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A obra em cimento e ferro: uma análise dos espaços histórico-culturais do Parque da Guarda

CAP 3: UMA OBRA EM CIMENTO E FERRO: RELEITURA DA HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DE SANTO ANTÔNIO DA PATRULHA ATRAVÉS DO PARQUE DA

3.2 A obra em cimento e ferro: uma análise dos espaços histórico-culturais do Parque da Guarda

161 Segundo Figueiredo, “Santo Antônio, ou melhor, Fernando de Bulhões, nobre português, nasceu em Lisboa a

15 de agosto de 1195. Com 15 anos foi ao convento apresentar-se e pedir o hábito de Santo Agostinho. Com 25 anos conheceu cinco discípulos de São Francisco de Assis, conhecendo assim o trabalho dos franciscanos. Mais tarde após muita meditação entrou para esta ordem onde recebeu o nome de Antônio. Destacou-se como pregador. Conta a tradição que já fazia milagres. Em 13 de junho de 1231, numa sexta-feira, ao pôr-do-sol, morreu o santo, em Pádua, na Itália (FIGUEIREDO in BEMFICA; [et. all.], 2000, p. 404).

162 NEIS, Ruben, Padre. Guarda Velha de Viamão: no Rio Grande miscigenado, surge Santo Antônio da

Patrulha. – Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes/ Sulina, 1975.

163 PIZARRO E ARAÚJO, 1946, v.5, p. 50-51. 164 MENEZES in FÉLIX, ELMIR, 1998, p. 44.

A análise dos espaços construídos no Parque, que transmitem a história da origem do município de Santo Antônio da Patrulha e aspectos da cultura de seus moradores, é mediada pelo entendimento que o idealizador do empreendimento teve com as versões da história de

Santo Antônio da Patrulha, principalmente a exposta por Neis165 que possibilitou a

interpretação mitificada desta origem. Maria Eunice Maciel destaca que o mito nada mais é que uma narrativa que possui um caráter especial, pois apesar de ser plena em sua significação, traz consigo segredos, enigmas, procurando organizar a sociedade e dar-lhe sentido. Nessas circunstâncias ele não é mais considerado uma simples fábula, portanto, seria

inadequado impor-lhe dúvidas quanto à veracidade, pois estas se tornam deslocadas166.

O mito de origem faz parte de um arcabouço histórico e cultural da comunidade, todavia, o condiciona-se como parte integrante da memória e também de uma identidade patrulhense. Para entender o mito como elemento pertencente a um passado da comunidade necessitou pensar a definição de memória. Jacques Le Goff refere-se a “[...] memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações

passadas, ou que ele representa como passadas (LE GOFF, 2003, p. 419)”.

O Parque da Guarda, sob este viés, pode ser analisado como uma projeção da

memória coletiva patrulhense sobre seu passado e, nesse sentido, aproximar-se do que Nora167

apontou como o papel da memória na História, e como estas estabelecem relações. “A

memória pendura-se em lugares como a história em acontecimentos (NORA, 1993, p. 25.)”.

Crê-se que a memória se enraíza no concreto, no espaço, no gesto, na imagem e no objeto;

enquanto a história se liga às continuidades temporais, às evoluções e na relação das coisas.168

Na presente reflexão, portanto, os lugares construídos no Parque podem ser analisados como uma memória petrificada dos patrulhenses, bem como um retrospecto de sua história. Nenhum imaginário neste sentido está desvinculado do espaço ou grupo ao qual pertence.

165 Idem 162.

166 MACIEL, Maria Eunice. Procurando o imaginário social: apontamentos para uma discussão. In FÉLIX, Loiva Otero; ELMIR, Cláudio Pereira (orgs.). Mitos e heróis: construção de imaginários. Porto Alegre: Ed. da Universidade (UFRGS), 1998. p. 76.

167 NORA, Pierre. Entre Memória e História: A problemática dos lugares. Trad. Yara Aun Khoury. Revista do

Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História. Projeto História, SP, n. 10, dez. 1993.

Em toda comunidade é necessário o conhecimento e a preservação da história e da memória dos fundadores. No entanto, este processo deve ocorrer de maneira sistêmica, pois os grupos necessitam primeiramente estabelecer quais são seus elementos identitários (vistos por eles mesmos, e reconhecidos por outros grupos) para direcionarem o processo de construção de imagens sobre si mesmo com o auxílio da palavra, proferida ou escrita, ou mesmo o uso de construções como monumentos em cimento e ferro.

