De todos os fatores inerentes à produção agrícola, o clima aparece como o de mais difícil controle e de maior ação limitante sobre as máximas produtividades, aliado a isso, a imprevisibilidade das variações climáticas a tornam o principal fator de insucesso na exploração das culturas (Farias, 2006).
O conhecimento do ciclo fenológico de uma determinada cultura vai determinar qual o melhor tipo de manejo, características morfológicas da planta, seu momento fisiológico, associados a necessidades por parte do vegetal, que, uma vez atendidas, possibilitam normal desenvolvimento da cultura e consequentemente boas produtividades.
Em nível técnico, o conhecimento da fenologia da cultura da soja é fundamental, uma vez que o agricultor deve estar familiarizado com os diferentes estádios de desenvolvimento da planta a fim de identificar o melhor manejo, tanto diante de situações favoráveis como adversas, adotando, dessa forma, práticas culturais específicas no momento em que há maior possibilidade da planta responder favoravelmente (Câmara, 1998).
A duração do ciclo vegetativo da cultura da soja pode ser relacionada em termos de exigências bioclimáticas, a partir da temperatura do ar, considerada sob diferentes aspectos, desde a simples soma de unidades térmicas ou graus-dia (GD), a temperatura (quantidade de energia) vai determinar o tempo que determinada planta precisará para atingir certo grau de maturidade, da emergência à maturação (Picini, 1998; Schöffel e Volpe, 2002). O ciclo da cultura, em geral, pode diminuir em locais
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onde as temperaturas são mais elevadas devido ao acúmulo rápido de energia (Camargo, 2006).
A descrição da fenologia da soja (Tabela 1 e 2) permite identificar e agrupar os estádios de desenvolvimento da cultura e relacioná-los com suas necessidades específicas, no decorrer do ciclo. A descrição dos estádios de desenvolvimentos de Fehr e Caviness (1977) é o mais utilizado no mundo, pois apresenta uma terminologia única, que divide o desenvolvimento da soja em estádios vegetativos, designados pela letra V, e estádios reprodutivos, designados pela letra R, com exceção dos estádios VE (emergência) e VC (cotilédone), as letras V e R são seguidas de índices numéricos que identificam estádios específicos (Farias, 2009).
Tabela 1. Descrição dos estádios vegetativos da soja.
Símbolo Denominação Descrição
VE Emergência Os cotilédones estão acima da superfície do
solo.
VC Cotilédone
desenvolvido
Os cotilédones apresentam-se bem abertos e as folhas unifoliadas estão abertas, de tal modo que as bordas de cada folíolo não estão se tocando.
V1 Primeiro nó maduro As folhas unifoliadas estão estendidas e a
primeira folha trifoliada está suficientemente aberta, de tal modo que as bordas de cada folíolo não estão se tocando.
V2 Segundo nó maduro A primeira folha trifoliada está estendida, isto é,
com os três folíolos expandidos e a segunda folha trifoliada está aberta, de tal modo que as bordas de cada folíolo não estão se tocando.
V3 Terceiro nó maduro A segunda folha trifoliada está estendida, isto é,
com os três folíolos expandidos e a terceira folha trifoliada está aberta, de tal modo que as bordas de cada folíolo não estão se tocando.
V(n) Enésimo nó maduro A enésima folha trifoliada está com os três
folíolos expandidos e a “n+1” folha trifoliada está aberta, de tal modo que as bordas de cada folíolo não estão se tocando.
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Figura 3. Esquema do ciclo vegetativo da soja
Fonte: Iowa State University. Special Report n.53,1998.Utilizado por Câmara (1998).
Tabela 2. Descrição dos estádios reprodutivos da soja.
Símbolo Denominação Descrição
R1 Início do florescimento Uma flor aberta em qualquer nó da haste
principal.
R2 Florescimento pleno Uma flor aberta em um dos dois últimos nós da
haste principal, com a folha complemente desenvolvida.
R3 Início da Frutificação Vagem com 5 mm de comprimento em um dos
quatro últimos nós superiores, sobre a haste
principal, com a folha completamente
desenvolvida.
R4 Vagem formada Vagem com 20 mm de comprimento em um dos
quatro últimos nós superiores, sobre a haste
principal, com a folha completamente
desenvolvida.
R5 Início da formação da
semente ou da granação
Sementes com 3 mm de comprimento em uma vagem localizada em um dos quatro últimos nós superiores, sobre a haste principal, com a folha completamente desenvolvida.
R6 Semente desenvolvida
ou granação plena
Vagem verde, contendo semente verde que preencha a cavidade da vagem localizada em um dos quatro últimos nós superiores, sobre a haste principal, com a folha completamente desenvolvida.
R7 Início da maturação ou
maturação fisiológica
Uma vagem normal sobre a haste principal que tenha atingido a cor de vagem madura.
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R8 Maturação plena ou
maturação a campo
95% das vagens atingem a cor da vagem madura.
Fonte: Fehr e Caviness (1977) adaptada por Câmara (1998)1
Tabela 3. Duração média (dias) dos estádios fenológicos da cultura da soja.
Estádios Número médio de
dias Intervalo de dias Semeadura– VE 10 01/nov VE – VC 5 06/nov VC – V1 5 11/nov V1 – V2 5 16/nov V2 – V3 5 21/nov V3 –V4 5 26/nov V4 – V5 5 01/dez V5 – V6 3 04/dez Acima de V6 3 07/dez R1 – R2 3 10/dez R2 – R3 20 30/dez R3 – R4 9 08/jan R4 –R5 9 17/jan R5 – R6 15 01/fev R6 – R7 18 19/fev R7 – R8 10 01/mar
Fonte: Adaptado de Fehr e Caviness (1977).
A melhor época para iniciar a semeadura de um determinado local depende de um conjunto de variáveis que vão definir o calendário agrícola, algumas dessas variáveis envolvem basicamente o planejamento prévio e as condições ideais, que nem sempre são previsíveis.
Segundo EMRAPA (2012), a época de semeadura indicada para o estado do Paraná na maioria dos cultivares estende-se de 15 de outubro a 15 de dezembro. Em algumas regiões do estado, essa data se antecipa, principalmente em regiões mais
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As simbologias, denominações e descrições apresentadas são originais de Fehr e Caviness (1997), sendo que alguns termos foram devidamente adaptados por Câmara (1998) de maneira que essa escala fenológica seja mais compreensível pelos produtores brasileiros de soja, durante o seu manuseio na identificação dos estádios de desenvolvimento dos cultivares.
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quentes, onde o inverno é úmido, solos de alta fertilidade e temperatura do ar favorecem a emergência das plantas desde o início de outubro.
Assim, na maioria das regiões produtoras, o melhor período de semeadura da soja é aquele que se inicia assim que as chuvas da primavera repuserem a umidade do solo e a temperatura permitir uma germinação e emergência das plântulas.