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Os estuários podem ser classificados de acordo com sua geomorfologia (Figura 14) como, planície costeira, fiordes, construídos por barras e por outros processos, de acordo com os ventos geológicos e geomorfológicos que ocorreram durante a formação (PRITCHARD15, 1952 apud MIRANDA et al., 2002).

6.1.1 Planície costeira

Esses estuários são típicos de regiões de planície costeira e se formaram durante a transgressão marinha no Holoceno, que inundou os vales dos rios. O processo de inundação foi muito mais acentuado do que o da sedimentação e a topografia atual tornou-se muito semelhante ao vale do rio. Esses estuários são relativamente rasos, raramente excedendo 30 m de profundidade. A área da seção transversal em geral aumenta em direção a foz do estuário, às vezes de forma exponencial, e a configuração geométrica da seção transversal tem a forma de V. A razão largura/profundidade, em geral, é grande, embora ela esteja na dependência do tipo de rocha em que o vale do rio foi escavado. Devido ao processo recente de sedimentação, o fundo é preenchido com lama e sedimentos finos na sua parte superior, que se tornam mais grossos em direção à parte interna do estuário (MIRANDA et al., op. cit.).

Segundo Miranda et al. (2002) os estuários de planície costeira estão, em geral, localizados em regiões tropicais e subtropicais. No Brasil podem ser citados os

15

- PRITCHARD, D. W. 1952. Estuarine Hydrography. Advances in Geophysics. New York, Academic Press, Vol. 1, pp. 243-280.

44 estuários do rio São Francisco, das Contas e Potengi nos litorais leste e nordeste brasileiro.

6.1.2 Fiorde

Os fiorde formaram-se em regiões geladas durante o Pleistoceno. A pressão das calotas sobre os blocos continentais e os efeitos erosivos durante o descongelamento aprofundaram os vales dos rios primitivos e deixaram um alto fundo rochoso na entrada, denominado de soleira. Por ser muito profundo, e com as trocas com o oceano adjacente limitadas pela soleira, à água da descarga fluvial e a circulação ficam confinadas numa camada muito rasa e que no seu movimento estuário abaixo recebe pelo processo de entranhamento uma quantidade razoável de água do mar da camada profunda. A camada mais profunda é quase isohalina e o transporte fluvial na primavera e no verão é dominante sobre o prisma de maré. A profundidade da camada superior é praticamente constante e o transporte de volume aumenta estuário abaixo (MIRANDA et al., op. cit.).

São ambientes localizados em latitudes altas e comuns no Alasca, na Noruega, no Chile e na Nova Zelândia. Devido ao fato de serem sistemas profundos, os fiordes apresentam a razão largura/profundidade relativamente pequena, quando comparada àquela dos estuários de planície costeira, e tem seção transversal aproximadamente retangular. A gênese justifica o fato de os fiordes apresentarem em geral fundo rochoso e com processos de sedimentação recente, ocorrendo principalmente na foz dos rios. A descarga fluvial em geral é pequena, quando comparada ao volume total do sistema, mas pode ser grande em relação ao prisma e maré. Nos meses de inverno, a descarga fluvial nos fiordes é muito pequena ou ausente (MIRANDA et al., op. cit.).

6.1.3 Construídos por barras

De acordo com Miranda et al. (2002) os estuários são também formados com a inundação de vales primitivos de rios durante a transgressão marinha, mas a sedimentação recente ocasionou a formação de barras na foz. Portanto, esses ambientes estão associados às regiões costeiras que podem sofrer processos erosivos

45 com facilidade, produzindo grandes quantidades de sedimentos que são retrabalhados pelas ondas e transportados por correntes litorâneas. Esses sistemas são, em geral, rasos, com profundidade não superior a 20-30 m, e podem apresentar canais e lagunas extensas no seu interior. O rio ou sistema de rios que alimentam esse estuário, além de apresentarem descarga variável de acordo com a estação do ano, podem transportar grande concentração de sedimentos em suspensão, ocasionando alterações sazonais na geometria da entrada (barra). Existem também sistemas em que, durante as épocas de enchente, a barra pode ser erodida completamente, restabelecendo-se novamente quando cessa o período de chuvas intensas. Esse tipo de estuário geralmente forma-se em regiões tropicais, sendo referido na literatura brasileira pela terminologia estuarino- lagunar, como o da região de Cananéia-Iguape.

6.1.4 Outros tipos de estuários

Miranda et al. (op. cit.) descreveram que os demais tipos de estuários não abrangidos são formados por outros processos costeiros, tais como: falhas tectônicas, erupções vulcânicas, tremores e deslizamentos de terra. Também se incluem nessa categoria os estuários cuja morfologia foi muito alterada por processos de sedimentação recente nos últimos milênios, como os deltas e as “rias”.

Nas regiões de macro ou hipermaré, com ação moderada ou grande de ondas e com transporte fluvial de alta concentração de sedimentos em suspensão, o processo sedimentar recente favoreceu o crescimento de ilhas na parte interior do estuário; esse tipo de estuário é denominado delta estuarino ou delta de enchente. Um exemplo de delta estuarino é o delta tropical do rio Amazonas, no litoral brasileiro. Por outro lado, nas mesmas condições da concentração de sedimentação, mas em regiões de micromaré, com ação de ondas de energia moderada, a sedimentação tem lugar na plataforma continental interna, formando bancos de areia e ilhas, dando origem ao delta de vazante, como por exemplo, o delta do rio Mississipi, no golfo do México. Os deltas de enchente e de vazante são dominados pela maré e pela descarga fluvial, respectivamente (MIRANDA et al., 2002).

46 O estuário tipo “ria”, de origem tectônica, formou-se por elevação da parte continental onde estava localizado o vale interior do rio, aliviado do peso de glaciares durante o descongelamento. O rio foi inundado com a elevação do nível do mar, formando assim esse estuário típico de regiões montanhosas de alta latitude que eram ocupadas por glaciares. Geralmente a “ria” tem morfologia irregular com tributários que drenam grande parte da região adjacente. A forma geométrica pode ser de um canal recortando regiões montanhosas ou com morfologia afunilada e aumento da profundidade em direção ao mar (MIRANDA et al., op. cit.).

47 Fonte: Adaptada de Fairbridge16 apud Miranda et al., 2002.

7 ZONAS PRAIAIS

As praias estuarinas podem ser individualizadas em três zonas (Figura 15), sendo: Zona de Supramaré ou Pós-Praia (“Backshore”), Zona de Intermaré ou Estirâncio (“Foreshore”) e Zona de Inframaré ou Face Praial (“Shoreface”).

Figura 15: Classificação das principais zonas do perfil praial sob o ponto de vista morfológico, representado no Perfil B da praia da Saudade em março de 2007.

Através dos perfis topográficos praiais (Figuras 21, 22, 24, 25 e 26) foi possível afirmar que ocorreu um aumento do período chuvoso para o seco na extensão da praia e, conseqüentemente, das zonas praiais.

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