Algumas passagens da história da fundação de Santo Antônio da Patrulha podem ser vislumbradas nos espaços do Parque da Guarda. Mas, para a análise dos espaços e monumentos contidos no empreendimento, torna-se necessária a observação de que o Parque da Guarda foi estruturado em quatro áreas, como já apontou-se anteriormente.

Assim, na parte de entrada do parque encontra-se a área industrial; em outro espaço encontra-se a área esportiva e de lazer. O foco de análise deste capítulo ocupa as duas áreas restantes: a cultural e a religiosa. Na área cultural estão localizadas as casas em estilo açoriano, o museu, e parte das esculturas que contam a história e a origem de Santo Antônio da Patrulha. Já na área religiosa, a imagem de Santo Antônio está erigida assim como os monumentos que retratam o casamento de Margarida e Inácio, juntamente com uma réplica da capela construída pelo supracitado após o seu casamento.

A construção de monumentos, a denominação de lugares e a preocupação com a valorização de personagens do passado estão diretamente associadas a uma memória coletiva

defendida por Gevehr.169 O autor enfatiza a sua análise afirmando que há uma “[...] eficácia

simbólica exercida pelos monumentos. Localizados estrategicamente no espaço social das cidades, os monumentos representam formas de pensar, sentir e expressar valores coletivos (GEVEHR, 2007, p. 180)”.

Menezes, por seu turno, afirma que os monumentos são edificados apenas com o intuito de “comemorar” algum fato ou pessoa, tornando-se descartável após um período, pois

a dinâmica desse processo é rápida, valorizando a diversidade memorativa.170

Mas o homem não prescinde de monumentos arquitetônicos, escultóricos e pictórios na fundação de marcos históricos, artísticos e técnicos. Continua a construí-los e a deixá-los como documentos de seu tempo. Memoriais, museus, arcos, obeliscos, estelas (além de avenidas, e viadutos) são construídos e demolidos para dar razão ao

169 GEVEHR, Daniel Luciano. Pelos caminhos de Jacobina: memórias e sentimentos (res)significados. Tese de

Doutorado. - São Leopoldo: UNISINOS, 2007.

170 MENESES, José Newton Coelho. História & Turismo Cultural. 1 ed., 1 reimp. – Belo Horizonte:

ato comemorativo. Esse ato é dinâmico e valoriza a diversidade que essa dinâmica de valorizações dá às edificações do homem. Destroem-se construções para edificar outras que marcam o fato, a necessidade, a vontade humana (MENEZES, 2006, p. 32).

É Peter Burke quem adverte que os historiadores precisam ter cuidado ao analisar este tipo de vestígio, pois “[...] devemos olhar para estátuas reais ou ‘retratos de estado’ não como imagens ilusionistas de indivíduos como pareciam na época, mas como teatro, como representações públicas de um eu idealizado (BURKE, 2004, p. 185)”. O autor continua afirmando que,

É desnecessário dizer que o uso do testemunho de imagens levanta muitos problemas incômodos. Imagens são testemunhas mudas, e é difícil traduzir em palavras o seu testemunho. Elas podem ter sido criadas para comunicar uma mensagem própria, mas historiadores não raramente ignoram essa mensagem a fim de ler as pinturas nas “entrelinhas” e aprender algo que os artistas desconheciam estar ensinando. Há perigos evidentes nesse procedimento. Para como no caso de outros tipos de fonte, estar consciente das suas fragilidades (BURKE, 2004, p. 18).

O fato de o passado estar em constante dinamicidade exige que a memória busque maneiras de preservar as informações ditas importantes, sem que elas caiam no esquecimento. Por isso, os grupos buscam eleger locais em seu espaço, seja ele um ambiente rural ou urbano, onde suas tradições e costumes consigam seguir com seus laços de continuidade.

[...] pela aceleração da história, cada vez mais, o cotidiano afasta-se das vivências da tradição e do costume; a memória deixa de ser encontrada no próprio tecido social e passa a necessitar de lugares especiais para ser guardada, preservada em seus laços de continuidade. São os lugares de memória encarregados de desempenhar esse papel de manutenção dos liames sociais, de fugir à ameaça do esquecimento (FÉLIX, 1998, p. 53).

