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Diante das transformações ocorridas após a chegada e consolidação das tecnologias digitais como meio de participação nas atividades das pessoas em diversos âmbitos, os responsáveis pelo meio educacional não podem isentar-se de tentar proporcionar para os alunos uma aprendizagem condizente com a contemporaneidade. Obviamente essa responsabilidade começa de cima – do Estado -, todavia, irei tratar sobre como os professores podem criar projetos em que as tecnologias digitais estejam imersas de forma natural, visando entre outros objetivos, facilitar a aprendizagem musical dos alunos.

Grande parte dos professores de música não tiveram uma formação específica voltada às tecnologias digitais, e, portanto, podem apresentar dificuldades para planejar e propor aulas vivencialmente tecnológicas para seu alunado. Eles precisam ter uma

formação direcionada a como o aluno aprende, que englobe mais conhecimentos que uma vivência intuitiva em smartfones: uma Ciberformação.

O conhecimento da cibernética9, somado à prática das novas tendências tecnológicas e interações nesse contexto, possibilitando criatividade e reflexão para a solução de problemas da atualidade pode ser chamado de ciberformação. É bastante importante que os professores de música galguem essa formação, bem como usem-na de forma orgânica e articulada em suas práticas docentes. Velasco (2015, p. 69) complementa essa perspectiva, afirmando que:

O problema não pode se reduzir ao treinamento dos professores para o manejo de computadores ou a navegação na internet. Trata-se de trabalhar e preparar os docentes para que compreendam o sentido da formação de seus estudantes como futuros cidadãos, como sujeitos autônomos com capacidades para discernir, e muito criativos.

Nesse sentido, os professores de música também devem buscar essa formação, nas instituições, em cursos de formação, com seus pares entre outros. Henderson Filho (2015, p. 3) esclarece que nos cursos de Licenciatura em Música, essa formação tecnológica deve fazer com que os licenciandos aprendam a utilizar as tecnologias digitais, mas de uma forma que eles consigam desenvolver estratégias pedagógicas, além de ter uma visão crítica sobre as mesmas, visando entre outras coisas, expandir as possibilidades de uso. O mesmo autor complementa ainda esta perspectiva com um olhar mais abrangente para a ciberformação na área de música:

A formação do professor de música para a utilização de novas tecnologias será mais completa quando a inclusão tecnológica chegar às demais disciplinas e os professores repensarem suas metodologias e se apropriarem de recursos tecnológicos adequados à formação do educador musical do século XXI, em sintonia com as transformações sociais causadas pela evolução tecnológica, onde somente a escola não se apropria devidamente dessas transformações (HENDERSON FILHO, 2015, p. 10).

Dessa forma, a presença de tecnologias digitais nos contextos educacionais não deve ser apenas para um simples contato cibernético ou para uma aula da disciplina informática, ela deve permitir que suas potencialidades sejam usadas para as múltiplas possibilidades de aprendizagem dos alunos, bem como o desenvolvimento de estratégias em sala de aula e fora dela, evitando uma ínfima digitalização dos conteúdos. Os

9 Cibernética é a “ciência que estuda as comunicações e o sistema de controle nos organismos vivos e

responsáveis pelos contextos educacionais não podem negar e nem simplesmente estimular os alunos a fazerem tarefas com uso do computador de forma acrítica, pois os recursos tecnológicos estão presentes em nosso cotidiano de forma intensa e com uma multiplicidade de possibilidades para sua utilização, que ultrapassa os limites da linearidade.

É possível hoje, que alunos construam suas tarefas contendo muito mais que um texto escrito com algumas figuras, é possível adicionar, por exemplo, hiperlinks para outros aplicativos, páginas e diversos tipos de mídias, deslinearizando o processo de leitura, e, consequentemente, acrescentando mais dinâmica à tarefa. Nessa situação, a tarefa pode ficar bem mais atrativa e interativa com as múltiplas possibilidades que a utilização dos recursos tecnológicos proporcionam aos alunos, permitindo inclusive, que alunos desenvolvam mais suas potencialidades e peculiaridades com determinadas formas de produzir e aprender.

De toda forma, a maneira de ensinar está sendo modificada, estimulada por uma necessidade moderna à base de autoresolução de problemas, que está fazendo com que o professor pare de dizer que não dá para fazer algo só porque não sabe ainda, mas que estimule seus alunos a encontrar uma solução da maneira deles. Serres (2013, p. 48) se refere aos jovens alunos como Polegarzinha e explica a relação entre essa geração e a escola:

A facilidade de acesso dá à Polegarzinha, como a todo mundo, bolsos cheios de saber, junto aos lenços. Os corpos podem sair da Caverna em que a atenção, o silêncio e o arqueamento das costas os prendiam às cadeiras como se fossem correntes. Forçados a voltar, não param mais nos seus lugares.

