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Levando em consideração as características e propriedades anteriormente descritas, as UFs são divididas em vários grupos, existindo numerosas classificações feitas por diferentes autores. Ressaltaremos aqui as mais relevantes.

A primeira classificação das UFs aparece nos anos 50. Corpas Pastor (1997, p. 33) cita a divisão proposta por Casares (1992 [1950]), quem é conhecido como o fundador da Fraseologia espanhola e propõe dois grupos de UFs: locuções e fórmulas proverbiais. As locuções seriam uma combinação estável de dois ou mais termos que funcionariam como um elemento oracional, cujo sentido só se justifica como uma soma do significado de seus componentes. Já as fórmulas proverbiais se constituem como uma entidade léxica autônoma que, diferentemente das locuções, não funciona como um elemento oracional.

Essa primeira tipologia realizada por Casares (1992 [1950]) é a base para o surgimento de novas classificações. Uma das mais importantes e completas, feita por Corpas Pastor (1996), retoma as tipologias anteriores e divide as UFs em três grandes grupos: colocações, locuções e enunciados fraseológicos (CORPAS PASTOR, 1996, p. 51).

As colocações são combinações de unidades léxicas de uso frequente na língua, formadas a partir de uma norma, e que apresentam certo grau de restrição combinatória, ou seja, são sintagmas pré- fabricados, combinados a partir de regras sintáticas da língua; não são, portanto, combinações livres. Contudo, elas não têm uma fixação já

determinada e definida. Pode-se considerar, como consequência disso, que se encontram na “metade do caminho” de alcançar o grau máximo de cristalização. O significado das colocações pode ser deduzido da soma dos significados de seus componentes – não são idiomáticas; porém, em algumas ocasiões, pode ter um significado conjunto. É o caso, por exemplo, de expressões como deuda externa e paquete bomba, que são consideradas como um único constituinte, cujo significado se depreende do conjunto.

No que tange às locuções, Corpas Pastor (1996, p. 88) as define como UFs do sistema da língua que apresentam os traços de fixação interna, unidade de significado e fixação externa. Segundo a autora, são unidades que não constituem enunciados completos e que funcionam como elementos oracionais. Como exemplificação, citam-se locuções verbais como acostarse con las gallinas e hablar por los codos.

Já os enunciados fraseológicos são enunciados completos que constituem atos de fala e apresentam uma fixação interna e externa. Segundo Corpas Pastor (1996, p. 132) os enunciados fraseológicos podem ser de dois tipos: parêmias e fórmulas rotineiras. As primeiras seriam os refrãos e os provérbios, unidades completamente lexicalizadas e cristalizadas com significado referencial, como por exemplo, más sabe el diablo por viejo que por diablo e no hay mal que por bien no venga. Já as fórmulas rotineiras podem aparecer como sentenças exclamativas e/ou imperativas para expressar surpresa, raiva, rejeição ou admiração, como por exemplo: ¿como estás? ¡Virgen pura! e con mucho gusto, unidades de uso muito frequente na fala e que fazem parte do discurso como unidades organizadoras ou que expressam sentimentos ou estados mentais do emissor.

Sendo as locuções o principal interesse desta dissertação, será apresentada, a seguir, uma descrição mais ampla desse tipo de UF.

Segundo Corpas Pastor (1996, p. 90), as locuções têm várias características em comum com as combinações livres de palavras e com outras unidades complexas. O que diferencia as locuções desse outro tipo de construção é a sua institucionalização, sua estabilidade sintático- semântica e a função denominativa. Para a autora, existem três critérios para testar a estabilidade e a integridade semântica das locuções: via substituição, eliminação e transformação.

A substituição seria a troca de um elemento da UF por um sinônimo, hipônimo ou hiperônimo. O resultado seria a manutenção da sequência da unidade e do número dos elementos gramaticais, com uma mudança, contudo, na coesão semântica. A título de exemplificação, citemos a substituição do verbo mirar pelo verbo observar na UF mirar y

no tocar por observar y no tocar, que resulta na perda do conteúdo idiomático da unidade.

O segundo critério diz respeito à eliminação de algum elemento da unidade que, embora não comprometa a gramaticalidade da unidade, implica em perda da significação como conjunto. Seria o caso, por exemplo, da eliminação constatada em matar pájaros de un tiro da UF matar dos pájaros de un tiro.

O último critério é a transformação, ou “deficiências transformativas”, que se refere, principalmente, a todas as locuções verbais e inclui qualquer tipo de transformação que uma locução possa ter. Em outras palavras, refere-se à reordenação dos elementos de uma UF ou à inserção de algum material lexical que modifique o valor da unidade. Podemos ilustrar com os seguintes exemplos: a transformação das UFs dar gato por liebre por dar liebre por gato e estirar la pata por estirar una pata.

As locuções podem ser divididas, segundo Corpas Pastor (1996), de acordo com a função oracional que exercem, independentemente de ser uma palavra simples ou um sintagma. Podem também ser classificadas a depender do núcleo do sintagma que constituem, ou seja, do núcleo da Unidade Fraseológica como tal. Assim, as locuções podem ser classificadas, conforme ilustramos na sequência, como locuções nominais, adjetivas, adverbiais e verbais. Há, também, as prepositivas e as conjuntivas, que são formadas pelo verbo e por uma conjunção, formando um sentido unitário.

