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Classificação dos Esportes na Natureza

Funollet (1995) apresenta uma proposta de classificação do que denomina de "Atividades Desportivas no Meio Natural" (ADMN), destacando a presença mínima de três elementos, integrados de forma sistêmica: o praticante, o material e o espaço de prática. O autor subdivide os fatores determinantes das ADMN em dois grupos, cujo entrelaçamento de variáveis permitiria o ensaio de uma classificação, facilitando o estudo, o desenvolvimento e o processo de ensino de tais práticas.

As possibilidades de relação entre os praticantes estariam condicionadas ao tipo de

trajetória utilizada (bidimensional ou tridimensional), ao plano sobre o qual atuam

(horizontal ou vertical), ao tipo de elemento onde se desenvolvem (terra, rocha, neve ou gelo, considerados elementos estáveis; água e ar, considerados elementos instáveis), à forma de

contato (direto ou indireto, quando se recorre à utilização de algum aparato para melhorar o

desempenho) e ao tipo de deslocamento empregado (caminhar, deslizar, cavalgar, nadar, flutuar, escalar, submergir, voar etc.). Esse grupo constitui o que Funollet (1995) considera como determinantes da Atividade Desportiva no Meio Natural.

Um segundo grupo de variáveis apresentadas pelo autor, estaria vinculado ao tipo de material ou equipamento empregado, conforme o tipo de energia solicitada (autogerada ou gerada por fonte animal, mecânica ou proveniente do meio), condicionado pelo tipo de ação

(individual, conjugada ou em equipe), considerando ainda o ambiente ou ecossistema onde é desenvolvido (marítimo, fluvial, lacustre, cavernícola, florestal, arbustivo, agrícola, desértico, montanhoso, urbanizado). Tais variáveis são concebidas pelo autor como determinantes didáticas das Atividades Desportivas no Meio Natural.

Com alguns pontos em comum, Betrán (1995) propõe uma classificação semântica das "Atividades Físicas de Aventura na Natureza" (AFAN), partindo da seleção de critérios englobados em cinco principais aspectos, a partir de características intrínsecas e extrínsecas das diferentes modalidades, conforme destacado a seguir:

1. Ambiente Físico: Faz referência ao lugar ou ecossistema no qual se realizam as práticas diferenciando três critérios de seleção em função do espaço e de suas conseqüências. No primeiro critério parte-se do meio no qual predominantemente se desenvolvem, caracterizado pelos elementos naturais como ar, terra e água. O segundo critério baseia-se no plano que ocupam no espaço do ponto de vista de suas dimensões, diferenciando as que se desenvolvem em um plano horizontal e em um plano vertical, segundo o percurso que desenvolvem no transcorrer da atividade. Como terceiro critério, Betrán (1995) diferencia tais práticas de acordo com o grau de incerteza que o ambiente físico apresenta, destacando a estabilidade do meio onde são realizadas, não só a partir do próprio elemento sobre o qual atua, como também em função da incerteza que os fatores externos possam repercutir na prática em questão;

2. Ambiente Pessoal: Baseia-se em uma análise psicológica que parte do ponto de vista do praticante com relação às suas emoções, sensações e vivências pessoais no desenvolvimento de cada atividade. A dimensão

emocional valoriza as emoções experimentadas pelo praticante sobre as

características da própria modalidade, distinguindo-se em dois tipos de condutas hedonistas8 e ascéticas9. Um segundo critério considerado por Betrán (1995) baseia-se na sensação vivida pelo praticante, que pode

8

As condutas hedonistas foram consideradas aquelas nas quais o desenvolvimento de atividades não requer um grande esforço físico e gera uma sensação de prazer e bem estar.

9

As condutas ascéticas caracterizam-se pela necessidade de uma condição física mínima para seu desenvolvimento, podendo envolver um certo grau de esforço físico que varia em função de cada atividade.

variar do prazer e descanso permeados pela contemplação do ambiente à situações intensas marcadas pela sensação de risco e vertigem. Os

recursos biotecnológicos utilizados pelo praticante durante a atividade

também são destacados em quatro grupos: artefatos mecânicos/tecnológicos, designados por aparelhos ajustados às características da atividade que necessitam da energia e habilidade do homem para seu funcionamento; artefatos de motor, que necessitam de energia de propulsão para funcionar em adaptação ao meio; o próprio corpo, que embora auxiliado por alguns complementos, utiliza energia autogerada; animais, que consistem em fonte de apoio ou suporte para a realização da atividade;

3. Atividades: Foi selecionada uma amostra de 32 atividades consideradas mais representativas dentro de grupos de atividades similares, para efeito de ilustração dos parâmetros estabelecidos. As atividades aéreas (AI) encontram-se divididas em 6 grupos, as terrestres (T) em 13 e as aquáticas (AG) em 8. Portanto, Betrán (1995) destaca que no grupo AG3 (Motor), por exemplo, estão incluídas outras atividades como o esqui náutico, miniovercraft, esqui a propulsão ou jet-ski entre outras derivadas;

4. Valorização Ético-ambiental: Embora a filosofia implícita nas práticas que se desenvolvem em ambientes naturais seja a busca de aproximação na relação homem-natureza, Betrán (2003) destaca que todos os benefícios que o homem pode obter no contato lúdico com a natureza também significam um impacto ecológico para o meio natural, pois alteram seu equilíbrio. O nível de deterioração decorrente de tais atividades é variável conforme as condições de prática, tendo sido o

impacto ecológico resultante qualificado de forma genérica como alto,

médio ou baixo. As principais causas de impactos sobre o meio ambiente devem-se ao tipo de atividade praticada, à intensidade e duração da atividade, à estação do ano e ao momento do dia na qual é desenvolvida, à vulnerabilidade intrínseca das espécies que vivem na região e à postura

e comportamento dos praticantes com relação ao meio ambiente. O autor afirma que, no processo de maior ou menor degradação ambiental, a formação e educação do praticante influem de maneira determinante: sensibilidade ecológica e respeito pelo habitat sobre o qual será realizada a atividade são requisitos indispensáveis para saber como a natureza deve ser preservada.

5. Ambiente Social: Betrán (2003) destaca que as interações motrizes são determinadas com base na atitude do praticante, colaborando com o grupo para que a atividade siga adiante (Grupo com Colaboração), simplesmente acompanhando o grupo e agindo de maneira individual (Grupo sem Colaboração) ou intervindo de maneira totalmente individual (Individual). Segundo o autor, as implicações práxicas das AFAN refletem o caráter individualista exacerbado pela sociedade pós- moderna, marcadas pela vivência pessoal das distintas sensações e emoções que são geradas. Particularmente neste ponto, discordo do autor em questão, acreditando que a procura por tais práticas não se deva exclusivamente à busca pela natureza, mas também à necessidade de relacionamento interpessoal, como reforçam Marinho (1999c) e Villaverde (2003). Justamente pelo distanciamento observado nas relações humanas em nossa contemporaneidade, como prefiro me reportar ao momento social em questão, os Esportes na Natureza são tidos como uma possibilidade de estabelecimento de novos vínculos sociais e estreitamento dos laços nas relações interpessoais, a partir das situações de cumplicidade e parceria necessárias para sua realização. O entendimento dos critérios ora apresentados serve como referência para a análise e seleção das modalidades desenvolvidas no Programa de Esportes na Natureza, conforme detalhado no item 3.2.2 do Capítulo 3.

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