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CAPÍTULO III – A INFORMAÇÃO

3.2 Ciência Informação

“Ciência da Informação designa o campo mais amplo, de propósitos investigativos e analíticos, interdisciplinar por natureza, que tem por objetivo o estudo dos fenômenos ligados à produção, organização, difusão e utilização de informações em todos os campos do saber”. (CNPq. Avaliação e Perspectiva, 19833, apud Oliveira, 2005, p. 12) A Informação enquanto uma nova ciência surgiu como solucionadora de um impasse, tanto documental como da recuperação da informação: o de reunir, organizar e tornar acessível o conhecimento cultural, científico e tecnológico produzido. (OLIVEIRA, 2005)

Para compreensão desta ciência, utilizaram-se as abordagens técnica e política da Ciência da Informação, conforme proposto por Branco (2006).

Branco, (2006) descreve duas abordagens para compreensão dessa nova ciência. Uma que destaca os aspectos técnicos e tecnológicos da informação e outra, os aspectos políticos, econômicos e sociais. Tais enfoques não estão desvinculados, apenas as características técnicas e tecnológicas serão predominantes em relação às de aspectos políticos, ou vice- versa. Assim descreve: “A ênfase do contexto técnico tem como principal característica o foco nos processos de produção e recuperação da informação, considerando-os como

fortemente vinculados ao desenvolvimento tecnológico no campo da informática”. (BRANCO, 2006, p. 35).

Neste contexto, de acordo com a autora, a informação é apreendida como “fenômeno universal”, focado na produção de conhecimento, estando associada a uma visão sistêmica ou de sistemas, que deverá gerar equilíbrio. Como se pode perceber, na abordagem tecnológica praticamente não considera as influências das variáveis econômicas, políticas e sociais para a construção da informação.

O equívoco apresentado nesta abordagem leva a entender que, os dados produzidos de forma linear para gerar a informação e consequentemente o conhecimento, serão suficientes para subsidiar a tomada de decisão. Abster-se das variáveis políticas, econômicas, culturais e sociais, implica em não perceber a capacidade delas em transformar linhas retas nas mais diversas figuras geométricas, envolvidas no processo de produção da informação. (BRANCO, 2001; BRANCO, 2006)

Caracterizar a informação de forma tão obtusa e limitada, reflete o objeto de estudo também restrito no campo da Ciência da Informação, na sua origem, perpassando pelo processo de compreensão “mediante procedimentos simplificadores de definição dos conceitos e de seleção da associação de variáveis” (GÓMEZ, 1995, p. 80). Segundo a autora:

A constituição de seu objeto oscilou entre a ênfase nos canais (otimização da transmissão da informação, entendida como sinal) e a ênfase na organização e processamento de estoques (otimização das funções de armazenamento, tratamento e recuperação da informação, internas a serviços ou sistemas de informação, e dirigidas aos registros de informação textual).

Branco, (2006) traz a conclusão que para produzir informação optam-se modelos lineares. Em consequência disto, a informação torna-se um acúmulo de dados, cuja seleção e escolha perpassam por quem os produz. Esses são, por sua vez, guardados em instrumentos informacionais com grande capacidade de armazenamento e processamento. Essa autora (p. 38) refere que a abordagem técnica e tecnológica da informação leva a acreditar que quanto mais dados se tiver “sobre um fenômeno ou problema, mais facilmente se poderia entendê-lo ou encontrar soluções”.

Entende-se que exista um equivoco nesta abordagem, frente à interpretação do que seja dado e informação. O dado se difere da informação pela presença de um propósito e um

significado. (DAVENPORT; PRUZAK, 1998; DE SORDI, 2011). Compreende-se que, para esta abordagem os dados, por meio de seu agrupamento, classificação, formatação e disponibilidade, se transformariam em informação que, submetida a uma análise, comparação, validação e avaliação, transformar-se-ia em conhecimento que, por sua vez, após análise das vantagens e desvantagens das opções de ação, resultaria na escolha de uma decisão a ser tomada (BRANCO, 2001).

Esta lógica de atuação meramente tecnicista, avalizada amplamente pela literatura, privilegia na noção de sistema, o processo de produção de informação como tecnológico, no lugar de considerá-lo como humano com suporte a tecnologia. Como falar em sistema se o sujeito do processo é deixado de fora ou em segundo plano?

