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CAPÍTULO III – Exercício de caracterização das condições de seca e aridez e a sua

3. CARACTERIZAÇÃO DE PERÍODOS DE SECA, ARIDEZ E EROSÃO NO NE

3.4. RESULTADOS DO EXERCÍCIO DE CARACTERIZAÇÃO DA SECA E

3.4.3. Clima como fator de formação dos solos e suscetibilidade do território

temperatura, além claro, dos demais fatores de formação dos solos, nomeadamente o material originário, o relevo, organismos e o tempo. Como constatado, o relevo tem grande influência nas condições climáticas encontradas na região NE, sendo que ao mesmo tempo que possui regiões húmidas, apresenta zonas semiáridas com escassez de água.

Um diagnóstico da região NE com base nos domínios climáticos regionais, realizado por Figueiredo (2013), revela de forma muito clara o efeito da temperatura e da precipitação na espessura, pedregosidade e teor de matéria orgânica, nas Unidades Cartográficas de Solos em condições geomorfológicas menos instáveis. A espessura do solo é diminuída nas zonas mais quentes e secas, com menor pluviosidade, o que faz com que nas zonas de Terra Quente, com precipitações anuais inferiores a 600 mm, predominem os Leptossolos em cerca de 91% do território. A pedregosidade revela padrão similar, enquadrada como elevada, com mais de 30% de elementos grosseiros em mais de 90% da região.

Agroconsultores e Coba (1991) afirmam que a grande maioria da superfície do território regional encontra-se na fase de morfogênese ou de transição para a pedogênese, facto que explica a presença recorrente dos processos de formação do relevo, especialmente a erosão hídrica. A distribuição espacial dos solos (Figura 11) vai de encontro com a afirmação anterior, uma vez que a classe predominante de solos da região é representada pelos Leptossolos (75,3%), solos incipientes, cujas principais características a eles atribuídas são a elevada pedregosidade e baixa profundidade, limitada pela rocha-mãe a menos de 50 cm (Figueiredo, 2013).

Figura 11. Unidades cartografadas de Solos e percentuais (área total – 1309 mil há) no NE de Portugal com base na classificação da FAO/UNESCO (1988). Carta produzida no âmbito do trabalho de

Figueiredo et al. (2000). Fonte: adaptado de Figueiredo (2013).

De facto, os solos mais delgados e pedregosos são encontrados nas zonas mais secas e quentes da região (Figueiredo, 2013). Devido aos fatores anteriores, a carência de água no solo é severa e muito severa em ¾ de sua área superficial. Na Figura 12 é explicitada a característica dos solos, em sua maioria delgados com menos de 0,5 m de espessura útil, e a sua relação direta com o armazenamento de água nestes. Quanto menor a espessura do horizonte de solo, maior é a carência hídrica. Nota-se que aproximadamente 50% dos solos do NE possuem deficiência de retenção de água, devido às características de pouca espessura dos solos, a qual limita o armazenamento de água nestes (Figueiredo et al., 2015c).

Figura 12. Espessura útil dos solos (a) e a respectiva carência de água (b) em função da categoria anterior, para o NE de Portugal.

Fonte: Adaptado de Figueiredo et al. (2015c). 32% 12% 52% 4% > 100 cm 50-100 cm 10-50 cm < 10 cm Espessura útil dos solos 12% 12% 28% 48% Baixa; >100 cm Moderada; 50-10 cm Elevada; 10-50 cm Muito Elevada; <10 cm Carência de água por espessura (a) (b)

Para além da pedregosidade e do armazenamento de água, o teor de matéria orgânica dos solos é outra propriedade condicionada pela temperatura e quantidade de água precipitada. Um dos indicadores associados a esta propriedade é a frequência de Unidades Secundárias Úmbricas, apresentada na Figura 13. Essa denotação faz menção a existência de um horizonte A úmbrico (Ah), com teor médio/elevado de Matéria Orgânica, e englobam os solos cuja sigla incluem a letra “u”, como por exemplo, Iug e Iux.

Figura 13. Ocorrência relativa (%) de Unidades Solo Secundárias Úmbricas por Zona Climática no NE de Portugal, com classes de Temperatura e de Precipitação médias anuais.

Fonte: Extraído de Figueiredo (2013).

Na Figura 13 é nítida a predominância destas classes nas zonas de Terra Fria de Montanha e Alta Montanha (T < 10ºC) e quase total quando as precipitações médias são superiores a 1200 mm, que coincidem com as maiores altitudes. De forma oposta, nas zonas de Terra Quente, apenas 10% correspondem a solos com horizonte úmbrico. Em termos de precipitação média, essa característica desaparece nas zonas com P inferior a 600 mm, e se situa abaixo de 50% nas duas categorias imediatamente subsequentes. Somente quando se considera precipitações superiores a 1.000 mm anuais, a frequência das Unidades Secundárias Úmbricas aumenta.

A teoria que suporta essa distribuição é a velocidade de mineralização da fração orgânica dos solos, que é maior nas zonas mais quentes, associada a uma menor presença de biomassa vegetal e precipitação. Ou seja, nas zonas mais secas e quentes, em função destes condicionantes, é comum a dominância de solos com menores teores de carbono, que efetivamente não são suficientes para formar um horizonte orgânico que se distinga dos demais. Com o argumento de que a presença de Matéria Orgânica tem efeito redutor das perdas de solo ocasionadas pelo agente erosivo água, a presença reduzida ou ausência

dela nas zonas mais áridas aumenta a exposição dos solos, devido à menor capacidade de suporte vegetal e retenção de humidade, e, consequentemente, a suscetibilidade destes ao processo erosivo.

Para além desta análise, outros estudos demonstram a elevada erodibilidade dos solos associados as zonas de Terra Quente da região NE. Lima (2016) realizou uma análise de cenários considerando as classes de AI para alguns solos do distrito de Bragança e constatou a predominância das classes de elevada e moderada erodibilidade e, avaliou também o efeito do produto congregado entre os fatores RKS, erosividade, erodibilidade e topografia (declive), da Equação Universal de Perda de Solo (Wischmeier e Smith, 1978). É importante frisar aqui que este produto representa a erosão potencial do solo, em princípio não controláveis por intervenções humanas. Dentre os vários resultados, é interessante para o contexto do presente trabalho trazer o comportamento verificado para uma mesma categoria de solo à medida que se sobe em declive e altera- se a classe do AI. A título de exemplo, para o solo Idox, a perda potencial de solo é menor no cenário subhúmido chuvoso e húmido e com declive moderado (92 Mg.ha-1) e, o

produto RKS aumenta substancialmente ao passar para uma classe mais seca e declive mais acentuado (119 Mg.ha-1).

Em suma, a aridez além de ter presente a alta erosividade das poucas precipitações, está associada a elevada erodibilidade potencial dos seus solos, devido ao predomínio das características abordadas. Desta forma, há um evidente aumento da suscetibilidade à degradação dos solos em decorrência do aumento das condições de aridez.

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