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5. O EXERCÍCIO DO DIREITO À INTIMIDADE NO AMBIENTE DE TRABALHO 79!

5.4. Circuito interno de televisão 99!

O controle à distância das atividades desenvolvidas pelo empregado, por meio de circuito interno de televisão, é prática vedada pelo Statuto dei Lavoratori italiano. A ferramenta apenas é admitida por aquele ordenamento se tiver por escopo o controle produtivo ou a segurança dos empregados, mediante anuência do sindicato:

Art. 4. Equipamentos audiovisuais. É proibido o uso de equipamentos audiovisuais e outros equipamentos para o controle à distância das atividades dos trabalhadores. Os equipamentos de controle exigidos pelas necessidades organizacionais e produtivas ou pela segurança do trabalho, mas dos quais deriva a possibilidade de monitoramento à distância das atividades dos trabalhadores, podem ser instalados somente após acordo prévio com a representação sindical dos empregados na empresa, ou, na falta destes, com a comissão interna de empregados (…). (tradução nossa)277.

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276 BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho. RR 507500-32.2004.5.09.0006, Rel. Augusto César Leite de

Carvalho, 6ª Turma, DJ 19/11/2010. Disponível em <http://aplicacao2.tst.jus.br/consultaunificada2/> Acesso em 20.11.2010

277 Redação original: “Impianti audiovisivi. È vietato l'uso di impianti audiovisivi e di altre apparecchiature

per finalità di controllo a distanza dell'attività dei lavoratori. Gli impianti e le apparecchiature di controllo che siano richiesti da esigenze organizzative e produttive ovvero dalla sicurezza del lavoro, ma dai quali derivi anche la possibilità di controllo a distanza dell'attività dei lavoratori, possono essere installati soltanto previo accordo con le rappresentanze sindacali aziendali, oppure, in mancanza di queste, con la commissione interna (...).”

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Nossa ordem jurídica não possui proibição semelhante, de sorte que o controle por meio de circuito interno de televisão, em geral, vem sendo aceito pela doutrina nacional, desde que as câmeras não sejam instaladas em locais considerados privativos do empregado. Nesse sentido é o posicionamento de Sérgio Pinto Martins, que considera lícita a instalação de câmeras ou microfones para fiscalização do empregado, desde que seu emprego não seja vexatório. Para o autor, somente viola a intimidade do empregado a instalação de tais mecanismos em banheiros, vestiários e outros locais privados278. No mesmo sentido, Marcos Neves Fava e Eliane Aparecida da Silva Pedroso entendem que não se justifica a instalação de câmeras fotográficas ou filmadoras em banheiros e vestiários com o propósito de distinguir as paradas por necessidade daquelas decorrentes de desídia279.

Em geral, o TST vem admitindo o controle do processo produtivo por meio de circuito interno de televisão com o fim de otimizar o processo produtivo, todavia também rechaça seu uso em locais privados ou destinados ao descanso do trabalhador:

No caso em análise, devem ser considerados a gravidade da conduta (instalação de câmeras de vídeo em banheiros), o tipo do bem jurídico tutelado (honra, intimidade, vida privada) e a repercussão do ato no mundo exterior (segundo o Tribunal Regional, houve comentários dentro da corporação e o vazamento da notícia foi inevitável). Assim, inegável que os obreiros tiveram sua privacidade invadida, com violação do direito à intimidade. Ademais, o acórdão é claro ao expor o entendimento de que a medida se revelou excessiva e desnecessária, pois, se a Reclamada buscava garantir a integridade física de seus empregados, tendo em vista inúmeros ataques praticados pela facção criminosa PCC, deveria ter atuado preventivamente, adotando um sistema de segurança na portaria, impedindo eventual acesso dos criminosos à parte interna da corporação policial. Por último, registre-se que a instalação de câmera em banheiro acarreta para o usuário um forte constrangimento, com um considerável sentimento de humilhação (...)280.

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278 MARTINS, Sérgio Pinto. Direitos Fundamentais Trabalhistas. São Paulo: Atlas, 2008, pp. 117-118. 279 FAVA, Marcos Neves e PEDROSO, Eliane Aparecida da Silva. Direitos da personalidade. Novo Código

Civil e repercussões no Direito do Trabalho. Disponível em <http://sisnet.aduaneiras.com.br/lex/doutrinas/arquivos/trabalho.pdf> Acesso em: 11 nov. 2007.

280 BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho.RR 701405520075150007, Rel. Mauricio Godinho Delgado, 6ª

Turma, DJ 28/05/2010. Disponível em <http://aplicacao2.tst.jus.br/consultaunificada2/index.jsp> Acesso em 20/11/2010. No mesmo sentido: AIRR 1970406120035030103, Rel. Ricardo Alencar Machado, 3ª Turma, DJ 28/10/2005; e AIRR 730400320055040002, Rel. Maria do Perpétuo Socorro Wanderley de Castro, 1ª

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Em nosso entendimento, a restrição imposta pelo emprego das câmeras ao âmbito de proteção prima facie do direito à intimidade é muito menor do que aquela derivada das revistas. Essa forma de controle não se nos afigura como excessiva281, mas

constitui uma boa alternativa à inspeção pessoal, atendendo ao princípio da razoabilidade282. É preciso considerar, porém, que as câmeras não podem substituir as revistas por completo pois, como bem pontuado por Homero Batista Mateus da Silva, elas conseguem apresentar apenas um panorama geral da fábrica ou distribuidor, mas não se mostram capazes de captar detalhes ou ângulos mais discretos ao alcance das mãos do empregado, exceto com um sistema de monitoramento muito mais custoso para o empregador, inviável para a maioria dos empreendimentos283.

Além de permitir a segurança de toda a comunidade de trabalho, o que se coaduna com a função do poder diretivo, as câmeras também permitem melhor controle do processo produtivo, o que também interessa à comunidade de trabalho. Logo, para nós, o uso de câmeras de vigilância pode ser admitido, desde que o aparato de controle não seja empregado em locais de descanso ou intimidade do trabalhador, como banheiros ou vestiários, posto que nesse caso à restrição ao direito à intimidade seria excessiva e desarrazoada. Também é preciso que o empregado seja informando previamente acerca do controle, como bem salientado por Estêvão Mallet284. Caso contrário, haveria verdadeira agressão à intimidade, visto que qualquer indivíduo costuma revelar aspectos muito mais íntimos de sua personalidade quando não sabe que está sendo observado.

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Turma, DJ 04/05/2007.

281 Sandra Lia Simón considera como “excessivo” o monitoramento constante em que as câmeras estejam

voltadas diretamente para uma recepcionista, visto que suas atividades podem ser controladas através de outros métodos, como relatórios, dentre outros. SIMÓN, Sandra Lia. op. cit., p. 155.

282 Nesse sentido também é o posicionamento de Alice Monteiro de Barros. BARROS, Alice Monteiro de.

op. cit., p. 86.

283 SILVA, Homero Batista Mateus da. Curso de Direito do Trabalho Aplicado. Segurança e Medicina do

Trabalho. Trabalho da Mulher e do Menor. Vol. 3. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, p. 159.

284 MALLET, Estêvão. Apontamentos sobre o direito à intimidade no âmbito do contrato de trabalho.

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