• As locuções nominais são aquelas que estão formadas por diversos sintagmas nominais:

o Substantivo + adjetivo, mosca muerta.

o Substantivo + preposição + substantivo, lágrimas de cocodrilo.

As locuções nominais cumprem as mesmas funções que um substantivo ou um sintagma nominal.

• As locuções adjetivas exercem as funções de atribuição e predicação e são constituídas por um sintagma adjetivo composto de adjetivo/particípio + preposição + substantivo. Por exemplo: chapado a la antigua. Também podem ser constituídas por adjetivo + adjetivo, como é o caso das expressões sano y salvo e hecho y derecho. Encontram-se também comparações constituídas com o adverbio “como” entre o substantivo e o adjetivo: blanco como la pared, por exemplo.

• As locuções adverbiais são aquelas formadas por sintagmas prepositivos que desempenham a função de acordo com a categoria gramatical, por exemplo, a expressão con la boca abierta desempenha a função de modo.

• As locuções verbais – objeto de estudo desta dissertação – expressam processos e formam predicados com ou sem complemento. Podem ser formadas por:

o Verbo + conjunção + verbo: llevar y traer. o Verbo + pronome: cargársela.

o Verbo + partícula associada: dar de sí.

o Verbo copulativo + atributo: ser el vivo retrato de alguien.

o Verbo + complemento circunstancial: dormir como un tronco.

o Verbo + suplemento: oler a cuerno quemado. o Verbo + objeto direto: costar un ojo de la cara.

Existem também as locuções verbais fixadas na forma negativa: no tener vuelta de hoja e no tener un pelo de tonto, entre outras.

• As locuções prepositivas são formadas, geralmente, por um advérbio seguido de uma preposição ou por um substantivo antecedido de uma preposição. Por exemplo: en lugar de e a imagen y semejanza.

• As locuções conjuntivas não formam sintagmas, tampouco podem ser o núcleo deles. Exercem a função coordenativa ou subordinativa no discurso e não costumam aceitar variações de nenhum tipo. Por exemplo, mientras tanto, que inserida como subordinante em uma sentença, marca a simultaneidade entre dois eventos; e, mejor dicho, que exerce uma função coordenativa explicativa.

• As locuções causais são as formadas por vários sintagmas, sendo um deles verbal. Elas apresentam um sujeito e um predicado que, geralmente, expressam um juízo. São icônicas e funcionam como elementos oracionais. É o caso das unidades se me hace agua la boca e se me cae la cara de la vergüenza, entre outras.

Com o propósito de sintetizar a heterogeneidade presente nas classificações das Unidades Fraseológicas, levando em consideração, nesse sentido, diferentes autores, trazemos o quadro de Noimann (2007, p. 28), na página seguinte.

Quadro 2 – Fraseologismos: tipos e designações (cf. Noimann, 2007, p. 28).

PESQUISADOR TIPO DE UNIDADES FRASEOLÓGICAS DESIGNAÇÕES

Zuluaga (1980) Locuções e enunciados fraseológicos. Fraseologismo.

Gross (1996) Locução. Locuções.

Gurillo (1997) Locuções ou modismos. -

Penadés Martinez (1999) 1. Ditos.

2. Expressões idiomáticas. 3. Frases. 4. Modismos. 5. Gírias. 6. Idiomatismos. 7. Locuções. 8. Modos de dizer. 9. Frases feitas. 10. Refrãos. 11. Provérbios. 12. Colocações.

13. Expressões unidades pluriverbais. 14. Unidades léxicas pluriverbais..

Fraseologismo.

Pérez (2000) 1. Combinações de palavras.

2. Provérbios. 3. Refrãos. 4. Aforismo. 5. Fórmulas fixas. 6. Frases feitas. Fraseologismo. Unidade Fraseológica.

Colado (2004) 1. Locuções nominais. 2. Locuções adjetivas. 3. Locuções verbais. 4. Locuções adverbiais. 5. Locuções casuais. 6. Locuções preposicionais. Locuções.

Montoro (2004) Somente trata da variação fraseológica e sua relação com o dicionário, não classificando os tipos de unidades fraseológicas. Fraseologismo. Navarro (2004) 1. Locuções. 2. Enunciados fraseológicos. 3. Colocações. Fraseologismo ou unidade fraseológica. Welker (2005) - Fraseologismo.

Sánchez (2005) Locuções: nominais significantes e conexivas. Fraseologia.

Unidade fraseológica (UF).

Locução e unidade

sintagmática verbal. Expressão fixa. Iliná (2006) 1. Fraseologismos idiomáticos.

2. Combinatórias lexicais.

Frasemas.

Unidades fraseológicas. Combinações.

No Quadro 2, é possível observar convergências no que diz respeito às classificações das UFs e suas designações. A maioria dos autores citados considera as locuções como parte importante da classificação. Além disso, parece ser geral a utilização do termo “fraseologismo” para essa denominação.

2.3 VARIAÇÃO VS. FIXAÇÃO: VISUALIZANDO UM CAMINHO DE