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Capítulo 1: Primeiros Contatos: Os Informantes

1.1 Cinco personalidades

Apresentamos a seguir uma breve biografia dos cinco informantes, acompanhada de uma fotografia realizada durante os encontros de pesquisa. Esta rápida biografia, resultante de dados obtidos nas entrevistas gravadas com cada um deles, reúne informações sintetizadas da trajetória de vida familiar e profissional. Para complementar estes dados, organizamos também um simplificado esquema genealógico, a partir das referências dos pais, fornecidas pelos entrevistados.

No tocante à fotografia que acompanha cada biografia, registre-se que ela é escolha pessoal do informante, a partir de três imagens feitas e apresentadas a cada um. Ao solicitar um retrato dos entrevistados, objetivava, novamente, o enriquecimento da parceria pesquisadora-informante, e tornar mais concreto, mais pessoal, o conhecimento do leitor sobre as personalidades que colaboram com esta pesquisa.

“Aprendi com o circo mesmo... a gente não tinha tempo pra ir à escola a gente ficava pouco tempo num lugar...”

Da infância no circo, Dona Celeste, aos 81 anos, guarda a alegria para com a vida, manifestando a mesma persistência que a acompanhou durante suas representações nos palcos, nas novelas de rádio, no papel de mãe, esposa, dona-de-casa, escritora e artesã.

Nasceu em Botucatu, no dia 6 de outubro de 1921. É ao lado de nove irmãos, filha de Maria Delfina Lobo e José Pires da Costa. A mãe, embora não tivesse conseguido se formar professora, na realidade exerceu esse papel. O pai, com uma formação de colegial, antes de tornar-se dono de um circo, foi chefe da Estação Sorocabana Marinque. Dona Celeste cursou a 1ª e 2ª séries do ensino fundamental, aperfeiçoando a sua formação com a família do circo. Casou-se em 28 de dezembro de 1948 com Walter Ferrari, com quem teve quatro filhos. Na cidade de Jaguariúna, Walter Ferrari foi farmacêutico durante quase 40 anos. Viúva, desde 1990, Dona Celeste escreveu em 1996, um livro intitulado “Degraus da Vida”, no qual registra a sua trajetória no âmbito do circo.

Celeste Pires da Costa Ferrari (CF), 81 anos

Olga Rebellato Bruno (ORB), 80 anos

“Eu era nova naquela época, não tinha nem vinte

e um anos... Eu casei em 1944. Casei com vinte e

um completo já, ia fazer vinte e dois”.

A força do trabalho, a importância da família e da fé alimentam a vida de Dona Olga Rebelatto Bruno, herdeira da cultura imigrante italiana. Aos 80 anos, seus passos permanecem leves, sua voz terna e em torno de sua figura serena agregam-se quatro filhos, nove netos e cinco bisnetos.

Dona Olga nasceu em Jaguariúna no dia 4 de junho de 1923. É a penúltima do casal de imigrantes italianos, Emma Marconato e Pedro Rebellato. Sua mãe morreu cedo e Dona Olga ficou cuidando de seus irmãos mais velhos e, sobretudo da caçula, Paulina. Estudou até a 2ª série do ensino fundamental num grupo escolar rural. Com 21 anos casou-se com Vitório Bruno, produtor agrícola, descente de imigrantes austríacos. Ambos continuam hoje vivendo em Jaguariúna.

Maria Teresa de Arruda Botelho Moraes (MTM), 77 anos

“Eu gosto do período que eu tive minha mãe...

Minha mãe morreu eu tinha 6 anos”

Uma educação refinada somou-se à personalidade meiga, delicada e discreta de Dona Teresa. Da forte lembrança da mãe no entorno de sua infância, Dona Teresa guarda, aos 77 anos, valores que compartilha com seus cinco filhos, netos e bisnetos.

Nasceu em São Paulo, no dia 26 de agosto de 1925. É filha de Abigail Penteado de Arruda Botelho e do engenheiro Augusto de Arruda Botelho. Formada em secretariado, casou-se em São Paulo em 10 de abril de 1947, com Alberto Ataliba Nogueira Moraes – neto mais novo do Barão de Ataliba Nogueira. Viúva, reside ainda em São Paulo, alternando visitas a sua fazenda Santa Úrsula, em Jaguariúna SP.

