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Sistemas de intervenção clínica

2.5.12. Clínica cirúrgica

Na área de clínica cirurgia foram intervencionados um total de 16 animais. Os procedimentos realizados estão indicados na Tabela 17, sendo que destes aquele que foi executado em maior número foi a cesariana com um total de seis cirurgias, cinco em bovinos e uma em caprino anão.

Tabela 17 – Intervenções cirúrgicas realizadas e a sua frequência absoluta, n:16. Amputação de cauda em bovino 1

Cesariana em bovino 5

Cesariana em caprino (anã) 1 Castração em caprino (anões) 2

Descorna em bovino 4

Abomasopexia pelo flanco direito em bovino 3

Total 16

A cesariana foi realizada nos casos assistidos de distócia a serem desenvolvidos na segunda parte deste trabalho, em que não foi possível a resolução da distócia por via vaginal. No estágio, as cesarianas foram executadas em casos mais severos de desproporções feto-maternas, de monstros, e de feto morto com início da regressão uterina.

Figura 20 - Necropsia de uma ovelha com evidências de parasitose por Echinococcus granulo- sus. Presença de cisto hidático assinalado com um círculo.

44 A cesariana é uma opção de tratamento para a distócia, e é geralmente utilizada quando a ava- liação clínica indica que o parto por via vaginal não é seguro para a vaca ou para o feto, e a fetotomia não é uma alternativa viável por o feto estar vivo ou por não haver espaço para o fetotomo (Norman & Youngquist, 2007). O objetivo da cesariana é resolver a distócia quando o parto vaginal não é possível ou quando é pouco provável que o vitelo sobreviva a este (Fubini, 2016).

Das várias causas de distócia, as seguintes representam as seis principais razões que cumula- tivamente levam a 90% das cirurgias de cesariana: desproporção feto-materna, dilatação incom- pleta da cérvix, torção uterina irredutível, monstros fetais, disposição fetal incorreta e feto enfise- matoso (Sheldon, 2001).

A cesariana pode ser realizada por vários acessos (Figura 22, página 45), nomeadamente: atra- vés da fossa para-lombar (mais frequentemente a esquerda), através de uma incisão ventro- lateral (também mais frequentemente à esquerda), de uma incisão oblíqua lateral, de uma incisão para-mediana (realizada maioritariamente à direita), ou de laparotomia mediana ventral. A pri- meira e a terceira técnica são realizadas geralmente com a vaca de pé, enquanto as outras são realizadas com a vaca em decúbito. A abordagem pela fossa para-lombar esquerda é a mais utilizada, principalmente se o feto estiver vivo (Norman & Youngquist, 2007). A abordagem por incisão ventro-lateral, com a vaca em decúbito direito, é particularmente indicada para a remoção de fetos enfisematosos. A sua vantagem é a maior exposição do útero, mesmo quando friável, e a redução do risco de contaminação da cavidade abdominal por conteúdos uterinos (Sheldon, 2001).

A escolha de sedação ou anestesia depende da abordagem cirúrgica. A administração de epi- dural e antibioterapia antes da cirurgia devem ser tidos como rotineiros (Norman & Youngquist, 2007). A área cirúrgica pode ser dessensibilizada com uma anestesia local (Fubini, 2016), em linha ou em L invertido (Sheldon, 2001). Deve ser preparada a área cirúrgica com tricotomia e a antissépsia deve ser realizada com soluções de iodopovidona 7,5% ou clorhexidina 4% (Sheldon, 2001).

