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5. O Acordo Interbancário

5.2 Cláusulas tipo

No Acordo Interbancário há uma série de cláusulas que regulam, como vimos, as relações entre os bancos; entre os bancos e o Banco Líder; e entre os bancos e o cliente. Para além das cláusulas que estabelecem o regime obrigacional entre os bancos e o cliente, há uma série de cláusulas tipo, que marcam presença nestes contratos. Entre essas figuram:

• A cláusula que estipula a obrigação dos bancos a agir de forma concertada, sendo que essa concertação ficará a cargo do Banco Líder;

• A cláusula que versa sobre a determinação das quotas de cada banco, ou seja, a participação de cada banco na operação (nos direitos e nas obrigações); • Cláusulas relativas à partilha da informação recolhida por cada banco, no

decorrer da operação, podendo a informação ser relativa à operação, ou ao cliente. Neste ponto, é necessário realçar a importância da boa fé, que se torna um dever acrescido nas operações cuja razão de ser assenta na partilha do risco;

• Cláusulas que obrigam os participantes a comunicar qualquer conhecimento que tenham referentes a uma possível situação de incumprimento da mutuária. Esta cláusula está interligada com a anterior, sendo aqui a “comunicação” um dos meios de partilha da informação;

• A cláusula que estabelece a obrigação dos bancos pagarem ao Banco Líder as quantias despendidas por este para segurança do crédito e reembolso do mesmo;

• Cláusulas que fazem a distinção entre os direitos do sindicato que serão exercidos pelo Banco Líder e os que poderão ser exercidos isoladamente por cada participante (por exemplo: o poder de cada banco de exigir o vencimento antecipado da prestação, perante uma situação de incumprimento);

       

• Cláusulas que estipulam as maiorias para as tomadas de posição. É através destas cláusulas que qualquer decisão tomada em assembleia de bancos210, que fuja à gestão ordinária da operação do Banco Líder, deve ser tomada por uma maioria simples ou qualificada, de acordo com o previsto no contrato, sendo que a votação é feita de acordo com a participação de cada um. É o caso da

declaração, por parte do Banco Líder211, da existência de um evento de

default. Se qualquer Banco percebe que está para vir um evento de default,

notificará, ao abrigo das cláusulas de partilha de informação e de comunicação, os restantes participantes. Estes, tendo em conta a informação, reúnem-se para tomar a decisão de mandatar o Banco Líder a declarar a situação de incumprimento. Este deverá actuar em conformidade com a decisão tomada (que dependerá da maioria estipulada no contrato);

• A cláusula que permite ou proíbe a cessão da posição contratual. A doutrina tem-se dividido no que toca à questão da cessão da posição contratual (apenas por parte dos bancos, uma vez que os contratos dizem directamente que não é permitido ao cliente ceder a sua posição) nos créditos sindicados, havendo duas hipóteses: ou se entende que o acordo entre bancos não é intuitus

persoane, e podem os bancos, mediante notificação ao Banco Líder, ceder

livremente a sua participação (424º do CC); ou se entende o contrário, sendo exigida, por isso, a autorização de todos os outros bancos. É esta última a

posição de VASCONCELOS ABREU212, dado o volume do dinheiro em jogo,

e o facto de estarmos perante um contrato de cooperação, assente numa grande relação de confiança entre os membros que formam a parte. Independentemente da posição que se adopte, o que é certo é que os contratos estabelecem uma permissão genérica que permite que os participantes cedam livre e irrevogavelmente a sua participação (total ou parcialmente) na operação a um terceiro banco que nela queira participar;

• A cláusula que estabelece os deveres e poderes do Banco Líder;

• A sharing clause. Trata-se de uma cláusula de rateio. Se um banco participante receber, de maneira indevida, um pagamento feito pelo cliente,        

210 Nomeadamente quanto à resolução do contrato, que geralmente é tomada por maioria simples- ver regra no contrato.

211 ANDREW FIGHT, Syndicated,..., cit., p. 39

que seria destinado ao pagamento do crédito sindicado, o banco não deverá manter esse montante, mas entregá-lo ao Banco Líder, para que este distribua

aos restantes participantes, de acordo com as quotas respectivas213. O

objectivo da cláusula é evitar algum favorecimento entre o cliente e alguns dos membros do sindicato214: ou seja, serve para impedir os efeitos que surgiriam caso algum banco, que não o Banco Líder, recebesse alguma quantia por parte do cliente, obrigando-o, portanto, a distribuir essa quantia proporcionalmente pelos restantes membros215. A sharing clause apresenta, à primeira vista, uma certa contradição com a independência dos créditos que constituem o sindicato, uma vez que obriga cada um dos participantes a distribuir, proporcionalmente, pelos restantes participantes, quaisquer quantias que recebam, derivadas do empréstimo;

• A Set-off-clause. Mediante esta cláusula, os bancos ficam autorizados a debitar quantias exigíveis pelo contrato, em qualquer conta aberta em nome do cliente, de modo isolado ou solidário. Não se trata de uma cláusula de compensação, mas de um método de satisfação proporcional dos créditos de todos os membros. Para haver compensação é necessária uma cláusula que a preveja, sendo que, muitas vezes, se convenciona o contrário, no sentido de não permitir essa compensação216. Ademais, visa a realização da repartição

pro rata por todas as entidades envolvidas217;

• A cláusula que proíbe a compensação créditos, por parte dos bancos, relativamente a dívidas que tenham perante o cliente.

       

213 ANDREW FIGHT, Syndicated,..., cit., p. 115.

214 SÁNCHEZ, El préstamo sindicado..., cit., p. 758. Afirma que, O facto de se tratar de um contrato de

cooperação económica justifica a necessidade de configurar um sistema de proporcionalidade nos pagamentos através da actividade mediadora do Banco líder.

215 JOANA FRAGATA, O acordo interbancário..., cit., p. 167.

216 LUÍS VASCONCELOS ABREU, Os sindicatos bancários..., cit., p. 540. 217 FILIPE BARATA, Financiamento Sindicado..., cit., p. 61.