Branco (2006, p. 40), decorre:

Como acontece em todo equívoco, o tempo encarregou-se de mostrar que a insatisfação prevalecia onde se esperava encontrar usuários contemplados. (...) informação construída a partir da “interpretação de necessidades”, segundo a lógica tecnicista, pouco tempo depois de implantados mostravam-se inadequados e insatisfatórios para atender às reais necessidades, sendo logo abandonados pelos potenciais usuários.

As consequências advindas a partir daí, fomentaram discussões em torno de princípios que “haviam sido o motor propulsor” da Ciência Informação em seus primórdios. A informação enquanto ciência demandou um olhar que contextualizasse a técnica e a tecnologia, surgindo como uma demanda da própria sociedade, mais atenta a seu papel de condutora do próprio destino.

O debate em torno da necessidade de contextualizar a informação, dando um olhar mais abrangente, foi intensificado a partir da década de 60. Lentamente, ao longo das décadas seguintes, itens até então preteridos, pertinentes a vertente econômicas, políticas, sociais e culturais, entram em voga. Cabe ressaltar a abordagem política da informação, entendida como um instrumento útil no processo de tomada de decisão, atrelado à experiência sociopsicológica e intrinsecamente “dependente do contexto cultural, político e econômico; ou como necessidade social voltada para o exercício dos direitos humanos” (BRANCO, 2006, p. 43).

Inicia-se, então, um reajuste na abordagem da informação, que deixa de ter seu controle e acesso fortemente vinculado ao Estado, para ir em direção a uma nova “forma de geração e circulação da informação”, envolvendo outras instâncias sociais (GÓMEZ, 1995, p. 6). E para atender estas demandas humanas, a interlocução passa a circular nas relações sociais, sendo atribuída aos homens. O autor complementa sua fala:

De fato, as realizações sociais dos saberes culturais, desde os conhecimentos científicos às artes, situam-se em algum ponto desta construção paramétrica comunicação: transferência de informação, sem chegar a ser nunca ou plena comunicação ou mera transferência. Desatrelada das condições da comunicação, não é possível para nós a transferência de informação: é parte das condições comunicacionais da transferência de informação a existência de um valor da informação partilhado pelos participantes (emissor; receptor), assim como é necessário à informação “fazer sentido” nos contextos da vida e de ação dos destinatários da comunicação/transferência de informação. Condições pragmáticas de aceitação e reconhecimento do valor da informação são dimensões do sucesso comunicacional de uma ação de transferência de informação. (p. 8)

Observa-se que, também na abordagem política, atribui-se valores à atualidade, à oportunidade, à confiabilidade, à qualidade e à acessibilidade das informações, entretanto o olhar é outro, “o referente não é o critério de utilidade da informação, mas a comunicação mutuamente enriquecedora, baseada na criatividade e na autonomia crítica dos interlocutores”. (BRANCO, 2006, p. 47). Ressalta-se ainda, em nível de análise, que em praticamente todas as organizações, apesar de seus interlocutores, a informação é influenciada pelo poder, pela política e pela economia. (DAVENPORT, 2001)

Compreender a abordagem política da informação como ferramenta de reflexão, valoriza os sujeitos sociais, e associado ao valor da informação que é compartilhado pelos seus interlocutores, faz todo sentido nos contextos da vida e de ação entre os destinatários da comunicação (GÓMEZ, 1995). Tais interlocutores, conforme direcione suas ações neste sentido, contribuem para expressivas transformações na informação, além de corroborar na formulação de novas ideias, “ampliando o potencial informativo de informações antes isoladas” (BRANCO, 2006, p. 49).

Cabe complementar que em nível de formalização, as informações advêm de fontes que são classificadas como formais e não formais. Freitas; Kladis (1995, p. 5), as descreve como:

As informações formais são aquelas que tramitam pelos canais convencionais da organização ou entre organizações. Elas podem ser informações que são geradas dentro da organização ou podem ter sua origem no meio ambiente, incluindo outras organizações. Estas informações normalmente possuem a característica de ser bem estruturadas.

As informações informais são aquelas que não possuem nenhum caráter oficial. Este tipo de informação é de um volume muito grande tem como característica ser bastante desestruturada. (...) pode vir do ambiente ou de dentro da organização.

Em síntese, não se trata de saber qual das abordagens é a certa, e sim atribuir a elas características pertinentes: definição de unidades a serem analisadas, o consenso entre as pessoas responsáveis pelo processamento e o público receptor/leitor da informação, assim como o envolvimento intelectual humano de forma mais intensa e complexa do exigido para a geração de dados, e a partir daí, a informação gerar conhecimento.

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