Na técnica realizada por acesso para-lombar esquerdo, a incisão deve ser realizada no terço caudal da fossa e grande o suficiente para facilitar a exteriorização do útero. A incisão de apro- ximadamente 40 cm é realizada através da pele e continuada através do tecido subcutâneo e dos músculos abdominais internos e externos (Fubini, 2016), mais precisamente, dos músculos oblíquo externo, oblíquo interno e transverso do abdómen (Sheldon, 2001). O peritoneu é incidido com um bisturi, com atenção para não perfurar o rúmen, e a incisão pode ser estendida com uma tesoura (Sheldon, 2001). Depois de entrar na cavidade abdominal, a posição e a condição do vitelo devem ser determinadas. O útero deve ser exteriorizado através da tração de um membro pélvico do vitelo (Figura 21, página 45) e, idealmente, este deve ficar preso na incisão de forma

45 a permitir que a histerotomia seja realizada fora do abdómen e que o parto do vitelo se realize com a mínima contaminação da cavidade abdominal (Fubini, 2016). Se o vitelo se encontrar no corno direito, será necessário rodar o útero sobre o seu eixo longitudinal de forma a poder posi- cioná-lo para melhor aceder aos membros pélvicos (Sheldon, 2001). E no caso de estar em apresentação posterior são exteriorizados o carpo e o membro fletido (Fubini, 2016). O útero é incidido sobre o membro do vitelo, desde os dedos até ao curvilhão, ao longo da curvatura maior e paralelo às camadas musculares do miométrio, evitando os cotilédones. O membros são agar- rados pelo cirurgião e são utilizadas cordas de parto esterilizadas, que serão passadas ao assis- tente, para puxar o vitelo que fica ao seu cuidado enquanto o cirurgião se ocupa do útero. Devem ser reparadas quaisquer lacerações e devolvidas ao lúmen do útero as invólucros fetais, exceto o caso em que estas se destaquem e são removidas (raro), e cortado o excesso para não se envolver na sutura da parede uterina (Sheldon, 2001). Verificar a existência de outro vitelo e a correta posição do útero antes de fechar o abdómen (Fubini, 2016).

O útero é suportado por pinças uterinas e suturado com uma agulha redonda, com catgut, e a sutura invertida (Figura 23a, página 46) que pode ser de Utrecht, Cushing ou Lambert, e muitos cirurgiões optam por fazer uma segunda sutura contínua por cima da primeira (Figura 13b, página 46). A incisão abdominal deve ser reparada em três camadas: peritoneu e músculo transverso do abdómen, músculos oblíquos interno e externo (Figura 23c, página 46), e pele (Sheldon, 2001), as camadas musculares suturadas com um fio absorvível e padrão contínuo, e a pele com fio de sutura não absorvível e padrão contínuo travado (Figura 23d, página 46) (Fubini, 2016). Podem ser introduzidos antibióticos entre cada camada muscular, aproximadamente 250 mg/ml cada de procaína penicilina G e dihidrostreptomicina, comumente utilizada (Sheldon, 2001). Após a cirurgia deve ser feita a limpeza da ferida e úbere, e administrada ocitocina IM para esti- mular a involução uterina, analgésicos se considerados necessários e antibioterapia durante três a sete dias (Sheldon, 2001; Fubini, 2016). Geralmente, a vaca é reexaminada 24-48 horas após a cirurgia, onde deve ser avaliada a sua temperatura, apetite, comportamento e consistência fecal. A sutura da pele é removida três semanas depois (Sheldon, 2001).

Figura 22 - Abordagens cirúrgicas da cesariana: a) incisão paralombar à esquerda; b) incisão la-

teral obliqua à esquerda; c) incisão paraventral (em decúbito). (adaptado de Sheldon, 2001)

Figura 21 - Exteriorização do útero atra- vés da pata traseira do vitelo (adaptado

46 Figura 23 - a) Início da sutura de Cushing após o parto do vitelo. É possível observar os coti- lédones pendentes no lúmen do útero. b) Sutura dupla do útero antes de ser colocado nova- mente no abdómen. c) Sutura contínua dos músculos oblíquos interno e externo. d) Sutura da

pele contínua travada.

a b

47 Parte II

Título: Distócia em bovinos

No documento Clínica e cirurgia de animais de companhia (páginas 60-64)