Dessa forma, este (novo) contexto exige posturas diferentes por parte do professor em função da aprendizagem de música do alunado, visando um melhoramento da busca por aprender, no sentido da fruição, inclusive com um estreitamento da relação professor-aluno, que por muito anos foi hierárquica e disciplinar. Os docentes têm a oportunidade de tornar os processos de aprendizagem mais prazerosos, e, dessa forma, obter resultados mais direcionados à busca do saber pelos alunos, rompendo com a tradicionalidade existente nos contextos de ensino, que por tantos anos frustrou muitos alunos. Pequini (2016, p. 109) explana sobre essa situação, dizendo que:

Frente a esse cenário o indivíduo deve saber julgar o que é eficiente na composição de seus conhecimentos, visto que os mediadores

tradicionais, muitas vezes, são substituídos pelas facilidades de acesso tecnológico. Assim, a escola passa a exercer um novo papel: ajudar o aluno a se instrumentalizar de maneira que ele consiga avaliar o que realmente é primordial.

O autor complementa ainda esta perspectiva esclarecendo que o atual momento que estamos vivento, “em certa medida, rompe com o paradigma da mediação do conhecimento e promove uma modalidade de busca pelo saber que inclui uma participação ativa do corpo discente, sendo este corresponsável por sua conquista de conhecimento” (PEQUINI, 2016, p. 99). Deste modo, a diminuição do distanciamento entre o docente e seus alunos somado à complexidade da busca por conhecimento pode promover um aprendizado mais significativo. Gohn (2013, p. 28) esclarece benefícios que uma aproximação discente-docente poderia suscitar:

Se houver uma participação dos professores junto a seus alunos nesse mundo virtual, pode ocorrer um melhor aproveitamento desse cenário. Por um lado, poderão conhecer mais seus pupilos, compreendendo seus gostos e formas de apreciar música; por outro, poderão indicar músicas e promover escutas atentas, apresentando repertórios significativos para os alunos.

Essa perspectiva também é confirmada e ampliada por Cernev (2016, p. 13-14):

O ensino de música atual demanda um olhar cuidadoso do professor para a cibercultura a fim de compreender as demandas trazidas por alunos que interagem constantemente com as tecnologias digitais e, como consequência, os professores de música são desafiados constantemente para se manter atualizados e desenvolver atividades inovadoras e criativas aplicadas às suas práticas educativas. Desta forma, entender as diferentes estratégias que os alunos usam para aprender música utilizando as tecnologias digitais são importantes para criar um ambiente escolar que desperte nos alunos uma postura crítica e construtiva em sala de aula.

Portanto, ao conhecer, avaliar e testar nos alunos estratégias de ensino com o intuito de dar significado às diferentes formas de aprender, considerando que cada um aprende mais facilmente à sua maneira, os professores podem facilitar a aprendizagem musical para seus alunos. Os alunos aprendem de maneiras diferentes com a participação tecnológica, em ritmos diferentes, por diversas fontes de aprendizado, em suma, uma aprendizagem multifacetada e sistêmica.

Cuervo (2012, p. 74) aponta que “aos educadores musicais cabe uma capacidade de pesquisa e dinamicidade permanentes em relação à metodologia, sem se intimidar frente à velocidade alucinante de desenvolvimento dos recursos tecnológicos diversos”.

Pequini (2016) com uma visão futurista, coloca que o professor pode ainda tentar verificar quais são as maneiras que seus alunos acham mais fáceis de aprender através de testes feitos com tecnologias e softwares específicos criados para isso:

Um grande desafio para o uso da tecnologia seria propor um sistema que adequasse a forma de entrega dos conteúdos segundo as inteligências dos indivíduos. Essa medição poderia ser colhida conforme os resultados das primeiras atividades do indivíduo, por exemplo: se ao apresentar um determinado conteúdo de uma maneira cinestésica o aluno consegue melhor aproveitamento que de maneira lógica, a ferramenta tecnológica utilizada se autocalibraria para apresentar os conteúdos da maneira que o aluno tem melhor aproveitamento. Além disso, essa mesma ferramenta, poderia propor pequenos desafios para que os alunos pudessem aprimorar as inteligências menos desenvolvidas, buscando o equilíbrio das capacidades do aluno (PEQUINI, 2016, p. 104-105).

Neste sentido, os professores de música podem elaborar propostas pedagógicas que englobem as tecnologias digitais em suas aulas, visando uma melhor aproximação de seus alunos e o aumento de possibilidades de fontes de aprendizado. Para tanto, as tecnologias digitais podem ser usadas na educação musical de forma síncrona (quando há interação em tempo real), como por exemplo nas videoconferências online; e de forma assíncrona (quando há interação em momentos diferentes), como por exemplo em videoaulas gravadas. Também há tecnologias que permitem acontecer momentos síncronos e assíncronos, como por exemplo, nos e-mails, que a princípio é uma tecnologia assíncrona, mas que pode ter seus momentos síncronos se a interação (troca de e-mails) ocorrer em tempo real.

Em síntese, os professores de música têm a oportunidade de promover para seus alunos um ensino descentralizado, com uma postura mais articuladora, estimulante e conectiva em função do uso tecnológico dentro e fora de sala de aula. A partir da aproximação entre professor-aluno e exposição da bagagem musical do alunado, o docente pode desenvolver uma proposta de ensino que interligue e englobe as facilidades e potencialidade de cada aluno, visando uma prática provocante de boas sensações e uma formação musical significativa.

A seguir, será tratado mais especificamente das possibilidades de aprendizagem musical mediada por tecnologias digitais com enfoque na guitarra elétrica, bem como outras possibilidades que podem ser utilizadas para aprender na contemporaneidade.

3.3 As tecnologias digitais na educação musical com enfoque na guitarra elétrica