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Cláusula de fidelização prevalente, cláusula de fidelização excluída

No documento Períodos de Fidelização (páginas 50-53)

4. Cláusulas de fidelização como cláusulas contratuais gerais

4.3. Cláusula de fidelização prevalente, cláusula de fidelização excluída

Durante a celebração do contrato, pode ocorrer que sejam acordadas cláusulas diversas das que constam no documento contratual.

Nos termos do artigo 7º, “as cláusulas especificamente acordadas prevalecem sobre quaisquer cláusulas contratuais gerais, mesmo quando constantes de formulários assinados pelas partes”. Isto significa que se a cláusula de fidelização for alvo de negociação e, para aquele contrato em específico, for acordado um prazo diferente daquele que se encontra presente no formulário, prevalece o primeiro, mesmo que o documento tenha sido assinado pelas partes.

Por vezes, o profissional, no intuito de promover o seu produto e de contratar com mais pessoas, pode diminuir o período de vigência do contrato. Esta negociação, é, em princípio, feita oralmente, em conversa com o cliente, apresentando-lhe um negócio que, à partida, lhe será mais vantajoso. Caso o utente aceite, o artigo 7º indica que este período de fidelização que foi acordado oralmente entre ambos é o que prevalece, apesar de em grande parte dos casos, no documento escrito, o período contratual mínimo seja outro. Consegue-se perceber a motivação desta norma. O sentido aponta, uma vez mais, para a proteção do aderente que é a parte mais desamparada nesta relação negocial.

Há, contudo, o problema da prova. Será muito difícil para o aderente provar que, diferentemente do documento por ele assinado, outra foi a cláusula acordada. É por isso que, nestas situações, convém que o aderente exija que as cláusulas especificamente acordadas sejam estabelecidas por escrito, no

formulário do contrato (ou outro documento anexo), pois essas alterações são as que prevalecem.

Analisa-se agora o que sucede se o profissional não respeitar os deveres acima tratados que levariam à inclusão da cláusula no contrato.

O artigo 8º deste Decreto-Lei enuncia as cláusulas que se consideram

excluídas dos contratos singulares, tal como se não tivessem sido escritas78.

São situações graves que criam especial desvantagem na esfera jurídica do

aderente79. Assim, não se consideram incluídas as cláusulas que não tenham

sido comunicadas nos termos do artigo 5º, ou seja, que não tenham sido comunicadas na íntegra, de modo adequado e com a antecedência necessária; as cláusulas comunicadas com violação do dever de informação, ou seja, as cláusulas cujo sentido, quer voluntariamente ou a pedido do aderente, o profissional não clarificou ou clarificou insuficientemente; e as “cláusulas-

surpresa80” que integram as cláusulas que, pelo seu enquadramento ou

apresentação gráfica, um contratante normal não as tenha notado e as cláusulas que estejam colocadas depois do local da assinatura dos contratantes.

Considerando-se estas cláusulas excluídas, é relevante saber o que acontece com um contrato em que as mesmas surjam. O artigo 9º diz-nos que os contratos, em princípio, se mantêm, ajustando apenas os aspetos necessários. Os aspetos que carecem de adaptação são os que se consideraram anteriormente excluídos do contrato. Significa isto que o contrato continua a ser válido, recorrendo-se às normas supletivas no que diz respeito aos aspetos tratados pelas cláusulas consideradas excluídas.

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78 INOCÊNCIO GALVÃO TELES, Manual dos Contratos em Geral, 2002, p. 322. Nas palavras do

autor: “Têm-se por não escritas. Mais do que simples nulidade, afeta-as autêntica inexistência

jurídica”.

79 INOCÊNCIO GALVÃO TELES, Manual dos Contratos em Geral, 2002, p. 322.

80 CARLOS FERREIRA DE ALMEIDA, Contratos, Vol. I, 2013, p. 177; e JORGE MORAIS

Esta solução só é concretizável se as normas supletivas existentes substituírem adequadamente o conteúdo das cláusulas afetadas. Quero com isto dizer que as normas supletivas usadas deverão preencher o vazio deixado pela não inclusão das tais cláusulas. Se não existirem normas supletivas adequadas a preencher estas lacunas, diz-nos o artigo 9º que devemos recorrer às regras de integração dos negócios jurídicos. Estas estão previstas no artigo 239º do Código Civil e dispõem que “na falta de disposição especial, a declaração negocial deve ser integrada de harmonia com a vontade que as partes teriam tido se houvessem previsto o ponto omisso, ou de acordo com os ditames da boa fé, quando outra seja a solução por eles imposta.”

Contudo, o recurso às normas supletivas e às regras de integração pode ser não ser suficiente para que se consiga definir os aspetos essenciais do

contrato81. Pode também suceder que o uso destes mecanismos cause um

desequilíbrio nas prestações “gravemente atentatório da boa fé”. Em ambas as situações os contratos serão, por isso, nulos.

Se, porventura, a cláusula de fidelização surgir colocada em local

distinto do que é suposto, não for comunicada e esclarecida, ou sofra de qualquer outro sintoma mencionado no artigo 8º, a mesma considera-se excluída. Cabe agora encontrar uma norma supletiva que consiga ocupar eficaz e adequadamente o lugar da cláusula de fidelização. A norma supletiva deve, como já se viu, respeitar o equilíbrio entre as prestações e definir, em concreto, qual o período contratual mínimo aplicável ao contrato.

Em Portugal, não existe uma norma supletiva quanto ao período de fidelização. Assim, de acordo com regras de integração dever-se-ia preencher a lacuna de acordo com a provável vontade de ambas as partes. Todavia, as vontades do aderente e profissional dificilmente serão harmonizáveis até !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

81 O período de fidelização não pode, neste sentido, ser considerado um aspeto essencial pois é

porque, considerando-se a cláusula excluída do contrato, o aderente não foi devidamente informado sobre a mesma. Recorre-se assim ao princípio da boa fé.

Na minha opinião, de acordo com este princípio, não será possível incluir uma cláusula sobre a qual um dos contratantes foi indevidamente informado ou até desconhecia por completo no momento da celebração, não sendo por isso possível impor ao aderente, nesse momento, um (outro) período de fidelização. O contrato deverá, assim, manter-se sem que lhe esteja associado qualquer período de fidelização.

No documento Períodos de Fidelização (páginas 50-53)