Classificação Hierárquica, Implicativa e Coesiva – CHIC

Para adentrar na discussão das características operacionais e aplicações do CHIC na análise qualitativa de dados multidimensionais (ALMEIDA, 2000; 2008; ALMOULOUD, 2008; MORAES; VALENTE, 2008; OKADA, 2008a; PRADO, 2003, 2008), foi preciso contextualizá-lo melhor junto à proposta da dissertação. Durante o período de concepção inicial desta investigação, após algumas pesquisas preliminares feitas junto à literatura, nasceu a proposta de usá-lo para auxiliar na análise qualitativa das mensagens postadas nos fóruns de discussão.

Num breve resgate histórico e, para fins de aplicações do CHIC na proposta da dissertação, apresenta-se um descritivo da evolução do uso do CHIC, dividido em duas

etapas. Atrelada à última, caracteriza-se uma discussão da metodologia e apresentam-se

os procedimentos para o uso do CHIC, visando se proceder à análise qualitativa multidimensional dos dados de campo utilizados nesta pesquisa.

Assim, na primeira etapa, discorre-se sobre sua concepção inicial e desenvolvimento na França. O software CHIC foi projetado e construído por grupos de pesquisa em estatística, para auxiliar no estudo matemático multivariacional de funções estatísticas, através de um processo que permite obter uma classificação hierarquizada, implicativa e coesiva (ALMOULOUD, 2008). Tal procedimento possuía uma característica de pesquisa quantitativa, com traços qualitativos.

O CHIC, segundo sua concepção original na França, é um software estatístico multidimensional, que utiliza o método da A.S.I. (Análise Estatística Implicativa)10. Este método estatístico foi criado depois dos anos 1970 pelo Prof. Dr. Nantes Régis Gras, da Escola Politécnica da Universidade de Nantesna, na França, para facilitar

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análise em pesquisas de natureza estatística e probabilística, ou seja, era predominantemente utilizado em aplicações de caráter quantitativo (GRAS et al., 2010). A primeira versão do CHIC foi desenvolvida no início dos anos 1990 por uma equipe de pesquisa, na qual participou o Prof. Dr. Saddo Ag Almouloud, que atualmente é pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da PUC-SP, sob orientação do Prof. Dr. Nantes Régis Gras (GRAS et al., 2010).

Na segunda etapa, os pesquisadores do Brasil, notadamente da área de educação da PUC-SP, adaptaram o uso do CHIC para aplicações em pesquisa qualitativa multidimensional, contemplando certas áreas da educação (ALMEIDA, 2000; 2008; ALMOULOUD, 2008; MORAES; VALENTE, 2008; PRADO, 2003, 2008). Desde meados da década de noventa, até a presente data, o CHIC vem sendo utilizado com sucesso em projetos de pesquisa, dissertações e teses. Num processo natural, seu uso em aplicações nas áreas de ciências humanas, está em plena fase de difusão no Brasil e exterior. Transcorre assim uma ampliação de seu uso em educação, didática da matemática, psicologia, sociologia, bio-informação, etc., em que se procura proceder à análise qualitativa de dados multidimensionais (ALMEIDA, 2008; ALMOULOUD, 2008; MORAES; VALENTE, 2008; PRADO, 2003, 2008).

A utilização do software CHIC permite gerar, em sua saída de dados, gráficos correspondentes à árvore de similaridade, dispondo graficamente as categorias em estruturas gráfica hierárquicas e relacionais, tal recurso permite aos pesquisadores aplicar essa técnica para auxiliar no desenvolvimento da análise qualitativa de dados. Uma das estratégias de análise consiste em encontrar quais tendências, relações e padrões que podem estar encobertos sob uma coletânea de dados analisados, sendo então a proposta de uso do CHIC aqui exercida segundo uma proposta de análise qualitativa multidimensional, ou seja, buscando se estabelecer eventuais relações hierarquizadas, implicativas e coesitivas entre categorias representativas dos dados de campo de uma pesquisa (ALMEIDA, 2008; ALMOULOUD, 2008; MORAES; VALENTE, 2008; OKADA, 2008a; PRADO, 2003, 2008).