Portanto, os lugares de memória possibilitam a construção de representações, já que a união de vários elementos faz com que, determinados símbolos sejam criados, significados e ressignificados pela comunidade que os cerca. Félix reflete sobre a criação desses espaços, ressaltando um dos principais objetivos para que eles existam dentro do espaço da cidade.

[...] a tensão criada pela fronteira entre o vivido, a tradição e suas possibilidades de lembrança, com a aceleração do tempo e o risco da perda de referências espacial- temporal-afetivas dos grupos sociais leva, em nosso tempo, à necessidade da proliferação de lugares de memória, encarregados de dar o suporte da continuidade com o registro de suas marcas através da escrita da história (FÉLIX, 1998, p. 55).

No intuito de facilitar a identificação dos lugares de memória no Parque da Guarda, será utilizado um mapa estilizado confeccionado para a orientação de seus visitantes, onde estão os locais analisados e suas referidas letras de identificação, circulados em cor diferenciada.

Figura 7: Mapa estilizado do complexo do Parque da Guarda- Acervo Pessoal

Os monumentos171 do Parque da Guarda além de fazerem parte dos espaços

considerados lugares de memória, poderiam ser ao mesmo tempo entendidos, como espaços de heróis ou de personagens míticos.

171 “[...] chamar-se à monumento tudo o que for edificado por uma comunidade de indivíduos para rememorar ou

fazer que outras gerações de pessoas rememorem acontecimentos, sacrifícios, ritos ou crenças. A especificidade do monumento deve-se precisamente ao seu modo de atuação sobre a memória. Não apenas ele a trabalha e a

Conforme Meneses, na maioria das vezes, os heróis foram construídos a serviço de ideologias, procurando ressaltar alguns aspectos e tentando obscurecer outros. Em sua opinião,

Houve um tempo em que apenas heróis e figuras do Estado foram seres históricos dignos de percepção pelos intérpretes da construção histórica. A memória construída por esses historiadores a serviço ou não de estados e governos ou de suas próprias ideologias políticas, religiosas ou morais, elegeu pontos do passado a iluminar e outros tantos a deixar no escuro. Aos incluídos, glória e honra (ou, às vezes, o contraponto disso, visto que a tradição do discurso exige também o anti-herói). Aos excluídos, o esquecimento (MENESES, 2006, p. 14).

A imagem construída pela comunidade patrulhense ao longo do tempo rememora as representações da importância da vila no contexto histórico do Rio Grande do Sul, a forma mítica de como foi fundada, e a valoração do trabalho luso-imigrante nas lavouras de cana-de- açúcar. Tal postura como se vê, só reforça o imaginário ligado a ocupação luso-açoriana, sem elencar as demais etnias formadoras do povo patrulhense, que foram acrescidas a história da

cidade a partir dos escritos do Pe. Ruben Neis172 e, posteriormente, das figuras construídas no

Parque da Guarda (2003). Assim, ao direcionar um imaginário fazemos o que Rodrigues estabelece quando fala sobre o papel da tradição dentro de uma determinada sociedade, ou seja, “a tradição santifica o passado”, pois,

Tradição, memória e história são posições diferentes com que o presente vê o passado. Elas têm o significado diferente e devem ser usadas com propriedade. Tradição santifica o passado, justifica o status-quo, consola os saudosistas. A memória petrifica, marmoriza, fossiliza, estratifica. A História é análise, é crítica, é vida que flui e muda de acordo com as necessidades sociais, econômicas do presente e as aspirações e esperanças do futuro (RODRIGUES, 1980, p. 220).

A citação acima está de acordo com o que Barros comenta como definição de imaginário, um sistema complexo e interativo que abrange a circulação e produção de imagens – visuais, mentais e verbais, incorporando-as a um sistema simbólico que abriga as

mais diversas representações.173 Logo, o espaço do Parque carrega a construção de um

mobiliza pela mediação da afetividade, de forma que lembre o passado fazendo-o vibrar como se fosse presente. Mas esse passado invocado, convocado, de certa forma encantado, não é um passado qualquer: ele é localizado e selecionado para fins vitais, na medida em que pode, de forma direta, contribuir para manter e preservar a identidade de uma comunidade étnica ou religiosa, nacional, tribal ou familiar (CHOAY, 2001, p. 18)”.

