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Classificação das águas minerais naturais

Águas minerais naturais são as que, por qualquer especificidade físico-química, se distinguem das águas “normais” de uma dada região. Os caracteres distintivos mais frequentes são a mineralização e/ou a temperatura elevadas. Assim, na perspetiva enunciada, as águas minerais apresentarão mineralizações totais ou determinadas características específicas (pH, sulfuração, sílica, CO2, etc.) diferentes dos valores correntes ou temperaturas mais altas que a temperatura média do ar.

A nível da Hidrologia Médica, é corrente chamar-se água termal a qualquer uma ¾ ainda que fria na origem ou mesmo semelhante às águas típicas da região ¾ desde que seja utilizada em balneários termais.

O critério da composição química levou a que nos países europeus de cultura germânica a água mineral fosse conotada com elevada mineralização. Nos países latinos prevaleceram os aspetos ligados à utilização balneoterápica tendo no passado sido consideradas como minerais (ou melhor mineromedicinais) águas de baixa mineralização.

Foi assim que em Portugal, graças às propriedades terapêuticas inferidas à luz dos critérios da época, foram consideradas como minerais águas semelhantes às “normais” da região.

Algumas águas minerais naturais são usadas quer em balneoterapia quer na indústria de embalamento de águas. A

União Europeia regulamentou as menções a apor nos rótulos das garrafas mas não existe um critério europeu em relação às águas minerais naturais para termalismo.

Em Portugal, a distribuição das águas minerais consoante o seu uso é a que se apresenta abaixo na figura 1.17

Figura 1.17 – Distribuição das

águas minerais naturais de acordo com a sua utilização

(Fonte ATP)

1.18.1.

Temperatura de água na emergência

Em relação á temperatura da água na emergência os critérios de classificação são variáveis, estando descritos em diversas fontes, sendo comumente aceite em Portugal a classificação do Instituto de Hidrologia de Lisboa por Herculano de Carvalho et al. de 1961, conforme referido no Manual de Boas Práticas pelos seus autores[17].

De acordo com Klimentov (1983) as águas termais seriam as de temperatura superior à do corpo humano, isto é, 37ºC. White (1957) por ouro lado designou como termais as águas cuja temperatura excedam em 5ºC a temperatura média anual do ar, opção retomada por Schoeller (1962) embora este último considere 4ºC. Na Europa (CEC 1988) foi adotada a solução de considerar termais as águas de temperatura superior a 20ºC, retomando a sistematização do

Simpósio de Águas Minerais de Praga de 1968 (Malkovsky & Kacura 1969).

Figura 1.18 – Distribuição das

águas minerais naturais de acordo com a temperatura de emergência

(Fonte LNEG)

Para o Norte e Centro de Portugal este critério pode ser considerado aceitável pois a temperatura anual média do ar nessas zonas é inferior a 16ºC (INM 2005), mas a sua aplicação já poderá ser questionável no Sul de Portugal.

Por essa razão adota-se aqui a classificação do Instituto de Hidrologia de Lisboa (Herculano de Carvalho et al. 1961) para as águas minerais naturais:

o Hipotermais (se emergem a temperaturas inferiores a 25 ºC);

o Mesotermais (se emergem a temperaturas superiores a 25 ºC e iguais ou inferiores a 35 ºC);

o Termais (se emergem a temperaturas superiores a 35 ºC e iguais ou inferiores a 40 ºC);

o Hipertermais (se emergem a temperaturas superiores a 40ºC). o As águas de temperaturas inferiores a 25ªC seriam Frias.

1.18.2.

Composição química

Quanto á mineralização total o Instituto de Hidrologia de Lisboa propõe a classificação seguinte:

o Águas Hipossalinas: mineralização total inferior a 200 mg/l;

o Águas fracamente mineralizadas: mineralização total entre 200 e 1000 mg/l; o Águas Mesos Salinas: mineralização total entre 1000 e 2000 mg/l;

o Águas Hipersalinas: mineralização total superior a 2000 mg/l.

Curto Simões (1993), apoiado na classificação do Instituto de Hidrologia de Lisboa propõe as classes seguintes para as águas minerais portuguesas, baseadas na composição química, a saber (figura 1.15):

o Águas hipossalinas, cuja mineralização total é inferior a 200 mg/l. Há a diferenciar:

o as que têm mineralização total até cerca de 50 mg/l, pH < 6, dureza < 1 e percentagem de sílica muito elevada (> 30%),

o daquelas cuja mineralização total é > 100 mg/l, pH > 6, dureza> 1 e cuja percentagem de sílica é muito mais baixa;

o Águas sulfúreas, as que contêm formas reduzidas de enxofre. Neste grupo podem ser diferenciadas: (i) as sulfúreas primitivas (em que ainda há a distinguir as de pH <8,35 e pH> 8,35), (ii) as que não apresentam valores característicos das sulfúreas primitivas em alguns parâmetros, e, (iii) as sulfúreas de transição. As sulfúreas primitivas têm com o iões dominantes o HC03 -e o Na , altas percentagens de sílica e flúor, são fracamente mineralizadas e têm dureza muito baixa;

o Águas gasocarbónicas, caracterizadas por terem mais de 500 mg/l de CO2livre. São hipersalinas, anião dominante HC03 -(> 90% dos mval), catião dominante o Na(raramente o Ca2 ), têm baixa percentagem de sílica (< 4%),

baixa percentagem de flúor (< 1,5 %) e razão a1calinidade/Resíduo Seco muito elevada (> 16). Há a distinguir. (i) as hipotermais com pH == 6 (sódicas ou cá1cicas), (ii) das hipertermais com pH == 7 (sódicas);

o Águas bicarbonatadas, cujo ião dominante é o HC03-. São hipotermais, com alta percentagem de M1 , pH == 7, dureza total com valores elevados e percentagens de sílica e flúor muito baixas. Há a distinguir: (i) as cá1cicas, fracamente mineralizadas, (ii) das mistas (sódico-cá1cicas), mesossalinas.