O mapa conceitual a seguir, figura 3.1.2.1.1, corresponde aos conceitos relacionados ao software CHIC.

Figura 3.1.2.1.1 – CHIC (Classificação Hierárquica, Implicativa e Coesiva).

No Brasil um dos primeiros trabalhos notórios da utilização do CHIC na pesquisa em educação foi utilizada pela Profa. Dra. Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, no campo da formação a distância de professores, conforme sua Tese de Doutorado defendida em 2000 na PUC-SP (ALMEIDA, 2000). Quanto ao uso associado do CHIC, consistiu numa investigação de aspectos ligados à análise qualitativa multidimensional de dados da pesquisa, expressos através de atividades telecolaborativas de professores em formação, depositadas em fóruns temáticos. Posteriormente e até os dias atuais, sua pesquisa original no uso do CHIC serve como fonte de referência para muitas outras, em diferentes áreas de conhecimento.

A seguir, apresenta-se a caracterização de alguns aspectos teórico-metodológicos relacionados à aplicação do uso do CHIC à presente dissertação.

O software CHIC tem por finalidade proporcionar uma análise qualitativa de um espaço amostral, a partir de estudo quantitativo de dados multidimensionais, relacionando aprendizes e categorias (variáveis), definindo relações entre as categorias (variáveis), produzindo índices de similaridade ou semelhanças estatísticas de

relacionamento (valores numéricos de probabilidade, entre 0 e 1) e apresentando uma estrutura das categorias através das árvores de similaridade (gráficos).

De acordo com Almouloud (2008, p. 306) o CHIC permite:

a) tratar diferentes tipos de variáveis (binárias, modais, de freqüências, intervalares);

b) quantificar a significação dos valores atribuídos à qualidade, à consistência da regra associada, às classes ordenadas de regras, à tipicalidade e à contribuição de sujeitos ou categorias de sujeitos à constituição destas regras;

c) representar, por um gráfico, tendo fixado um intervalo de confiança, um caminho de regras, ou uma hierarquia de regras sobre regras;

d) suprimir, acrescentar variáveis, conforme necessidade da pesquisa.

Na presente dissertação, quando se pretende realizar a análise de discurso das narrativas dos professores-alunos, postadas nos fóruns de discussão do AVA, nota-se que estas narrativas apresentam inter-relações múltiplas, imbricadas, segundo diferentes níveis de complexidade, o que dificulta ao pesquisador tentar extrair relações, de caráter hierárquico e relacional, junto a um maior conjunto de dados de pesquisa, de forma a facilitar um processo de depuração mais consistente e sistêmica da análise deste conjunto.

Para minimizar estas dificuldades de análise junto às narrativas postadas e tecidas telecolaborativamente, é possível se utilizar o software CHIC. Sem perda de generalidade, através do uso de informações do software CHIC, obtidas através de suas análise de árvores de similaridade, é mais fácil se investigar eventuais associações, existentes entre categorias, nas formas hierárquica, implicativa e coesitiva. As relações e associações entre as categorias arranjadas nas árvores de similaridade são obtidas pelo pesquisador através da elaboração de uma espiral repetitiva de leituras, releituras e análises textuais críticas, o que permite maturar a análise qualitativa das citadas categorias.

O refinamento da análise qualitativa multidimensional pode requerer novos ciclos da análise das narrativas postadas no TelEduc, levando ao desenvolvimento e maturação de suas sucessivas análises. Tais procedimentos favorecem o estabelecimento de novas relações entre o referencial teórico utilizado na Dissertação e a prática pedagógica realizada no TelEduc. Em seguida ao passo de leitura, identificação e validação final das categorias representativas da pesquisa, procede-se à fase de análise qualitativa multidimensional, dos dados de saída, obtidos através do uso do CHIC.

Para a presente pesquisa, optou-se por recorrer à interpretação dos resultados gerados pelo CHIC, na forma de árvores de similaridade.

Na subseção seguinte, é apresentada uma proposta metodológica para o uso do CHIC na presente pesquisa, visando se realizar o mapeamento e análise qualitativa de dados multidimensionais, expressos através de categorias Carvalho e Gil-Pérez (2009).