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I. Relatório de casuística

1. Casuística agrupada por espécie animal e área clínica

1.2 Clínica médica

1.3.4 Cirurgia oftálmica

Nesta área cirúrgica apenas se registaram três casos clínicos (3,6%). Acompanhou-se um paciente felino que realizou a excisão de um nódulo palpebral e dois pacientes caninos em que se efetuou a excisão da glândula da terceira pálpebra por termocauterização (Tabela 30).

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Tabela 30 - Distribuição dos casos de Cirurgia oftálmica por espécie animal (fip - frequência absoluta por espécie; fi - frequência absoluta; fr (%) - frequência relativa; n=3)

Cirurgia oftálmica fip fi fr (%)

Canídeos Felídeos

Excisão de nódulo palpebral 0 1 1 33,3

Excisão da glândula da terceira pálpebra 2 0 2 66,7

Total 2 1 3 100

A terceira pálpebra ou membrana nictitante é uma prega de conjuntiva situada na porção ventromedial do fórnix conjuntival, que está presente em diversos mamíferos. No cão, é suportada por uma cartilagem em forma de “T” e contém a glândula nictitante que contribui para a produção da porção aquosa da lágrima (White and Brennan, 2018).

O prolapso da glândula nictitante (PGN) é uma das afeções mais comuns que afetam os anexos oculares, em cães (White and Brennan, 2018), sendo raro em gatos (Multari et al., 2016). A sua etiologia é desconhecida (Multari et al., 2016), mas suspeita-se que os fatores predisponentes para a ocorrência desta afeção sejam a existência de flacidez nas conexões de tecido conjuntivo entre a glândula nictitante e os tecidos periorbitais ventrais e a presença de uma glândula hipertrofiada em resposta a estimulação antigénica. A incidência do PGN é variável de acordo com a raça, o que leva a que se pense que esta doença possa ter uma componente genética (White and Brennan, 2018). Os cães das raças English Cocker Spaniel, American Cocker Spaniel, Basset Hound, Beagle, Boston Terrier, French Bulldog, English Bulldog, Lhasa Apso, Pekingese e Shih-Tzu são os mais predispostos. Nas raças braquicéfalas, tem sido sugerido que o PGN ocorra devido à conformação anatómica da órbita (Multari et al., 2016). O PGN ocorre com maior frequência em animais jovens, sendo que a maioria dos casos ocorre em animais com menos de dois anos de idade (White and Brennan, 2018). Os machos parecem ser mais afetados do que as fêmeas e, na maioria dos casos, verifica-se que o prolapso é mais frequentemente unilateral; todavia pode também ser bilateral (Multari et al., 2016).

No exame físico observa-se uma massa avermelhada que sobressai da terceira pálpebra no canto medial do olho e a presença de conjuntivite, epífora e irritação local. Os diagnósticos diferenciais incluem neoplasia, adenite, hiperplasia linfoide folicular, elevação da terceira pálpebra devido, por exemplo, a síndrome de Horner ou enoftalmia, eversão da cartilagem da terceira pálpebra e malformações na membrana nictitante (Fossum, 2013).

Pode-se realizar um tratamento médico através da aplicação de antibióticos tópicos e corticosteroides, em casos ligeiros, depois de se descartar a presença de úlcera de córnea. Este tem como objetivo reduzir a inflamação e o edema da conjuntiva, de forma a permitir que a glândula nictitante retorne à sua posição e tamanho inicial. No entanto, na maior parte das vezes, não se obtém sucesso com esta terapêutica (Fossum, 2013).

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Apesar de, no passado, a excisão da glândula da terceira pálpebra ter sido indicada como o método preferencial de tratamento (White and Brennan, 2018), atualmente a sua remoção está contraindicada, uma vez que se estima que a glândula seja responsável por 30 a 57% da produção lacrimal. Assim, a recolocação da glândula da terceira pálpebra é o tratamento cirúrgico de eleição para os casos de PGN, uma vez que há evidência científica que demonstra que os cães que foram submetidos a esta técnica tiveram uma menor incidência de queratoconjuntivite seca em comparação com cães que não foram tratados ou em que se realizou a excisão da glândula nictitante (Sapienza et al., 2014).

O objetivo do tratamento cirúrgico é recolocar a glândula nictitante por detrás da margem livre da membrana da terceira pálpebra, manter a mobilidade da mesma e preservar o tecido glandular e os ductos excretores (Fossum, 2013). As duas técnicas gerais descritas para o tratamento cirúrgico do PGN são a ancoragem da glândula e a técnica de bolsa. Também está descrita uma técnica de imbricação na superfície posterior da terceira pálpebra. Na primeira, pode-se realizar a ancoragem da glândula nictitante à fascia episcleral ventral, à esclera ventral medial, ao músculo oblíquo ventral, ao músculo reto ventral, ao periósteo orbital ventral ou à própria membrana nictitante (Multari et al., 2016). A segunda consiste em enterrar a glândula numa bolsa criada na conjuntiva bulbar da membrana nictitante: realizam-se duas incisões paralelas com um centímetro de comprimento dorsal e ventralmente ao bordo livre da glândula, e recoloca-se a mesma na sua posição normal, através do encerramento das incisões, com recurso a uma sutura contínua simples absorvível (Fossum, 2013; White and Brennan, 2018). A técnica cirúrgica de recolocação de eleição depende da preferência e experiência do cirurgião (Sapienza et al., 2014).

Para qualquer uma das técnicas está descrito o surgimento de complicações pós- -cirúrgicas. A ocorrência de imobilidade da membrana nictitante pode ocorrer na sequência da realização de técnicas de ancoragem, com exceção daquela em que se faz a ancoragem à própria membrana da terceira pálpebra (Sapienza et al., 2014). Estas técnicas também estão associadas ao aparecimento de entrópion e à recidiva do prolapso, caso haja deiscência da sutura ou a ancoragem seja feita de forma inadequada (Fossum, 2013). Como sequela da técnica de bolsa pode-se verificar a formação de quistos ou o dano dos ductos excretores (Fossum, 2013; Sapienza et al., 2014). Ainda assim, está reportada uma menor incidência de recidiva do PGN quando se usa a técnica de bolsa, comparativamente à técnica de ancoragem (Sapienza et al., 2014).

O prognóstico é favorável nos casos de PGN ligeiros e nos que surgiram de forma aguda (Fossum, 2013). Sugere-se que a raça, a duração do prolapso e o tratamento com corticosteroides no pré-operatório sejam fatores de prognóstico importantes relativamente ao sucesso da recolocação da glândula nictitante. Pensa-se que os cães das raças Mastiff, Shar- Pei, Newfoundland e Bulldog tenham uma maior propensão para a ocorrência de recidiva do prolapso. Os prolapsos de longa duração tendem a ter uma menor taxa de sucesso de recolocação. Por outro lado, a aplicação de corticosteroides oculares antes do animal ser

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submetido à cirurgia pode aumentar o sucesso cirúrgico, dado que reduz a inflamação e o edema característicos da glândula que sofreu prolapso (White and Brennan, 2018).

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No documento Clínica e cirurgia de animais de companhia (páginas 64-68)

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