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3. Porquê aprender línguas estrangeiras? O encanto de saber outras línguas: português

3.1 O papel do professor de línguas estrangeiras (LE)

3.1.2 Chinês língua não materna em Portugal

Com a importância da China no mundo atual, a língua mais falada em todo o mundo é o mandarim. Há mais de mil milhões de pessoas no mundo a falar a língua e muitos portugueses estão entre esses números. A procura é cada vez maior, principalmente pela geração mais jovem, que vê nesta língua a oportunidade de um futuro melhor. O aumento da procura significa o aumento de cursos de mandarim e, neste sentido, muitas escolas de línguas por todo o país apostam nestes cursos, nos quais colaboram professores nativos e professores portugueses fluentes na língua. Porém, os Institutos Confúcio (ICo) são os que têm o papel de destaque na formação de muitos aprendentes e na divulgação da língua e cultura da China. Estes IC oferecem um leque de cursos livres de mandarim não só de vários níveis, mas também especializados em diversas áreas para o público em geral, ao mesmo tempo que trabalham em cooperação

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com universidades onde se localizam, universidades essas que oferecem também cursos de licenciatura e mestrado em estudos asiáticos/chineses, que engloba a aprendizagem da língua, história, geografia, entre outras áreas (24, 2013)16.

Em Portugal existem quatro IC. O IC da Universidade do Minho (UMinho) foi o primeiro a ser criado, em 2001, uma aposta apoiada pelo Governo da República Popular da China. Não é só pelo pioneirismo que o Instituto Confúcio da UMinho (ICUM) se destaca, mas também por ser reconhecido como aquele que atinge os mais elevados níveis das universidades portuguesas. O IC funciona, assim, como uma plataforma de intercâmbio entre o povo português e o povo chinês, pois apoia a vinda de alunos que vêm conhecer a língua e a realidade portuguesas e, por outro lado, o envio de alunos portugueses que o fazem também na China.

Apesar de ter um número fixo de vagas, com os cerca de cento e vinte alunos atuais na licenciatura em Línguas e Culturas Orientais e no mestrado em Estudos Chineses, a procura dos jovens tem aumentado consideravelmente nos cursos da UMinho, situando-se o índice de primeira escolha próximo dos 90% (Uminho, s.d.).

É importante realçar que, desde outubro de 2006, o Instituto Confúcio oferece cursos de chinês (Mandarim) em três escolas na região do Norte. O projeto tem-se vindo a desenvolver e, atualmente, conta com a participação de colégios privados. São eles: o Colégio Luso-Internacional de Braga, o Colégio Luso-Internacional do Porto, o Colégio D. Diogo de Sousa, em Braga, a Escola Francesa do Porto e a Oporto British School, tendo já cerca de trinta e cinco turmas, um total de trezentos e oito alunos de idades compreendidas entre os seis e os dezassete anos. O programa inclui a oferta de livros didáticos, materiais audiovisuais e a organização de uma Semana Cultural Chinesa. Desde o ano letivo 2013/14 que este projeto também inclui a supervisão de aulas e a colaboração com escolas, especificamente, com o Colégio “A Torre dos Pequeninos”, em Santo Tirso, e o Centro de Educação Integrado, em S. João da Madeira, dando apoios ao nível da formação de professores e da disponibilização de material didático, entre outros. O projeto conta com a participação de docentes e estagiários enviados pelo Hanban, pela universidade parceira deste Instituto, a Universidade de Nankai e dos alunos do Mestrado em Estudos Interculturais Português/Chinês: Tradução, Formação e

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Comunicação Empresarial, do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho (Uminho, s.d.).

O segundo IC a abrir em Portugal localiza-se na Universidade de Lisboa. Desde 2008 que a sua missão é promover o ensino da língua e da cultura chinesas e responder ao crescente interesse pela China. Inicialmente, contava com catorze alunos; nos dias de hoje há mais de quatrocentos a aprender mandarim. O instituto também oferece cursos de mandarim direcionados a empresas. O ensino dos seis níveis oficiais de língua é efetuado por professores chineses certificados e selecionados peloHanban e pela

universidade chinesa parceira, a Universidade de Estudos Estrangeiros de Tianjin (Lisboa, s.d.).