172 Obra já referida neste trabalho publicada no ano de 1975.

173BARROS, José D`Assunção. O campo da história: especialidades e abordagens. – Petrópolis, RJ: Vozes,

imaginário e de uma representação que não se encontra fora do contexto histórico do município, mas que ainda não havia sido plenamente apropriada pela população como sua história. Assim “[...] o espaço [construído] tem por missão dar significado ao tempo e à história [...] (PESAVENTO, 2002, p. 17)”.

A primeira análise que a presente pesquisa propõe nesse estudo é a de refletir sobre a localização onde o empreendimento foi alicerçado, juntamente com uma de suas características, “o pórtico de entrada” (elemento sob a letra A no mapa de localização do Parque). Esse espaço social remete ao propósito pelo qual o empreendimento foi planejado e construído, possuindo características que remontam ao “posto de pedágio da Guarda Velha”. Tal característica é evidenciada quando se identificam algumas semelhanças geográficas, como a localização do parque, que situa-se próximo de uma via fluvial e também está sobreposto em uma colina. Localiza-se em sentido leste-nordeste da atual cidade alta (local

onde se iniciou o povoamento). Jacobus174 em seus estudos afirma que a Guarda Velha “[...]

situava-se sobre uma colina com 54 metros de altitude, próximo da margem esquerda do rio dos Sinos, na localidade de Guarda Velha, a cerca de 6 km, no sentido noroeste, da atual sede do município de Santo Antônio da Patrulha (JACOBUS in BEMFICA. [et all.], 2000, p. 52)”.

Ao analisar o pórtico de entrada do parque percebe-se que rememora o próprio registro da Guarda Velha, pois é o único meio de acesso ao interior do parque, no qual há o contexto de pessoas vigiando o local e a necessidade de que os visitantes se identifiquem para obterem autorização de passagem.

O Registro, segundo as fontes destacadas por Jacobus175, consistia de três currais,

como sendo dos cavalos da guarda, o curral de descanso de animais e o curral para animais aprendidos. Assim como de três ranchos: o destinado ao provedor do registro, outro ao corpo da guarda e o restante era destinado a depósito de couros. Por fim uma cerca atravessando a

estrada e no meio uma porteira fechada à chave. Neste último item, fica explícita a

simbologia que condiciona o Registro representado no contexto do parque.

174 JACOBUS, André Luiz. A Guarda Velha (Santo Antônio da Patrulha-RS): um pedágio do século XVIII na

América Portuguesa. In BEMFICA, Corália Ramos, [et al.] (orgs). Raízes de Santo Antônio da Patrulha e Caraá. – Porto Alegre: EST, 2000. p. 49-62.

Figura 8: Pórtico de entrada do Parque da Guarda – Foto: Acervo Pessoal

Na área de entrada do setor cultural e de lazer do parque, encontra-se um espaço onde os visitantes são recebidos (elemento letra B no mapa estilizado) e que também se caracteriza por desempenhar uma função de ‘pórtico’ interno. Essa construção evidencia o

estilo arquitetônico trazido ao Brasil pelos lusos (estilo manuelino176), e neste espaço ressalta-

se a utilização de grandes aberturas, sendo as janelas em forma de guilhotina com detalhes em relevo (vergas retas) em torno das aberturas. O mesmo detalhe em relevo é identificado na base da construção. Além desses detalhes, nota-se a inserção de detalhes na parte superior, junto ao telhado, sendo esses conhecidos como cimalha.

Figura 9: Pórtico de recepção de visitantes – Foto: Acervo Pessoal

As casas em estilo arquitetônico açoriano contidas no parque (elementos marcados com as letras C e D no mapa de localização do Parque) seguem a tradição de construções de residências em “fita”, ou seja, uma ao lado da outra, com o mesmo nivelamento, além de possuírem janelas grandes. Elas serviam para alcançar grande luminosidade para os ambientes internos das residências. Estas janelas apresentavam, também em seu entorno, detalhes em relevo que proporcionavam sofisticação às construções. Uma característica marcante deste tipo de construção está na inserção de pequenas chaminés no telhado. A localização desta chaminé no projeto arquitetônico da casa está atrelada a localização do cômodo da cozinha, no conjunto de lareira-forno. Além disso, as casas foram construídas em locais com declive, a fim de o aproveitarem na inserção de porões nestas construções.

