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Classificação da Cobertura Vegetal

1.4 Arborização no desenho urbano

1.4.2 Classificação da Cobertura Vegetal

Muito há o que se discutir a respeito das relações entre o tipo de cobertura vegetal e seu impacto no espaço urbano, sobretudo no que diz respeito ao seu impacto ambiental (Jim, 1989, Pina, 2011, Nucci & Cavalheiro, 1999). No entanto, para este trabalho, interessa como a presença de massas arbóreas na cidade podem impactar em fatores relacionados à 490

Figura 4 - Esquema de classificação para a cobertura vegetal urbana proposto por Jim (1989), edição e tradução da autora.

 Tipo 1, Cobertura Vegetal Isolada. Trata-se da distribuição mais comum em 495

núcleos urbanos, onde a arborização é um elemento de exceção na paisagem. A sua variação dispersa (Tipo 1.a) é a que contém menor porcentagem e cobertura vegetal e retrata regiões sem áreas verdes, nas quais a vegetação é exclusividade de propriedades particulares. As duas outras variações, agrupada (1.b) e

amontoada (Tipo 1.c), representam situações em que a vegetação é abundante em 500

determinados locais e ausente em outros, enclausuradas em áreas verdes de tamanho médio ou grande. Para Jim (1989), a tendência de segregar a vegetação, mantendo-a enclausurada em áreas verdes maiores é indesejável, pois estes locais requerem maior investimento e manutenção. Esta posição é defendida por outros estudiosos do planejamento urbano (Jacobs 1961, Newmann, 1973) que inclusive 505

afirmam que parques, quando muito grandes, criam zonas de uso único na cidade, interrompendo a fluidez do fluxo de pedestres. Áreas verdes participam do fluxo e cotidiano dos cidadãos de três maneiras: Sendo um local para a prática esportiva, um destino para o qual as pessoas de deslocam ativamente para socializar ou como parte do trajeto pelo qual as pessoas se deslocam ativamente para chegar a 510

lugares. (Koosari et al. 2015). Quando muito grandes, elas deixam de

desempenhar o último papel, se tornando regiões desérticas e, consequentemente, perigosas.

 Tipo 2 - Cobertura vegetal linear. Este tipo é preferível ao anterior, pois com ele é possível atingir um nível adequado de cobertura vegetal5, sem a necessidade da 515

criação de praças e parques grandes e dispendiosos. Muitos arquitetos (Alexander 1977, Gehl, 2013) defendem que um espaço público aberto deve ser pequeno, dimensionado de maneira que seus ocupantes sejam capazes de reconhecer as feições de outros usuários no local. Desta forma, a área verde irá prover de uma atmosfera mais intimista, dando maior sensação de segurança, ideal para

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pedestres. Além disto, o tipo de cobertura vegetal linear está altamente

relacionado à caminhabilidade, por acompanhar o sistema viário, sombreando e decorando os passeios públicos. Com áreas verdes bem dimensionadas e árvores plantadas ao longo das calçadas, é possível criar uma matriz conectada de corredores verdes, suprindo toda a população espaços arborizados sem que isto 525

interfira drasticamente na malha urbana (Jim, 1989). As variações disponíveis se diferem à medida que incorporam massas arbóreas naturais e áreas verdes em sua matriz, com a variante retilinear (1.a) consistindo de, majoritariamente, árvores plantadas ao longo de vias e calçadas, e as opções curvilinear (2.a) e anelar (3.a) sendo resultado de desenhos urbanos que mantiveram parte da vegetação pré- 530

existente.

 Tipo 3 - Cobertura Vegetal Conectada. Trata-se de uma configuração em que a cobertura vegetal é ampla e contígua, com instalações urbanas pontuais e

5 No que diz respeito aos índices de áreas verdes adequados, estima-se que um índice de cobertura vegetal

na faixa de 30% seja o recomendável para proporcionar um adequado balanço térmico em áreas urbanas, sendo que áreas com índice de arborização inferior a 5% determinam características semelhantes a um deserto vegetal (Oke conforme citado por Lombardo, 1985).

desconectadas. Via de regra, são locais em que as florestas remanescentes se estabeleceram antes da urbanização, terrenos de alta declividade ou periféricos 535

(Nucci & Cavalheiro, 1999). São regiões que apresentam um índice de cobertura vegetal superior a 40% da área total e costumam apresentar corpos d´água como córregos e nascentes. Os tipos ramificado (3.b) e contínuo (3.6), são

configurações que necessariamente apresentam mais cobertura vegetal do que área coberta edificada. Grandes massas de vegetação de uso restrito como áreas 540

de proteção permanente podem funcionar como barreiras para a caminhabilidade, bloqueando o fluxo de pedestre e aumentando as distâncias, comprometendo a conectividade das vias e a densidade de serviços e população. Por outro lado, Jim (1989) defende que estes locais, quando localizados em áreas periféricas e rurais, são positivos sob o ponto de vista econômico e ambiental, pois oferecem áreas 545

verdes públicas a partir da vegetação existente, e preservar e manter áreas naturais é bem mais economicamente viável do que a criação e manutenção de parques. A criação e preservação de corredores arborizados e áreas verdes na cidade é defendida entre teóricos do campo do planejamento e desenho urbano (Erwing, 2001, Howard, 1898, Van den Berg et al., 2014), psicologia ambiental (Han, 2010, Koohsari, et al.,2015, Kuo et al., 1988, 550

Russell, 2012) e planejamento ambiental (Lombardo, 1985, Nucci, 2008, Pina, 2011, Jim, 1989). Além dos benefícios psicológicos e ambientais, as árvores, quando plantadas de maneira

adequada, contribuem para quase todas as estratégias de design amigáveis ao pedestre (Erwin, 2001). Isto inclui o uso de árvores como acalmadores de tráfego, a criação de perspectivas visuais adequadas à escala do pedestre e de ambientes que inspiram relaxamento, afetividade e 555

sentido de lugar.

Todavia, diferentes tipos de configuração das copas das arvores (isolada, linear e

conectada) podem ter implicações diferentes na cidade, repercutindo no desempenho do desenho urbano quanto à caminhabilidade. No contexto deste trabalho, que pretende entender até que ponto os elementos arbóreos percebidos pelos citadinos contribuem nos processos de decisão 560

individuais de se realizar os deslocamentos a pé, mostraram-se relevantes apenas as categorias de arborização linear e isolada, mais comuns em zonas urbanizadas. Ainda que, de uma maneira geral, a presença da natureza na cidade seja vista como algo positivo, diferentes tipos de

arborização e áreas verdes podem estimular sentimentos diferentes nos pedestres. As próximas sessões irão discutir como a arborização urbana impacta no bem-estar do pedestre, a partir de 565

estudos em psicologia ambiental e espaços restaurativos.