dispunha de oficinas de ritmos brasileiros e entre estes o

Samba de Bumbo16.

Um dos integrantes da ONG, João Mario, resolveu fazer um grupo de estudos para falar sobre identidade e a história de todos os sambas. Certa vez aconteceu uma apresentação no centro histórico do samba do Cururuquara, momento em que a entrevistada viu os grupos pela primeira vez. Atualmente, a Mari é do Samba de Roda de Pirapora do Bom Jesus e do Samba 13 de Maio do Cururuquara. Ela acompanhou a história, participou de algo com os grupos em um ano e, no ano seguinte, foi sambar com eles. Em todos os lugares onde se apresentavam, lá estava Mariana, mesmo não sendo do Cururuquara.

Em uma apresentação no Jabaquara a Luciana que é da família mantenedora lhe deu o chocalho para tocar, um instrumento pra tocar junto, mas ainda não se sentindo parte do grupo (eu acentuaria parte da família mais do que a noção de grupo).

Ela chegou a montar alguns projetos para o Samba de Bumbo, por meio de editais do Programa de Ação Cultural (ProAC) da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, e ainda assim não era, ou melhor, não tinha coragem e tinha muito respeito de se dizer do grupo.

Ao ajudar na compra das roupas para o próprio grupo, tecidos para as saias e as camisas dos homens, a integrante Luciana disse para que fizessem uma saia para Mariana porque estava sempre com o grupo. Para o samba do Cururuquara, a linha divisória foi a roupa.

A famosa Dona Maria Esther do Samba de Roda de Pirapora havia pedido que ela cantasse uma música do samba de Parnaíba.

O Dirceu integrante do Samba de Roda de Pirapora disse que como eu sempre estava junto era do grupo. Ser do grupo ou não ser do grupo? Para sair em defesa do grupo não tem medo de dizer que é, mas nunca é ser mesmo da tradição. Tenho um respeito muito grande. Não vinha de uma tradição de samba. Em Pirapora, o cachê eles não dividiam comigo e em algum momento começaram em dividir junto.

Da ONG que frequentava, nasceu um grupo de Samba de Bumbo intitulado Votubumbá, porém, agora ela não se apresenta com tanta frequência e vigor de antes. Mariana não participa mais desse grupo, pois não carregava a

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Os trechos a seguir referem-se à entrevista de Mariana Tornieri Egry, concedida ao autor em 17 de agosto de 2018.

ancestralidade, a ideia de resistência, de família e união que esses grupos reconhecidos como tradicionais carregam. Neste grupo, eram todos amigos de militância na cultura, e houve divergências de como fazer o samba.

Se montar um grupo hoje, será que ele consegue resistir como o Cururuquara por uns 130 anos?

O Samba de Roda Pirapora teve início por volta de 1940, com o Senhor Honorato Missé e a dona Maria Esther também participava. Algo aconteceu que o samba deu uma parada e retomou com dona Maria. A cidade de Pirapora era um ponto de encontro de todos os sambas. Nem sempre foi em roda, mas com dona Maria era. Ela ficava no centro e dividia entre os tocadores e as bailarinas como ela chamava. Havia outro grande improvisador, Seu João do Pasto. Em Pirapora, a confusão continua a respeito dos sambas que lá aconteciam nos dias de festa e no grupo que era de lá o ano todo.

Já a história do grupo 13 de Maio, o samba conta-se a partir da libertação dos escravos, receberam terras na localidade e fizeram uma festa. Tiveram suas terras tomadas, quando alguém pegou por conta da passagem da Rodovia Presidente Castelo Branco. No dia 13 de maio de 1888, plantaram 8 palmeiras. Eles perderam burocraticamente suas terras e uma parte da família foi morar no Grajau em São Paulo, em Itapevi e outra parte no centro de Santana de Parnaíba-SP. A festa é composta da reza na capela de baixo, da procissão, da missa e do levantamento de mastro e a música fica por conta do Samba de Bumbo.

Houve outras famílias ocupando legal e ilegalmente. A lei de terras foi até 1946, ou seja, foram muitos anos sem ter direito a compra de terras pelos descentes dos escravizados. Uma nova comunidade surgiu e ocupou a área, onde se formou uma comunidade católica que disputa a festa do Cururuquara. Pelas histórias, houve um enfraquecimento e os moradores foram organizando e aumentando o caráter de quermesse da festa, enquanto os familiares que criaram a festividade já estavam longe do bairro. As fontes dessas histórias foram livros e pesquisadores.

Mesmo em Pirapora, que o Samba está todo embranquecido, ela é uma manifestação negra que surgiu a partir negros escravizados das fazendas cafeeiras. Carrega a ancestralidade dos pontos e o que faziam como música. E a questão religiosa sincretizam, umbanda, candomblé e catolicismo. Mas ninguém pode tirar o caráter negro da manifestação. A questão racial no Cururuquara é muito forte, a comunidade católica estigmatiza como coisas de criolos, sobre a história dessas famílias, ao invés de criarem outras datas, eles disputam o dia 13 de Maio que não representa o fim da escravidão, mas é alguma data. É uma questão racial, os grupos se dividiram e muitos vão para periferia e sofrem com restrição a saúde, emprego e educação. Todas as dificuldades que a população negra tem. Algo de familiar que está envolvido por questões ancestrais ajudou a preservar o Samba de Bumbo. Em Vinhedo, é bem claro a procissão a festa da família e que guardam entre a família. Quando perguntam por que fazem o Samba dizem que é pela avó, minha tia etc. um respeito e manter viva a memória de seus antepassados. Tem uma coisa ancestral, tem uma coisa que acontece que nos mantem ali sambando a vida toda.

A entrevista de Mariana pode ser ouvida pelo Google Drive nos dois links disponíveis pelo leitor de QR-code.

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