Em 2015 abriu o terceiro IC em Portugal, desta vez na Universidade de Aveiro (UAveiro), em parceria com a Universidade de Línguas Estrangeiras de Dalian. Com o IC, a UAveiro quer expandir o ensino da língua chinesa como disciplina opcional nos programas curriculares a todos os níveis de ensino, particularmente em escolas de ensino secundário, em colaboração com o Ministério da Educação e Ciência. O primeiro projeto deste género iniciou-se em 2012 quando, em colaboração com a UAveiro, o município de São João da Madeira integrou o ensino do mandarim no programa curricular do terceiro e quarto ano. A iniciativa partiu de Castro Almeida, então presidente da autarquia e antigo secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, e abrangeu trezentos alunos. Em 2015 o projeto passou a incluir o quinto ano (UA, s.d.) (Ferreira, 2014).

Em 2016 foi criado o quarto IC em Portugal na Universidade de Coimbra, que tem o apoio da Universidade de Estudos Internacionais de Pequim ( 京外国语大学,

Běijīng wàiguóyǔ dàxué) e da Universidade de Medicina Chinesa de Zhejiang (浙江中 医药大学,Zhèjiāng zhōng yīyào dàxué). O Instituto Confúcio da Universidade de Coimbra pretende ser um local de forte contributo para a difusão da língua e cultura chinesas, mas também um espaço de desenvolvimento da Medicina Tradicional Chinesa em Portugal:

“Queremos aproveitar o Confúcio não apenas para desenvolver o ensino da língua

chinesa em Portugal e para aprofundar as relações com a China, que é um dos pilares estratégicos da acção da Universidade de Coimbra neste momento, mas para

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desenvolver uma das outras áreas de referência que é a da saúde e aquilo que estamos a chamar de envelhecimento activo” - diretor da Faculdade de Letras da Universidade

de Coimbra (Gomes, 2016).

O governo português reconhece a importância do mandarim nos dias de hoje e tem vindo a apoiar o desenvolvimento do ensino da língua em Portugal. Com esse objetivo em mente, o governo apoia a integração, como opção, do mandarim nos programas curriculares do terceiro ciclo e do secundário. A medida foi tema de conversa e de consenso em todas as reuniões realizadas entre as autoridades portuguesas e chinesas, em 2014, quando o atual Ex Presidente da República Cavaco Silva foi em visita oficial à China. O Governo também reconhece a importância de internacionalizar as universidades portuguesas para que sejam

“cada vez mais participantes num mundo global, onde ter conhecimentos e competências que sejam internacionalmente relevantes é fundamental para conseguir vencer numa economia aberta” (Ferreira, 2014).

3.1.2.1 Licenciaturas: Planos curriculares

Como já foi referido anteriormente, o ensino de mandarim em Portugal tem-se tornado cada vez mais popular; no entanto, só existem três instituições de ensino superior com cursos de licenciatura especializados na língua e na cultura da China: a Universidade do Minho, a Universidade de Lisboa e o Instituto Politécnico de Leiria. É importante referir que a Universidade de Aveiro possui um departamento de Estudos Asiáticos, criado em 1997; porém, este está associado ao Mestrado em Estudos Chineses. Neste subcapítulo serão apresentados os planos de estudo de duas licenciaturas, uma numa instituição com protocolo com o Instituto Confúcio (Universidade do Minho), outra num estabelecimento em que esse mesmo protocolo não existe (Instituto Politécnico de Leiria). É essencial referir que estas duas universidades são usadas como exemplo e podem não refletir a realidade de todas as universidades portuguesas com licenciaturas em chinês língua não materna. O objetivo principal é dar a conhecer um pouco os objetivos e conteúdos abordados nos cursos e não fazer um retrato completo e exaustivo da situação.

 Universidade do Minho:

O Departamento de Estudos Asiáticos foi fundado em 1997 com o objetivo de promover o ensino e a aprendizagem da língua e da cultura chinesas e japonesas. Em

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2004 foi criada a Licenciatura em Línguas e Culturas Orientais, atualmente designada de Estudos Orientais: Estudos Chineses e Japoneses, a qual tem a duração de três anos letivos. Cada ano letivo é constituído por dois semestres, tendo cada um deles quinze semanas. O corpo docente é constituído por professores portugueses e chineses. A maioria dos professores chineses estão ligados ao IC ou são enviados pelas universidades parceiras, como por exemplo pela Universidade de Nankai. O objetivo principal deste curso é fornecer capacidades linguísticas e comunicacionais aos licenciados para que possam agir em todas as áreas profissionais que tenham relação com o mundo chinês e japonês.

