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Constata-se que são apresentadas uma panóplia de definições, relacionadas com o conceito cultura, considerando-a um termo de caráter polissémico e um processo dinâmico, uma vez que toda a cultura é evolutiva. A cultura tem um valor educativo complexo, não esquecendo que a cultura integra os diferentes segmentos de população, tendo um papel a desempenhar no reforço da coesão e inclusão social. As definições de cultura são produzidas no seio das ciências sociais e humanas, onde são apresentadas um vastíssimo leque de interpretações, discussões e valências. Relativamente aos propósitos deste objeto de investigação consideramos pertinente o uso de uma definição dilatada do conceito de cultura, tal como aquela veiculada pela Declaração sobre Políticas Culturais no seu sentido mais amplo: “a cultura pode ser considerada atualmente como o conjunto dos traços distintivos espirituais, materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade e um grupo social. Ela engloba, além das artes e das letras, os modos de vida, os direitos fundamentais do ser humano, os sistemas de valores, as tradições e as crenças (…). Através dela o homem se expressa, toma consciência de si mesmo, se reconhece como projeto

18 inacabado, põe em questão as suas realizações, procura incansavelmente novas significações e cria obras que o transcendem” (Conferência Mundial da ICOMOS, México, 1985:1).

Por outro lado, Ferin (2002) apresenta uma exposição dos diversos conceitos de cultura que permitem compreender a amplitude do conceito, fazendo uma abordagem geral às diferentes aceções presentes no ocidente desde o Iluminismo, no início do século XVIII, quando surgiu a polémica entre cultura e civilização. A autora aborda o conceito desde a conceção teórica de cultura, dominante nos países ocidentais até meados do século XIX, passando pelas conceções descritivas e simbólicas, à marxista, à estruturalista, à sociológica e ainda à importância cultural dos Estudos Culturais Britânicos, finalizando com as tendências e conceção atual da cultura, tendo presente que depreende-se das inúmeras definições – momentos temporais diversos, a múltiplos campos disciplinares e paradigmas – que “o conceito cultura tem pertinência central nas Ciências Sociais e Humanas, abarcando todos os campos da vida em sociedade” (Ferin, 2002:47).

Ribeiro (2009) relembra que “a cultura deve ser pensada como um sistema de inter- relações dos membros de um grupo – entre si, mas também entre as suas práticas e memórias – (…); um horizonte em permanente revisão e reconstituição, onde também cabem aspetos variados das vidas das comunidades ou dos grupos” (2009:22). Letria reforça este ideia referindo que “a cultura é sempre um projeto de desenvolvimento e de integração social, no qual a diversidade é geradora de qualidade, de criatividade e de respeito pela diferença” (2000:133). Afirma ainda que “a cultura não é nem pode ser encarado como um espaço isolado, autónomo ou feudalizado” (Ibidem:27).

Martelo argumenta ainda que a cultura é um sistema complexo, quer de atividades e práticas, de atitudes e comportamentos, de valores, de potencialidades de experimentação, inovação e criatividade, e de capacidades para responder aos desafios da realidade em evolução constante (2006:5). Realça ainda a Cultura como condição essencial do exercício da cidadania, determinante da liberdade e da autonomia dos cidadãos, e fator fundamental de afirmação da identidade cultural dos territórios/comunidades locais (2005:43). Miranda refere que a cultura abrange a língua e as diferentes formas de linguagem e de comunicação, “os usos e costumes quotidianos, (…) as formas de organização política, o meio ambiente enquanto alvo de ação humanizada” (2006: 2).

19 Oliveira (2004) cita Jean-Claude Passeron (2003:368), referindo que o conceito cultura “continua a ser nas ciências sociais e políticas um daqueles mais difusos pela infinita diversidade dos seus usos e descrições” (2004:144). Donders vai mais longe afirmando que “La cultura no es algo inactiva i fijo, no es un simple resultado, sino un processo dinâmico” (2005:162). Piñón (2005) reforça o conceito ao afirmar que “La cultura es un punto en el corazón de los estilos de desarrollo y debe tener una presencia central en las políticas públicas”. Acrescenta ainda que “la cultura es el reservorio vivo de capacidades, a partir de las cuales, pensar y actuar en nuestras sociedades y sobre las cuales construir condiciones de equidad e igualdad de oportunidades” (Ibidem:22).

A cultura é, assim, entendida como uma condição essencial do exercício de cidadania, do desenvolvimento dos cidadãos e da democracia participativa, assente em políticas públicas que articulem com instituições, associações e entidades culturais, permitindo um diálogo, intercâmbio quer de ideias, experiencias, vivências, assim como, o conhecimento de tradições, valores e modos de vida, caraterizando uma sociedade e um grupo social, como um espaço crucial para a ação cultural consciente e novos discursos, sublinhando ainda Ribeiro (2009) que nos diz que há necessidade de rever o conceito, sendo fulcral na constituição de um discurso simbólico (Ibidem:21).

Letria acrescenta que, a cultura é interdisciplinar, encontrando-se articulada e interligada a múltiplas realidades, por outro lado, considera que a cultura é um fator inquestionável de desenvolvimento, espiritual, social e económico nas suas múltiplas formas de expressão e pela presença mais intensa no quotidiano das comunidades. Letria reforça ainda que, a cultura é hoje, em sociedades desenvolvidas, “o espaço de encontros e desencontros, de partilhas e renúncias, no qual, frequentemente, se geram insanáveis equívocos e incontornáveis interrogações” (2000:33).

Este apelo à participação da população pode traduzir-se em diferentes momentos da atividade artística, desde a criação, a produção e a apresentação do evento, permitindo uma aproximação quer das artes, quer da cultura, possibilitando assim partilha de experiencias e dinâmicas que visam a dessacralização da cultura, a aproximação e a interação dos públicos e modos de vida, podendo gerar impactos significativos, resultado de interpretações, oportunidades e desenvolvimento humano, assim como gerir políticas de identidade e cultura.

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