• Nenhum resultado encontrado

Na Esec do Seridó seis espécies apresentaram maior número e densidade de indivíduos na CTRN 2, com destaque para P. pyramidalis, A. pyrifolium e E. pungens com os maiores valores. Em contrapartida, na CTRN 1 as espécies com maiores número e densidade foram, respectivamente, C. blanchetianus e M. tenuiflora. Por outro lado, A. colubrina, C. leptophloeos e M. ophthalmocentra foram exclusivas da CTRN 2, enquanto C. quercifolius foi exclusiva da CTRN 1.

Semelhantemente, na Fazenda Pedro Cândido os maiores número de espécies e densidade de indivíduos foram observadas para a CTRN 2, com destaque para C. blanchetianus e A. pyrifolium (82% da densidade da CTRN 2). Cinco espécies apresentaram maior densidade na CTRN 2, enquanto apenas C. quercifolius apresentou maior densidade na CTRN 1.

Em ambas as localidades e nas duas classes de altura, a espécie com maior densidade foi C. blanchetianus, em função do maior número de indivíduos observado. Contudo, enquanto na Esec do Seridó ela esteve majoritariamente presente na CTRN 1, na Fazenda Pedro Cândido a maior densidade foi observada para a CTRN 2. Possivelmente, na Fazenda Pedro Cândido condições mais severas favoreçam seu melhor desenvolvimento, enquanto na Esec do Seridó um maior nível de competição interespecífica possa dificultar que maiores quantidades de indivíduos sejam incluídas em classes maiores (Tabela 5).

Tabela 5 – Distribuição da densidade (N.ha-1) das espécies quanto às Classes de regeneração natural dos indivíduos amostrados na Esec do Seridó e Fazenda Pedro Cândido, Município de Serra Negra do Norte – RN.

CTRN – Classe de tamanho de regeneração natural (Fonte – Lucena, 2017)

Nas duas áreas foi possível observar que a ausência de C. quercifolius na CTRN 2 pode indicar que ela apresente menor resistência às condições ambientais ou possua menor capacidade de competir por recursos em comunidades que apresentam um maior número de espécies ou maior densidade. Igualmente, o baixo número de regenerantes se deve ao pequeno contingente de indivíduos registrados no estrato adulto.

Entretanto, apesar dos levantamentos do presente estudo terem sido realizados em época chuvosa, faz-se preciso ponderar que a região Seridó sofre um intenso processo de estiagem, o que pode ter motivado além do pequeno número de indivíduos, a presença da maioria destes na CTRN 2.

Estas constatações podem ser observadas na Esec do Seridó, onde a presença de A. colubrina, C. leptophloeos e M. ophthalmocentra apenas na segunda CTRN 2 pode indicar que essas espécies apresentam dificuldades na regeneração, em função das condições de umidade dos anos anteriores ou que outros fatores como a baixa produção ou dormência das sementes sejam imperativos.

Nesse sentido, Vieira e Scariot (2006) afirmam que no processo de regeneração natural as taxas de germinação de sementes e o aumento do estabelecimento de plântulas são favorecidos pela quantidade suficiente de umidade do solo.

Nome Científico

Esec do Seridó Fazenda Pedro Cândido CTRN1 (H: 0,5-1,0 m) CTRN2 (H: > 1,0 m) CTRN1 (H: 0,5-1,0 m) CTRN2 (H: > 1,0 m) N DA N DA N DA N DA Croton blanchetianus 20 500 9 225 23 575 43 1075 Mimosa tenuiflora 5 125 3 75 9 225 6 150 Poincianella pyramidalis 3 75 17 425 0 0 1 25 Combretum leprosum 3 75 5 125 2 50 4 100 Erythroxylum pungens 2 50 13 325 - - - - Cnidoscolus quercifolius 1 25 0 0 1 25 1 25 Aspidosperma pyrifolium 1 25 14 350 3 75 19 475 Anadenanthera colubrina 0 0 7 175 0 0 1 25 Commiphora leptophloeos 0 0 3 75 - - - - Mimosa ophthalmocentra 0 0 3 75 - - - - TOTAL 35 875 74 1850 38 950 75 1875

Pode-se depreender, portanto, que as condições de umidade do solo são um dos fatores de relevância primária para a regeneração e o estabelecimento das espécies arbóreo-arbustivas da fitofisionomia da Caatinga do Seridó.

