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1 TELETRABALHO: CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A

2.2 O estado da questão na América Latina: pontos e contrapontos

2.2.1 Chile

A legislação que regulamenta o teletrabalho no Chile não é autônoma, pois provém de uma alteração do Código do Trabalho feita pela Lei 19.759 de 200148, a qual trouxe extensas e variadas modificações, ou seja, nem mesmo a alteração é específica. Esse contexto dificulta a proteção do teletrabalhador, uma vez que não reconhece expressamente seus direitos e obrigações.

Assim, a modificação que a legislação em comento trouxe foi acrescentar ao artigo 22 do Código de Trabalho, que trata da jornada de trabalho, a seguinte redação:

Asimismo, quedan excluidos de la limitación de jornada, los trabajadores contratados para que presten sus servicios preferentemente fuera del lugar o sitio de funcionamento de la empresa, mediante la utilización de medios informáticos o de telecomunicaciones49 (CHILE, 2001).

Excluir o teletrabalhador da limitação de jornada traz reflexos diretos em sua esfera de direitos do obreiro. Primeiramente, acarreta a exclusão do direito de percepção de horas extra, pois se o empregado não tem jornada estipulada, tampouco poderá trabalhar além dela. Dessa maneira,

nos casos de teletrabalho,a sujeição de uma jornada tende a um regime de horas extraordinárias similar ao de um trabalhador interno na empresa que permite evitar aquilo que alguns consideram um dos possíveis abusos laborais do teletrabalho: a não remuneração de um trabalho efetivo (ESTRADA, 2008, p.3)

Outro problema diz respeito ao descanso do trabalhador o qual ficará certamente comprometido, uma vez que o Código de Trabalho define como trabalhador aquele que

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A União Internacional de Telecomunicações (2013) que desenvolveu a pesquisa utilizada nesta monografia é uma agência do Sistema das Nações Unidas dedicada a temas relacionados às Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs).

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Isso explica a exclusão do Panamá, pois este país não tem lei, tampouco projeto de lei sobre teletrabalho.

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Vale ressaltar que o Chile tem um projeto de lei sobre teletrabalho com apresentação em 2006. Pelo analisado, desde a propositura, não existiram maiores avanços na sua tramitação. Tal projeto (CHILE, 2006), também modifica o Código de Trabalho, mas apresenta a figura do teletrabalho como um contrato em separado.

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“Também, ficam excluídos da limitação de jornada, os trabalhadores contratados para que prestem seus serviços preferencialmente fora do lugar ou sítio de funcionamento da empresa, mediante a utilização de meios informáticos ou de telecomunicações.” [tradução livre].

trabalha sob dependência (CHILE, 2001). Desse modo, sem estipulação de jornada, como ficaria a estipulação de tarefas e dos horários que poderiam ser enviadas ou a sua quantidade? A imprecisão da lei que alterou o Código Trabalhista chileno propicia diversidade de interpretações que tanto podem favorecer quanto prejudicar o teletrabalhador.

Esse cenário de imprecisão do que é ou não trabalho e as formas que devem ser utilizadas para que não se sobrecarregue o trabalhador é proveniente dessa característica do teletrabalho, no qual a vida profissional se confunde com a pessoal. Dessa maneira:

O trabalhador clássico tem sua mesa de trabalho, enquanto o participante de empresa virtual compartilha, com outros empregados, do mesmo modo programa de computador; o membro da empresa habitual transfere-se de seu espaço privado ou domiciliar para o espaço público do ambiente de trabalho, ao passo que com o trabalhador ocorre o inverso: ele transfere o espaço público para seu espaço privado, vez que trabalha em seu próprio domicílio, ou seja, o limite deixa de ser estipulado: os lugares e os tempos se fundem (ALMEIDA, 2005, p.85).

Válido pontuar que o Código do Trabalho veda atos de discriminação, bem como, em seu artigo 5º, reconhece como limite imposto ao empregador as garantias trabalhistas constitucionais, principalmente quando versarem sobre a vida privada, intimidade e honra dos trabalhadores (CHILE, 2001). Sistematicamente, esses dispositivos alcançam o teletrabalhador, portanto, o empregador não pode sobrecarregá-lo, bem como, invadir sua esfera privada. Desse modo:

O direito à intimidade ou à privacidade corresponde ao respeito ao caráter privado da vida da pessoa que, em condições normais, não pode ser devassada, uma vez que todo o ser humano tem o direito de subtrair-se à indiscrição (NASCIMENTO, 2011, p. 398).

Entretanto, como dito, o campo de extensão dessas determinações é tão amplo que propicia arbitrariedades, afinal, se não existem horas extras a serem pagas, tampouco jornada estipulada, o que impede que empregador envie uma tarefa tarde da noite ao empregado?

Já a nova redação do artigo 41 do Código trabalhista do país, disciplina-se que:

No constituyen remuneración las asignaciones de movilización, de pérdida de caja, de desgaste de herramientas y de colación, los viáticos, las prestaciones familiares otorgadas en conformidad a la ley, la indemnización por años de servicios establecida en el artículo 163 y las demás que proceda pagar al extinguirse la relación contractual ni, en general, las devoluciones de gastos en que se incurra

por causa del trabajo50 (CHILE, 2001). [grifo nosso]

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“Não constituem remuneração os subsídios de mobilidade, de quebra de caixa, de desgaste de ferramentas e de colação, diárias, as prestações familiares outorgadas em conformidade com a lei, a indenização por anos de

Este dispositivo merece destaque quando se considera os gastos que o teletrabalhador faz em seu domicílio, mas que são decorrência da prestação de trabalho, como por exemplo, água, luz, obtenção e manutenção de equipamento. Assim, ao determinar que tais gastos não constituem remuneração, preservam o salário do teletrabalhador, mantendo-o em igualdade de condições em relação aos outros empregados.

Estes são os principais pontos da legislação chilena sobre teletrabalho, que como referido, não é sistematizada e específica. Feitas essa exposição, passa-se a verificar a normatização do próximo país, que é a Colômbia, assunto que se ocupará o próximo tópico.