o Águas cloretadas, cujo ião dominante é o cloreto. O catião dominante é o Na com percentagens de sílica e flúor muito baixas, mesotermais. Há a distinguir as hipersalinas com pH == 7 das fracamente mineralizadas de pH > 7;

o Águas sulfatadas, cujo ião dominante é o sulfato. São hipersalinas, hipotermais, catião dominante Ca2, percentagens de sílica e flúor muito baixas e muito duras.

Segundo o consenso proposto no hydroglobe[16] :

A água é um dos componentes mais comuns encontrados na natureza. Dentro das estruturas biológicas, as moléculas de água podem ou estar livres ou conectadas a outro elemento.

Numa perspetiva biológica, é claro que com um aumento das concentrações de sal, a qualidade e a quantidade de eletrólitos dissolvidos têm um maior impacto no efeito farmacológico. A água com um conteúdo muito baixo de sal é “thirsty for salts” sedentos por sais. É rapidamente absorvida e adquire sódio e catabolitos que atingem os rins e têm um efeito diurético.

A água com alto conteúdo iónico é hipertónica em relação aos fluidos corporais. Assim, não é absorvida e não “thirsty for salts”, mas muito mais atraída pelo lúmen intestinal, produzindo a necessidade de esvaziar os intestinos. Assim esta é uma água purgante- laxativa, com o poder do efeito relacionado com a concentração de sal. Entre estes dois extremos existe uma série de águas minerais usadas no tratamento da hidrologia clássica. Cada tipo abaixo indicada, conforme as suas características específicas químicas e físicas, está indicado no tratamento de condições específicas:

o Água arsénico-ferruginosa o Águas com bicarbonato o Água carbónica

o Água radioativa

o Água com sal, bromina e iodina o Água de sulfato

o Água sulfurosa

1.18.3.

Caldas de S. Jorge

Após estudo geológico profundo da região, as águas foram analisadas pela 2ªvez na globalidade pela DGGM (Direção Geral Geologia e Minas) em outubro de 1986 sob a orientação da Dra. Maria José Canto Machado, cujas conclusões são as seguintes: ”Na Hidrologia Médica, estas águas estão incluídas no grupo das sulfúreas…e os resultados obtidos, comparadas com outras águas sulfúreas atualmente em exploração, evidenciam que as águas de S. Jorge apresentam um sistema iónico próprio, facto que lhes confere uma perfeita individualização química…”

Nascem à temperatura de 23ºC não se podendo considerar hipertermias, também não são hipotermais tendo que ser aquecidas por meio de uma caldeira que funciona a gás e o seu aquecimento propriamente dito é feito através de permutadores, pois a água para não perder qualidade não pode ferver como acontece nas nossas casas, aquece a vapor. É especial a forma de chegar à temperatura desejada aos setores em que a água é utilizada sendo a temperatura diversa, conforme os casos específicos e prescritos pelos clínicos.

O seu pH é de 8.5, hipomineralizada (600mg/l), possuindo uma forte reação alcalina, elevada percentagem de lítio e sílica.

Sob ponto de vista químico a água mineral das Termas de S. Jorge são consideradas como: Sulfúreas, cloretadas, bicarbonatadas, sódicas e fluoretadas, para além da existência de outros elementos em menor concentração e das espécies vestigiárias presentes, conforme caracterização físico-química regularmente efetuada e dentro das flutuações normais associadas a um processo natural.

Estão vocacionadas para doenças do foro respiratório, músculo-esquelético e dermatológicas.

Entre as águas minerais sulfúreas portuguesas, a água das Caldas de S. Jorge é rica em cloreto de sódio, nela prevalecendo o catião. Apesar da sua riqueza química, os benefícios terapêuticos desta água estão provavelmente relacionados com a presença de espécies químicas reduzidas como HS- e H2S, o primeiro dominando nas condições do pH prevalecente. A nível da nascente, a água demonstra as seguintes características: condutividade elétrica - 934 microS/cm; temperatura - 23,5ºC; pH - 8.6 e Eh -300mV. O valor negativo do potencial redox determina, em condições de equilíbrio, a coexistência de

ambas as espécies químicas antes referidas, reduzidas e oxidadas, favorecendo as formas reduzidas em determinadas espécies redox, tais como o enxofre e o selénio cuja hidrogeoquímica é praticamente similar.

Assim, a Água Mineral Natural das Termas S. Jorge distingue-se por possuir concentrações significativas de sulfureto (SH-) com um potencial redox de -300mV anião que predomina sobre o anião SO4-2. Além disso diferencia-se de outras águas sulfúreas sendo considerada uma água “genuína”.

Figura 1.19 – Caracterização das soluções em função do pH e Eh – Posição das águas das Termas S. Jorge.

1.19. Técnicas termais

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