Ao longo dos três anos, os aprendentes não só desenvolvem as suas competências linguísticas como também estudam a história, a geografia e a cultura dos países alvo. Durante o processo de aprendizagem, os alunos também têm a oportunidade de interagir e comunicar com alunos chineses que estão a estudar português na Universidade. É possível consultar o plano desta licenciatura no anexo 10.

Após a conclusão da licenciatura, os alunos são encorajados a prosseguir os estudos e a ingressar no Mestrado em Estudos Interculturais Português/Chinês, criado em 2008, com duração de dois anos letivos, sendo o primeiro ano feito na China (Uminho, s.d.).

Como se pode observar no plano de estudos apresentado, no curso de chinês na universidade em questão ganham relevo as cadeiras relacionadas com a língua, seguidas pelas cadeiras de história, geografia e cultura da China. O seu ensino é feito juntamente com o ensino da língua japonesa e respetivas cadeiras relacionadas com o país. Também é possível comprovar a importância do desenvolvimento das competências de tradução e da gramática, da leitura, da escrita e da oralidade.

 Instituto Politécnico de Leiria (IPL):

O curso de Tradução e Interpretação Português/Chinês e Chinês/Português foi criado em 2006 em parceria com o Instituto Politécnico de Macau. Atualmente, o IPL tem como parceiros instituições de ensino superior de Macau, Pequim, Hainan, Jiangxi e Sichuan (Lusa, 2016).

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O curso tem como objetivos formar tradutores e intérpretes de português. Os graduados devem ter um bom domínio da língua portuguesa, uma boa base de chinês (cantonês e mandarim), conhecimentos fundamentais de inglês e serem capazes de desempenhar funções na tradução e interpretação chinês/português e vice-versa, na investigação científica, no ensino, assim como executar funções administrativas (Leiria, s.d.).

A licenciatura é de quatro anos. O primeiro e o quarto anos são feitos na instituição de origem; no segundo e no terceiro ano, os alunos portugueses têm aulas em Pequim e Macau, enquanto os alunos estrangeiros vêm para Portugal, para o IPL. No primeiro e no segundo ano, o currículo incide na aprendizagem da língua, já nos dois últimos anos, os alunos aprendem técnicas de tradução e interpretação. O último semestre é constituído pelo estágio, introduzido em 2012.

Após o término da licenciatura, os graduados podem continuar o estudo em cursos de mestrado da mesma área de especialização em Macau ou em Portugal, candidatar-se às vagas de tradutores ou intérpretes da função pública em Macau, dedicar-se à tradução ou interpretação para companhias ou empresas chinesas e estrangeiras, ou desempenhar funções no ensino básico de língua portuguesa (Leiria, s.d.) (Lusa, 2016).

O plano de estudos (anexo 11) inclui disciplinas obrigatórias que se focam na aprendizagem das línguas chinesa e portuguesa, assim como na cultura e história de ambos os países. As unidades curriculares opcionais (anexo 12) podem estar relacionadas com a aprendizagem da língua chinesa ou de outras línguas europeias, como também outras áreas, designadamente o direito.

Como se pode observar nos anexos, no curso de chinês na instituição em questão a tradução é o foco principal. A aprendizagem de cadeiras relacionadas com as línguas chinesa e portuguesa ganham destaque, seguidas pelas cadeiras relacionadas com a tradução, cultura, história e literatura da China, de Macau e dos países lusófonos. Para além do chinês também estudam a língua inglesa ou francesa, de acordo com a escolha do aluno.

A oferta educativa das licenciaturas varia com os objetivos do curso, contudo o desenvolvimento das competências linguísticas (oralidade, escrita, leitura), assim como

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a transmissão de saberes sobre o país estudado (história, cultura, literatura, geografia) está sempre presente e numa posição de destaque.

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Capítulo IV Estudo de Caso

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