No entanto, o Parque da Guarda utiliza esse tipo de arquitetura somente no ambiente externo, pois o interior deste local está adaptado para a administração. Ao analisar esse espaço

inserido no contexto patrulhense, constata-se o que Pesavento177 retrata como capacidade

mobilizadora que a arquitetura proporciona ao evocar sentidos, vivências e valores em uma cidade.

É, pois, na capacidade mobilizadora das imagens que se ancora a dimensão simbólica da arquitetura. Um monumento, em si, tem uma materialidade e uma

177 PESAVENTO, Sandra Jatahy. O imaginário da cidade: visões literárias do urbano – Paris, Rio de Janeiro,

historicidade de produção, sendo passível, portanto, de datação e de classificação. Mas o que interessa a nós, quando pensamos o monumento como um traço de uma cidade, é a sua capacidade de evocar sentidos, vivências e valores (PESAVENTO, 2002, p. 16).

Assim, o conjunto arquitetônico contido no Parque da Guarda remete os seus visitantes ao modelo de construção de casas semelhantes trazido pelos ilhéus, pois normalmente seus empreendimentos visavam à construção de casas em lugares altos, no intuito de facilitar a defesa, utilizando a geografia do terreno para ampliar a área construída. Aliada a isso, verifica-se a riqueza dos traços arquitetônicos, principalmente quanto ao entorno de aberturas, e da exaltação de uma característica peculiar açoriana, no que se refere ao alinhamento junto às calçadas.

Partindo dessas constatações, pode-se observar que o acervo arquitetônico encontrado no parque desempenha um papel de lugar de memória e de representação quanto à arquitetura do núcleo de povoamento inicial do município de Santo Antônio da Patrulha, ocorrido após a fundação da capela sendo situado na Cidade Alta, mais precisamente na atual Avenida Borges de Medeiros. Ele revela as características acima citadas, demonstrando que a construção desse espaço não está dissociada da construção de imagens. É, portanto, um imaginário sobre esse aspecto cultural observado no contexto histórico do município. Por isso, seguindo a ideia de Pesavento de que o historiador recolhe os fragmentos expressos em discursos e imagens, tentando aproximar-se do imaginário coletivo de uma época, pode-se

estabelecer este tipo de relação, já que adiciona significado ao que já está representado.178

Figura 10: Casas açorianas – Foto: Acervo Pessoal

Nessa mesma obra, Pesavento ressalta que o importante na análise dos espaços dentro da cidade é que através da materialidade dos mesmos, ocorre a atribuição do sentido

que o indivíduo ou a coletividade confere a determinado imaginário elaborado179. Assim,

Uma cidade é, sem dúvida, antes de tudo, uma materialidade de espaços construídos e vazios, assim como é um tecido de relações sociais, mas o que importa, na produção do seu imaginário social, é a atribuição de sentido, que lhe é dado, de forma individual e coletiva, pelos indivíduos que nela habitam (PESAVENTO, 2002, p. 32).

Contudo, as casas açorianas do Parque da Guarda, além de representar toda a cultura arquitetônica ali estabelecida, servem como local onde os “planejadores” do parque imaginaram para estabelecer o museu sobre a produção de cachaça de alambique. O museu foi instalado no porão construído abaixo dessas casas, que estão interligadas, é constituído de um ambiente único. Ao analisar o museu, as palavras de Menezes tornam-se necessárias, pois retratam a função deste espaço para a comunidade em que está inserido,

O museu histórico, assim, coleta, preserva, organiza, classifica, estuda, expõe e publiciza o significado do objeto da vida material. Ele o transforma em documento que dá a conhecer a história. Na exposição museológica, os objetos fornecem informações e perdem a serventia que tinham na vida cotidiana; perdem seu valor de uso e obtêm valor de documento problematizador do passado. O museu é, então, uma forma pela qual a sociedade, em geral, e o visitante, em particular, institucionalmente transformam objetos materiais em documentos históricos. Os significados passam a ser construídos pela sociedade e pelo turista (MENEZES, 2006, p. 91).

O Museu da Cachaça de Alambique (elementos C e D no mapa estilizado do parque) tem por objetivo preservar o acervo que conta a história da fabricação de cachaça de