• Nenhum resultado encontrado

2.2 Marcha Humana: Conceituação e Aspectos Relevantes

2.2.2 Ciclo da Marcha Humana

O ciclo da marcha é entendido, por Harris e Wertsch (1994), como a sequência de posições e orientações assumidas pelos segmentos corporais que ocorrem entre o primeiro contato de um pé com o solo até este mesmo quando o pé tocar o solo novamente – conceito de passada. Já um passo, é o período entre o toque de calcâneo de um pé e o próximo toque de calcâneo do outro pé – uma passada contém dois passos (Figura 10).

FIGURA 10 – Definição de passo e passada Fonte Perry, 2005

Calçando-se em Perry (2005b), o início da marcha pode ser identificado pelo

choque do calcanhar ou do calcâneo (heel strike) pela própria facilidade de

identificação, porém, é importante saber que, por se tratar de um ciclo repetitivo, qualquer evento pode ter essa função.

A velocidade da marcha depende de duas variáveis envolvendo a passada, seu comprimento e sua frequência (VAUGHAN; DAVIS; O’CONNOR, 1999). Se o comprimento da passada permanece constante, na medida em que o tempo da passada diminui, a sua frequência aumenta, assim como sua velocidade. Se a frequência da passada permanece constante, a velocidade aumenta a medida que o comprimento da passada aumenta. Em certos limites, um determinado número de combinações entre frequência e comprimento da passada produzirá a velocidade desejada (ENOKA, 2000).

Assim, Vaughan, Davis e O’Connor (1999) classificam a marcha conforme sua velocidade desenvolvida, tendo em média 1,5 m/s para caminhada; 3,0 m/s para marcha atlética; 5,0 m/s para corrida e 9,0 m/s para corrida de velocidade. Ressalta-se que, neste estudo, estas variáveis não foram analisadas (comprimento e frequência da passada).

Como constatado por Imnan, Ralsron e Tood (1993), em cada passo, o corpo acelera e desacelera levemente, levanta e abaixa alguns centímetros e ondula levemente de um lado para o outro. Em consonância com os princípios teóricos de Perry (1992), durante a passada há três ações funcionais que merecem destaque, como exposto no Quadro 2.

AÇÕES FUNÇÕES

Aceitação do Peso Transferência do peso corporal sobre um membro

Apoio sobre um único membro Quando o membro contralateral perde o contato com o solo

Avanço do membro em balanço Ao avanço do membro à frente, oscila no mesmo sentido. QUADRO 2 – Ações funcionais durante a passada

Fonte: Adaptado de Perry, 1992

A autora divide o Ciclo de Marcha ou Passada, basicamente, em dois períodos ou fases: Apoio (stance phase) e Balanço (swing phase).

A Fase de Apoio é caracterizada pela presença do contato do pé com o solo, tendo início no primeiro contato do pé com o solo e o fim com a retirada do mesmo pé do solo. Enquanto, a Fase de Balanço se inicia com a retirada do pé do solo e termina com o final do ciclo da marcha (VAUGHAN; DAVIS; O’CONNOR, 1999), como ressaltado na Figura 11.

_____________________________________________________________

APOIO BALANÇO

FIGURA 11 – Representação do ciclo da marcha: períodos de apoio e balanço Fonte: Perry, 2005

partir de fases observadas durante o ciclo da marcha, das quais cinco ocorrem durante a Fase de Apoio e três ocorrem durante a Fase de Balanço (Figura 12).

_____________________________________________________________

FIGURA 12 – Representação das fases da marcha fisiológica Fonte: Rose e Gamble, 1998

De acordo com os ensinamentos de Perry (1992), as oito fases da marcha têm objetivo funcional. A Fase de Apoio envolve cinco etapas (Quadro 3), enquanto, para a autora, a Fase de Balanço é composta por três passos (Quadro 4).