Essas considerações são importantes, fundamentalmente pelo fato de no Seridó RN/PB, como em outras localidades do semiárido brasileiro, a exploração madeireira do estrato arbóreo-arbustivo mostrar-se como a principal fonte de energia para o abastecimento das indústrias locais e, no caso do Seridó, da indústria da cerâmica vermelha. A extração de madeira manifesta-se, inclusive, como uma das atividades mais recorrentes pelos pequenos proprietários em épocas de escassez de recursos e de baixa produção agrícola, como o período enfrentado nos últimos anos na região.

O regime de utilização da madeira é exploratório e realizado, quase unanimemente, sem adoção de planos de manejo e sem acompanhamento de profissionais especializados, sem que haja, portanto, conscientização sobre a necessidade da cobertura do solo, tendo como resultado da exploração extensas clareiras, com exposição dos solos, favorecendo, assim, a perda de umidade e a redução da capacidade de absorção e retenção hídrica. Este modo de exploração, em pouco tempo, culmina em sinais de erosão, como as voçorocas e sulcos facilmente observados nas paisagens semiáridas.

Por este motivo, ressalta-se a necessidade de formas de intervenção sobre os recursos baseadas em ações de manejo, entre eles o florestal, que atentem para a manutenção de uma cobertura do solo como forma de propiciar a preservação da umidade e a cadeia de vida edáfica. Este conjunto de atitudes visa assegurar um mínimo de condições adequadas para a regeneração e restabelecimento da vegetação.

Outro fator para a diferenciação entre as comunidades estudadas, apesar de sua proximidade e do compartilhamento de características comuns, é o uso a que se destinam as áreas. No caso do presente estudo, o uso se caracteriza pelas formas de intervenção silvicultural, aliadas à ação do pastejo bovino não controlado na Fazenda Pedro Cândido. Pesquisas realizadas em outros ambientes de Caatinga têm comprovado estas considerações.

É o caso de Alves et al. (2010), ao observarem que todas as espécies estavam presentes na primeira classe de regeneração, equivalente à CTRN 2 neste trabalho e que somente duas espécies estavam presentes nas três classes de regeneração. A espécie com maior densidade de indivíduos em todas as classes foi Croton blanchetianus. Eles atribuem esta circunstância à ação do pastejo bovino e às intervenções antrópicas, uma vez que, segundo estes autores, a referida espécie apresenta um comportamento tipicamente tolerante a ambientes perturbados, não sendo, também, palatável aos animais.

Silva et al. (2012) ao estudarem duas áreas de Caatinga em São Bento do Una-PE, em que a primeira delas não apresentava evidências de eliminação total da vegetação e uma segunda anteriormente ocupada por cultivo de palma (Opuntia ficus-indica Mill) e que se regenera naturalmente há 30 anos, porém, ambas com retirada de madeira, observaram que na área mais preservada a espécie com maior número de indivíduos nas três classes de altura foi Croton argyrophyllus, sendo Croton blanchetianus apenas a quinta em número de indivíduos. Já para a área mais perturbada Croton blanchetianus ocupou a segunda posição em número de indivíduos nas três classes.

A plausibilidade da interferência das diferentes formas de uso das áreas sobre regeneração fica mais evidente quando avaliamos separadamente o comportamento de algumas espécies.

Nesse sentido, ao observarmos o comportamento de C. blanquetianus e A. pyrifolium entre as duas áreas veremos que, embora tenham apresentado maior densidade de indivíduos na CTRN2 na Fazenda Pedro Cândido, a densidade de ambas nas duas classes de tamanho é superior ao observado na Esec do Seridó. Uma explicação possível é que na Esec do Seridó a competição entre espécies sendo maior dificultaria o aparecimento de grandes densidades para estas espécies, enquanto na Fazenda Pedro Cândido a ação das diferentes intervenções silviculturais, aliadas à ação do pastejo bovino, pode favorecer algumas espécies mais resistentes a ambientes alterados.