Moacir Malachias (MM), 76 anos

“Meu pai sempre estimulava, pra ver se eu

conseguia fazer a minha primeira casa... logo que

eu me casei – foi em 62 naquela época – Ah! Nem

deu um ano... que a gente vai se mudando”

Nasceu em Jaguariúna, Estado de São Paulo, no dia 18 de agosto de 1927. É filho de pais negros, Maria Rosa e José Malachias. Após ter cursado até a 4ª série do ensino fundamental, em 1945, entra como ajustador mecânico para trabalhar nas Oficinas da Companhia Mogiana, onde o pai dele já trabalhava como chefe de manobras. Em 1956, após 11 anos na Mogiana, passou a trabalhar como comerciante, em sua leiteria. Casou- se com Ivete Teodoro, em 11 de junho de 1960. Tiveram cinco filhas, Maria Cristina, Kátia Maria, Márcia Regina, Silvia Maria e Rosa Maria. Ele que foi fotógrafo correspondente do jornal Comarca de Mogi Mirim é aposentado e continua residindo com sua esposa em Jaguariúna.

Manoel Rodrigues Seixas (MRS), 75 anos

“Eu sou muito saudosista... Minha vivência

ferroviária é desde 1944. São quase 40 anos... “.

Aos 75 anos, Seo Manoel Rodrigues Seixas, se dedica ainda aos eventos da categoria dos ferroviários e não por acaso escreveu dois livros sobre o mesmo assunto: “Crônicas de um Ferroviário” e “O Herói

Ferroviário”.

Nasceu em Jaguariúna, Estado de São Paulo, no dia 17 de junho de 1928. É filho de Anunciata Rostello e Joaquim Rodrigues Seixas, mestre de linha da Companhia Mogiana. Cursou o ginásio no Seminário Diocesano e, em 1944, foi admitido como praticante de telégrafo da estação Vila Albertina, para, mais tarde, até 1981, se tornar chefe estação de Jaguariúna pela mesma Companhia Mogiana. Foi vereador da cidade de Jaguariúna de 1973 a 1977e vice-prefeito de 1977 a 1982, chegando a assumir a Prefeitura.

Casou-se em 24 de maio de 1954, com Florinda Arsufi Seixas e tem um único filho. Apaixonado por trens, diz que guarda as lembranças “desses mundos” como se fossem fotografias: “coisas preciosíssimas, jóias, e que se se perdem não se acha mais”.

PRIMEIROS OLHARES:

MOVIMENTOS DE UM PERCURSO

Eleger do baú fotográfico ou em álbuns pessoais, livremente e pessoalmente, um conjunto de 20 fotografias foi a primeira “tarefa” solicitada aos cinco informantes logo após a formação da rede. Sem estabelecer critérios fechados, mas entendendo que um número-limite de imagens asseguraria a viabilidade de um estudo e a não-dispersão dos informantes, indicamos a cada um dos entrevistados que trabalhassem na escolha de 20 fotografias.

De posse da informação de que essas fotografias seriam destinadas a uma pesquisa acadêmica, cada um dos informantes confabulou a sua escolha consigo próprio. No intervalo, até o reencontro, uma semana depois, imaginava o desenrolar da “tarefa”, ou seja, quais caminhos estariam percorrendo os informantes ao revisitarem seus baús fotográficos? O que estariam sentindo, definindo e compondo ao selecionarem fotografias que, em parte, representavam e, sobretudo, reanimavam sua própria história de vida?

O período de indagações foi rompido no dia do reencontro, quando, surgiu um fato interessante e unânime: todos os entrevistados apresentaram uma pré- seleção com mais de 20 fotografias e, em um dos casos, o número chegou a 80 imagens. Diante disso, cada um optou por compartilhar com a pesquisadora o momento final da escolha e da conclusão da “tarefa”. Queriam se certificar da validade de sua pré-escolha, embora deixassem transparecer que já tinham definido suas preferências.

Eis o que explica minha participação neste momento final de constituição e de consolidação de um conjunto de 20 imagens. Presença não planejada nesses

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