Terminal do apoio Toque do calcanhar Resposta da carga Médio apoio Pré- balanço Balanço inicial Balanço médio Balanço distal 1º Apoio Duplo (10%) Apoio Simples (40%) 2º Apoio Duplo (10%) Fase de Balanço (40%)

ETAPAS % FUNÇÕES Toque do

Calcanhar 0 a 2

Início da marcha, quando acontece o contato do calcanhar no solo. O membro de referência apresenta flexão de quadril a cerca de 30º, joelho em extensão máxima e tornozelo em posição neutra

Resposta da

Carga 2 a 10

Aumento da quantidade de carga no membro inferior de referência. Quadril em posição neutra, joelho em flexão de 15º e tornozelo em flexão plantar de 15º.

Médio Apoio 10 a 30 Descarga de todo o peso do corpo sobre o membro de referência. O membrocontralateral está em balanço. O quadril e o joelho se encontram em posição neutra e o tornozelo em flexão dorsal de 10º.

Terminal

do Apoio 30 a 50

Deslocamento do peso corporal para o antepé, sem a retirada do calcâneo do chão. O membro contralateral está na fase de toque do calcanhar. A articulação do quadril está em aproximadamente a 30º de extensão, joelho em extensão máxima e tornozelo em dorsiflexão de 10º.

Pré-balanço 50 a 60

Retirada do calcâneo do solo com o peso do corpo transferido para o antepé. O membro contralateral está na fase de resposta de carga. O quadril se estende até 10º, joelho em flexão a cerca de 35º e o tornozelo em flexão plantar de20º. QUADRO 3 – Etapas da Fase de Apoio

Fonte: Adaptado de Perry, 1992

ETAPAS % FUNÇÕES

Inicial 60 a 73

Início da anteriorização do membro inferior de referência em relação ao corpo. A articulação do quadril se flete a aproximadamente a 20º, a do joelho a 60º e a do tornozelo em flexão plantar de 20º.

Média 73 a 87

Passagem do membro de referência para diante do corpo.

Quadril em flexão a cerca de 30º, joelho em flexão de 30º e o tornozelo chega à posição neutra.

Final 87 a 100

Chegada do membro inferior de referência ao final da fase de balanço terminando o ciclo total da marcha.

A articulação do quadril se apresenta em flexão de aproximadamente 30º e as articulações do joelho e tornozelo estão em posição neutra.

QUADRO 4 – Etapas da Fase de Balanço Fonte: Adaptado de Perry, 1992

As medidas citadas referem-se a passadas fisiológicas, representando a capacidade em desenvolver a marcha de pessoas que não apresentam transtornos musculoesqueléticos (neurológicos, reumatológicos e traumato-ortopédicos). Normalmente, essa marcha ocorre em uma velocidade confortável - como avaliado neste estudo – e denominado como velocidade confortável autoselecionada.

Tais características são consideradas eventos temporais da marcha, o que justifica a frequência e a necessidade de se estudar medidas relacionadas a velocidade, duração

marcha.

Winter (1990) entende por cadência o número de passos ou passadas realizadas em um determinado intervalo de tempo, apresentada, normalmente, como passos/minuto ou passadas/minuto. A cadência livre ou natural da marcha é aquela que o indivíduo atinge quando for instruído a andar o mais naturalmente possível. Advertem Andriacchi, Ogle e Galante (1977), é importante notar que na medida em que a velocidade do andar aumenta, a duração do período do apoio diminui e a do período do balanço aumenta.

Existem também estudos relacionados com as medidas de distância, como de Winter (1990), envolvendo o comprimento de passo e passada – comprimento da passada compreende a distância horizontal percorrida. Assinala Perry (1992) que para adultos normais, essa distância é em média 1,41 metros. Porém, Vaughan, Brooking e Obree (1996) evidenciam que a análise da marcha não se resume somente em descrever essas variáveis temporais e espaciais. É indispensável considerar aspectos antropométricos, cinemáticos, cinéticos ou eletromiográficos.

Documentos relacionados